Capítulo 11



Capítulo 11

Victor nunca antes na vida se sentira tão embaixo. A vida doméstica estava a dar de si. As coisas nunca mais tinham sido as mesmas desde aquela noite em que o Victor implorara a Hermione para terem um bebé. A atmosfera quente e amorosa do apartamento tinha morrido e Victor não sabia porquê. Devia ter sido por causa daquela noite em que Cho saíra da vida dele, apesar de Hermione e ele, prestes a embarcar numa nova e fantástica carreira em que tudo parecia novo e fresco, estarem a fazer planos para o futuro.
Na noite da festa de despedida, já deitado, ficara a ver Hermione a sentar-se na beirinha da cama, despindo-se rapidamente, tirando a camisola, e deixando o cabelo espalhar-se pelas costas brancas e sentira um impulso repentino de amor de desejo. Afagou-lhe o cabelo e enrolou-o na mão, formando um fino cordão em espiral, que brilhava sob a luz do candeeiro. Pôs a mão sobre a cintura dela e fazendo-a depois subir até encontrar um seio, acariciando-o levemente, sentido o mamilo a transformar-se numa pequena bala de pele.
Durante anos a rotina sexual deles tinha sido engraçada e cheia de alegria e animação. Naquela noite, Victor quis mais. Cada osso e cada músculo do seu corpo tinha estremecido, cheios de desejo, à medida que ele puxava Hermione para si e se metia em cima dela. Beijou cada bocadinho do seu corpo. Sentiu Hermione a debater-se debaixo dele.
- Victor…Victor… por favor, por favor – ouviu a voz de Hermione como um eco distante, enquanto as mãos o pressionavam ligeiramente nos ombros.
- Victor, pára, por favor…eu…eu… não quero! Victor, PÁRA, PÁRA, PÁRA! Sai de cima de mim! – Hermione fez força nos ombros deles e empurrou-o com toda a força, tentando afastá-lo.
- O QUÊ? – Gritou Victor. – O que raio se passa? – Voltou-se para Hermione, imóvel e coberta pelo edredão. Estava a chorar, silenciosamente, com lágrimas enormes a correrem-lhe sem parar pela cara, o resto vermelho e sem expressão.
- Não quero, Victor, não quero – disse Hermione, por entre lágrimas.
- Tu não queres o quê? O que é que não queres fazer, Hermione? Diz-me, que raio!
- Eu… eu… eu não sei! – Hermione limpou as lágrimas com as costas da mão.
- Não queres que eu faça amor contigo? É isso? Não queres que te ame, que ame o teu corpo? O que é, Hermione? O que é? – Insistiu Victor.
- Eu não sei. Victor. Eu não sei…desculpa, não posso. Desculpa…
- Olha, pode estar tudo bem contigo, mas comigo não! – Retorquiu-lhe Victor, dirigindo-se em grandes passadas para a casa de banho e batendo com a porta atrás dele.

Hermione observara-lhe o corpo nu e furioso, ainda em muito bem estado, com os músculos das costas bem definidos. Era um corpo que com que ela se sentia bem, que amara e saboreara durante muitos anos, e, no entanto, ao vê-lo sair do quarto, afastando-se dela, chorou ainda mais.
Não sabia qual era o problema ou se a sua intuição era valida. Mas era qualquer coisa que tinha haver com a oriental do andar de cima que ia casar. Ela fizera Hermione sentir-se feia, insegura e, por uma razão, indefinida, entristecera-a e assustara-a, como se algo, tivesse mudado para sempre.
Hermione queria tê-lo dito ao Victor, mas não conseguira. Como podia ela explicar que o rejeitava por pensar que o que ele estava a fazer era o que ele queria fazer com Cho? Que quando ela ali estava deitada com ele a acaricia-la e a ama-la, o que pensava era que ele estava a alimentar fantasias com outra mulher, imaginando que a carne gorda e pouco cuidada de Hermione era a carne firme e bela de Cho?
Ela reparara no modo como ele observara Cho, como ele corava. Não havia dúvida na mente de Hermione que Victor sentia um fraquinho por Cho e de que a desejava. Ele queria mais e até mesmo o modo como sempre tinham feito amor já não era bom para ele.
E era em Cho que ele devia estar a pensar naquele momento.
Era óbvio que ele já não a via como uma mulher que podia ser sua amante, tudo fazia sentido. E era por isso que, de repente, ele tinha querido ter um bebe, depois de tantos anos, para ela transformar-se numa mãe e deixar de ser sua amante.
A porta abriu-se sem ruído e Victor entrou nas pontas dos pés.
- Mione, trouxe-te uma visita.
Um peso caiu-lhe na cama e uma língua molhada passeou-lhe por uma bochecha. O habitual cheiro a cão pairou no ar. Hermione puxou Rosanne para si e chorou até as lágrimas de esgotarem.
- Mione, desculpa. Eu não queria ir embora assim furioso. Não queria gritar. Eu estava tão… tão… eu queria tanto estar contigo esta noite… – Victor fez-lhe uma festa no cabelo. – Por favor, Mione, fala comigo, diz-me o que se passa contigo.
Hermione limitou-se a abanar a cabeça tristemente e voltando as costas a Victor.
- Eu amo-te. – Disse-lhe Victor ao ouvido – e preciso de ti.
Acabou por se voltar para o outro lado.
Desde então, não tinham feito amor. Verdadeiramente, nem sequer tinham falado um com o outro. Cada um fora a sua vida, de uma maneira aparentemente normal. Hermione recebeu-o como um herói quando ele voltou para casa depois do trabalho e ofereceu-lhe flores. Tinham saído para irem comprar um novo sofá. Mas as coisas já não eram iguais entre eles e separava-os uma tal distância que seria necessários milhões de quilómetros de corda para os unir.
O bebe ficara esquecido – nem nunca mais foi mencionado desde aquela noite – e, se as coisas já não estavam bem, agora estavam cada vez piores.

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