A Toca



A Toca

O dia amanheceu claro sem nenhuma nuvem. Os preparativos para a partida estavam sendo arrumados, incluindo um bolo de nata com calda de chocolate meio-amargo, que Agatha resolvera levar para dar para a Sra. Weasley de presente. Eram quase 10h quando ela, finalmente, puxando suas malas dirige-se em direção a lareira. Para sua felicidade, desde a discussão com Draco, ele não a havia mais importunado, mantendo-se afastado de todos na casa. Mas como todo menino mimado e vingativo, Draco acabaria por dar uma revanche, que, ela tinha certeza, não tardaria. Mas, ao avistar a lareira, suas divagações em relação ao noivo foram, instantaneamente, postas de lado por outras bem mais agradáveis.
- A Toca – falou em meio às cinzas e chamas esverdeadas.
Assim que conseguiu abrir os olhos, já limpos da poeirada cegante, avistou a Sra.Weasley, uma mulher baixa e gordinha com seus cabelos cor de fogo, que a esperava carinhosamente na cozinha com a varinha pronta na mão para limpar a poeirada que a cobria por inteiro.
- Olá, querida – cumprimentou a mulher animada – Bem vinda! – disse ela entusiasmada indo abraçar Agatha - Deixe-me ajudá-la com essas coisas.
- Obrigada Sra. Weasley.
- Molly, querida. Nada de Sra. Weasley!
- Ah...Obrigada Molly. Aqui está um bolo que eu trouxe de casa.
- Quanta gentileza!! Bem que os meninos estavam dizendo que você é uma gracinha! Vou botar essa maravilha aqui e te levar para onde eles estão.
A cozinha era modesta, atulhada até o teto de prateleiras e armários, entupidos de louças, livros e comida. Também podia ser considerada muito simpática e acolhedora, no entanto, nada parecida com qualquer outra que Agatha já tivesse visto antes. A Sra. Weasley guiou-a até a sala, porque, apesar do tamanho, a cozinha estava tão bagunçada, que a menina especulou a possibilidade de ter acabado perdida ali dentro. Assim que atravessou a porta, só conseguiu vislumbrar por um instante a visão de uma sala de estar tão entulhada quanto a cozinha, antes que quase fosse derrubada por Hermione, que tinha vindo correndo em sua direção para abraçá-la.
- Agatha, que bom que você veio! – disse a menina ainda agarrando-a – joga xadrez de bruxo comigo, pois não agüento perder mais pro Rony!
- Mas não é só você que perde pra ele, Hermione. Todos aqui perdemos. Papai sempre comenta que Rony é um dos melhores jogadores que ele já viu! – disse Gina, inflando de orgulho do irmão.
- Mas aposto que consigo te vencer. – disse Agatha, desafiando Rony.
- Nem em sonho! – respondeu o garoto ruivo.
E não dera outra. Em menos de 10 minutos Rony destruíra as defesas de Agatha e encurralara o rei da menina, fazendo um check mate.
O sol já estava no seu auge, quando todos foram chamados por uma alegre Sra. Weasley para jantarem. O jantar seria feito no jardim, já que a cozinha não comportava tanta gente junta. Dois assobios longos e curtos marcaram a chegada de Fred e Jorge ao quintal, que fizeram questão de se sentarem um de cada lado da garota à mesa e tentaram, o almoço inteiro, puxar conversa com Agatha. Eles, constantemente, soltavam indiretas à menina, que, por sua vez, enrubescia. A Sra. Weasley, um tanto envergonhada, pelas atitudes dos garotos em relação a menina, pedira mil desculpas pela maneira imprópria pela qual eles se dirigiram a ela. Claro, que Agatha nem se importara, estava divertindo-se com a situação e, como toda garota, gostava de ser bajulada de vez em quando. O Sr. Weasley, segundo Agatha ficara sabendo, não voltaria cedo do trabalho, o que achou um pouco estranho. Mas a visão da deliciosa comida da Sra. Weasley varrera qualquer estranhamento e preocupação de sua mente tão rápido como haviam surgido. A conversa baseou-se na nomeação de Rony e Hermione a monitores e como a Sra. Weasley orgulhava-se de ter mais um filho monitor.
Inesperadamente, enquanto todos ajudavam a arrumar a bagunça do jantar, Sirius surge, dando um enorme susto na Sra. Weasley com a sua aparição. Agatha estranhara o surgimento do cachorro, uma vez que sua mãe havia deixado muito claro que não queria que Sirius fosse junto. Ele deve ter arranjado um jeito de fugir sem minha mãe reparar, pensou ela, notando a alegria contagiante irradiando de seu cachorro.
Agatha, acompanhada por Sirius, Harry, Rony e Hermione sentaram-se em um canto do jardim para jogarem papo pro ar.
- O que será que nós monitores teremos que fazer? – perguntou um Rony temeroso.
- Nada de mais. A gente só vai precisar ajudar os menores, cuidar pra que não haja confusão, dar detenção a quem infringir as regras... Todas as coisas que nós já vimos outros monitores fazendo. – respondeu Hermione despreocupada.
Sirius, aparentemente entediado, deitara-se junto a Harry, que acariciava sua cabeça sem muito entusiasmo.
- É...Não deve ser difícil mesmo não – comentou Rony bem mais entusiasmado ante a perspectiva de poder mandar nos outros.
Agatha preocupada com o desânimo de Sirius, que adorava companhia e era normalmente alegre, acabara por murmurar o nome do cachorro sem dar-se conta. Ouvindo o seu nome, o cachorro levantara a cabeça por um instante, possibilitando a visão da parte inferior de sua mandíbula, que, para surpresa de Agatha, não mostrara a manchinha tão característica de Sirius, a única maneira de diferenciá-lo dos outros cachorros da família.
- Afaste-se dele Harry!! Esse não é o Sirius! – berrou Agatha descontrolada.
- Como assim?! – Harry estava claramente confuso – Claro que esse é o Sirius, quem mais poderia ser???
Rapidamente, Agatha levantara-se e segurara o cachorro pelo pescoço, impossibilitando sua fuga.
- Dá a pata! – mandou a menina furiosa.
O cachorro levantara a direita.
- A outra!
A menção desse segundo comando, o cachorro, fingindo-se de desentendido, encarara Agatha confuso. Uma vez que o cachorro não se movia, Agatha, sem rodeios, pegara a sua pata e examinara-a cuidadosamente entre os dedinhos. Uma mancha branca fora localizada.
- Sirius é? Ou, eu diria, Vick! – disse ela com uma expressão de enorme triunfo estampada em seu rosto – Por que você está aqui? Quem foi que te mandou? Meu pai ou minha mãe?
- Nenhum dos dois – sua voz era mais forte e mais rouca do que a de Sirius.
- Quem então? Malfoy? – sondou a garota agitada.
Com um rápido aceno de cabeça perceptível apenas para Agatha a pergunta havia sido respondida. Um pouco mais controlada, mas não menos furiosa, Agatha, já decidida, avisara aos amigos:
- Hum....Desculpe sair assim tão depressa, mas eu preciso voltar – disse. Virando-se para o cão completou – E você vem comigo!
Atravessaram o caminho rapidamente, sua vontade era trucidar aquele maldito Malfoy. Rony acompanhara-a até a cozinha e mostrara-a onde encontrar o pó-de-flu.
- Rony, muito obrigada por ter me convidado. Desculpe-me por qualquer coisa e nas próximas férias, eu vou fazer questão que todos vocês apareçam lá em casa!
- Ah, que isso. Foi um prazer. – respondeu o menino com suas orelhas vermelhas.
Ao chegar em casa, Agatha encontrara seu pai e Draco conversando no sofá, pelo que parecia, sobre ela.
- Por que? – foram as únicas palavras que saíram de sua boca.
- O que? – perguntou Draco, tentando ao máximo não se denunciar.
- Não se faça de desentendido, você sabe muito bem que esse .... – apontara para o cachorro ao seu lado – NÃO é o Sirius!
- Talvez eu tenha mandado o Vick no lugar dele – falou pausadamente, procurando as palavras certas – mas o que há de errado nisso? Era apenas para a sua proteção.
- OU para me espionar! – rugiu Agatha transtornada com a audácia e cara de pau de Draco.
- Querida, achei uma ótima idéia mandar Vick ao seu encontro para certificarmo-nos de que você não estaria confundindo as coisas – confessou o pai de Agatha, mas ela não conseguia entender como seu pai defendia aquele garoto louro e cínico – Não que você não seja de confiança minha filha, mas queríamos ter certeza de que você sabe qual é o seu futuro.
- HURGH!!! – Agatha saiu correndo da sala para seu quarto, batendo todas as portas pelo caminho de frustração.
***
Passaram-se horas até que duas batidinhas na porta a trouxeram de volta a realidade.
- NÃO QUERO VER NINGUÉM!! – gritou, atirando um dos potes de porcelana, que se encontrava perto de sua cama, com o brasão dos Black na porta. – VÁ EMBORA!
- Deixe de tolices menina! – falou uma voz fria, que Agatha reconheceu como sendo a de seu tio – Deixe-me entrar.
Agatha permaneceu calada. Ela, na realidade não queria ninguém por perto naquele momento, mas também não queria discordar, nem provocar raiva no homem, já que sentia um certo temor dele. Como o silêncio é uma forma de consentimento, após alguns minutos Voldemort pronunciara um Alorromora,destrancando a porta do quarto. Agatha, ainda de mau-humor, não fizera questão nenhuma de se levantar, quando seu tio entrara.
- Você ainda vai hospedar-se no Caldeirão Furado? – perguntou ele num tom displicente.
- Acho que sim – Agatha estava confusa, ela ainda não havia pensado sobre isso direito – Quero dizer, vou sim!
- Que bom, assim você poderá me fazer um favor. Eu quero que você vá à Travessa do Tranco pra mim.
- Por que você não pede isso a um de seus comensais? – perguntou ela sem pensar.
- Simplesmente, porque eu preciso que isso seja discreto e você seria ideal. – respondeu ele mais friamente que o normal.
- Tudo bem então. A Hermione pode saber que eu vou pra lá? – perguntou Agatha, precisando saber exatamente o que fazer e quem evitar.
- Claro que não. Se eu digo que é pra ser discreto, não é pra ninguém ficar sabendo! – respondeu ele, perguntando-se se sua sobrinha realmente seria capaz de realizar importante missão - Você precisará ir numa loja chamada Borgin & Burkles, pedir ao dono três objetos que ele está me devendo.
- Ahh... E como ele vai acreditar que é pra você? – perguntou a menina intrigada – Quero dizer, o Ministro da Magia e o Profeta Diário não querem aceitar que você voltou e eu não posso falar abertamente sobre isso por ai.
- Ele vai entender que você está lá a meu mando. – respondeu o tio, um tanto mais aliviado pelas perguntas mais inteligentes da sobrinha. Ele estava começando a acreditar na eficiência da menina – Em todo caso, leve Nagine contigo para que não haja dúvidas quanto ao assunto, ele terá que reconhecê-la.
- Como aquela cobra gigantesca vai ficar na hospedaria sem que ninguém perceba? – perguntou Agatha incrédula. Não havia como ela ficar carregando a cobra pra cima e pra baixo no Beco Diagonal – Quero dizer, ela é enorme!
- Isso não é problema. Mas to vendo que vou poder contar com a sua colaboração, não é isso?
- Claro, vou começar a preparar minha mala agora mesmo. – concordou ela apressada.
- Antes de você começar a arrumar suas coisas, quero que me acompanhe até meu quarto! – disse Voldemort enigmaticamente, saindo do quarto imediatamente.
Sem demora, Agatha seguira o tio, que ao seu ver tornava-se um homem cada vez mais intrigante.
A casa tinha quatro quartos de hóspedes: Um estava sendo ocupado por Lucius Malfoy, outro, que era o menor, por Draco e outro ainda por Voldemort, que estava ocupando o maior e mais luxuoso dos quatro. Ele era bem iluminado, tinha uma mobília escura com puxadores de prata maciça e um armário não muito grande com apenas duas portas. No chão, havia um tapete de pele de urso polar. A cama, por sua vez, era muito confortável com seus travesseiros e edredom de pena de ganso. No canto direito do quarto, existia uma mesa quadrada, que servia de base a um lustre com uma grande cobra enrolada a sua volta. Voldemort e Agatha entraram.
- Eu preciso te dar uma coisa. Se você puder esperar do lado de fora...- seu tom de voz não era frio como de costume, mas suave e paternal.
Do lado de fora, Agatha conseguira escutar apenas o barulho de Voldemort mexendo em seu armário a procura de algo. Passado uns dez minutos, o barulho cessara e ele aparecera à porta, indicando a ela que entrasse e a fechasse. Entrando no quarto e dirigindo-se direto ao tio, Agatha esquecera-se completamente que deveria ter fechado a porta antes, uma vez que estava um tanto temerosa pelo que estaria por acontecer. Um grande estalo no assoalho a fez levar um susto, fazendo-a virar-se para ver o que havia provocado o barulho, mas sem êxito, já que não conseguira ver nada. Decididamente não fora ela que provocara aquele barulho. Com o coração aos pulos ela voltara o pequeno trecho rapidamente, fechara a porta e voltara até seu tio, que segurava um frasquinho com um líquido vermelho amarronzado. Voldemort parecia muito tranqüilo, será que ele não ouvira o barulho?, pensou ela.
***
- Por pouco que ela não me vê – pensou Draco, que estava do lado de fora do quarto.
- O que será que estão conversando? Será que tem algo há ver com os acontecimentos de hoje de tarde? – pensou aflito – Uma coisa era certa: Voldemort não deveria interferir nisso. O problema era entre ele e Agatha. Mas o que será que eles estariam fazendo, então?
Sua orelha estava encostada na porta e de vez em quando ele dava uma espiada pela fechadura, mas nada adiantava. Não conseguia, de jeito nenhum, ver nem ouvir nada. Angustiado e frustrado ele voltou para seu quarto, que era próximo daquele.
Uma hora já se passara, mas Agatha não dera sinal algum de ter saído do quarto. Quando finalmente a porta se abriu, apenas uma pessoa saiu de lá de dentro. Malfoy foi ver quem seria, mas decepcionou-se, não era ela...
- Desculpe, milorde, mas o senhor sabe onde Agatha está? Eu realmente preciso falar com ela.
- Não sei e se me der licença, Draco, eu realmente tenho outras coisas para fazer sem precisar ser interrogado por um adolescente intrometido, se é que você me entende.
Draco ficara ofendido, era óbvio que ele não queria falar com Agatha realmente, mas precisava de uma desculpa para perguntar onde ela estava. Ele vira ela entrando no quarto de Voldemort, mas não a vira saindo e, agora, com uma boa espiada vira que ela também não se encontrava mais lá.
- Aonde será que ela foi? – murmurou para si.
A noite caiu, Agatha continuava desaparecida e ninguém parecia notar. Aparentemente não estava em parte alguma da casa: Não estava em seu quarto, nem no dele, nem no de seus pais, nem em lugar nenhum. Ela não havia partido para o Caldeirão Furado ainda, pois combinara com Hermione que só iria no dia seguinte. Sirius tão pouco estava preocupado, ele permanecera de baixo da escrivaninha o dia inteiro.
O jantar estava sendo servido e Agatha ainda não aparecera. Sirius, Vick e Cleo perambulavam em volta da mesa. Todos estavam contentes, até Voldemort deu uma daquelas risadas frias sem graça. Algo estava acontecendo, ele percebia, mas ninguém lhe falava nada. Cansado, fora se deitar com desânimo. Seu último pensamento fora que pelo menos Agatha não iria para o Caldeirão Furado encontrar Hermione, já que estava desaparecida.

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