No Túnel
- Hermione?
- O que foi?
- Eu estou um pouco preocupado com o Rony. Você não está? Quero dizer, já faz um certo tempo que entramos aqui e ele não disse uma palavra...
- Ah, Harry... claro, eu também estou estranhando essa atitude dele, mas... vamos dar um desconto! Afinal, a irmã dele foi seqüestrada, e tudo mais... nós podemos só imaginar como esse sentimento deve ser...
- Até porque nenhum de nós tem irmãos. É... você tem razão...
- Mais tarde, se ele continuar deprimido, um de nós pode ir lá falar com ele. Mas por enquanto acho melhor deixar as coisas como estão.
O corredor de areia e pedras que formava o túnel parecia não ter fim. Segundo o relógio de pulso de Harry, os três já estavam andando há meia hora, e a esperança de estarem no caminho certo diminuía cada vez mais.
Além de não terem encontrado Gina, nenhum dos três havia visto um único sinal de vida desde que entraram no túnel.
Estavam em uma corrida contra o tempo, e a vida de Gina poderia depender de sua vitória.
**
Gina sentia o calor do corpo de Draco próximo ao seu, passando para o seu. Então, como um estalo, os pensamentos voltaram à sua mente, e a menina colocou as mãos sobre o ombro dele, empurrando-o e terminando o beijo.
Ao sentir os lábios da menina separarem-se dos seus, ele ficou confuso. Demoraram uns segundos para o rapaz posicionar-se de volta onde estava antes do beijo: em um túnel estreito e escuro, discutindo com Gina Weasley.
Apesar de ter sido uma iniciativa sua, Gina não sabia direito o que dizer. Evitando o olhar dele, começou:
- Eu... ah... droga! Foi você quem me beijou, fale alguma coisa!- depois de proferidas, essas palavras soaram extremamente idiotas aos ouvidos dela.
- Falar... falar o quê?- Malfoy também parecia um pouco alterado. – “Me desculpe por ter te beijado, Weasley, eu não queria fazer isso...”. Chega de mentiras! Eu quis fazer isso! Satisfeita? Eu quis! Queria fazer isso há muito tempo, muito antes de você entrar nesse túnel ou nessa casa, mas só descobri agora! Era isso que você queria ouvir?
Gina ficou sem ação, sem palavras, e sem entender que bicho poderia ter picado o rapaz.
Precisou de algum tempo para processar tudo o que ele dizia, pois o beijo a deixara desnorteada, quando fora pega de surpresa.
Draco Malfoy estava dizendo que a havia beijado propositalmente?! Não, isso não podia estar certo! Não era normal! Não podia ser!
E, droga, por que diabos ele tinha que ser tão... tão... ele? Porque tinha aquele jeito, que mesmo estando um pouco exaltado nunca o deixava? Aquele desdém que o fazia único?
E por que, no mundo, ela não havia reparado tudo isso nele antes? Como não havia reparado que ele era tão bonito? Tão educado e agradável? Por que ouvira seus irmãos a vida inteira, ao invés de tentar conhecê-lo? E por que estava perdendo tempo pensando nisso tudo, agora? Precisava dizer alguma coisa, mas tudo em que pensava parecia incrivelmente estúpido.
Finalmente, para seu alívio, Draco cortou seus pensamentos.
- Então? Agora seria uma ótima hora para uma reação da sua parte, sabe. Eu realmente gostaria de saber se devo continuar falando ou pedir desculpas pelo o que eu fiz.
- Peça desculpas pela maneira como me agarrou. – disse ela, séria.
O rapaz ficou um momento parado, olhando para ela, como que absorvendo a informação.
- Desculpe. – disse ele, com a voz um pouco pesarosa. – Desculpe, Weasley.
Ela assentiu:
- Ótimo. Agora continue falando. – Um sorriso abriu-se em seu rosto conforme ela pronunciava as palavras.
Novamente, ele absorveu as palavras dela, e sorriu abertamente em seguida.
- Bem... – limpou a garganta.- acho que agora você já sabe por que eu estou te ajudando...
Gina riu brevemente. Nunca uma risada soou tão maravilhosa aos ouvidos de Draco, nem um sorriso pareceu tão lindo aos seus olhos.
- Mas... por que você nunca me falou nada? Por que sempre foi tão...
- ... grosso? Mal-educado? Eu nunca pensei que seria correspondido. – o rapaz pareceu gelar ao terminar de falar. – ah... quero dizer... eu sou correspondido...- engoliu em seco. – não sou?
Não foram precisas palavras. O sorriso dela disse tudo que draco precisava saber.
- Hum... – ela começou, sarcástica, indo na direção dele. – senhor Draco Malfoy, sem palavras? Isso precisa ser registrado oficialmente...
-É...quem sabe...– Ele estendeu os braços e a abraçou pela cintura.
- Não é uma coisa que se vê todos os dias, afinal... você sempre tem uma resposta para tudo e todos...
- Todos. Menos um. Uma, na verdade.
Gina apenas riu. Enquanto ele a beijava novamente, ela sentiu mais uma vez os braços dele em volta de sua cintura, e conseguiu esquecer, ao menos por um momento, de tudo ao redor. Só o que importava era ele.
Draco soube que ali, naquele momento, resumia-se tudo o que quisera, tudo o que precisara a vida inteira.
Apesar disso, foi ele quem interrompeu o beijo dessa vez.
- Precisamos ir.
A menina concordou com a cabeça, deu um selinho do rapaz e retirou os braços de volta do pescoço dele.
Já não queria chegar ao fim do túnel tão cedo.
**
Duas horas transcorreram-se. Gina percorria o túnel ao lado de Draco, o qual mantinha sua varinha acesa.
Estava tudo silencioso, até Gina ter a impressão de ter sentido um movimento logo à frente.
- É impossível! Alguém teria que ter entrado pelo lado de fora de casa. – Draco pensava em voz alta.
- Possível ou não, eu tenho certeza de que ouvi um barulho bem ali. – Gina apontava para a escuridão. – Primeiros pensei que fosse só impressão, mas agora não tenho dúvida: tem alguém ou alguma coisa ali!
Gina tinha uma respiração curta, o que fazia seu peito subir e descer rapidamente, como se tivesse acabado de correr quilômetros.
- Fique aqui, Gina. – disse Draco. – Eu vou ver o que é.
Gina. Seu nome parecia estranho quando era ele que falava. E ela certamente estranharia chamá-lo de “Draco”.
Ficou observando o rapaz avançar no túnel apenas com um feixe de luz proveniente da ponta de sua varinha. Subitamente, ele apontou a varinha para a frente e disse:
- Lumos Solem!
Houve um clarão, que fez os olhos de Gina, acostumados ao escuro, arderem. Logo em seguida, uma boa parte do túnel estava iluminada, revelando as últimas pessoas que a menina esperaria encontrar lá: Rony, acompanhado de Harry e Hermione.
Tudo aconteceu muito rápido. Gina não teve tempo de sequer piscar, e Rony sacara sua varinha e a apontara para o pescoço de Draco, que paralisou, obviamente desprevenido.
Harry imitou o amigo, e Hermione foi em direção a Gina.
- Gina!- ela exclamava. – Graças a Deus! Você está bem? O que eles fizeram com você? Para onde Malfoy estava te levando?
- Calma, Mione! Eu estou bem. Rony, Harry, por favor! Draco – o queixo de Rony caiu à menção do primeiro nome de Draco.- só está tentando me ajudar!
Nenhum dos dois se mexeu. Rony encarava a irmã, e Harry continuava a encarar Draco de um jeito que o rapaz nunca vira antes. Parecia furioso.
- Como é? Ele - Hermione apontou para Draco por cima do ombro. – está tentando te ajudar?
- Isso mesmo, Granger. Agora, se me dão licença – começou a afastar as varinhas de seu pescoço com o braço. – acho que não há necessidade nenhuma disso. Por mais que vocês estejam gostando de apontar varinhas na minha direção, seria mais justo se fosse um de cada vez.
- Gina, o que está acontecendo aqui?
- Acho melhor você sentar para escutar essa história, Rony. Há muitas coisas que vocês precisam saber.
**
- E é isso.
Harry e Rony encaravam Draco com incerteza. Não confiavam nem um pouco nele. Mas ele havia trazido Gina até ali, não havia? E, como eles mesmos constataram, não havia desvio algum no túnel. Malfoy realmente a estava levando para fora da mansão.
O que era, no mínimo, suspeito. Por que ele estaria fazendo isso? Fora que poderia ser tudo um plano de Voldemort. Por menos que parecesse, Harry sabia, mais do que ninguém, que Voldemort sempre tinha uma carta na manga. E essa carta poderia ser Malfoy.
- Agora seria uma boa hora para algum de vocês dizer alguma coisa, sabem. – Draco fitava os três, sério.
Rony ignorou o comentário.
- Então, agora que já está tudo esclarecido, podemos ir embora? É só seguirmos o túnel de volta, e Hermione pode desaparatar de volta para A Toca.
Os dois rapazes levantaram-se e viraram as costas a Draco, preparando-se para partir.
- E vocês não estão esquecendo nada?- Hermione ainda estava sentada.
- Esquecendo?
- Rony, a sua irmã não chegou aqui sozinha. – ela levantou-se e foi falar com Draco.
- Obrigada pelo que fez por Gina. – a expressão no rosto dela era suave, mas não amistosa.
- De nada. – ele respondeu, com a mesma expressão.
Harry e Rony pareciam não acreditar que de fato teriam que fazer isso. Os dois fecharam a cara e disseram, muito baixo e quase ao mesmo tempo, sem olhar para Draco:
- Obrigada.
Ao que o rapaz respondeu com um sinal com a cabeça.
- Bem, acho que agora podemos ir. Vamos, Gina?
- Podem ir. Eu alcanço vocês.
Apesar de nenhum dos três ter mexido um milímetro, perplexos, Gina virou-se e foi falar com Draco.
Ele tinha um sorriso irônico nos lábios.
- Não acho que seja uma boa idéia.- deu uma olhada na direção de Rony e Harry.- Meu cunhado não aprece muito feliz.
- Seu o quê?- ela ria, incrédula. – Eu só queria agradecer de novo.
- E eu vou falar de novo: você não tem que agradecer.
- É melhor você voltar antes que sintam a sua falta, Draco.
- Não vão sentir. Mas eu vou voltar apenas para ver a cara do meu pai quando descobrir que você não está lá. – eu estava errado, afinal: você teve o Potter pra te salvar mais uma vez.
- Tive, mas não foi ele quem me salvou.
Ele sorriu.
- Quem sabe eu apareça em Hogwarts esse ano. Voldemort não vai deixar os “pobres estudantes” em paz de jeito nenhum, mesmo que Potter já tenha terminado os estudos. Provavelmente Dumbledore peça ajuda ao Ministério. E com algumas corujas, posso ser designado para esse trabalho.- deu uma piscadinha para a menina ao dizer isso.
Agora, foi ela quem sorriu, virando-se para o sentido contrário e indo juntar-se a um Harry desnorteado, um Rony mal-humorado e uma Hermione pensativa, para voltarem para casa.
FIM
Comentários (1)
adorei sua fic, mas o final é meio pobre. não me leve a mal mas eu gostaria de ver a reação dos gemeos quando descobrissem quem foi que salvou Gina
2011-12-23