O Presente de Aniversário




No subúrbio de Londres, mais exatamente em Little Cursey, numa casa bonita, com pintura clara e janelas altas e largas, com vidros refinados que combinavam em um tom harmônico com a mobília requintada do século anterior, bem conservada, e com os belos tapetes persas. O céu estava limpo e repleto de estrelas, mas na casa, que sempre fora quieta, podia se escutar o choro de um bebê recém nascido.
Antes de falarmos desse bebê, é preciso deixar claro que seus pais, Willian e Lorelayne não eram um casal normal, e isso não se deve ao fato de que tinham idade avançada para um casal sem filhos ou que eram tão discretos que poucos vizinhos sabiam seus nomes. Eles eram bruxos, bem como toda a sua família.
Eles se conheceram na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.Quando Lorelayne foi para lá, Willian já cursava o terceiro ano e, como as coisas do amor nem sempre acontecem num passe de mágica, o garoto já estava no seu quinto ano quando convidou Lorey, do terceiro ano, para um passeio no povoado bruxo de Hogsmead, e os dois começaram a namorar.
Mesmo para os padrões de Hogwarts, não era comum uma bela garota da Sonserina, com longos cabelos lisos cor de mel e olhos excepcionalmente azuis, ser vista acompanhada por um garoto da Grifinória, magricela, um tanto mais alto que ela, com cabelos negros e olhos folha seca. Mas a srta McGinny não parecia se apegar a velhos preconceitos e adorava a companhia do sr Potter; comportado demais, mas excepcionalmente inteligente.
Willian se formou com ótimos N.O.M.s e N.I.E.M.s e decidiu se tornar auror. Seus estudos eram intensos, mas não impediram que ele fosse a Hogsmead todos os finais de semana em que Lorelayne estaria lá, nem que trocasse inúmeras cartas via coruja. O único problema era que o pai de Lorelayne era um típico sonserino e não aprovava nada em Willian. Lorelayne, após Hogwarts, se mudou com ele para o Canadá e ficou um ano sem se comunicar com Willian.
Ao nascer da guerra na Europa, por trás dos grandes feitos trouxas, estava Grindelaw, o bruxo das Trevas. A família McGinny retornou à Europa, atraída pelo expurgo aos trouxas, e Lorelayne abandonou seus estudos de curandeira. Ela reprovava as atitudes do pai, um homem amargurado pela morte precoce da esposa. Ao conseguir um emprego no Profeta Diário, o melhor jornal do mundo bruxo, Lorey passou a se sustentar e se desligou do pai. Poderia ter sido uma história de uma moça sozinha em tempos de guerra, mas Lorelayne reencontrou Willian, auror há um ano, quando foi fazer uma matéria no Ministério.
E seguindo a onda de acontecimentos catastróficos, Willian foi visitar Lorey em sua casa para conversarem seriamente. Antes mesmo de um abraço, Willian começou seu discurso que parecia decorado e lhe custava toda sua determinação para ser dito.
-Lorey, não podemos mais ficar juntos. – disse Willian com a voz embargada.
-Mas...-começou Lorelayne, apavorada, mas foi interrompida.
-Não, me deixe terminar. Não é fácil te dizer o que preciso, mas é mais fácil fazê-lo agora que comecei. Meu trabalho como auror exige que eu me aliste numa busca incessante contra os bruxos das trevas. É meu dever para com o país, o Ministério e você Lorey – disse de um fôlego só – para com você, porque não vou deixar nenhum daqueles desgraçados pegar você, vou mantê-los bem longe e, se eu não voltar, você tem que me prometer que vai ser muito feliz...
-Não diga isso – disse Lorelayne mais pálida do que de costume – você vai voltar! Nem que eu tenha que cuidar de você, mas nós vamos nos casar e ter muitos filhos e...
Uma onda de lágrimas tomou conta dos dois jovens rostos.
-Eu te amo Lorey, e prometo voltar. Mas, se isso não acontecer...
-Shh... Lorelayne disse e se pôs nas pontas dos pés para um beijo de desesperado e reprimido amor.
E a noite foi para os dois como uma despedida. Depois de tudo, durante o tempo de guerra, dois talismãs mantiveram a srta McGinny viva: a conclusão dos estudos para curandeira e o amor a Willian.
Fico feliz em lembrar que a guerra acabou em 1945 e, no mesmo ano, Alvo Dumbledore destruiu Grindelaw. Mas para Lorelayne as coisas não foram tão fáceis. O pai fora assassinado misteriosamente em um duelo com um bruxo desconhecido, os sobreviventes da guerra deram muito trabalho no St Mungos e a falta de notícias de Willian deixou-a desesperada até que, três anos depois do fim das batalhas contra Grindelaw, ele foi encontrado. Na verdade ele havia passado os últimos anos no Japão, sendo tratado por bruxos especializados em danos à memória.
Willian, tendo se recuperado, informou-se sobre Lorelayne e foi encontrá-la no hospital. Ele lhe contou sobre como foi acordar um dia se lembrando das lutas, dela e perceber, depois de muitas discussões, que haviam passado três anos que Grindelaw fora derrotado. Ele disse a Lorelayne que só se lembrava de estar em um duelo contra um bruxo que ele não se lembrava quem era, e depois do dia que acordou no hospital, tentando entender uma língua que parecia ter tanto “i” e “l” que quase o levou à loucura antes que aparecesse um tradutor.
Explicações e lembranças deixaram de ter importância diante do reencontro tão esperado, e menos de um mês depois a srta McGinny se tornou a Sra Potter, indo morar em Little Cursey, Londres. O casarão de arquitetura antiga estava à venda e foi providencial para o casal que, já tendo se metido em tantas confusões, preferiu a discrição e segurança de um bairro trouxa. Lorelayne trabalhava com afinco no St Mungus, sem se deixar impressionar pelos vários casos de doenças horríveis, provocadas por feitiços. Vivia à volta com invenções de poções, enquanto o marido prestava seus serviços como auror ao Ministério.
Os anos passavam e os Potter eram um casal feliz, exceto pela ausência de um filho. Sonhavam formar uma grande família, mas o destino não parecia querer ajudar. Mas uma década depois do casamento, como vimos no início da nossa história, nasceu Tiago Potter, no dia 13 de Agosto. O único filho dos Potter.
Dez haviam se passado Tiago se transformou em um garoto pequeno e magricela, seus cabelos negros estranhamente indomáveis contrastavam com sua pele branca e seus olhos eram folha seca, como os do pai. E a cada dia ele estava mais rebelde. Não se conformava em ter que estudar numa escola de trouxas e não ficava satisfeito com a explicação dos pais de que era pra não chamar atenção.
Lorelayne sempre era chamada à Escola St. Patrick:
-Sra Potter, seu filho colocou um sapo na mochila de Elizabeth Trom!
-Sra. Potter sinto lhe informar que seu filho jogou suco no reservatório de água! Agora tudo que sai nos bebedouros, descargas e torneiras é suco de laranja!
Lorelayne ficava uma fera com Tiago, mas Willian ria das peraltices do menino. “Ele é jovem Lorey”, dizia Willian, orgulhoso da ousadia do filho. Tiago era travesso como Willian nunca tivera coragem de ser: tinha aversão a regras e era impetuoso como a mãe.
O que realmente preocupava era que Tiago tinha o dom da magia em suas veias e o sangue de bruxo fazia-o capaz de produzir feitos inexplicáveis aos olhos dos amigos trouxas, tais como fazer gizes voarem contra a cabeça do professor de matemática da quarta série, ou conseguir aparecer do nada quando estava atrasado para as aulas de química, matéria que ele mais odiava. E ele pouco se importava com as coisas da escola trouxa, pois ele sabia que seu futuro não estava lá, mas sim em Hogwarts, onde ele aprenderia coisas que nenhuma escola trouxa do mundo poderia ensiná-lo.
Além de fazer travessuras, a coisa que Tiago mais gostava era de voar em sua vassoura Silver Arrows. Ele se irritava por não poder pegá-la e sair voando por aí, mas aos cinco anos de idade causou grave problema aos pais. Montou na vassoura da mãe pela primeira vez e saiu voando espetacularmente.
As memórias dos trouxas que viram tiveram de ser alteradas para que esquecessem a imagem do menino de cinco anos em uma vassoura a 4 metros do chão, mas até seus pais se espantaram com o que viram. Depois disso, quando ele ia à casa de seus avós, que era no alto de um monte inabitável, ele pegava a sua Silver Arrows de último tipo e saía voando, atravessando os montes verdes que ficavam atrás da casa, sentindo a brisa fria que batia em seu rosto. Infelizmente ele nunca teve a oportunidade de jogar uma partida séria de quadribol, pois ele vivia apenas com o pai e a mãe e só dispunha dos dois para treinar, sendo que quadribol necessita de sete jogadores.
Seu avô, Junques Potter, lhe presenteou certa vez com um velho pomo que lhe fora dado por seu avô. Assim, Tiago adorava voar tentando capturar seu velho pomo de ouro, que de tão velho estava bromo ao invés de dourado, enquanto sua mãe atirava balaços – relembrando velhos tempos - e o pai supervisionava entre aplausos e risos do talento da família. Isso para Tiago era o paraíso.
Era uma noite especial. Thiago estava particularmente pensativo, como que a disfarçar sua ansiedade. Deitado sobre sua cama o brilho da lua batia em seu rosto deixando-o mais pálido que o habitual: faltava apenas uma hora para completar seus 11 anos e 1 mês para entrar em Hogwarts. Sua cabeça estava com tantas idéias que o que mais ele queria era dormir, mas não parava de olhar pra carta que recebera naquele dia, com o brasão de Hogwarts. Procurou se distrair olhando para o pôster do Startail, seu time preferido, vendo as figuras que se mexiam de um lado para o outro, duas vassouras perseguindo o pom...

Tiago acordou com uma enorme quantidade de baba em seu rosto, tateou a escrivaninha e pegou seus óculos, sentou-se e esperou seu quarto entrar em foco. Tentou se lembrar do que sonhara...Ele ia para Hogwarts, não precisaria mais estudar naquela escola inútil...Olhou o relógio que marcava 7h da manhã...Já tinha 11 anos!!! Examinou o quarto com mais atenção, e lá estava, ao lado de um aquário onde havia meia dúzia de lorniuxs, seres que pareciam com pequenas salamandras que soltavam um fogo roxo que – assombrosamente - não era apagado pela água limpa do aquário. Ele correu em direção à pilha de presentes e cada um revelava uma coisa que Tiago adorava: cabeças de coruja de chocolate recheadas com pasta de amendoim, um pacote cheio de figurinhas dos jogadores do Startail que, além de se mexer, agora falavam frases, feijõezinhos de todos os sabores, xadrez bruxo, sapos de chocolate... Faltava apenas um presente para Tiago abrir. Tiago o deixara de lado porque parecia bem surrado. Ele estava envolto a um papel azul com estrelas amarelas, e não parecia muito atrativo. Tiago, empanturrado de doces e sem ninguém para jogar xadrez com ele – os pais estavam adiantando o serviço para comemorarem o aniversário mais tarde - decidiu-se por abrir o pacote.
Parecia um pedaço de pano com estranha textura...Uma capa. Surpreendentemente não era tão velho quanto o embrulho. Sacudiu o papel e viu cair um pedaço de pergaminho.

Coloque e olhe para o espelho. Não conte aos seus pais. Estive guardando para dar a alguém da família que juraria solenemente não fazer nada de bom. Hogwarts te espera, aproveite-a bem.
Com amor,
Lisvrie Potter.

Tiago pôs a capa da avó sobre seus ombros e olhou ao espelho. Por um instante pensou que estava louco, podia ver apenas sua cabeça. Mas então um sorriso tomou conta de seu rosto: percebera com alívio que ainda sentia seu corpo sob a capa. E o que ele tinha sobre seus ombros era nada mais nada menos que uma capa da invisibilidade.

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