O estranho muito estranho…

O estranho muito estranho…



Cláudia esgueirou-se do bar pouco depois da saída repentina de Richard. Não confiava nele… a sua presença num cargo como aqueles… vindo de uma escola com uma fama daquela… algo na sua intuição lhe dizia que ele tinha segundos planos.

Seguiu-o tão discretamente quanto conseguiu. Ele penetrara na floresta, utilizando a escuridão que chegara com a noite, enfiou-se pela floresta na perseguição da sua presa. Achou uma estranha arvore, larga e oca, na qual se ocultou, tendo sobre Richard, uma vista perfeita. Corou levemente quando viu os seus pensamentos fugirem para um bem mais sórdido, mas verdadeiro, ele conseguia ser giro todos os dias!

E então… «Pop!» ele desmaterializara-se deixando-a sozinha na escuridão da floresta ao fim da tarde.

Ele era tão estranho. Tão calado. Tinha uma forma suspeita de agir… teria de agir e investigar as verdades em seu redor, sobretudo porque ter alguém suspeito a ensinar uma cadeira de tamanha importância como DCAT, era demasiado arriscado.

Optou por não voltar ao bar, a fim de não ter de responder a um questionário súbito sobre a saída estranha. Caminhou pensativa, fixando o olhar nos próprios pés e no caminho, deixando que a sua mente voasse para bem longe, num mundo ao qual apenas ela acedia.

O sol poente lambia o telhado decadente da Cabana dos Gritos, iluminando as janelas serradas, cujas portadas caíam desengonçadas nas próprias dobradiças.

Perdeu a noção do tempo, parecia que quando pensava, o tempo em seu redor se movia ao dobro da velocidade… Já devia ser tarde, quando finalmente tomou consciência de si. O sol já havia desaparecido, deixando apenas um risco dourado no horizonte distante e cravejado de árvores.

Precisava voltar. Nos tempos que corriam não era seguro andar sozinha à noite. Apertou a capa contra os ombros, sentindo que arrefecera medonhamente sem que ela ao menos tivesse reparado. Voltou-se para regressar.
Lá estava ele. Vinha em sua direcção, vindo da floresta, com rosto sério mas calmo, com o cabelo loiro desgrenhado e caindo em faixas onduladas sobre o rosto. Parecia estranhamente sensual, como se pela primeira vez o visse de frente, e tivesse reparado que ele era afinal, um homem.

- Ainda aqui? – perguntou ele calmamente abrindo a capa e colocando-lhe sobre os ombros cavalheiramente. – Já é tarde, e está frio. Talvez fosse melhor voltar-mos.

- Sim. – concordou aceitando a capa com um ar aparvalhado perante a sua conclusão.

Caminharam alguns passos em silêncio, durante os quais ela se questionou se deveria arriscar aquela pergunta e expor a sua desconfiança a respeito dele, ou não.

- Desculpe-me a intromissão mas… onde foi?

Ele olhou-a estranhamente, parando pouco antes de entrarem na vila, como se avaliasse a resposta que haveria de dar. Limitou-se a esboçar um rosto sério dizendo que tivera um mau pressentimento acerca do pai, que vivia sozinho em Londres, e que fora até casa verificar.

Ela manteve-se na dúvida. Talvez fosse apenas impressão, mas algo lhe dizia que ele mentia…

- Já que fizeste uma pergunta pertinente – disse tratando subitamente pela segunda pessoa, como se quisesse avaliar a sua reacção – Será que também tenho direito a uma?

Ela riu, pela primeira vez deixando escapar um sorriso verdadeiro e autêntico, que apareceu como sendo tão delicado e bonito como ela.

- Claro. Estás no teu direito. – parecia ter aprovado o novo meio por que se tratavam, sendo que este, mais pessoal, os aproximou mais naquele minuto do que no último mês inteiro.

Ele observou-a, sentindo-se subitamente mais confiante pelo sorriso que ela ainda mantinha cravado nele, parecia preparada para qualquer tipo de pergunta…

- Sabias que se te colassem neste céu em cima de nós todas as outras estrelas se apagavam com inveja? – a pergunta simplesmente saíra… fora algo que não ensaiara nem prefira, como se aquele súbito e inesperado sorriso que havia ganho lhe tivesse atiçado as fornalhas da imaginação e tivesse feito arder nelas um fogo forte de inspiração pura.

Ela demorou alguns segundos a assimilar o que ouvira, corando à medida que o seu cérebro processava a informação. Tomou primeiramente uma coloração rosa, nas maçãs do rosto, passando pouco depois a um rosa escuro, para tomar depois uma cor escarlate, de vermelho puro. O sorriso apagou-se. Abriu-se uma expressão de confusão e espanto, que o deixou meio sem jeito… fizera mal ao deixar sair aquele seu lado poeta?

- Não gozes comigo. – pediu ela olhando-o no fundo os olhos verdes enigmáticos.

Ele esboçou um sorriso forçado, com se tentasse disfarçar caso ela não tivesse gostado e ao mesmo tempo confiar o que dissera caso ela tivesse apreciado.

- Tu és estranho. – declarou ela directamente – Não consigo entender-te… e pára de me olhar assim! – pediu quando ele lhe lançou o típico olhar de “cachorrinho”.

- Fazemos assim: – sugeriu – Tu tentas entender-me durante um jantar a dois no meu gabinete e em compensação eu juro-te que ajo como uma pessoa normal.

Ela riu. Questionando:

- Isso é um convite para jantar?

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.