Prólogo
Prólogo
Harry Potter pousou o telefone e examinou a sala. A invasão das pessoas interessadas no apartamento começaram cedo, logo ao cair da tarde, mas a casa mantinha-se ainda relativamente limpa.
Pegou nas canecas e nos copos vazios e levou-os para a cozinha. Era estranho e algo perturbador pensar que nesses objectos residiam ainda marcas dos lábios, as dedadas, os sinais de saliva e os organismos microscópicos dos desconhecidos que ali tinham estado, em sua casa, nesse final de tarde, desconhecidos a quem ele mostrara a casa de banho, que tinham visto o roupão sujo pendurado atrás da porta do quarto e que se haviam sentado no sofá dele, com roupas, maneirismos, nomes e vidas que não lhe eram familiares, desconhecidos a quem fora dada a oportunidade de espreitar a intimidade da vida privada de outros desconhecidos.
Draco e ele tinham tomado uma decisão rápida, embora cruel: mesmo aqueles que se revelassem à partida inadequados teriam direito a visita guiada (“E isto é a cozinha – vão ficar contentes ao saber que temos máquina de lavar louça e uma máquina que não só lava mas também seca a roupa!”), a conversa fiada (“O Harry levanta-se com as galinhas durante toda a semana, mas ambos gostamos de mandriar aos fins-de-semana.”), a entrevista (“O que é que faz?”) e a conclusão: “ Bem, ainda há algumas pessoas para verem o apartamento, mas dê-nos o seu número de telefone e entraremos em contacto consigo.” Sempre os mesmos quinze minutos, para que o indesejado desconhecido sentisse que estava na corrida, que tinha sido tratado com consideração.
Jason parecera prometedor ao telefone, mas procurava, afinal, uma vida social de tipo instantâneo. “Tudo o que quero é viver num sítio que tenha alguma vida, percebem?”, afirma, os olhos abertos em busca de compreensão. “Hum…talvez possa explicar-se melhor?”, sugerira Draco, pensando nas noites que ele e Harry passavam a saltitar, sem rumo, por entre quarenta e sete canais de televisão, sem trocarem uma palavra, e a irem para a cama, completamente pedrados, à meia-noite.
Jason curvara-se ligeiramente para a frente no sofá, pondo as mãos sobre os joelhos. “É que, por exemplo, no sítio onde moro, tudo o que acontece é regressar a casa vindo do trabalho, todas as noites, e ninguém quer fazer seja o que for. Chateia-me à brava, percebem? ”.
Draco e Harry disseram que sim, solidários, e sentiram-se velhos.
Mónica era uma baptista – incomodá-los-ia se ela rezasse em voz alta de vez em quando? - e Rukshana parecia ter fugido de um casamento pré-combinado dominado por maus tratos. As mãos tremiam-lhe durante toda a conversa e os olhos escuros não conseguiam fixar-se num objecto ou em outro olhar. Explicou que ela e o marido estavam envolvidos num divórcio litigioso. Draco e Harry resolveram que uma separação permanente com a triste mas desagradável situação de Rukshana seria o melhor para todos.
Simon era muito gentil, mas devia pesar pelo menos 130 quilos, ostentando um arcaboiço que alterava todas as proporções do que sobrava do apartamento, fazendo gemer o sofá de cada vez que se ajeitava com ruídos dolorosos nunca antes ouvidos.
Rachel tinha todo o tipo de pele que os fez aspirar o apartamento assim que a viram pelas costas e John cheirava a comida de cão. Acabaram, nessa altura, por perder esperança.
- Quem era ao telefone? – Draco ligou a televisão e espraiou-se no sofá, telecomando na mão, pronto a usá-lo.
- Mais uma pessoa por causa do apartamento - respondeu Harry, da cozinha. – Uma rapariga e vem a caminho. Parecia simpática. – Com um pontapé, fechou a porta da máquina de lavar loiça. – Chama-se Gina.
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Gina voltou na primeira rua a seguir a Battersea Rise, o que a levou a Almanac Road, um pequeno alinhamento de casas da três andares, compridas, estreitas, com caves, invulgares naquela área do Sul de Londres.
À medida que seguia pela rua, espreitando, cheia de curiosidade, par as caves sem cortinas dos apartamentos, Gina começou a sentir com algum estranheza, que já ali estivera. Havia algo de familiar nas proporções, na largura do passeio, na cor dos tijolos e no espaço entre os arbustos, cercados por ervas daninhas, que bordejavam a rua.
Parou diante do número 31 e o sentimento de familiaridade tornou-se mais forte. E, de repente, sentiu-se mais segura, como uma criança que regressa a casa depois de um dia esgotante, ao encontro do ambiente quente e da televisão de sábado à tarde.
Olhou de relance para a cave e viu um homem jovem, de costas para a janela, a falar com alguém que ela não conseguia ver. Foi nesse instante que soube que já ali estivera. Talvez não naquele exacto lugar, mas em outro muito parecido. Nos seus sonhos de adolescente – uma cave, numa casa alta, com um pátio; uma vista através da janela, á noite, a sala iluminada; um homem num sofá a fumar um cigarro e cujo rosto ela não via. O destino dela. Seria ele?
Gina tocou à campainha.
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Então gostaram do princípio?
MANDEM MAILS. COMENTARIOS A FALAR MAL OU BEM
1º capitulo em breve
Bejinhos **ana.teresa**
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