O Expresso Hogwarts



Os dias da semana seguinte foram recheados de conversas sobre os dois lugares mais fantásticos que Tiago já havia visitado. Ele não cansava de contar ao pai cada detalhe da floresta, nem de repetir pra mãe o nome de cada loja que conheceu.
Tiago permanecia inquieto perante a tentação de usar todo o seu material, mas a carta de Hogwarts deixara bem clara a restrição à magia fora das dependências do castelo.
-Acorda querido, temos que chegar cedo à estação. O trem parte 11h da estação King's Cross.
Tiago acordou com o chamado da mãe. 9h. Chegara o grande dia. Num átimo, se aprontou com as vestes de bruxo e desceu para o café quando Lorelayne, sem conter os risos, disse:
-As roupas de bruxos são colocadas no trem! Como acha que atravessaremos a plataforma?
Sem entender a expressão usada pela mãe "atravessar a plataforma”, Tiago se arrumou com a mesma rapidez, enfiou as vestes no malão, conferiu a capa da invisibilidade e mal conseguiu engolir os ovos e o bacon com torradas. Às 10h já entrava no carro com o pai e a mãe em direção à estação, o estômago despencando um degrau a cada sinal fechado. O carro caberia com folga a gaiola de Kaifus e mais meia dúzia de Tiagos, mas não estava nada confortável perante a crescente ansiedade do garoto.
A visão da estação não era novidade para Tiago, mas ele sentiu como se tivesse pulado cinco degraus de uma vez ao observar com atenção o bilhete da passagem. “Embarque às 11h na plataforma nove e ½”.
“Plataforma nove e ½? – pensou – mas aqui só vejo nove e dez!” Nisso, seu pai segurou seu ombro e lhe disse numa voz baixa, mas perfeitamente compreensível:
-Veja bem o bilhete Tiago, não precisa ter medo. Basta ir com convicção em direção à barreira entre as plataformas nove e dez. – e diante do olhar intrigado do filho, completou – atravesse a barreira!
Sentindo-se um idiota que certamente se estatelaria numa parede e chamaria mais atenção do que já estava chamando por carregar consigo uma gaiola com uma enorme coruja, Tiago foi caminhando de costas para ela, olhando fixamente para os pais e sem ouvir o que falavam quando de repente trombou em algo e caiu de cara no chão.
-Eu sabia que devia estar louco, acreditar que era só atravessar a parede...
E foi interrompido em seus xingamentos por uma mão que o ajudou a levantar. Pertencia a um garoto um pouco mais alto que ele, apesar de aparentar ter a mesma idade, com cabelos negros que caíam sobre o rosto lhe dando um ar rebelde.
-Qual é cara, tava dando uma de caranguejo eh? Quase me derruba – e completou virando-se para mostrar o trem que estava a poucos metros, à sua frente – sorte que nós dois conseguimos atravessar a plataforma.
Boquiaberto, Tiago viu um arco de ferro forjado no lugar onde deveria estar a parede que ele tinha ATRAVESSADO. Acabara de perceber os dizeres Plataforma nove e meia no arco quando viu seus pais atravessando a barreira também.
-Não foi fácil querido? – disse Lorelayne – ai, como sinto saudade de entrar nessa velha locomotiva a vapor...
-Vejo que conserva a cor vermelha!...Espero que você se divirta tanto quanto nós lá!- completou o pai com ar nostálgico – vamos, você precisa arranjar uma boa cabine!
Olhando para os lados agora que se recuperara do choque de ter atravessado uma parede e do mico de ter caído de cara no chão, Tiago viu que o garoto em que trombara já tinha se dispersado no meio da multidão de alunos que se apressavam em se despedir das famílias e levar seus pesados malões para dentro do trem. A fumaça da locomotiva já anuviava sua visão enquanto seu pai enchia seus bolsos de galeões e sua mãe lhe dava todo o tipo de conselhos. O apito soou e ele disse:
-Prometo me divertir lá pai...E vou sentir saudades, mãe! Não vá explodir um caldeirão na minha ausência...- e diante do olhar dela, se apressou em consertar - brincadeira! Mas... Como é a seleção entre as casas?
A locomotiva começou a andar e Lorelayne lhe deu um beijo na testa e disse:
-Suba no trem e leve seu malão! - ao mesmo tempo em que, com a varinha, o ajudava a levantar Kaifus.
-Você terá de passar por um pequeno teste...Na hora você verá! – disse Willian. Os dois se despediram com acenos e sumiram ao longe quando o trem ganhou velocidade e virou a curva.
Tiago virou e se viu em um trem apinhado de alunos que procuravam ansiosamente por lugares. Muitos se reconheciam entre acenos e gritos, pontuados por comentários do tipo “você cortou o cabelo!” ou “como foram as férias?” Caminhou pelo corredor até uma cabine que parecia estar vazia. Entrou distraidamente quando viu o mesmo garoto no qual trombara ajeitar suas malas no bagageiro.
-Oi cara, tudo bem? Mau jeito meu, sumir do nada...Você é?
-Er...Tiago Potter, e você?
-Potter? Seu pai é do Ministério? Já ouvi falar do seu pai lá em casa, ele caça antitrouxas não é? O idiota do meu pai vive resmungan...Não importa. Sou Sirius...Infelizmente Black.
-Que foi que aconteceu pra você ficar com tanta raiva da sua família?
-Nada...Sabe, é toda essa pressão pra eu ser da Sonserina, como se ser sangue puro fosse a coisa mais importante na vida...
-Eu sou sangue puro! E minha mãe era da Sonserina...Mas vivemos entre trouxas e estudei numa escola de trouxas – e, resmungando, ajeitou seu malão no bagageiro também.
-Escola de trouxas? Legal, sua família deve ser bacana! Seu pai era de que casa?
-Grifinória - e sentiu seu estômago afundar... Por um momento se esquecera da escolha para as casas – como será que é a seleção?
-Sei lá, ninguém lá em casa disse, só ficaram me atormentando com essa história de Sonserina...
BLEN! BLEN!

Soou o sino que uma bruxa atarracada trazia na mão. Ela empurrava um carrinho cheio dos doces prediletos de Tiago, suco de abóbora e bolos de vários tipos.
-Uau! Por isso que meu pai me deu dinheiro...quero um de cada! E você, Sirius, não vai pedir nada?
-Hum, parece que me sobraram alguns sicles...Manda aí um suco de abóbora!
Percebendo que havia algo que Sirius parecia estar escondendo, Tiago esperou a bruxa gordinha sair da cabine pra perguntar.
-Por que você não quis nada?
-Bom, digamos que eu tenha gastado meu dinheiro com coisas mais produtivas – e enfiou a mão no bolso revelando um conteúdo que certamente não seria aprovado pelos pais de Tiago – bombas de bosta! Pretendo soltá-las quando estivermos próximos ao castelo, assim, se nos chutarem do trem, ainda conseguiremos chegar lá com nossas próprias pernas...espero.
Os dois se entreolharam e uma grande onda de risos inundou a cabine.
-É loucura, mas eu gostei da idéia! Onde você conseguiu essas?
-Por que você acha que sumi? Contrabando! – e completou com uma piscadela – troco algumas por doces!
-Fechado.
A viagem era longa e os garotos já pareciam se conhecer a tempos quando seus assuntos estavam acabando. Já havia escurecido e eles se decidiram por vestir seus uniformes, e esperar quando o trem começasse a parar.
Uma voz ecoou pelo trem:
-Vamos chegar a Hogwarts dentre três minutos. Alunos do primeiro ano, por favor, deixem sua bagagem no trem, ela será levada para a escola.
-A confusão vai ser grande no corredor, ninguém vai notar que foi a gente – disse Sirius rindo. - E melhor, muita gente vai levar!
O trem foi perdendo velocidade e eles viram que era hora de agir, indo para a porta da cabine.
-Tenho experiência com bolas de lama...Não fui com a cara daquele narigudo ali – Tiago apontou para um menino muito branco e magricela, de cabelos ensebados.
-Vai fundo! Meu alvo é o teto do corredor, assim vai espirrar pra todo lado. 1... 2... 3...Já!
E tudo aconteceu numa fração de segundo. Tiago mirou no tal menino que lutava pra ajeitar seu malão e se preparou para jogar quando uma menina de longos cabelos negros passou bem na frente, e recebeu toda a carga dos dois meninos. Tiago se esquivara, sem sucesso, para não atirar nela, trombando em Sirius e fazendo-o errar a mira também.
Furiosa, e cheia de bosta, ela lançou um olhar fulminante, lançou um feitiço nela mesma, limpando-se e foi direto para a outra ponta do trem.
-Ixi...Cabine dos monitores...Melhor a gente dar o fora daqui. – disse Sirius, mas a menina já voltava acompanhada de um rapaz loiro e espinhento que trazia um “M” dourado e aparentava ter uns 16 anos.
-Vocês são do primeiro ano?
-Sim – responderam os dois em uníssono.
-Srta...
-Black.
-Olá prima! – disse Sirius enfezado.
-Prima? – espantou-se Tiago, percebendo uma leve semelhança entre os dois. Ambos pareciam possuir uma nobreza rebelde e eram muito bonitos. Poderiam se passar por irmãos se não fossem as faíscas da raiva que pareciam alimentar.
-Eu disse que minha família não era lá grandes coisas...-zombou Sirius.
-Muito bem, Srta. Black – continuou o monitor – o que aconteceu?
-Calma cara, podemos explicar – começou Tiago enraivecido pela atitude extrema da menina: chamar um monitor? A gente pedia desculpas e tudo ficava numa boa!
-Eles estão com bombas de bosta. E acertaram duas em mim. - continuou a menina como se Tiago não tivesse começado a falar. – Tiago estava a ponto de explodir quando a menina continuou – e não foi só isso. Eu tinha passado perto dessa cabine mais cedo e ouvi os dois combinando. Meu querido primo não parece gostar muito de mim. Convenceu esse panaca aí a tacar essas bombas em mim. – e virou-se para o monitor com olhar de choro. – não imaginei que fossem capazes de tal coisa, por isso não o avisei antes!
Sem conter xingamentos, Tiago foi obrigado a esvaziar seu bolso das bombas, enquanto Sirius, que não parava de olhar para o teto, esvaziava seus bolsos também. Parecia incrível a capacidade de inventar histórias daquela menina. Pelo visto, Sirius estava acostumado a histórias inventadas, porque tentava ignorar a prima a todo custo. Mas acabou explodindo e disse:
-Da próxima vez vamos ter piedade da bosta e poupá-la de ser atirada em você. Assim não vai ter tempo de inventar suas histórias imundas e...
-Já chega. Ótimo, a Srta pode descer tranqüila – disse o monitor ao ver que o trem parara, tentando evitar maiores confusões. – e os senhores vêm comigo.
-Está no segundo ano...nunca foi flor que se cheire, parece filha da minha mãe. Você viu que ela chamou justo o monitor da grifinória? Ela é da Sonserina, mas sabe que eu quero ir pra Grifinória, então tratou se já sujar meu nome por lá.
-É Sirius...pelo visto num vai ser nada bom se cairmos na Sonserina pra encontrar pessoas desse tipo...
Tiago e Sirius seguiram o monitor e, ao saírem do trem, ouviram uma voz:
-Alunos do primeiro ano, alunos do primeiro ano! Por aqui...
Era o maior homem que já tinha visto em sua vida. Seu rosto estava quase oculto por um emaranhado de cabelos e barba e seu tamanho era, no mínimo, duas vezes o de um homem normal.
-Hagrid, estes daqui estavam soltando bombas de bosta no trem! Tenho que seguir com os outros, portanto estou entregando-os pra você. – e dizendo isso, o monitor da Grifinória se afastou em direção ao aglomerado de alunos dos outros anos.
-Que coisa hein? – e sua voz soou estranhamente bondosa, o que não combinava com seu tamanho. – Aposto que bateram um recorde, receber detenções antes mesmo de saberem de que casa são!
Eles rumaram para um lago onde havia vários barquinhos. Cabiam três pessoas com folga e Hagrid ocupou um sozinho, parecendo desconfortável. Tiago e Sirius entraram em um e foram acompanhados por um menino franzino, de roupas surradas, que parecia bastante abatido.
-Quer um bolo? – ofereceu Tiago remexendo os bolsos.
-Não vão mais tacar bomba de bosta? – falou o garoto, rindo como se ao mesmo tempo admirasse e desaprovasse o que tinham feito.
-Bom, isso é um caso a parte – falou Sirius tirando bombas do bolso.
-Como você conseguiu? Aquele cara pegou todas as minhas!
-A questão é fazer cara de inocente! – disse Sirius com uma piscadela e os três atravessaram o lago, rindo e acabando com o resto dos doces.
Todos saíram muito molhados dos barcos, pois dentro deles não podiam evitar os respingos de água e, medrosos pela misteriosa seleção que os aguardava, seguiram Hagrid até a entrada do castelo. Ficaram impressionados. O homenzarrão bateu três vezes na porta e essa abriu de chofre. Por trás dela uma bruxa muito magra e alta, de ar severo e com cabelos negros bem presos em um coque, apareceu.
-Alunos do primeiro ano, Profa. Minerva McGonagall – informou Hagrid. – e estes dois aqui, veja bem – deu tapas nos ombros dos garotos que os fez dobrarem os joelhos no chão – opa, desculpem! Estavam soltando bombas de bosta no trem!
-Ora ora! Tudo bem Hagrid, cuido de todos agora. – Disse McGonagall com os lábios muito finos. - Me acompanhem!
Passando por um imenso saguão, eles andaram por um piso de lajotas de pedra e ouviram o murmúrio de várias vozes. Tiago já ia virando a porta à direita, de onde vinha o barulho, e foi chamado à atenção pela severa professora.
-Ei, senhor...?
-Potter – respondeu percebendo que ela estava levando os alunos a uma sala vazia do saguão, e se apressou a alcançá-los.
-Muito bem, creio que o senhor e seu amigo – e olhou para Sirius – bem como todos os outros – e seu olhar abrangeu toda a turma de alunos – gostariam de saber os recados que tenho pra dar antes de tentar descobrir o que há por trás de todas as portas do castelo.
-Desculpe professora – Tiago se apressou a dizer e se colocou entre o menino de roupas surradas e Sirius.
-Bem-vindos a Hogwarts – ela continuou. – O banquete de abertura do ano letivo será realizado logo depois da seleção. São quatro casas e a que vocês forem escolhidos será como uma família pra vocês no colégio. Conviverão a maior parte do tempo com seus colegas de casa e poderão passar o tempo livre na sala comunal.
“A cerimônia será realizada na frente dos alunos veteranos e vocês serão divididos entre Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa-lufa. Cada casa tem suas glórias e valores, bem como um histórico de bruxos e bruxas extraordinários. No final do ano, a casa com mais pontos receberá a taça da casa, uma grande honra. Em Hogwarts, seus acertos renderão pontos a favor de sua casa e seus erros a farão perdê-los”.
-Bom professora, receio que nada poderá ser feito com relação a nós então – todos viraram suas cabeças para Tiago e os lábios de Minerva pareciam apenas uma linha. Alguns alunos começaram a rir.
-Acham muito engraçado não é? Os senhores não farão casa alguma perder ponto, mas amanhã espero os dois na minha sala para uma detenção!
-Não estávamos em Hogwarts e nem fomos selecionados ainda...-completou Sirius e todos explodiram em risos.
A professora parecia a ponto de explodir, mas para espanto e alívio, sua expressão se tornou mais branda, e ela voltou a falar.
-Bom, como são novatos, serei paciente com vocês. Mas deixo bem claro: não queiram sair um dedinho da linha, ou me encarregarei de uma semana de detenção para os dois, Potter e..?
-Black.
-Muito bem. E fiquem avisados, não admito risinhos e brincadeiras de mau gosto durante minhas aulas. Se arrumem e aguardem. Volto para avisar a vocês quando estivermos prontos no salão para a cerimônia.
E se retirou da sala, deixando a sala cheia de murmúrios nervosos.
-Por um triz não foi? – falou Tiago.
-Sim. Pelo menos agora temos que nos preocupar apenas em mirar direito e bem longe da sua prima!
-Que tal bem no meio do nariz da Bellatrix?
Os dois riram, mas perceberam que logo as risadas se tornaram forçadas. Tiago estava nervoso, não tinha certeza sobre que casa queria ir.
-Espero que a seleção não seja uma catástrofe. Não to a fim de pagar mico na frente de todo mundo...Você não quer mesmo ir pra Sonserina?
-Acho que só tem idiotas atolados nas Artes das Trevas.
-E se eu for pra lá? Minha mãe era de lá...Se bem que os colegas dela não aprovavam muito o namoro com um cara da Grifinória, eles me contaram uma vez à confusão que dava o jeito diferente de ser da minha mãe.
-Tá certo, têm exceções. Mas a Corvinal também parece boa. Ouvi falar que só tem gente inteligente. – falou Sirius enquanto o menino que estava no barco com eles se aproximava.
-Oi, não me apresentei. Sou Remo Lupin. E vocês são Potter e Black.
-Tiago e Sirius, por favor – falou Tiago. – e aí, pra que casa quer ir?
-Ah, estou feliz só do professor Dumbledore ter me aceitado... – e parou como alguém que fala mais do que deve – Lufa-lufa me parece boa, aceita a todos sem discriminação.
-Ah, eu quero mesmo é Grifinória. Coragem e tudo mais...
Sirius foi interrompido pela professora Minerva que disse:
-Façam fila e me sigam.
O salão principal era maravilhoso. As várias velas enfeitiçadas para flutuarem a certa altura dos alunos refletiam suas luzes nos pratos e taças colocados nas quatro mesas dispostas pelo salão. À frente estava a mesa dos professores, onde se destacava um velho barbudo com um chapéu roxo extravagante, sentado bem no meio da mesa. Tiago o reconheceu como um dos bruxos das suas miniaturas de coleção que vinham dentro das caixas de corujas de amendoim. A professora Minerva trouxe um banquinho com um velho chapéu bastante surrado e Tiago aproveitou para murmurar:
-Tomara que nós três fiquemos na mesma casa. – e se pôs a contemplar o céu que, Tiago não entendeu como, estava exatamente como o que ele tinha visto do lado de fora do castelo.
Para a surpresa de todos os calouros, o chapéu no banquinho se mexeu. Abriu uma fenda próxima a sua aba que devia servir como boca e se pôs a cantar:

Vocês podem não gostar da minha aparência,
Mas em mim o jovem Godric confiou
E me dotou de inteligência para este fim.
Assim, todos os anos os reparto em quatro:
Astutos, nobres, bondosos e inteligentes.
Coloquem-me em suas ocas cabeças
E poderei ver tudo que nelas existir,
E assim me decidir em qual casa, melhor vão estar.
Sua morada pode ser a Grifinória,
Onde os mais corajosos e ousados residem.
Mas será preciso sangue frio e um coração indômito.
Quem sabe então Sonserina não seja melhor lar?
Onde homens astutos não medem esforços para o que querem alcançar
Sedentos de poder e de grande ambição.
Pode ser também a velha e sábia Corvinal
Mas será preciso mente sempre alerta
Pois os inteligentes serão os escolhidos
Bem como os de grande espírito e saber.
A boa e meiga Hufflepuff ensinará a todos com igualdade
E prezará os pacientes e sinceros
Aquele que não tiver medo da dor
E for justo e leal, na Lufa-lufa encontrará sua morada.
E mesmo dividindo-os todos os anos
Gostaria que permanecessem unidos
Pois só a amizade dá forças nas adversidades
E o velho chapéu aqui nunca se engana
Sentindo o tempo difícil que se aproxima

O chapéu fez reverências às quatro mesas enquanto todo o salão o aplaudia e se calou novamente. A Profa. Minerva, segurando um longo rolo de pergaminho, se adiantou.
-Vou chamar os nomes de cada um e vocês porão o chapéu e se sentarão no banquinho para a seleção. Aurim, Letícia.
-CORVINAL!
Tiago tentou desligar sua atenção para observar os mínimos detalhes do castelo. - “Avery, Caio”, “SONSERINA” - mas se sobressaltou ao ouvir “Black”.
-Sirius se dirigiu ao banquinho.
-Boa sorte – desejou Tiago, ansioso.
O chapéu se demorou um pouco e anunciou:
-GRIFINÓRIA!
E Sirius rumou feliz sob os aplausos da mesa da Grifinória. A Seleção continuava e os fantasmas branco-perolados que sobrevoavam as mesas não foram capazes de prender a atenção de Tiago e acalmá-lo.
“Bones, Henrique”; “LUFA-LUFA!”.
“Bianque, Brigite”; “GRIFINÓRIA!”.
“Charlinton, Emílio”; “LUFA-LUFA!”.
“Doofty, Robert”; “LUFA-LUFA!”.
“Flinerston, Amélia”; “CORVINAL!”.
“Goodford, Gilber”; “SONSERINA!”.
“Joog, Mile”; “GRIFINÓRIA!”.
A seleção ia se arrastando e a fome começava a aparecer. Os bolos e doces devorados no trem e no barco não o encheram o suficiente para que ele suportasse esperar a longa cerimônia.
-Lupin, Remo – falou a professora Minerva e Tiago novamente se sobressaltou.
“GRIFINÓRIA” – decidiu-se rapidamente o chapéu e Tiago olhou ansiosamente para a mesa da Grifinória. Sirius conversava animadamente com um fantasma pomposo e Remo se sentava ao lado de Lílian. E olhou com um nó na garganta para a mesa da Sonserina que recebia aos aplausos mais dois alunos “Nott, Marcos” e “Parkinson, Drisela”.
-Petrigrew, Pedro – um garoto baixo e gordinho, muito ansioso caminhou rumo ao banquinho quase tropeçando nas próprias vestes. O chapéu demorou a se decidir e anunciou “Grifinória”.
-Potter, Tiago. - Tudo pareceu girar. Todos os olhares pareciam estar voltados para ele, que não conseguiu olhar para mesa alguma e se fixou no banquinho. Colocou o chapéu na cabeça e novamente ouviu a voz do chapéu, que dessa vez parecia vir de dentro do seu cérebro.
-Ora ora ora...Potter não é? Vejo bastante inteligência e um grande espírito. Mas, o que tenho aqui? Não tem medo da dor garoto? Você preza a lealdade...sim, Corvinal e Lufa-lufa te receberiam de braços abertos.
“A sede de poder que existe em você me parece considerável... e seu sangue puro me parece predestinado. Sonserina me parece a casa ideal”.
“Mas vejo também muita coragem. Você é nobre e ousado, garoto. E seu coração arrogante tem um pedido... quer ir para junto de seus amigos, não é? Pois bem...”.
-GRIFINÓRIA! –anunciou o chapéu em alto e bom tom.
Mal se contendo de alegria Tiago ouviu o som dos aplausos vindos da mesa da Grifinória e seu corpo se revigorar partícula por partícula. Sentou-se ao lado de Sirius que sibilou:
-Demorou, hein cara? Vamos aprontar, camarada.
E, rindo, começou a achar a seleção muito mais interessante do que parecera na fila de espera. “Rosier, Evan”, “SONSERINA”; “Rultiber, Lola”, “CORVINAL”; “Snape, Severo”, “SONSERINA”.
-Escapei por pouco, tá vendo o tipo de idiota que vai pra lá? – falou Sirius quando viu o garoto narigudo que seria o alvo de Tiago no trem. Sorte que o chapéu me achou nobre demais pra cair naquele ninho de cobras. E você?
“Steban, Iners”, “LUFA-LUFA”.
-EU, bem... O chapéu parecia querer aplicar aquela sua música em mim e me dividir por quatro, falou que me daria bem em todas as casas...E frisou Sonserina – falou Tiago envergonhado – até que pareceu querer ouvir meu coração e me colocou aqui.
-Seu coração? E o que o coraçãozinho do Tiaguinho fru-fru quis hein? –zombou Sirius, rindo.
-Ah, num chateia tá? – falou Tiago sentindo seu rosto corar – ele disse que meu coração era indômito e pedia pra ficar perto dos meus amigos...
Sirius percebeu que não era um motivo pra continuar fazendo palhaçadas – “Wilkes, Vítor”, “SONSERINA” – e, ao ver o último sendo selecionado, aproveitou a deixa para não precisar falar nada.
O homem barbudo se levantou – Alvo Dumbledore, se lembrou do nome na legenda da miniatura – e todos se calaram.
-Gostariam de uma piada antes do banquete? Ou música? – o silêncio tomou conta do salão, mas foi derrotado por risadinhas dos alunos veteranos. - Acho que não é uma boa hora!Sejam bem vindos e... atacar!
Tiago riu das maluquices do diretor e, ao virar-se, viu com gosto que todos os pratos à sua frente tinham se enchido com os mais variados tipos de comida. Iniciara-se o banquete.
Era maravilhoso ver os vários pratos de galinha assada, rosbife, costeletas de porco e de carneiro, pudim de carne, cenouras, batatas, ervilhas e muito mais se renovarem toda vez que ficavam vazios. Tiago e os novos amigos se empanturraram tanto que Remo até parecia menos doente e Tiago se sentiu tão cheio que tinha certeza que se estivesse de posse de sua Silver Arrows e a montasse, certamente não conseguiria subir nem um metro acima do chão.
Remo apreciava o teto do salão quando foi interrompido por uma segundanista gordinha que estava sentada de frente a ele, que lhe disse:
-Este teto é encantado, foi feito para parecer o céu lá de fora, li isso em “Hogwarts, uma história”.
-Legal...E esse Dumbledore...Ele é meio doido, não? – falou um garoto mulato sentado ao lado de Remo.
-Pirou? Esse é o maior bruxo de todos os tempos...O cara é um gênio e além do mais é muito generoso. – retrucou Remo.
-Do jeito que você fala dele, vai acabar pedindo em casamento... – zombou Tiago.
-Posso ser padrinho, Remo? – falou Sirius, e todos caíram na gargalhada. Na mesma hora, o fantasma pomposo que Tiago tinha visto antes e se voltou para os meninos, com um olhar de intensa tristeza.
-Aproveitem enquanto podem desfrutar dos prazeres da vida...-e como se voltasse de um devaneio – do que estavam falando?
-Das maluquices do professor Dumbledore. – respondeu Tiago servindo-se de morangos, gelatina e todos os tipos de sorvete que seu braço conseguiu alcançar.
-Ah sim...Digamos que ele seja um pouco excêntrico. Mas, diante do que está acontecendo... Sim, esse é o melhor diretor que Hogwarts já teve. – e, num gesto de desaprovação aos comentários dos alunos, atravessou Tiago e foi conversar com um grupo de meninas que estava na ponta da mesa.
-Ui, não gostei disso...Parece que jogaram gelo em mim...Mas vocês ouviram o que ele disse?
-Pois é, o chapéu falou a mesma coisa – respondeu Sirius perspicazmente – tem algo estranho acontecendo.
-Sabe, e não é coisa só de bruxo não...Eu moro com meus pais e meu irmão perto de uma floresta – Remo falou como se estivesse medindo as palavras – e tem muito animal agindo de maneira estranha também.
-Se bem que...Meu pai tem ficado menos em casa nos últimos dias...Parece que tem tido mais trabalho – Tiago falou, mas não pode continuar. Todas as comidas haviam desaparecido e todos estavam mais que satisfeitos, mas o diretor se levantara, provocando um silêncio geral.
-Bom, agora que todos nós já comemos e bebemos o bastante e não queremos nada mais que camas quentes, um velho vai atormentá-los com alguns recados.
-O Sr. Filch, zelador, pediu pra lembrar a todos de que na porta da sua sala há uma relação das coisas proibidas (inclusive mágicas no corredor durante os intervalos das aulas) e frisou que ela deve ser lida por todos.
-Lembro mais uma vez que a Floresta Proibida contém muitos perigos e, como diz seu nome, é proibida aos alunos. E muitos se sentirão tentados a se aproximar de uma árvore recém plantada nas dependências do castelo. Receio dizer que quem não quiser conhecer a fúria daquele Salgueiro Lutador deve passar bem longe dele – Remo se remexeu na cadeira – e, para finalizar, duas alegres notícias.
-Os testes para o time de quadribol serão realizados na segunda semana, supervisionados pelo professor de vôo, o senhor Stebins. E por último, devemos dar boas vindas à nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, a Professora Lízia Dimberston!
Palmas não muito entusiásticas percorreram o salão, despertando a curiosidade de Tiago.
-O que deve ter acontecido ao professor antigo?
-Todo anos é a mesma coisa, sempre tem um professor novo. O do ano passado morreu, uma crise de tosse – respondeu a aluna gordinha que estava próxima a eles, e abaixando a voz – acho que tentaram envenená-lo, alguém havia mandado bombons pra ele pelo correio coruja no mesmo dia, mas disseram que foi só acidente. – continuou quase num sussurro - Dizem que o cargo está amaldiçoado!
-E agora, hora de dormir. Sigam os monitores de suas casas!
Eles seguiram o garoto louro e espinhento e uma bonita ruiva que levava o mesmo distintivo que ele. Tiago, conversando com Sirius, viu o garoto baixinho que tinha sido selecionado antes dele se aproximar do casal de monitores, gaguejando.
-Er...bo-bonito o castelo não? Esto-tou encantado! Sou pe-Pedro Pettigrew!
-Prazer, eu sou Oliver Prins e esta é Bernadete Tailor, e somos os monitores da Grifinória. É melhor que você fique bem próximo aos outros alunos do primeiro ano, não temos tempo para conversas agora.
Achando graça da falta de êxito de Pedro, Tiago se viu diante de um quadro de uma mulher muito gorda vestida de rosa.
-Senha, por favor.
Nesse instante irrompeu pelo corredor uma figura bizarra carregando grandes bexigas. Era um homenzinho com olhos escuros e maus e a boca escancarada.
-Sou Pirraça, o Poltergeist, P, P, PP – começou entoando uma ridícula canção – e vou mostrar para vocês, P pi, pirralhos, quem manda aqui! – e desceu sobre a cabeça dos alunos jogando as bexigas que estouraram, molhando vários deles.
-Pirraça, você vai ver! – começou Oliver, mas levou uma bexiga bem na cara.
Por sorte, apareceu no corredor o fantasma pomposo da Grifinória.
-Pirraça, são alunos do primeiro ano, seja cordial com eles!
-E quem é você pra me dizer isso? – zombou o Poltergeist.
-Ora, sou o cavalheiro Nicholas de Mismy...
-HÁ HÁ HÁ, Nicholas, Nick, há há há, Nick Quase Sem Cabeça.
Parecendo muito ofendido, o fantasma sumiu entre as paredes, sendo seguido por um Pirraça aos berros que cantava sua nova musiquinha horrível de zombaria.
-Vou ter que ficar esperando aqui a noite toda? – resmungou a Mulher Gorda, fazendo os risos de Tiago e Sirius pararem e os resmungos de quem estava todo molhado também.
-Licor de cereja. – falou Bernadete, e o retrato se inclinou para frente, dando lugar a um buraco redondo na parede. Todos passaram por ele tranqüilamente, mas Pedro tropeçou nas próprias vestes, gerando uma onda de risos.
Parando com a barulheira, Oliver mostrou os dormitórios para os meninos e Bernadete para as meninas. Era no alto de uma escada em caracol e em cada quarto havia cinco camas com reposteiros de veludo vermelho escuro. Segundo as plaquinhas na porta, aquele dormitório era de Tiago Potter, Sirius Black, Remo Lupin, Pedro Pettigrew e Mile Joog. As malas já haviam sido trazidas, bem como os respectivos bichos de estimação. Cansado demais para observar mais detalhes, Tiago dormiu com metade da blusa do pijama colocada e a calça enfiada apenas nos pés.

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