O medalhão



Capítulo 3
O medalhão


Isobel chegou trazendo alguns nabos debaixo do braço e os jogou em cima da mesa. Amaldiçoou os elfos que não aceitaram as tão excelentes propostas dos bruxos. Caminhou em volta da mesa, sacudindo a cabeça e praguejando baixo, pensando que agora, por culpa daqueles infelizes bichos passaria fome ou, muito pior, teria de abandonar sua casa e seguir para o litoral como a maioria na aldeia já fizera. E isso ela não estava disposta a fazer.

Colocou os nabos no caldeirão e juntou um pouco de água, acendeu o fogo e sentou-se na frente do fogão, que também tinha a função de lareira da pequena casa. Com uma colher de pau, cutucou os nabos, com ramos e tudo, na esperança de fazer uma sopa tolerável. Não tinha nada mais para adicionar e conferir sabor e, percebendo isso, amaldiçoou os elfos novamente.

Enquanto mexia o ensopado de nabos, alguém bateu na porta.

– Entre – gritou a bruxa. – A porta está aberta.
Logo a porta de madeira escura e caindo aos pedaços se abria e entrou um velho, apoiado em seu bastão.
–Diga a que veio, Sigurd. Não tenho tempo para jogar conversa fora. – disse mal humorada para o velho.

O velho entrou e sentou-se, mesmo não tendo sido convidado a isso.

– Soube que não tiveram sucesso com os elfos.
–E que isso lhe importa? – retorquiu a bruxa, fazendo um esgar com a boca.

O velho sorriu, deixando a mostra uma boca com poucos dentes amarelados. Tossiu e riu logo após.

–Devia importar a você, Isobel, mais do que a mim, pois será você a passar fome daqui por diante e não eu. – E o velho riu de novo e tossiu outra vez.
–Suma-se daqui, velho. Já lhe disse que não lhe darei o que quer. Esse medalhão pertence a mim e só a mim. Vá-se embora!
–Pense melhor, Isobel. Logo você ficará sem nada e terá de viver com os trouxas, nas suas cidades sujas, lendo a sorte em folhas de chá para ter um pedaço de pão. – O velho coçou a cabeça e fez menção de levantar-se. Estancou de repente e disse: – Posso lhe ensinar magia muito poderosa para amansar aqueles elfos. Isso não seria bom? Então você poderia permanecer aqui, comendo todo o nabo que pudesse desejar e muitas outras coisas além de apenas nabos...

A bruxa parou de mexer seu caldeirão e pensou como seria bom ter um coelho para temperar a sopa esquálida que estava a sua frente. Mas aquele medalhão pertencera a sua avó e era a única riqueza que possuía. Um medalhão mágico não é algo que se troque por um punhado de nabos e um coelho.

– Teria de ser magia muito poderosa mesmo para fazer mudar de idéia aquele elfo velho idiota! Não creio que um velho como você saiba de algo tão forte. – arriscou Isobel.
–Está enganada, bruxa. Nada sabe ao meu respeito. Poderia ter tirado esse medalhão de suas mãos há muito tempo. mas parte da magia está em ser dado por vontade própria. E sei que um dia você fará isso, sim. – riu entre tossidas o velho bruxo, roucamente.

Isobel lamentou estar naquela situação, ouvindo um velho tolo sobre magias poderosas e tendo de pensar em se desfazer da jóia da avó, que pretendia deixar para o filho, o qual mudara-se para longe anos antes. Assim que pode tomar conta de si mesmo, seu filho partira para o sul, em busca de riquezas. Cansado de viver na penúria, não se conformava com a situação em que se achavam. Para quem já foi rico, a pobreza pode soar como uma maldição imerecida. Isobel não lamentava a perda do marido, morto por um dragão quando seu filho tinha oito anos, mas por tudo o mais que se vira sem: as terras ao norte, os criados, a vida despreocupada, quando dedicava seus dias a criar poções, no que era excelente. "Culpa dos elfos", pensou Isobel,rancorosa. "Tudo culpa dele!s".

Isobel viu que não tinha alternativa senão aceitar a proposta do velho Sigurd. Mas se certificaria da magia ser mesmo muito poderosa pois o que dava em troca lhe era muito valioso. Além do que não pretendia desfazer-se definitivamente dele, afinal o velho não viveria para sempre.

Com esse pensamento reconfortante, concordou finalmente, em entregar o medalhão a Sigurd.

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