O candidato
O gabinete não se encontrava muito diferente do que outrora fora nas mãos de Albus Dumbledor. Este deixara grande parte dos seus pertences a Minerva McGonagall, que fora na verdade uma amiga de toda a vida.
Alta e magra, de tez pálida e rosto sério. A nova directora aguardava o seu único candidato ao cargo de defesa contra as artes negras, por detrás da sua secretária, cujo tampo verde, polido, lhe reflectia o rosto fechado numa expressão indistinguível.
O seu cabelo grisalho, de um cinzento claro, pendia-lhe na cabeça por um carrapito extremamente arranjado, do qual não escapava um único cabelo indisciplinado. Os seus olhos reflectiam o cansaço do dia atribulado, que acabara de ter. Tivera de entregar uma dúzia de relatórios infindáveis e ler o dobro desta quantidade, tudo porque o ministro da magia considerava Hogwarts cada vez mais insegura em relação a outras escolas.
“Nos tempos que correm, ninguém está seguro” – pensava amargamente, enquanto os seus olhos abandonavam o relatório que lia, para se pousarem na capa do Profeta Diário do outro lado da secretária.
O jornal fizera questão de enunciar mais um fracasso da Ordem da Fénix contra a Ordem das Trevas. A segunda que se encontrava em larga expansão, com dezenas de novos feiticeiros, que vinham de todos os cantos do mundo para se juntar ao lado Negro da magia.
Nem durante a primeira investida de Voldemort o mundo mágico estivera tão desorganizado e apavorado. Famílias inteiras que apareciam mortas, lares destruídos, ataques a instituições públicas, duelos em plena Diagonal! Um caos…
Inspirou fundo, decidindo que não iria conseguir terminar de ler aquele relatório, e dedicou-se a actos de maior importância, como arranjar um professor para ocupar um cargo vazio havia já tantos anos.
* * * * * * * * * *
Ele sentou-se na cadeira vazia diante da directora que se esforçou por esboçar um sorriso no seu rosto já velho e cansado.
- Boa tarde, Sr. Guilt. – saudou-o ela.
- Boa tarde, professora. – o seu tom de voz parecia estranhamente juvenil em comparação com o da directora, tão rouca e cansada. – Vim apresentar-me como candidato ao cargo de DCAT. – soltou um sorriso de ironia – bem como todos aqueles imensos candidatos lá fora.
A directora não retribuiu o sorriso nem tampouco comentou a piada. Era um facto que a cadeira estava vazia e qualquer candidato que se prestasse a arriscar a vida seria bem vindo.
- Vamos lá começar então… - agitou a varinha fazendo aparecer uma bandeja de chá, com cubinhos de açúcar – Estudou em Durmstrang se não estou em erro?
- Sim, sim. Uma bela escola, apesar de não se comparar a esta… o castelo onde tínhamos aulas era muito mais pequeno e sem graça. – assentiu optando por se mostrar mais sério.
- Sente-se preparado para enfrentar uma disciplina como esta? Note que, nos tempos que correm, esta disciplina é de maior importância.
- Foi exactamente essa a razão que aqui me trouxe. – mentiu – Os alunos precisam ser leccionados contra a magia negra custe o que custar. Sinto-me totalmente pronto para a leccionar e entregar aos meus alunos todos os conhecimentos que adquiri em Durmstrang, e ensina-los a protegerem-se de tudo o que os fizer temer pela vida.
O discurso que prepara meticulosamente surtiu o efeito pretendido aos olhos da directora. Apesar de sábia, continuava a demonstrar a capacidade de confiar nos outros, sejam estes estranhos ou conhecidos.
No fim da reunião uma decisão fora tomada, deixando que Richard Guilt ingressasse no grupo de professores da escola de magia e feitiçaria de Hogwarts.
Já instalado no seu escritório no terceiro andar, Richard observou os campos verdes e as nuvens cinzentas que insistiam em manter-se pesadas e gordas no céu de fim de verão. O plano corria como previsto…
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