Um Aviso Inesperado



Era uma noite tempestuosa na Inglaterra, a chuva tamborilava nas janelas e um vento gelado varria as ruas lá fora trancando os moradores no interior de suas secas e confortáveis casas.
Contudo, no interior da casa da Rua dos Alfeneiros número 4, mais precisamente no segundo andar da casa, num quartinho miseravelmente mobiliado e atulhado de objetos estranhos (realmente estranhos), encontra-se um garoto que como a maioria dos garotos de sua idade já deveria estar dormindo. Mas esse não é um garoto como os outros, seu nome é Harry Potter, este nome pode não lhe dizer nada, e com certeza não diria nada para a maioria dos trouxas como você, mas no mundo mágico não existe uma só pessoa que nunca ouviu falar nele.
Sim você leu corretamente a parte de trouxas e mundo mágico, mas como os trouxas tem o raciocínio meio lento vamos esclarecer umas coisas antes de dar continuidade:
Trouxa é como são chamados os não-bruxos, como você.
O mundo mágico existe no meio do mundo dos trouxas, protegido por feitiços que impedem que os não-bruxos o localizem mesmo que esbarrem nele em plena luz do dia.
Tendo esclarecido isto, vamos retornar ao nosso foco.
Já passava da meia-noite, raios rasgavam furiosamente o céu noturno, e no interior de seu quarto Harry estava debruçado sobre seu Livro Avançado de Poções tentando fingir que ainda estava em Hogwarts (a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, onde os bruxos estudam), agora que as férias estavam quase no fim as saudades dos amigos e de toda a correria da escola pareciam ter se multiplicado ao extremo para ele.
Estas foram suas piores férias desde que ele soube que era um bruxo.
Os Dursley (seus tios trouxas), foram especialmente atenciosos com ele desta vez, não o deixando um minuto parado, Harry varreu, poliu, encerou, lavou, enxugou e consertou cada centímetro da casa. Tudo isso tentando se manter o mais longe possível dos braços nervosos do tio Valter, do raio de visão da tia Petúnia e do mau-humor de seu primo Duda, que parecia crescer rapidamente na mesma proporção de sua barriga.
Mas isso agora não tinha mais importância, não agora que faltavam menos de 24 horas para voltar pra escola.
Ele reveria então seus amigos queridos Rony Weasley ( que foi passar as férias na Romênia com sua família visitando o irmão Carlinhos que estudava dragões lá) e Hermione Granger (que foi passar as férias numa viajem de volta ao mundo com os pais).
Nas últimas férias ele tinha passado um tempo na Toca (a casa dos Weasley), onde era tratado como um filho pela Sra e Sr Weasley, como um irmão por Rony e algo mais ou menos assim por Gina, a filha mais nova dos Weasley (na verdade ele não sabia o que sentia muito bem por ela, pois ultimamente quando a olhava seu estômago parecia de encher de brasas). Mas desta vez teve que se contentar com a hospitalidade peculiar dos Dursley.
De repente ele sobressaltou-se com um barulho mais alto e persistente que a chuva vindo da janela, normalmente ele não teria se assustado pois era normal que sua coruja Edwiges batesse assim em sua janela a altas horas da noite após retornar de suas caçadas noturnas, mas naquela noite chuvosa ela não tinha mostrado muito interesse em deixar sua gaiola forrada de palha quentinha.
Harry rapidamente pegou sua varinha, e foi, pé-ante-pé, até a janela, abriu as cortinas cuidadosamente, levantou a varinha e gritou:
-Lumus!
Uma luz cegante jorrou da ponta da varinha e iluminou todo o quarto, lá fora estava uma coruja do campo meio ofuscada ainda pela luz, que bicava furiosamente sua janela, pedindo pra entrar, quando ele a abriu a coruja voou ligeiro para dentro do quarto, pousando em cima de sua escrivaninha, molhando tudo ao redor e piando alegremente por ter se livrado da chuva fustigante.
Na pata esquerda da coruja Harry encontrou um bilhete muito pequeno e bem amarrado (essa é a maneira mais convencional dos bruxos se comunicarem: o correio-coruja).
Harry desamarrou o bilhete e o abriu, dentro ele leu uma mensagem escrita em linhas tortas que parecia ter sido escrita por uma criança:
Harry, me aguarde amanhã de manhã com suas malas prontas, irei com você até o Beco Diagonal comprar seus materiais escolares.
Ass. Hagrid
Ao terminar de ler, um sorriso iluminou seu rosto, finalmente ele reveria Hagrid, seu grande (em todos os sentidos) amigo, o Guarda-Caças e professor de Trato com Criaturas Mágicas de Hogwarts.
Até aquele momento ele não tinha se dado conta de quanta saudades tinha sentido dele e de suas conversas em sua cabana na beira da Floresta Proibida, e de seu enorme cão Canino.
Com esse pensamento Harry foi se deitar depois de ter reaberto a janela deixando a coruja (meio contrariada) partir novamente, e nessa noite ele teve seu primeiro sonho agradável desde o início das férias.
O sol mal havia nascido quando Harry acordou, a ansiedade pelo encontro com Hagrid não o deixou continuar dormindo.
Quando os pássaros iniciaram sua cantoria matutina ele já havia se vestido e estava na cozinha preparando seu café da manhã procurando fazer o menor barulho possível para não acordar os Dursley, na verdade, ele tinha esperanças de não vê-los até a hora da sua partida para Hogwarts.
Seu intento ia dando muito certo, até quando uma vozinha esganiçada vinda de trás dele disse:
- Olá Harry Potter, senhor!
- Ahhhhh!!!!! - gritou Harry instantaneamente. No susto ele jogou seu corpo para trás, caindo duramente no chão com a cadeira atrás dele e todos os pratos copos e talheres que estavam em cima da mesa acompanharam a queda se espatifando no chão e produzindo um barulho que pareceu ter sido amplificado umas dez vezes.
Imediatamente Harry olhou para o lado na direção da voz que o assustou, e avistou um serzinho um pouco maior que um cachorro, de olhos enormes como bolas de tênis e vestindo os trajes mais esdrúxulos e berrantes que ele já viu na vida.; a criatura estava de pé olhando para ele caído no chão.
- Dobby!! Nunca mais faça isso
Dobby, o elfo-doméstico que Harry ajudou a se tornar livre estava abrindo a boca para pedir desculpas quando o som de passos apressados irrompendo pela escada o interrompeu.
- Rápido Dobby, suma para o meu quarto, se meus tios o virem aqui são capazes de não me deixar retornar a Hogwarts nem com toda a mágica de Dumbledore do meu lado – disse Harry, levantando-se atrapalhadamente do chão.
Dobby estalou os dedos e sumiu numa nuvem de fumaça, Harry se pôs de pé com sua varinha que estava no bolso de sua calça agora na mão e disse:
- Mesa de café, reparo!
Instantaneamente os talheres voltaram pra cima da mesa, os copos e pratos que estavam em pedaços se refizeram e retornaram também pra cima da mesa e a cadeira ficou de pé no mesmo lugar que estava antes de tombar. Exatamente nesse instante um tio Valter de cabelos despenteados, cara inchada e olhos injetados de pijama branco com listras azuis e extremamente furioso chegou na cozinha pegando Harry tentando sair de fininho pela porta lateral.
- Parado aí mesmo! Garoto maldito dos infernos, que diabos está acontecendo por aqui? São os canhões da artilharia disparando dentro da minha cozinha?
- Desculpe senhor...
- Calado moleque, como ousa interromper meu sono merecido depois de um dia extenuante de trabalho?
- Mas senhor...
- Silêncio seu pirralho, como pode ser tão ingrato comigo depois de tudo que eu já fiz por você?
- Senhor...
- Quieto, eu deveria pô-lo daqui pra fora a ponta pés, seu pestinha miserável.
- O senhor pode tentar! – respondeu Harry furioso depois de agüentar toda aquela enxurrada de insultos.
Uma veia na cabeça de tio Valter saltou e latejava assustadoramente ameaçando explodir.
- Como, com todos os diabos dos infernos você ousa me responder assim seu insolentezinho metido a besta?
Tio Valter avançou com os braços ameaçadoramente levantados em direção a Harry que deu um passo pra trás, empunhou sua varinha e disse com um sorriso malicioso:
- Vamos! Tente me pegar! Me faça feliz!
Tio Valter estacou de imediato, seus olhinhos rechonchudos inflamados fitando Harry.
- Você não ousaria seu fedelho – ele disse olhando inseguro para o garoto.
- Pois experimente, mas antes me diga o que o senhor prefere: uma cabeça de porco pra combinar com seus modos, ou orelhas de burro pra combinar com sua inteligência?
No meio desta cena, tia Petúnia e Duda chegaram na cozinha atraídos pelo volume assustadoramente alto da discussão.
- Ahhhhh!!! – berraram os dois em uníssono.
Logo em seguida a cara de cavalo da tia Petúnia foi ficando pálida, até que ela perdeu os sentidos e desmaiou em cima de Duda, que tinha ficado paralisado de boca aberta ao lado dela.
- Está vendo o que você fez seu pirralho? Suma daqui antes que eu tome esse bastão idiota da sua mão e o faça em mil pedacinhos. – disse tio Valter que correu para acudir sua mulher.
- Eu vou pro meu quarto, mas vou porque quero, e o primeiro que for lá em cima pra me incomodar pode se candidatar ao cargo de nova atração do zoológico da cidade – e lançou-se velozmente escada acima.
Harry entrou no quarto e bateu a porta violentamente atrás de si. Dobby que estava saltitando em cima da cama parou imediatamente e ficou imóvel olhando para ele.
- Agora Dobby, posso saber o que você está fazendo aqui?
- Sim senhor, é claro, Dobby veio pra dar um aviso a Harry Potter, senhor.
- Não me diga que você veio aqui pra tentar me convencer a não voltar pra Hogwarts novamente?
- Oh não senhor! Não! Dobby veio até aqui pedir que Harry Potter volte logo pra Hogwarts senhor, e que Harry Potter fique de olhos bem abertos, senhor.
- Mas por que? O que está acontecendo na escola Dobby?
- Dobby não pode falar senhor, Dobby não sabe direito, mas Dobby sabe que está acontecendo algo senhor, alguma coisa muito grave está preocupando os professores de Hogwarts senhor, e o diretor Dumbledore também. Dobby ouviu falar que algum mal antigo está voltando em Hogwarts, e que ninguém pode combater, nem com toda a mágica do castelo reunida, Dobby ouviu falar que Hogwarts só tem uma chance de salvação senhor.
- E que chance é essa Dobby? Fale!
- Dobby ouviu falar que única chance de salvar escola é Harry Potter, senhor.
- Eu! Como assim?Não Dobby, você deve ter ouvido errado, se essa coisa que está voltando é tão poderosa só o diretor Dumbledore poderia fazer alguma coisa. Eu não tenho poder pra enfrentar isso, mal soube que sou um bruxo, estou aprendendo magia ainda. Tem certeza que ouviu direito Dobby?
- Oh sim senhor, Dobby ouviu direito senhor, Dobby estava visitando os elfos-domésticos da escola quando ouviu conversa de professores nos corredores, senhor.
- Dobby tem que ir embora agora senhor. Dobby vai ficar um tempo em Hogwarts estudando a história dos elfos-domésticos na biblioteca, senhor.
- Tudo bem Dobby, pode ir, hoje mesmo eu vou voltar pra escola, só estou esperando Hagrid chegar pra ir comprar meus materiais.
- Dobby vai esperar Harry Potter na escola então senhor!
- Ok Dobby, até lá então, e obrigado pelo aviso.
Dobby estalou os dedos e sumiu novamente numa nuvem de fumaça, deixando pra trás Harry com uma série de pensamentos martelando sua cabeça.
Era quase onze horas quando Harry, que ainda estava em seu quarto pensando, ouviu uma forte explosão vinda do andar de baixo da casa.
Suas malas já estavam todas prontas, ele abriu uma delas rapidamente e retirou sua varinha por via das dúvidas para ir checar a origem da explosão.
Quando terminou de descer as escadas e chegou na sala de entrada da casa ele viu os Dursley encolhidos no fundo da sala, Tio Valter na frente com cara de quem acabou de perder o maior contrato da vida, tia Petúnia atrás dele com sua cara de cavalo horrorizada como se alguém tivesse entrado em sua sala magnificamente limpa com os sapatos cheios de lama, e por último, mas não menos assustado, Duda, com uma cara tão confusa como quando sua professora pedia para ele somar dois mais dois.
A razão da apreensão dos Dursley estava bem na frente deles, na entrada da sala, um gigante de mais de dois metros e meio de altura trajando roupas feitas com peles de animais, um rosto redondo coberto quase completamente por uma barba extremamente emaranhada e dois olhinhos negros que mais pareciam besouros e que agora estavam faiscando para eles, com uma sombrinha cor-de-rosa apontada em sua direção.
- Droga Dursley, você é surdo ou o que? Não me ouviu batendo em sua porta pedindo pra entrar?
Tio Valter tentou balbuciar algumas palavras, tia Petúnia choramingou baixinho, e Duda parece que ainda estava tentando chegar ao resultado da soma.
- Que diabos homem, tenha compostura, eu só vim aqui buscar o Harry, onde ele está?
- Hagrid!!!
- Oh Harry, aqui está você meu rapaz. E então, está pronto pra partir?
- Estou sim, minhas malas estão feitas, vou pegá-las já.
Harry subiu rapidamente para seu quarto, pegou suas malas e a gaiola de Edwiges e voltou em seguida arrastando sua bagagem escada a baixo.
- Pronto, vamos Hagrid?
- Vamos, se eu olhar por mais cinco minutos pra cara dos seus tios vou acabar ficando com a mesma cada de apaspalhado deles.
E assim os dois saíram de casa e partiram para comprar os materiais de Harry no Beco Diagonal.

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