Godric's Hollow



Harry Potter levantou-se rapidamente ao soar do despertador. Esfregou os olhos a fim de espantar o sono e pôs os óculos, que haviam sido deixados na mesa-de-cabeceira na noite anterior. Arrastou-se até a janela e a abriu. Um dia nublado, atípico no verão apresentou-se a ele, e mostrou-lhe que cada vez mais os dementadores se reproduziam, mesmo ali, no subúrbio trouxa, na Rua dos Alfeneiros.

Percebeu um vazio dentro de si mesmo, e notou que alma havia tornado-se um lugar frio e sombrio, após os acontecimentos do final do último período letivo.

Harry agora em seus dezessete anos, não mais voltaria a Hogwarts, o único lugar que ele algum dia havia chamado de lar.

Após a morte do diretor Alvo Dumbledore, Harry jurou que caçaria de destruiria os fragmentos da alma de Voldemort, nem que para aquilo, precisasse visitar os confins da terra.
Sua jornada começaria naquele exato dia nublado e cinzento, quando ele iria para A Toca, buscar Rony e Hermione, que haviam se prontificado para acompanhá-lo. Iriam aguardar o casamento de Gui e Fleur, e logo apanhariam seus pertences, e deixariam tudo, em direção ao povoado de Godric’s Hollow, que pelo que Harry sabia fora o lugar onde seus pais moraram em seus últimos dias.

Harry apoiou a cabeça no vidro da janela e perdeu-se em pensamentos, embaçando a janela, com a respiração ofegante. Pensava no velho diretor, e sentia uma falta imensa. Seus conselhos, seus óculos de meia-lua encarrapitados no nariz, suas incríveis magias, e profundo conhecimento. Tantas coisas foram perdidas junto a ele. Tantos jovens não voltariam à escola naquele ano, pois os pais estavam demasiados apavorados com os acontecimentos recentes. Pensava em Sirius, seu padrinho, que há mais de um ano fora assassinado pela própria prima, Bellatrix Lestrange. Pensava nos Horcrux, e no misterioso R.A.B. Pensava no antigo professor de poções, Snape, que havia fugido junto com Draco Malfoy, após lançar maldição da morte sobre Dumbledore.

Olhou finalmente ao redor do quarto, e percebeu como uma parte sua sentia-se feliz, ao ver seu malão arrumado com todos seus pertences. Aquela seria a ultima vez que dependeria do Dursley, nunca mais voltaria para lá. Sorriu intimamente, enquanto se vestia.
Desceu as escadas, e dando um mero aceno de despedida aos tios e ao primo, aparatou imediatamente da pequena vila de Ottery St. Cachopole. Caminhou tranquilamente pela alameda de paralelepípedos, como qualquer trouxa normal, até chegar a um campo relvado e vazio. Sorriu ao avistar a silhueta da Toca, casa dos Weasley, um dos lugares que ele mais gostava no mundo. Sentiu um cheiro adocicado de flores, e sentiu-se em paz, como se nada naquele momento pudesse dar errado.

Caminhou pelo gramado e percebeu que já haviam organizado grande parte do casamento. Bancos e um altar haviam sido postos no jardim, e não havia presença de gnomos. As galinhas ciscavam por perto, quando Harry bateu educadamente na porta de madeira.
Sra. Weasley atendeu quase que imediatamente com um sorriso estampado no rosto.

-Harry, querido! Você chegou tão cedo... Recém comecei a preparar o café e os meninos ainda estão na cama. –falou ela animada, ao abraçar o garoto carinhosamente.

-É eu acordei mais cedo do que o normal... Para arejar os pensamentos... Mas e o Sr. Weasley está?

-Oh, não... Está fazendo uns trabalhos extras no Ministério. Ele não trabalhava tanto antes de receber esta promoção, mas devo admitir que estamos felizes com o dinheiro que está entrando... –falou ela, voltando-se ao fogão, depois de oferecer a Harry uma cadeira perto de si.

-E a Hermione já chegou? –perguntou Harry, observando o relógio da cozinha. Os noves ponteiros continuavam a apontar para Perigo Mortal. Harry desviou o olhar.

-Ela chegou ontem à tarde, está no quarto da Gina... –respondeu ela, sorrindo.

A menção do nome de Gina fez o estomago de Harry embrulhar-se. Sentia uma falta imensa dela, além do sentimento de culpa que o corroia por dentro, por ter rompido seu relacionamento.

A Sra. Weasley serviu em seu prato omeletes e salsichas, ao qual ele agradeceu intimamente. A mulher puxou uma cadeira defronte a Harry na mesa, e com os cotovelos confortavelmente apoiados sobre o tampo, continuou a contar as novidades.

-A mãe e irmã de Fleur chegaram ontem à noite, sabia querido?

-Ah é? E o pai dela? –perguntou Harry, interessado.

-Não sei... Parece que está ocupado com alguma coisa do Ministério Francês... Mas chega hoje à tarde, em tempo para o casamento... Elas estão na hospedaria da vila... Mais tarde virão almoçar conosco. –falou ela animada. –Bom, mas vou acordar todo mundo para verem você, estão loucos de saudades, e Hermione quer saber tudo sobre seu teste de aparatação, ela já interrogou Rony, fico feliz que os dois passaram.

Depois de alguns minutos, um rapaz alto e meio desengonçado, de cabelos ruivos, e pijama marrom, apareceu ao pé da escada, parecendo muito sonolento.

-Harry! Quem bom que você chegou! –exclamou Rony, dando tapinhas no ombro do amigo. –Finalmente... Não agüento mais ouvir só as baboseiras do casamento. Como estão as coisas?

-Tudo bem... Você sabe... –respondeu Harry, parecendo abatido. –Alguma novidade?

-Oh, sim... –respondeu Rony, sombrio. Apanhou um profeta Diário, com a aparência meio velha e entregou-o na mão de Harry, enquanto servia-se de suco. –É da semana passada.

Harry olhou a capa, e entendeu a expressão de Rony. Na capa do jornal, posava serenamente Sibila Trewlanney, com os olhos aumentados pelas lentes dos óculos a piscar, com uma manchete em grandes letras grafais.

-“Professora de Hogwarts desaparece”... –leu Harry, baixinho. Olhou para Rony. O amigo sinalizava para ele prosseguir a leitura. –Foi Voldemort... Ele quer saber o resto da profecia que Snape não conseguiu ouvir naquela noite no Cabeça de Javali. A única referencia se quebrou, na sala das profecias. O único jeito de descobrir era pegando a pessoa que a fez.

-Exatamente! –respondeu uma voz atrás dele. Harry virou-se rapidamente, e parada ao lado do balcão estava Hermione, com seus cabelos castanhos lanzudos e o ar esperto que sempre demonstrava.

-Mione! –exclamou Harry, levantando-se para abraçar a amiga.

-Que bom que você chegou Harry, estou louca para irmos para sua antiga casa. Deve ter tantas coisas lá para descobrir... –falou Hermione, animada, ignorando a reportagem. Provavelmente já havia sido a muito, discutida. Sentou-se em uma cadeira e pegou uma torrada.

-Não vai ter nada lá para descobrir, Mione... –respondeu Harry. –Nós só vamos nos hospedar lá...

-Eu acho que tem muito a ser descoberto naquele local, Harry... –falou ela, com um sorriso enigmático, e com o olhar fixo, no topo da cabeça de Harry.

-Por que diz isso, afinal? –perguntou Harry, passando a mão na cicatriz em forma de raio, para fazer com que Mione desviasse o olhar.

-Você vai ver, confie em mim...

Harry já havia aberto a boca para continuar o diálogo, mas Rony apenas balançou a cabeça, mostrando que não adiantaria nada. Naquele momento, Gina com seus longos cabelos ruivos, entrou na cozinha. Uma rajada de ventos a atingiu, no momento em que ela sorriu ao vê-lo, fazendo com que seus cabelos esvoaçassem e cobrissem seu rosto.

-Harry, como está? –perguntou Gina, sentando-se ao lado do irmão. –Já leu o profeta, é? –perguntou ela, sinalizando o jornal nas mãos de Harry. Este percebeu como a jovem a sua frente era forte. Sorria naturalmente, e não demonstrava o quão desapontada podia estar com Harry. Parecia entender seus nobres motivos, e para ela, bastava.

-Alguém mais... Morreu ou desapareceu? –perguntou Harry, desviando o pensamento da cabeça.

-Por enquanto, felizmente ninguém... –respondeu Mione.

-Mas Olivaras, ainda não apareceu... –completou Rony. –Alguém imagina o que pode ter acontecido a ele?

-Não faço idéia... Mas aposto cem galeões que ainda vamos descobrir... –respondeu Gina, enquanto comia uma torrada. –Trouxe seus trajes de baile, Harry? O casamento é amanha...

-Trouxe, sim...

-Pena que o Rony não possa dizer o mesmo... –falou ela, e deu uma mordida na torrada.

-Por que não? –perguntou Mione, com ar de riso, tapando por alguns segundos a angústia que lhe dominava.

-Bom, não podemos dizer que aquelas roupas sejam muito masculinas... –ela, Mione e Harry riram discretamente. Rony ficou com as relhas vermelhas e retrucou.

-Fred e Jorge me deram um novo traje, está bem? –respondeu ele, indignado.

-Falando neles, como estão? –perguntou Harry, curioso.

-Fazendo montes de dinheiro, pelo que se pode ver... Vem algumas vezes por semana aqui, nos visitar... Mas ainda estão morando na loja no Beco Diagonal. E, finalmente conseguiram comprar a Zonko’s para abrir uma filial em Hogsmeade. O que não sabem ainda se é um bom negócio, já que ainda não sabemos o futuro de Hogwarts, mas enfim, a loja está lá, pronta para funcionar... –respondeu Rony, parecendo espantado com o que falava. –Não sabia que vender poções do amor fazia a pessoa enriquecer...

Terminaram a refeição, e após despedirem-se de Gina e Hermione que ajudariam com os preparativos do casamento, Harry e Rony seguiram por um caminho nunca trilhado antes por Harry. A pequena estradinha de chão era torta, e circundava toda a propriedade dos Weasley, com ervas verdes nascendo em suas margens.

-Não vejo nenhum gnomo por aqui, hoje... –falou Harry, para quebrar o silêncio tenso que estava no ar. –Fizeram uma desgnomização para o casamento?

-Não só uma desgnomização... –respondeu Rony, parecendo contrariado, ao ter de responder aquela pergunta.

-Como assim?

-Bem, você deve se lembrar que natal passado, a Gina capturou um gnomo, o pintou de dourado, o vestiu num tutu e o pendurou na ponta da árvore de natal não é mesmo? –falou ele. –Bom, ela gostou tanto da idéia que resolveu usa-los como enfeites para o casamento. Vem eu vou te mostrar... É bem hilário, para falar a verdade. Típico da Gina.

Rony aproximou-se de um arranjo de flores violetas e brancas, e apontou o meio do tal para Harry ver. Lá, com uma cara petrificada, e nem um pouco amigável, encontrava-se um gnomo dourado, dom um tutu branco, e pequenas asinhas, que lhe davam a aparência de ser uma fada, muito, muito feia. Harry riu, ao imaginar a cara de Fleur, ao ver a tal criação.



Contrariados, no final da tarde seguinte, Harry e Rony, vestidos em elegantes smokings pretos, aguardavam que Hermione viesse a se juntar a eles. A casa estava lotada de bruxos e bruxas diferentes, de todas as idades, que aguardavam a grande celebração. Grandes velas e flores pairavam no ar, dando um ar festivo ao local.

-Sua cicatriz não doeu mais? –perguntou Rony subitamente, apoiando as costas em uma parede da casa.

-Não, mas já deu de perceber que Voldemort está bloqueando sua mente, não quer intrusos por lá... –respondeu Harry, a cabeça zunindo pelo fato de tanta conversa em um local fechado.

Encarou Rony nos olhos, e este devolveu seu olhar.

-Vou estar aqui, cara, você sabe, não é? –falou ele.

Harry concordou em silêncio com a cabeça. Permaneceram então quietos, apenas a observar os diferentes tipos de bruxos agrupados no local.

-Estranho, não é? -comentou Rony, depois de algum tempo em silêncio, as mãos enfiadas casualmente nos bolsos das calças.

-Estranho, mas creio que é melhor nos divertimos agora, algo me diz que pode ser a última vez em muito tempo... -respondeu Harry, os olhos fixos em Gina, do outro lado da sala.

Essa estava junto a Gabrielle, a irmã mais nova de Fleur. Ambas usavam vestidos dourados, indiscutivelmente de bom gosto, e os cabelos adornados com flores brancas e amarelas. Harry percebeu que Gina não ousava olhar para ele, mas não poupava sorrisos para com todos que vinham cumprimentá-la.

-Acha que iremos percorrer muito ainda... Quer dizer, para derrotá-lo de fato? -perguntou Rony, coçando a nuca.

-Voldemort? -perguntou Harry, erguendo as sobrancelhas e desviando o pensamento de Gina.

-Quem mais? -respondeu Rony, com um súbito tremor.

-Quanto tempo mais você vai temer usar o nome dele? Dumbledore o usava! -falou Harry.

-Cara, estamos numa festividade, não podemos abusar da sorte... -respondeu ele. -Mas e então? O que você acha?

-Sabe, se Trewlaney não tivesse sumido você poderia pedir isso a ela...

-Muito engraçado... -resmungou Rony, apoiando as costas na parede próxima. –Hermione está atrasada... –resmungou, consultando o relógio de pulso.

-Sabe, paciência é uma virtude... -comentou uma voz as costas de Harry. Este rapidamente virou-se para procurar quem o dissera, mas já o sabia.

Hermione estava parada as suas costas, usando um longo vestido preto, e os cabelos presos em um elegante coque na nuca, semelhante ao que havia usado há algum tempo atrás, no baile de inverno. Exibia um sorriso amistoso nos lábios.

-Ahn... -Harry pode ouvir Rony resmungar as suas costas.

-Hermione, você está ótima! -falou Harry, ajudando o amigo.

-É você está ótima... Mesmo! -concordou Rony.

-Obrigada! -agradeceu ela sorrindo. -Vamos então? Todo mundo está indo para o jardim...




-Harry, acorda! –chamou uma voz feminina ao seu lado. Harry sentiu um cutucão no braço, e devagar, descolou os olhos, e focalizou a visão, colocando seus óculos.

Harry pode enxergar uma silhueta escura a sua frente segurando uma pesada mochila.

-Chegamos Harry! Rony já desceu e está pegando algumas coisas nossas do bagageiro... –falou ela animada.

Haviam se passada algumas semanas desde o casamento de Gui e Fleur, e agora os três amigos encontravam-se no Noitbus Andante, a beira de uma estrada, e a julgar-se pelo céu estrelado, a altas horas da madrugada. O calor sufocava todos, e Harry respirou aliviado ao sair do ônibus, e sentir uma quase inexistente brisa noturna.
Rony, que já apoiava algumas coisas no ombro, sorriu ao ver o amigo.

-Cara, pensei que tivesse desmaiado lá em cima... Hermione o chamou por uns bons dez minutos, e você não acordava nunca! –exclamou ele aliviado, dando tapinhas nas costas de um sonolento Harry. –Agora seja útil e faça uns feitiços de levitação para que essas coisas nos sigam, certo?

-Vingardium Leviosa! –ordenou Harry, apontando a varinha para uma pilha de caixas que jazia sob a estrada enlameada.

Hermione desceu logo depois e juntou-se aos garotos, com uma excitação fora do normal. O Noitbus partiu logo depois, e sumiu ao virar em uma curva.

-E então... Como vamos chegar a casa? –perguntou Hermione, olhando de longe para o povoado encravado nas montanhas. Consultou seu relógio trouxa. –Não imagino que vamos poder pedir informação a algum morador, já está bem tarde...

-Já cuidei de tudo, Mione... –falou Harry. –Contratei Dobby para trabalhar conosco... Você sabe, agora que Hogwarts não necessita mais de tantos elfos, ele precisa de um emprego... E não confio muito no Monstro para limpar a casa a ponto de torná-la digna de humanos...

-Você está pagando a ele, não está? –perguntou Hermione, com um olhar meio débil, ao agarrar os ombros de Harry. –E deixou bem claro que ele deve dormir, certo?

-Sim, Mione... Calma! –tranqüilizou Harry, livrando-se das mãos da amiga.

-Pensei que agora que deixamos Hogwarts você ia desistir deste negócio de fale... –falou baixinho Rony, coçando a nuca humildemente. Hermione o fuzilou com o olhar e virou o rosto.

-Não comecem vocês dois, está certo? –falou Harry, antes que uma discussão se rompesse. –Dobby? –ele chamou para o vazio.

Alguns instantes se passaram e logo se pode ouvir um estalo ao lado de Harry, e ali surgiu o elfo, com suas orelhas de morcego balançando de excitação, e os olhos verdes iguais a bolas de tênis marejados de emoção. Fez uma exagerada reverencia que o fez encostar o comprido nariz no chão.


-Mestre Harry Potter chamou Dobby, senhor?

-Boa noite, Dobby, esperamos não tê-lo acordado... –falou Harry, enquanto afagava as orelhas da criatura. –Como estão as coisas?

-Dobby estava aguardando ansioso pela chegada de Harry Potter e seus dois bons amigos... – falou ele abraçando-se a cintura de Hermione. –Mas Monstro é um elfo mau, Harry Potter. Dobby não confia em Monstro...

-Tomaremos as devidas providências, Dobby... –falou Hermione.

-Estávamos esperando que pudesse nos mostrar onde fica a casa do Harry... –perguntou Rony.

Dobby sacudiu as orelhas violentamente ao correr pela estrada de chão, sinalizando para que os garotos o seguissem. Fizeram tal coisa, e alguns minutos depois, todos ofegantes, seguiram por uma rua de pedras muito torta, que serpenteava em meio às casas e ao comércio local. O povoado estava vazio, exceto por alguns homens que cantavam animadamente a porta de um bar, cada qual com uma caneca de cerveja a mão.
As casas eram todas muito bem cuidadas, e apresentavam um aspecto senhorial, graças aos seus bem decorados e cuidados jardins.
A rua, à medida que avançavam, ficava mais íngreme, e começava a subir em uma espécie de morro. Harry notou que à medida que subiam cada vez maiores e mais bonitas ficavam as casas.
Dobby continuava a correr o mais rápido que suas curtas pernas o permitiam, e Harry, Rony e Hermione iam grudados aos seus calcanhares. Entraram em uma espécie de beco, e logo Harry percebeu onde estava. Havia chegado à casa de seus pais. O lugar aonde ele, Harry, tinha passado seus primeiros dias. O lugar aonde seus pais foram mortos. O local para onde ele agora, havia finalmente retornado.
Havia um grande portão de ferro, onde estava gravado um enorme p duplo. Dobby estalou os dedos, e o majestoso portão abriu-se, permitindo que eles passassem. Harry caminhou lentamente sob a calçada, observando cada detalhe. Havia um grande gramado, com alguns bancos embaixo de gigantescas árvores, que Harry supôs que faziam uma grande sombra. Muitas flores haviam sido plantadas, mas Harry não sabia por quem. A calçada conduzia os visitantes até uma porta dupla de madeira, que era ladeada por gigantescas janelas de caixilhos.

-Magnífico... –sussurrou Hermione, segurando uma flor por entre suas mãos. –Você e Mostro fizeram isso sozinho? –perguntou ela, direcionando-se a Dobby.

-Não, srta. Granger! Quando chegamos aqui, tudo estava assim...

-Deve ser um feitiço de conservação extremamente poderoso... –exclamou ela. –Suponho que a casa também estivesse em boas condições?

-Ah, não, srta. Granger... –respondeu o elfo, murchando lentamente as grandes orelhas. –A casa estava destruída, havia sinais de luta, tivemos de usar muitos feitiços e...

Mas Harry não ouviu o que Dobby falou em seguida, pois uma tristeza profunda havia chegado a seu peito, trazendo saudades dos pais, os quais ele nem havia conhecido.

-Harry, cara, você está bem? –perguntou Rony preocupado, ao perceber que Harry estava abatido.

-Estou sim... Vamos para dentro, por favor? Estou exausto! –falou ele, direcionando-se a imensa casa.

-Há três quartos arrumados para os senhores e a senhorita no segundo andar! –exclamou Dobby, antes de eles recolherem-se.



Harry acordou-se alguns dias depois, na mesma casa, com um barulho característico de briga vindo do corredor ao lado deu quarto. Levantou-se apressado, pos um roupão por de cima de seu pijama, e abriu a porta.

Lá estava Dobby e Mostro agredindo-se de qualquer forma possível... Verbal e fisicamente. Pelo visto, Dobby ganhava, pois estava sentado em cima do corpo da outra criatura e puxava suas orelhas de modo que pareciam que iria rasgá-las. Harry lançou-se em direção aos elfos e segurou Dobby pelos minúsculos ombrinhos, no mesmo momento em que Rony saia de seu quarto e agarrava Monstro firmemente pelos tornozelos.

-PODEM ME EXPLICAR O QUÊ ESTÁ ACONTECENDO?-berrou Harry, para abafar os gritos e guinchos que ambos elfos soltavam.

-Monstro é mau! Fala mal do Senhor Harry Potter e de seus amigos! –falou Dobby em tom de acusação, indicando Monstro com o indicador, que tremia febrilmente.

-Monstro é que não vai servir a traidores do próprio sangue, e a imundos sangues-ruins! –guinchou o outro em resposta. –Monstro deveria estar com sua verdadeira dona, a Sra. Bellatrix... O que a Senhora de Monstro falaria se o visse servindo as ordens destes que ela tanto odeia?

-Você não insultará Harry Potter e seus amigos na frente de Dobby... –retorquiu o outro, lutando para ver-se livre dos braços de Harry.

-Dobby agradeço por tentar me proteger, mas não há a mínima necessidade... –interpôs-se Harry ao meio dos gritos e acusações. –Volte para seus afazeres, que eu cuidarei de Monstro... –Dito isto, Dobby desapareceu, e pode se ouvir tachos e panelas no andar de baixo. –E quanto a você Monstro, não importa o que a sua senhora iria pensar! Agora você serve a mim, e quero que você vá ao sótão limpar a poeira acumulada, e não volte de lá até que tudo esteja limpo... E o proíbo de tirar qualquer coisa do lugar, entendido?

Monstro relutantemente fez uma reverencia, e imitando ao primeiro elfo, desapareceu num estalo.

-Cara, eles estão incontroláveis ultimamente, não acha? –perguntou Rony. –Mas sinceramente, a cena de Dobby tentando arrancar as orelhas de Monstro, não conte para Mione, mas foi hilariante! –declarou ele, as gargalhadas.

Desceram juntos em direção da cozinha, e ouviram uma conversa animada, entre Dobby e Hermione.

-Ah, Harry, Rony! Que bom que acordaram, eu e Dobby estamos fazendo um café nutritivo... E depois eu e ele vamos juntos ao sótão, procurar as coisas, organizar, você entende... –falou ela, sorrindo.

-Certo, confio em você para isso, Mione, assim é bom mesmo, podem supervisionar o Monstro. –falou Harry, tomando seu lugar a mesa. –Tomei uma decisão, ontem à noite...

-E qual é? –perguntou Rony ao seu lado.

-Vou visitar o tumulo dos meus pais hoje... –respondeu ele, observando Dobby, cuja cabeça alcançava apenas o tampo da mesa, no momento em que ele servia uma porção de mingau na frente dos rapazes. –Você saberia me dizer onde eles estão, Dobby?

-Oh, sim... Estão nos pátios do fundo, Sr. Harry Potter... Há um pequeno mausoléu na orla do bosque... Posso levá-lo lá, se desejar! –falou ele.

-Não leve a mal Dobby, mas eu vou levar o Rony comigo desta vez... –respondeu Harry, com a colher a meio caminho da boca.

Hermione sentou-se a sua frente, com os cotovelos apoiados no tampo da mesa. Olhou preocupada para Harry, e decidiu falar, mexendo as mãos nervosamente.

-Tem certeza de que está preparado para isso Harry? Quer dizer... Você pode ir outro dia, certo?

-Relaxe, Mione, estou preparado! E depois quero explorar o bosque... Parece muito bonito lá da janela do meu quarto... E eu não saio desde que chegamos aqui...

Hermione pareceu preocupada, mas mesmo assim sorriu para Harry e desejou boa-sorte ao levantar-se e dirigir-se para o sótão, acompanhada por Dobby. Rony lia o Profeta Diário atentamente, com a boca escancarada. Passou-o para Harry, tomando um grande gole de suco.
Havia uma manchete de primeira página escrita “Encontrado corpo!”. Harry observou a foto, e viu vários bruxos aglomerados ao redor do que parecia a silhueta de um corpo, que estava coberto por um plástico preto.

"Na manhã desta sexta-feira, foi encontrado o corpo do jovem Sr. Malfoy, de dezessete anos de idade. O corpo estava escondido, em uma grande adega de vinhos no sul da França, e indícios mostram que já está morto a pelo menos duas semanas."

Dizia a notícia que continuava por mais duas páginas inteiras. Harry observou atentamente as expressões de repugnância dos bruxos na foto.

-Então... Até que ele durou bastante depois de ter fraquejado na hora de cumprir sua missão... Como acha que o mataram? –perguntou Rony.

-Aqui diz que o corpo estava praticamente irreconhecível... Era uma grande massa de sangue... Provavelmente Voldemort mandou Fenrir Grayback fazer o serviço, o que acha? Não seria a primeira vez... –respondeu Harry, ainda observando a grande foto na capa.

-Ele mereceu o que recebia por ter deixado aqueles comensais entrarem no castelo! –respondeu Rony, de repente. –Você viu a nota sobre a mãe dele? Simplesmente sumiu! –completou ele, espantado.

-Vem se veste que eu quero ir para o bosque logo... –falou Harry, ignorando o assunto. Ambos receberam o que mereciam, e Harry não sentia pena alguma. Mas o que teria acontecido a Snape, após quebrar o Voto Inquebrável? Estaria ele morto, em alguma floresta muito longe dali? Ou estaria ele protegido nos braços de Voldemort, contando infinitas vezes a forma como assassinara Dumbledore, aquele que há muito era o único que nele confiava?

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