A Chegada



Gina estava começando a achar que realmente irritara Malfoy quando abrira a porta do quarto, pois meia hora caminhando pelos corredores de uma casa não era normal. Era impossível uma casa (mesmo que fosse a Mansão Malfoy) ter tantos corredores e tantos quartos apenas para três pessoas viverem. Porque, até onde ela sabia, Malfoy não tinha irmãos: moravam apenas ele, Lúcio e Narcisa.
De qualquer forma, achou melhor não perguntar. Afinal, se ele realmente estivesse andando em círculos pelos corredores, ela não podia tirar sua razão, depois do que fizera. E, se não estivesse, provavelmente faria um escândalo sobre como estava tentando ajudá-la e o jeito com o qual ela retribuía; e a menina simplesmente não estava com a mínima vontade de discutir com ele.
Ele era extremamente irritante, e não calaria a boca por um bom tempo se encontrasse algum motivo para tirar uma da cara dela ou simplesmente incomodá-la. Gina não conseguia entender como ele conseguia ser assim. Não havia explicação, não havia palavra! Malfoy a irritava muito.
O fato de ele a estar ajudando, aparentemente sem nenhum interesse, não mudava o fato de ele ser um playboyzinho filhinho -de -papai. O “pobre menino rico”, incompreendido pela família. Pelo menos fora isso que ela entendera do pouco que o rapaz deixara escapar.
Mas essa historinha era velha, e ela definitivamente não iria cair nessa, principalmente vindo de Malfoy, que nunca valeu o ar que respirou.
Ela suspirou fundo desejando mais uma vez que tudo aquilo fosse apenas um sonho ruim, que dali a alguns minutos acordasse com Rony batendo na porta de seu quarto para tomar o café da manhã, n’A Toca, com toda a sua família.
Sentiu o cansaço, a solidão o medo e a tristeza tomarem conta de seu peito, e por um segundo pensou que fosse chorar. Mas descobriu que não tinha mais forças, suas lágrimas haviam sido “drenadas”. Não havia mais o que chorar.
Ela deu um suspiro com um ar meio choroso, o qual por mais que tentasse, não conseguiu controlar. O som chamou a atenção de Malfoy, que caminhava silenciosamente à sua frente.
- O que foi?- ele perguntou com urgência. Isso chegou a surpreender Gina de certa forma. Ele era capaz de preocupar-se com outro ser humano, afinal. – Está se sentindo mal?
- Não, não. – ela respondeu, cansada. – Estou só exausta, com medo, sono, frio, e saudades da minha família. Não seriam coisas que você entenderia. – falou, soando um pouco grosseira, mesmo sem a intenção de fazê-lo.
Ele a encarou por um momento, parando de caminhar.
- Tem razão. Eu não entendo as saudades da família, já que nunca senti nada parecido. Mas você sabe o que é descer de uma vassoura, depois de uma hora sobrevoando um estádio lotado de pessoas que provavelmente dariam um braço para te ver cair, apenas para constatar que perdeu mais um jogo? Isso também é exaustão. O sono e o frio são compreensíveis também. – ele deu uma pausa e continuou a encará-la, com uma expressão indecifrável, que ela nunca tinha visto no rosto dele antes. Draco começou a tirar o casaco. – Se quer pedir ajuda, Weasley, não fique se fazendo de vítima. – Ele cobriu os ombros de Gina com seu casaco. O tom presente na voz dele era suave, de uma certa forma. Protetor.
A menina pôde sentir o perfume dele quando o rapaz chegou perto. Era um cheiro doce, inebriante, que a fazia querer ficar ali para sempre.
Soava absurdo, ela sabia, Draco Malfoy com uma voz suave e protetora, mas era o que estava acontecendo, sendo um sonho ou não, Gina nunca esqueceria aquele gesto, aquele rosto e aquela voz.
Quis perguntar o porquê daquilo, mas mordeu a língua. Não queria estragar o único momento em que conversara com ele sem discutirem. Era praticamente um milagre.
“Mas o que é isso?! Recomponha-se, Gina!” ela pensou. “Esse é Draco Insuportável Malfoy, lembra? O mesmo que te xingou de tudo, te mandou para todos os lugares possíveis! E isso é só um casaco! Não se deixe seduzir!”.
Mas o perfume era tão bom...
- Obrigada. – Ela usou o fiozinho de voz que encontrou para proferir essa palavra.
Malfoy a encarou por mais alguns segundos. Então, alguma coisa parecida com um sorriso fez-se presente em seu rosto, mas desapareceu rapidamente enquanto o rapaz virava as costas para ela e continuava a guiá-la pela casa.

**
Hermione finalmente terminara de ler o livro que ensinava a aparatar. Os três estavam dirigindo-se a um local escondido um pouco mais afastado d’A Toca. Já era uma hora da manhã, e os Weasley já estavam dormindo.
Rony escrevera um breve bilhete explicando a seus pais que foram atrás de Gina, que não precisavam se preocupar, tudo estaria bem e que voltariam logo.
Não colocou-os a par, é lógico do local para onde estavam indo. O que aconteceria se todos os Weasley aparecessem na Mansão Malfoy de repente, exigindo que Lúcio libertasse sua filha, quando os quatro já estivessem na porta, ou alguma coisa parecida?
Não. Era melhor evitar ao máximo tudo isso. Os pais de Rony ficariam extremamente preocupados mesmo após ler o bilhete, os três sabiam disso, mas haviam concordado em resgatar Gina com a maior discrição possível.
Chegaram a um pequeno arvoredo, a mais ou menos uns cem passos da casa.
- Muito bem. – disse Mione. – Bom... Vocês sabem que eu não estou muito segura nisso, não é? Vocês sabem que eu não tentei nenhuma vez, não é? E...
- Mione! É a vida da minha irmã! Eu não me interesso nem um pouco se você está segura ou não, se você já aparatou ou não, se você vai realmente nos levar à Mansão Malfoy ou naco, se Gina está lá ou não! Eu só não quero saber que ela está correndo perigo e ficar sentado em casa, esperando que alguém a mate - Hermione fez uma cara horrorizada. – ou que ela entre caminhando pela porta!
- Rony está certo, Hermione. Nós já chegamos até aqui, não vamos desistir. Eu também não suportaria ficar parado esperando o Ministério tomar providências. – Harry abraçou a namorada pela cintura. – E além do mais, estamos falando de você, Hermione Granger. A melhor aluna que Hogwarts já teve ou vai ter um dia. Eu tenho certeza de que você consegue fazer isso. Eu confio em você.
Ela deu um sorriso nervoso. Sabia que os dois estavam certos, mas não podia evitar sentir-se daquele jeito. Se alguma coisa desse errado, seria culpa dela. Se não conseguissem chegar à Mansão, e fossem parar em algum outro lugar, ela provavelmente não saberia como voltar. Teriam que entrar em contato com o Ministério da Magia e os três seriam expulsos de Hogwarts, tudo por culpa dela!
A garota respirou fundo e tentou controlar os nervos. Ela sabia que também não poderia ficar parada e esperar por notícias, então não adiantava sofrer por antecipação. Se algo desse errado, ela tentaria encontrar uma solução depois. Agora o importante era dar tudo de si para encontrar Gina.
- Certo. Eu preciso que vocês se segurem firmemente em mim. Um em cada braço acho que fica mais fácil para eu usar a varinha.
Harry ofereceu seu braço direito à namorada, que aceitou-o e envolveu-o com o seu braço esquerdo. O mesmo fez Rony com seu braço esquerdo, que foi envolvido pelo braço direito de Hermione.
Ao contrário da amiga, Rony não estava nervoso. Estava consciente de que chegar à Mansão seria o menor dos problemas que teriam de enfrentar. E estava sinceramente confiante em Mione. Sabia que ela daria tudo de si para executar o feitiço. Ela conseguiria, sem dúvida alguma.
Harry tentava evitar pensar sobre isso tudo. Se ela conseguisse, seria ótimo! Se não, teriam que encontrar uma solução. E quando chegassem, o que fazer? Aonde ir? O rapaz sacudia a cabeça e tentava afastar qualquer pensamento. O que tivesse que ser, seria.
Estava tão concentrado em não se concentrar que nem escutou s palavras que Hermione pronunciou para fazer o feitiço. Ele decidiu fechar os olhos. Sua cabeça já estava bem cheia de preocupações. Não precisava ver o que estava acontecendo, apenas para sentir-se mais inquieto.
Tudo o que chegou a seus ouvidos foi um ruído, como areia girando em torno dele, levada por um vento forte.
Não demorou muito para sentir um impacto que fez seus joelhos dobrarem um pouco, que deveria ser o chão sob seus pés.
Ele abriu os olhos, para deparar-se com um lugar em que, sem dúvida alguma, nunca estivera antes.
Tudo era terra e pequenas pedrinhas pelo chão arenoso. A primeira impressão que o garoto tivera fora que estava em algum deserto em algum lugar. Mas logo descartou a idéia, porque conforme lera em um livro trouxa na escola, se aquilo realmente fosse um deserto, os três estariam tiritando de frio àquela hora da noite. Mas a temperatura era até mesmo agradável.
A única coisa que estragava a calmaria era o fato de não haver nenhuma Mansão Malfoy à vista. Tudo à sua volta era areia.
Hermione não conseguiu suportar o impacto do erro.
- Eu sabia! – a menina explodiu. Lágrimas escorriam pelo seu rosto em uma enxurrada, e ela parecia desesperada. – Eu sabia que isso ia dar errado! Não importa onde estamos, devemos estar a milhas de distância de algum lugar que possa ser a Mansão Malfoy! Estamos perdidos no meio do nada! Vamos ter que entrar em contato com o Ministério, e dizer que aparatamos contra a lei! Nós três seremos expulsos de Hogwarts, nunca terminaremos nossos estudos, nos transformaremos em parias sociais e a culpa vai ser toda minha! Eu nunca devia ter concordado com isso! Devíamos ter esperado os seqüestradores mandarem uma coruja!
Harry não encontrou nada para dizer que pudesse consolar Mione. Ver que tudo dera errado, ver Rony estático a seu lado, Mione gritando desesperada o faziam querer fazer algo útil, mas no fundo o rapaz sabia que nada adiantaria.
Odiava admitir para si mesmo, mas Hermione estava certa: tudo estava perdido, não encontrariam Gina, e ainda por cima seriam expulsos de Hogwarts, se chegassem a encontrara algum meio de fazer contato com o Ministério, de onde estavam.
Os pensamentos sumiram da mente de Rony. O rapaz ficou simplesmente parado, no lugar onde estava, sentindo as pernas bambas.
Olhando para a vastidão do lugar. Onde diabos poderiam estar?
Contemplando a areia, ele virou-se de costas. De repente, sentiu algo, que precisava sair de seu peito.
- Rony! – Harry irritou-se. Tudo bem, eles não faziam a menor idéia de onde estavam, mas isso não era motivo para desatar a rir, do jeito que o amigo fazia. – Será que você pode me dizer o que tem de tão engraçado nisso tudo?
Hermione soluçava e Rony gargalhava. Quando não recebeu resposta de Rony, Harry virou-se para encará-lo.
- Ô Rony! Agora é sério! Será que dá pra parar com...
E não acreditou no que viu. O mundo parecia ter sido tirado de suas costas e de sua mente. Calou-se involuntariamente, e os soluços de Mione, que antes o angustiavam, emudeceram aos seus ouvidos.
Hermione, ao perceber que Harry e Rony não estavam mais ali, foi atrás dos amigos, para logo em seguida sentir seus joelhos cederem. Mas agora de felicidade.
Ali, em suas costas o tempo todo, estava a Mansão Malfoy.
Rony não cabia em si de alívio e felicidade ao mesmo tempo! Harry soltou um suspiro feliz e Hermione continuou a chorar, mas agora com um sorriso no rosto. Veio até o namorado e o abraçou, sentindo-se extremamente feliz.
O primeiro passo estava dado. Entrar na Mansão não podia ser tão difícil assim. Podia?

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