Nasce um ídolo
7- Nasce um ídolo
Eva demorou a dormir, estava realmente mal. Começou a pensar em seu pai, em seu irmão, em tudo aquilo que havia acontecido na sua primeira semana do ano que pensava que seria o melhor de toda a sua vida escolar. Porém, o que não imaginava era que aquilo era somente o início. Via a imagem de Marrie Valence, chorava, pensava em como a garota da Corvinal poderia estar se sentindo sabendo que seu pai estava morto. Essa noite não conseguiu sonhar, sua mente estava muito perturbada, seu corpo estava tenso.
Ao contrário do dia anterior, na quinta-feira, Eva havia acordado mais cedo que os demais sonserinos. Levantou da cama, foi até o banheiro do dormitório, se arrumou, desceu até a sala. Tirou da mochila um pergaminho limpo e uma pena, começou a escrever.
— O que eu vou dizer? — falava sozinha — Já sei... Querida Saris, espero que você esteja ao lado do papai neste momento, infelizmente eu não consegui ir, pois tudo aconteceu muito rápido — falava baixo e pausadamente ao passo que escrevia — Porém, o motivo pelo qual te escrevo não é bem esse, existem outras coisas que me incomodam no momento, aposto que você já deve saber o que é...
Da janela já era possível visualizar os primeiro raios do sol, o céu estava com poucas e repolhudas nuvens. A temperatura estava agradável, típica do verão inglês. Os alunos do primeiro ano começavam a descer, porém não ficavam pela sala, iam direto para o grande salão. Alguns monitores também desciam, colavam cartazes no quadro de mensagens, reparavam para ver se a sala estava em ordem.
— Preciso que você tente ver o meu futuro, é urgente. Acabei de ter a pior notícia de todas, Régulo está saindo com outra garota, eu não sei mais o que fazer. Sinto muito a falta da Elektra, não posso pedir conselhos às minhas amigas da Sonserina, pois elas também são amigas dele, portanto, peço-lhe para me manter informada sobre o que vem pela frente, seja lá o que for, e aceito conselhos. Se você achar bom, fale com a mamãe sobre isso. Conto com você e com a sua bola de cristal.... te amo... Eva — falava muito baixo para que os que desciam não ouvissem — Ah! , vou acrescentar um Post Scriptum... Não se esqueça de continuar me informando a respeito do seu casamento, mande um abraço para o César!
Revisou a carta e acrescentou mais alguns parágrafos descrevendo como foram seus primeiros dias, a carta acabara tomando mais de um pergaminho pequeno. Após concluir, saiu do salão comunal e subiu as escadas para chegar ao corujal. Ao chegar na torre, procurou por sua coruja, que não estava.
— Max? Onde está você??? — sua voz ecoava pela torre, acordando centenas de corujas que dormiam.
—Eva? Que prazer vê-la aqui! — disse uma voz distante.
Eva olhou para traz para ver quem era o dono da voz:
— Ah, bom dia. — falou fria e seca, passando pelo rapaz, se dirigindo para fora do local.
—Como você está? Está tudo bem? — perguntou Kail Nesbit.
—Ótima, eu estou indo para o salão — virava as costas para Kail.
—Até mais — respondia o garoto, decepcionado por ter sido ignorado — Espere!
Eva olhava para o garoto, de fora da torre:
—O que foi?
—Você ia mandar alguma carta?
—Ah...bem, eu ia, mas a minha coruja não está!
—Por que não usa uma coruja da escola?
—Não gosto delas!
—Se você quiser, empresto a minha.
—Não ia usá-la?
— Ah..não, eu venho sempre para alimentá-la, ela não gosta de freqüentar o salão comunal, e meus pais não gostam de usá-la para me enviar cartas.
—E como os seus pais fazem para falar com você?
—Eles apenas respondem as cartas que eu mando.
— Ah..então, por favor — Eva entregava os dois pergaminhos para Kail, ele os prendia na coruja — São para Saris Rookwood, acho que está em Londres, hospital St. Mungus.
—Vá Vênus, vá rápido! — a coruja levantava vôo.
— Eu vou indo, tchau! — Eva ia para o grande salão sem ao menos agradecer Nesbit.
Ao chegar no salão principal, praticamente todos os alunos já estavam tomando café, sentou-se na mesa ao lado de Ulisses, que estava inquieto. Em fim, a coruja chegara, trazendo o Profeta, que não tinha nenhuma má notícia dessa vez, e mais duas cartas, uma de Elektra, outra de sua mãe. Eva leu as cartas rapidamente, enquanto tomava café. Quanto ao jornal, apenas viu a primeira página, depois ,deixou-o rodar pelas mãos dos outros alunos.
—Cartas da família? — perguntou Judith, que estava sentada a frente de Eva.
—Sim!
—Como está seu pai?
—Parece-me que nada aconteceu com ele.
—Que bom, Eva, bem que os meninos disseram!
—Pois é, mas o meu pai está furioso, por causa do meu irmãozinho.
—Não é por menos, que desgraça. Como ele está indo na Lufa-lufa?
—Não conversei com ele ainda.
— Vamos para a aula, o professor de defesa já está lá faz tempo, eu o vi entrar quando subi.
—Certo!
Eva, Judith, Emily e Estephanie subiram para a aula de defesa contra as artes das trevas. Nada de importante aconteceu na aula, a não ser que finalmente Eva se sentou com Régulo, porém como este adorava a matéria, não tiveram muito tempo para conversar. Quando a aula acabou, todos foram correndo para o salão comunal se arrumar para o almoço, pois logo em seguida haveria o primeiro treino de quadribol do ano, seria da Grifinória.
Eva tinha certeza de que Régulo estaria lá, conseqüentemente, resolveu ir também, mesmo não gostando de quadribol. Quando terminou de almoçar, não restava mais nenhum setimoanista na mesa da Sonserina, procurou por Cellin, mas esta também não estava. Quando já estava se acostumando com a idéia de ter que ir sozinha, viu Irvine sentado na mesa da Lufa-lufa, colocando a mochila nas costas. Olhou para ele e fez sinal para ele se aproximar.
—Olá Eva, como vai? — perguntou Irvine gentilmente.
—Vou bem... Você vai ao treino da Grifinória?
—Ah, é claro, estava de saída. Gostaria de me fazer companhia?
—Sim. — respondeu Eva, como se já esperasse a pergunta.
Os dois foram para o campo. Irvine estava alegre e tentava conversar com Eva, porém ela procurava falar o mínimo possível com ele. Sentaram-se nas arquibancadas, Eva procurava Régulo com os olhos, Irvine parecia procurar alguém também.
—Hei, olha lá a Cellin, vamos nos sentar com ela?
— Não, se quiser pode ir — respondeu Eva, torcendo para que Irvine fosse embora, pois não seria bom se seus amigos a vissem com ele.
—Claro que não, eu vim com você, voltarei com você!
Para a felicidade de Eva, ela encontrou Régulo. Para a infelicidade, ela viu uma cena não agradável. Régulo estava nas arquibancadas do outro lado, abraçado com uma garota da Grifinória, a garota que Eva tinha visto em seu sonho, a garota morta no chão, aquela por quem Cellin chorava.
—Ah não!!!
—O que foi, Eva? Acha que Stone é um bom apanhador?
Eva não respondera a pergunta, aliás, não ouvira a pergunta. Lágrimas escorriam sobre sua face, ela via Régulo atrás de Philip e Ulisses, ele estava beijando a garota.
— Não! — ela dizia baixinho, em meio a lágrimas, sentindo um imenso calor subindo pelo pescoço.
— O que houve? — perguntou Irvine, percebendo que Eva não estava se referindo aos jogadores que entravam.
Eva se levantou e saiu das arquibancadas correndo e chorando. Cellin, que estava indo em direção a Irvine, notou a saída repentina de Eva e foi atrás dela. Ela estava correndo muito rápido, saia dos domínios dos jardins e ia em direção à cabana do guarda caças.
—Eva, onde você está indo? — gritava Cellin, tentando alcançá-la!
Eva pisara na capa, que estava caindo, e levou um belo tombo.
—Você está bem? — sussurrava Cellin, ao chegar perto de Eva, sentando no chão.
—Não, eu quero morrer! — respondia ela, com uma voz de desespero.
— Não diga besteiras, acalme-se! — Cellin levantava e ajudava Eva se levantar — Porque saiu assim? O que aconteceu no campo?
—Régulo — respondia ela, soluçando.
—O que ele te fez? — Cellin perguntava, furiosa.
—Ele está saindo com outra!!! — gritou Eva.
—Outra?
—Sim, eu vi, ela está saindo com uma menina da sua sala!
— Da minha sala, Régulo está saindo com uma menina da Grifinória? — Cellin estava surpresa.
—Está!
—Não diga besteiras, quem te falou isso?
— Ninguém, eu vi. Eles estavam se...se...se beijando lá no campo! — Eva caminhava ao lado de Cellin, com o corpo mole e as pernas bambas.
—Não fique assim, eu disse para você que ele não é o cara certo!
— Eu amo Régulo!!!
—Você não sabe o que diz!!!
—É você quem não sabe! Eu vou acabar com aquela garota.
—Mas....quem era ela? Descreva-a!
— Era uma baixinha, cabelos castanhos — Eva se sentava na grama, ao lado das escadarias.
—Medaline?
—Não faço idéia.
—Provavelmente — Cellin aparentava estar surpresa e pensativa.
—Quem ela é? De que família? Desde quando ela fala com ele?
—O nome dela é Medaline Emburgo. Mas, é muito estranho que ele saia com ela, pois ela é nascida trouxa.
—O que???
—Pois é!
—Isso é um absurdo.
—Ainda acho que você deve ver esta história direito.
—Você tenta falar com esta Medaline para mim, para saber mais dessa história?!
— Mas é claro! Medaline é minha amiga! Eu falarei com ela, e não se preocupe, não citarei seu nome.
Depois de uns minutos em silêncio:
—Cellin, não sei o que eu faria sem você.
— Você se tornaria igual a sua irmã! — Cellin ria e abraçava Eva — Acho que esta é a hora para você usar o amuleto.
— Sim, vou passar a deixá-lo mais a vista, para eu detectar possíveis mentiras. Esta é uma ótima idéia!
— Bom, aproveitando que estamos aqui, e que temos a tarde vaga, me conte sobre a história da poção dos sonhos.
Eva contou a Cellin sobre a poção, sobre Julietta, sobre a mansão Gallo e sobre os misteriosos passeios de seu pai, claro que ela fazia isso inocentemente, pois ainda não tinha a capacidade para desconfiar de ninguém que não estivesse relacionado a Régulo. Cellin ouvia tudo muito atentamente, com uma expressão vazia e pensativa. Em fim, depois que Eva passou duas horas contando desde a entrada no jardim até a preparação da poção, Cellin disse:
— Eva... Essa poção, ela é muitíssimo perigosa! O Ministério proibiu essa poção em 1503, ela era usada para manipular pessoas que descobriam os crimes que os bruxos das trevas cometiam. Não tenho muita certeza, mas acho que este Maximillian foi quem transformou uma simples rosa branca em uma flor especial, mas, eu não sei bem. Vou pesquisar, depois te falo.
—Não, eu quero ir com você!
—Ok, quando vamos?
—Por que não agora?
As duas se levantaram e foram conversando baixo ao longo do caminho, ao chegar na biblioteca elas reservaram um lugar e foram explorar a estantes. As duas pegaram dezenas de livros, gastaram um certo tempo pesquisando, mas, em fim, encontraram o nome de Maximillian Flaubert em um livro intitulado “Os mais temidos bruxos das trevas”. Ao abrir na página indicada pelo índice, via-se a imagem de um bruxo muito jovem, loiro, olhos vermelhos, estava com uma varinha marrom na mão fazendo várias sementes levitarem.
— É isso, achei — disse Cellin baixinho — Ouve só: Maximillian Flaubert nasceu no ano de 1160, na França, em Roubaix. Foi o responsável pela morte de trinta e sete bruxos, cento e quarenta e um trouxas e a tortura de mais de trezentas e vinte e sete pessoas. Quando completou um ano de idade, foi levado por sua avó para uma cidade bruxa no sul da Áustria, onde conviveu com outros bruxos das trevas e desenvolveu um vasto leque de conhecimentos na área de poções... — Cellin olhava para o relógio.
—Continua, ainda não é hora da janta!
— Certo, continuando... Quando já tinha dez anos de idade, a cidade em que vivia foi destruída por exércitos trouxas que por ali guerreavam. Maximillian desenvolveu por eles uma imensa raiva e ódio. Sua avó não havia resistido à situação deplorável, muitos bruxos se envolveram na guerra e acabaram morrendo, pois os exércitos, de acordo com o próprio Flaubert, eram infinitos. Com a perda de sua avó, ele retornou sozinho para a França, onde encontrou seus pais mortos. Foi acolhido por seu padrinho, que o enviou para a escola de magia e bruxaria de Hogwarts... — Cellin pausara — Olha, ele estudou aqui!
—Sim, sim, prossiga...
— Que o enviou para a escola de magia e bruxaria de Hogwarts, aprendeu a controlar seu ódio e a disciplinar seus conhecimentos. Assim que se concluiu esta, foi para a academia formadora de aurores, porém foi expulso por não ter conseguido boa pontuação na matéria de cura. Sozinho e sem ter para onde ir, Maximillian assassinou as primeiras vítimas, uma família de trouxas, roubou a casa destes e apagou a memória de todos aqueles que poderiam o denunciar. A nova residência de Flaubert, em Oxford, continha um enorme jardim de rosas brancas, o que deu a Maximillian a idéia pela qual ele se tornou famoso até os dias atuais. Ele utilizou artes das trevas para transformar as rosas brancas em negras e assim, dar a uma simples planta o poder de converter ódio em energia. Quando finalmente as suas experiências mostraram resultados, Maximillian vendeu centenas de sementes a bruxos das trevas de todo o mundo, para bancar suas experiências e despesas . Para fugir de ser capturados por aurores, ele matava e torturava. Quando completou vinte e seis anos, casou-se com uma feiticeira misteriosa, que até hoje não se sabe o nome. A mulher o ajudou a criar uma poção que tivesse a capacidade de controlar os sonhos daqueles que a bebiam. Juntos, eles fundaram uma cidade secreta chamada Dark Garden, onde convidaram alguns bruxos para ajudá-los no cultivo de mais e mais rosas. Morreu no ano de 1212, com cinqüenta e dois anos. A causa da morte foi provocada por seu próprio filho, que deixou uma rosa ao lado do pai enquanto este dormia. A rosa sugou todos os sentimentos de Flaubert, matando-o . A cidade secreta foi trancada por feiticeiros e até hoje, muitos acreditam que esta ainda exista.... — Cellin olhara para Eva — Aqui tem uma curiosidade: A rosa é popularmente conhecida como a Lágrima de Maximillian ou a lágrima negra, pois ao morrer, a única partícula que sobrara de Flaubert fora uma lágrima.
—Simplesmente fantástico!!! — exclamou Eva.
—O que é fantástico?
—Este bruxo! Imagina, deve ser quase impossível criar uma poção com base em algo mágico que era desconhecido!!!
—Ele era um assassino!
—Ele era incrível!
—Você devia pensar mais antes de falar as coisas, Eva. Agora, vamos jantar.
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