Cap. 17

Naquele mesmo instante, Stacey estava sentada à margem do lago, jogando pedaços de arenque para a lula gigante, tentando evitar pensar no único assunto que todas as garotas da escola pareciam ter: o baile de Natal. A ruiva ainda não se recuperara de todo da grande decepção que sofrera com Sirius Black, e tinha bons motivos para não querer ir a esse baile: um era não querer nem por sonho se aproximar de outro garoto tão cedo, o outro era não se acreditar capaz de ver outra garota – principalmente a Lucy- Ann – encarrapitada no braço de Sirius, achava que era capaz de ter ânsias de matar aos dois, e depois picá-los em pedacinhos para atirar à lula.
Estava tão concentrada em suas mágoas, ruminando-as em sussurros contrafeitos, que não viu o rapaz que se sentou ao seu lado, como quem não quer nada. O moreno, no entanto, estava atento. Depois de alguns minutos em que parecia rir de si mesmo, erguendo o rosto para o céu, como se quisesse beber os raios de sol que realçavam ainda mais o tom bronzeado de sua pele, resolveu chamar sua atenção:
- Desculpe interromper mas... posso te oferecer uma alternativa?
- Como? –ela se virou para ele, assustada.
- Não tinha intenção de te assustar, desculpe-me, mais uma vez.
Ela olhou para o belo moreno como se o visse pela primeira vez. Na verdade, podia até dizer que era realmente a primeira vez, já que, por meses a fio, quem sabe anos, só tivera olhos para o Sirius Black, e não conseguira perceber mais ninguém à sua volta.
O rapaz do sétimo ano era bonito, seus traços predominantemente latinos fazendo-o diferente de todo o resto da escola. Era sério e calado, ela nunca tinha ouvido falar dele flertando com alguém, ou simplesmente tendo amigos. Sabia que sua única companhia constante era a irmã gêmea, Rubla, por isso olhou em volta, procurando-a.
- Minha irmã está dentro da escola, nesse momento resolvendo o seu problema de companhia para o baile. E como eu sei que ela não vai precisar de minha ajuda, resolvi me arriscar a ser petrificado...
- Como assim? – Stacey perguntou num fio de voz, mas já temendo a resposta.
- Bem... você anda com cara de quem não quer ver ninguém do sexo oposto na sua frente... e eu não ando com muita vontade de me aproximar de ninguém também. Então, pensei que podíamos ser amigos...
- O único cara que propôs ser meu amigo...
- Não precisa me contar... – Ricardo tinha uma expressão ainda mais séria – mas te garanto que não é desse tipo de amizade que preciso... não costumo dar mais atenção aos meus hormônios do que à minha dignidade... Desculpe se ofendo seu amigo, mas... entre os meus aprendi a agir de forma diferente. Mas se você não entender amizade de outro jeito, então, não está mais aqui quem falou.
Juntando a ação às palavras, ele se ergueu, disposto a voltar para dentro da escola, mas Stacey, mal conseguindo acreditar que estivessse fazendo isso, segurou sua mão.
- Espere! – ela soltou sua mão ao ver o seu olhar – Eu... sinto muito se causei uma impressão errada. Mas esse é um assunto que não gostaria de tratar, ainda mais com... outro menino.
- Não sou um menino – ele retrucou – Sou um homem. Entre os meus, já sou considerado adulto há dois anos, já deveria inclusive estar casado. Não tenho intenção de brincar com seus sentimentos, nem de permitir que você brinque com os meus. Apenas pensei que poderíamos nos ajudar mutuamente, já que não lhe fará bem algum ficar fora deste baile.
Ela o fitava, boquiaberta. Ele era, sem dúvida, audacioso. Falar daquele jeito com ela, como podia?
- Não estou sendo ofensivo, estou? – ele sorriu, de repente parecendo cativante.
- Não, não está. Apenas... me surpreendeu, só isso. Eu também não quis ofendê-lo, me desculpe.
- Tudo bem, então? Iremos juntos? – ele tinha um ar levemente ansioso ao esperar sua resposta.
Stacey pensou um pouco, depois apenas sacudiu a cabeça, afirmativamente.
- Combinado.- ele tinha um sorriso de satisfação, mas não parecia aquele ar de triunfo que Stacey esperava ver - Claro que, se você preferir, podemos manter isso em segredo até o dia do baile... Bem, não precisamos ficar juntos por aí, só porque vamos ser parceiros...
Stacey o fitou, mais admirada e de certa forma enraivecida. Será que ele achava que ela não era boa o suficiente para ser vista ao seu lado? Mas antes que verbalizasse, ele falou suavemente:
- Eu ficarei imensamente feliz se você me considerar seu amigo, não ligo pra divisão de casas ou turmas e outras bobagens. Mas claro que teremos horários de folga diferentes, e não quero forçar minha presença e prejudicar suas... amizades. Mas estarei ao seu dispor, sempre que quiser conversar...
Dizendo isso, ele sorriu mais uma vez e se despediu, voltando para o castelo em passos tranquilos.
Confusa, Stacey voltou a se sentar, olhando sem ver a luminosa superfície do lago.
O que Mary e Cecille diriam disso?

- Loucura! – exclamou Mary.
- Ótimo! – retrucou Cecille – assim não vou mais precisar escutar você se lamuriando por causa do babaca do Sirius. Tem mais alguém em quem pensar.
- Está apaixonada? – a sonhadora Margareth, que viera se sentar com elas, perguntou baixinho.
- Claro que não, nem conheço o cara! – Stacey respondeu bruscamente, mas sorriu para a garota mais nova, temendo assustá-la – Desta vez, não caio nessa de novo, somos só amigos.
- Sei... – Cecille piscou para as colegas, mas depois levantou-se, espreguiçando-se – Desculpem, meninas, mas amanhã teremos jogo, e é contra a Grifinória. Ganhar de Tiago Potter não é fácil, portanto, vou dormir mais cedo. Boa noite!
Enquanto ela subia, as outras se concentraram em seus deveres de casa, mas Margareth estava mais pensativa do que o normal, e Mary a fitou com curiosidade. Perguntou-lhe se havia algum problema, mas a menina desconversou, acompanhando uma garota de sua turma que também ia se deitar.
Já em sua cama, Margareth pensava em como contaria às outras o que lhe acontecera naquela tarde... E, pior, como contaria ao primo...

*

Estava saindo da estufa de Herbologia, suja de terra e louca por um banho, quando quase colidiu novamente com alguém. Já se preparava para pedir desculpas e se afastar, quando uma voz masculina falou docemente:
- Tudo bem? Desculpe, eu sou sempre desastrado. Posso falar com você um minuto?
Ela ergueu os olhos para o rapaz alto e moreno à sua frente: Sirius Balck. Não soube o que dizer, então apenas sacudiu a cabeça.
- Bem... é que... queria saber se você já tem um par para o baile.
- Eu... – ela arregalou os olhos, surpreendida, pois nem pensara na possibilidade de ir a este baile, embora amasse dançar. Mas só o fazia quando estava sozinha, por achar que os outros a achariam ridícula dançando, por causa de seu defeito.
- Olha, se alguém já te convidou, tudo bem.
- Não! – ela quase gritou, mas depois tentou responder com calma – Na verdade, talvez eu vá mais cedo pra casa, já que não teremos aula no dia do baile.
- Ah, que pena! – Sirius parecia realmente desapontado.
Margareth começou a andar, tentando parecer tranqüila, pois sua vontade era sair correndo, mas tinha medo de se atrapalhar mais uma vez e pior sua situação com um tombo vexatório... em sua mente, revia Stacey se acabando de chorar, e as amigas prevenindo-a do caráter de Sirius Balck.
O rapaz a acompanhava em silêncio. Dissera a Remus o que pretendia fazer e ele quase lhe batera. Que ele não ousasse brincar com aquela garota! Ou ele mesmo, Remus, iria ajudar Snape a acabar com o amigo! – foram suas palavras de advertência.
- caramba! Será que não posso realmente me aproximar de uma garota sem segundas intenções? É isso que todos vão pensar sempre?
- Como? O que foi que disse? – a voz espantada de Margareth lhe mostrou que pensara em voz alta.
- Desculpe, é que... eu queria apenas tentar ser seu amigo, sem nenhuma outra intenção... entende? – ao perceber que estava quase falando uma bobagem, emendou – Não que você não seja bonita e uma garota agradável... Eu é que estou precisando cultivar amizades... diferentes. Claro que seu primo não vai gostar de saber disso e pode te impedir de ir comigo.
- Ele não manda em mim! Não tem o direito de escolher os meus amigos.
Sua raiva mostrou a Sirius que tocara no ponto certo. Sorriu, o mais docemente que pode, ao perguntar:
- Então? Sim ou não?
Margareth não vacilara novamente, aceitara. Mas no segundo seguinte, quando ele riu aquela sua risada que lembrava um latido e a ergueu e rodou no ar como se fosse uma pluma, ela já estava pensando que aquilo era loucura...
Agora, em sua cama, pensava na reação de Stacey, mais do que na de seu desagradável primo...
Será que a amiga a julgaria mal? Pensaria que Margareth estava traindo sua amizade? Sinceramente, esperava que não. Porque agora, começava a gostar da idéia de ter passado a perna em todas as belas e deslumbradas garotas de Hogwarts.
- Você não fez isso! – a voz de Stacey saiu esganiçada e raivosa.
Margareth instintivamente se encolheu ao lado de Mary. A amiga estava furiosa, e várias cabeças se viraram na direção delas, e não só da mesa da Lufa Lufa.

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