A História dos Evans



-Capítulo Quatro-

A História dos Evans

O percurso percorrido até a casa dos Dursley não podia ter sido mais curto e rápido. Harry estava achando que as ruas de repente resolveram criar atalhos e mais atalhos que levavam direto à rua dos Alfeneiros, nº 04. Talvez fosse por que estivesse ansioso por contar tudo sobre o mundo bruxo ao seu novo parente, talvez fosse porque agora não era o único bruxo da família vivo, mas Harry não se sentia feliz assim desde que ganhara a o Campeonato de quadribol no seu terceiro ano letivo em Hogwarts.

Ele, Harry, não sabia explicar a sensação de pensar que estava sozinho no mundo e de um instante para outro descobrir que tem um parente vivo, e melhor, que é bruxo.

Foi mergulhado nesses pensamentos que Harry se deparou com o gramado bem cortado e nivelado da casa dos Dursley. Virou-se para Marco e falou:

- Aguarda um pouco aqui fora, OK? - e abrindo a porta entrou na casa de seus tios.

Entrando em casa a primeira coisa que viu fez todo o seu corpo tremer. Sangue, muito sangue estava derramado no chão. O piso dos Dursley sempre limpo parecia agora um lago de sangue... Harry sentiu vontade de vomitar quando o cheiro enjoativo de sangue podre subiu e penetrou em suas narinas... Sentindo o seu estômago dar algumas voltas e percebendo que algo subia aos poucos pela sua garganta, Harry saiu o mais rápido possível da sala de estar dos Dursley e ao chegar à cozinha sentiu que aquilo que subia por sua garganta resolvera continuar um pouco mais no seu estômago... Percebeu que a cozinha também estava vazia, mas logo que se dirigia ao quarto dos tios ouviu os passos de alguém descendo as escadas, então viu sua tia, Petúnia, usando uma espécie de máscara que lhe cobria o nariz. Essa máscara junto com o tamanho do pescoço da tia fez com que ela parecesse, ao ver de Harry, um dromedário. Antes mesmo que Harry pudesse perguntar alguma coisa a tia falou:

- Maldito animal... - e vendo a cara de espanto de Harry, completou: O Válter ganhou em um sorteio da empresa um "porco premiado", como eles chamam. De premiado nele, nada vi... Então como o porco estava vivo e Válter não queria negar nada dado pelo dono da empresa, trouxe-o para casa. Não iríamos criar um animal de tamanho porte - Harry teve vontade de dizer que eles criavam uma imensa aberração, o Duda, mas resolveu ficar calado - então tive de matar aquele maldito porco com minhas próprias mãos... Bem, a corda que amarrava o porco na pia não era tão resistente, com isso ele fugiu e saiu correndo pela sala, e como ele estava sangrando esse sangue se espalhou aí... Acho que ele morreu de hemorragia...

Harry achou estranho a tia ter explicado tudo aquilo a ele, os Dursley sempre o ignoravam, mas achou que esse ato decorrera porque tia Petúnia não queria que ninguém falasse que a sua sala estava suja sem um motivo aceitável.

- Tenho um colega me esperando lá fora e ele tem que entrar - disse Harry apressado, assim que a tia chegava à cozinha.

- Um-um co-colega? - perguntou tinha Petúnia engolindo o seco - Um colega da sua classe, da sua laia? - completou com arrogância.

- Sim, ele é um bruxo.

- Ele não vai poder entrar em minha casa, jamais. - Harry ouviu o tio dizer isso enquanto descia as escadas.

- Ah, ele vai entrar sim... Com vocês querendo ou não... - respondeu Harry ignorante.

- Novamente ti digo menino: NÃO É VOCÊ QUEM VAI DIZER NADA AQUI DENTRO DE CASA... - gritava Válter para Harry.

- Olha, ele está me esperando lá fora e ele vai entrar sim... A não ser que vocês queiram ter uma conversinha com uma outra pessoa... - Harry sublinhou as últimas palavras e parece que os Dursley entenderam porque Petúnia logo disse:

- Ninguém vai poder nos forçar a deixar entrar uma pessoa tão diferente em nossa casa.

- Bom, então esperem só vocês verem o Moody... Vou mandar agora uma...

- Você não vai mandar coisa nenhuma para ninguém. - gritou Válter ficando com as bochechas inchadas e vermelhas.

- Se vocês não deixarem Marco entrar eu vou mandar uma coruja para o Moody sim... Entendam, o Marco é meu parente.

Essas palavras pareceram ecoar fortemente na cozinha dos Dursley, todos ficaram calados, Válter com os olhos arregalados e Petúnia franzindo a testa.

- Você não tem parentes vivos, seu idiota. - falou o tio em um tom de certa ameaça.

- Claro que tenho, ele é um Evans. Marco Evans... Minha mãe também era, e se não me engano tia Petúnia também é. - pela segunda vez as palavras de Harry ecoaram pela cozinha. Então a porta da sala se abriu, todos olharam e viram Marco Evans, tapando o nariz, vindo em direção à cozinha.

- Achei que podia entrar. - disse o garoto inocentemente com uma voz engraçada.

- Pois achou errado, saia já... - Válter calou-se. Petúnia havia caído no chão de joelhos, chorando, as mãos cobrindo os olhos.

- P-petúnia, que foi que houve? - Válter abaixava-se tentando levantar Petúnia do chão.

- Válter, chegou a hora. Tenho que contar. Alvo Dumbledore me alertou que esse dia chegaria, e chegou. - Petúnia soluçava e enxugava os olhos, ao mesmo tempo em que Válter olhava de uma forma curiosa e preocupada para a mulher. - Eu devia ter ti contado logo quando nos casamos, eu não contei tudo... Eu não era a última, eu não sou a última. - Petúnia chorava e soluçava, de uma forma que Harry mal conseguia entender o que ela dizia.

- Olha se você chorar assim nós nunca conseguiremos entender o que você quer dizer. - Marco dizia sinceramente.

- Não dirija a sua palavra para mim. Tudo foi culpa dele, tudo foi culpa do seu sangue - Petúnia apontava para Marco e chorava desesperada no ombro do tio Válter.

- E-eu? Eu não fiz nada, eu não sei de nada... Pare de ser idiota, como vou entender o que você está dizendo se você não nos conta nada e não pára de chorar? - Marco estava ficando irritado.

- Não fale assim com minha mulher, em minha casa, estando aqui sem minha permissão. - Válter pulou no pescoço de Marco, ao que Harry puxou a varinha, só que não houve necessidade de usá-la. Válter antes de tocar em Marco, parara. Ficara imóvel com os olhos arregalados, a boca aberta e as mãos estiradas em direção ao pescoço de Marco...

- Quê você fez com ele? Diga o que você fez... - Petúnia agarrara uma vassoura e disparara também em direção a Marco. Harry puxara a varinha, não queria fazer isso, pensava. Então:

- Expelliarmus.

Harry estava caído no chão. No momento do grito a sua varinha saíra voando de sua mão e agora estava caída no meio do sangue de porco espalhado pela sala... Abriu os olhos e viu tia Petúnia e Marco parados olhando para algum lugar perto da janela. Harry se levantou a tempo de ver um vulto passando pela janela e instantes depois ouviu a porta de entrada se abrindo novamente. Moody acabara de entrar, apontou a varinha para o sangue no chão da sala e falou: Limpar!, e o piso estava brilhando. Pegando a varinha de Harry, dirigiu-se a cozinha e falou:

- Desculpe garoto, apenas tirei você de uma grande encrenca. Eles jamais perdoariam um ataque seu a um trouxa. - Moody dizia em um tom sincero e preocupado.

Devolvendo a varinha a Harry, apontou para Válter e falou:
- Finite Incantatem. - e Válter se desequilibrava, caindo no chão... - Pelo visto as coisas não estão indo muito bem não é? Primeiro não quero que ninguém ataque mais ninguém, a não ser que queira, hum - Moody apontara para a varinha. Segundo, - Harry vira o olho azul-elétrico de Moody se virar para o teto -, tem um garoto lá em cima que não está urinando no lugar correto e terceiro, quero que você - Moody apontou a varinha para Petúnia que se agarrara a Válter com o susto - conte o que ia contar a alguns minutos atrás.

- Até que enfim - Marco dizia com um ar ignorante, ao passo que todos se acomodavam nas cadeiras ao redor da mesa.

Fingindo não escutar o comentário de Marco, Petúnia começou:

- Eu não gostaria de contar isso assim ...

- Querer não é poder, vamos - Moody interrompia Petúnia.

-... , mas já que não tenho outra escolha. O que irei contar agora acredito que seja por certa parte surpresa para alguns de vocês, e dói muito em mim contar algo que sempre ignorei há anos. Primeiramente queria dizer que sempre tive aversão à bruxaria - nessa parte tio Válter suou e Moody fez um olhar indignado - e mesmo que algumas gerações de minha família tenham sido bruxas, nunca tive interesse nessa bobagem - Harry agora foi quem olhou indignado. Os meus pais eram pessoas comuns e até onde sei, a última geração bruxa da minha família foi a uns dois séculos antes do meu nascimento, e foi da família da minha mãe. Eu sou a primeira filha dos meus pais e nunca fui motivo de tanto orgulho para eles. Depois de mim, minha mãe teve mais dois filhos, gêmeos, só que ambos morreram antes de completar dois anos, - os olhos da tia se enchiam de lágrimas, enquanto todos nem piscavam de tanto prestar atenção - então nasceu o quarto filho de meus pais, acho que o nome dele era Mark Evans, não gosto nem de lembrar. Ele era uma pessoa estranha e isolada, mas mesmo assim despertava interesse de meus pais, e quando ele completou 11 anos recebeu uma carta dizendo que ele estava matriculado em uma escola de bruxos, a mesma que ele freqüenta. - Petúnia apontara para Harry, com um quê de arrogância.

- Espere, qual o nome desse seu irmão? - Petúnia tremeu ao ouvir as últimas palavras ditas por Marco.

- Acho que era Mark, não lembro bem, eu não gostava dele. Bom, continuando, meus pais agora consideravam-no o queridinho da família, e eu apenas tinha de ficar na cozinha lavando pratos. Era muito engraçado ao ver dos meus pais o pobre do Mark voltar dizendo que tinha amigos na escola. Então nasce mais um na família, mais um da laia do Mark, era a mãe de Harry. - ao ouvir essas palavras, Harry sentiu um calafrio subir até sua cabeça, levantando alguns pêlos do pescoço. Ela também nasceu estragada...

- Cala a boca, não fale assim da minha mãe - Harry gritava, ficando em pé sem mesmo perceber.

- Se quiser ouvir tudo que tenho a dizer terá que ficar calado - retrucava Petúnia, e ignorando os comentários de Harry recomeçou: A minha irmã nasceu estragada - Harry fez menção de por a mão na varinha, mas Moody repreendeu-o com um olhar - e com isso também recebeu a carta confirmando a matrícula na escola, meus pais deliravam de tanta felicidade e eu só servia para varrer o piso sujo da cozinha, então ele conhece um sujo do Potter...

- EU JÁ AVISEI PARA NÃO FALAR ASSIM DOS MEUS PAIS - Harry gritava para Petúnia.

- Sente-se e deixe sua tia contar a história em paz - disseram Válter e Moody em uníssono.

- Então se casaram e tiveram você pouco tempo depois. Eu ainda morava com meus pais, e já estava namorando o Válter aqui a alguns meses, ele resolveu conhecer a minha família, mas estava tão apaixonado que nem percebeu tão estranho que eles eram e tampouco se importou quando eu falei o que meus irmãos eram apenas disse que...

- Disse que nada poderia separar nós dois - completou o tio Válter.

- É então eu me casei e vim morar aqui, recebendo notícias de minha família através do correio. Então pela manhã encontrei o Harry dentro de uma cesta com uma carta que dizia que eu tinha de cuidar dele e explicando tudo que aconteceu. Eu e o Válter tivemos uma conversa muito séria e resolvemos criá-lo como um filho, junto com o nosso filho querido, e tentar acabar e reprimir o quanto estragado ele era... - Harry abrira a boca para responder, mas Moody apenas acenou e ele se calou - mas não deu certo, todos eram assim, pau-que-nasce-torto-nunca-se-endireita. Aqui em casa - Petúnia engolira em seco - não estava um clima muito bom, Válter pensava em separação, então inventei que, inventei que - Petúnia encarava Válter, os olhos dos dois se enchendo de lágrimas - inventei que todos os meus familiares morreram, o que era verdade em parte, pois recebi a carta do diretor dizendo que minha irmã morreu e meus pais tinham dito que só parariam de mandar cartas para mim quando morressem, só que eu disse todos e o Mark não tinha morrido. Na verdade só menti porque o Válter temia que algum dia aparecesse outro moleque em uma cesta para termos de criar - Petúnia ignorou os murmúrios de Harry - e não podíamos expulsar o Harry, ao aceitarmos estabelecemos um contrato de proteção com o diretor da escola, enquanto Harry estiver sob nosso teto nada de mal ocorrerá a ele aqui.

- É, e é por isso que tenho de voltar para esse inferninho nas férias - dizia Harry em um resmungo.

- Se não tivéssemos ti aceitado provavelmente você já estaria morto, o que seria muito bom. - resmungou Válter.

À essa resposta Harry não tinha o que falar. Por mais que eles se odiassem, reciprocamente, Harry estava devendo a vida a eles. Por uns instantes o garoto conseguiu sentir que gostava de seus tios, mas quando voltou a prestar atenção no que Petúnia dizia, essa sensação estranha passou rapidamente.

-... e um homem enorme veio pegá-lo quando estávamos em um rochedo no meio do mar, e usou alguma coisa no meu Dudiquinho. E em setembro ele foi para a escola e voltou se achando o dono da razão... Acho que é só isso que tenho e posso contar...

- Por que você começou a chorar quando eu me aproximei de você? - perguntou Marco, de uma forma curiosa.

Petúnia engasgou. Parecia não querer responder.

- Responda ao garoto. - Moody acabara de apontar a varinha para o pescoço de Petúnia. A tia alisou o pescoço, fungou, e recomeçou:

- É uma outra longa história que não estou muito disposta a contar, só digo que foi uma maldição que o seu pai lançou sobre mim. Antes de contar a mentira a Válter, eu recebi uma carta dele, dizendo que ia mandar o filho dele para eu criar. Harry devia ter uns cinco anos quando isso aconteceu. Então eu neguei e ele disse: "Ti amaldiçôo. Tudo de mal que falardes de meu filho em dobro para ti e toda sua família voltará, e se por um acaso ele chegar a tocar os pés em tua morada, perceberás que ali eu estarei presente, junto de meu filho, e terás de acolhê-lo como se acolhe um irmão. E tudo que ele a ti ordenar, se for viável e possível, terás de realizar". Foi isso, chorei porque quando esse menino entrou em minha casa, vi meu irmão entrando, e terei de acolher Marco aqui em minha...

- Ah, não vai mesmo. - levantou-se Válter gritando.

- Você ouviu, se eu negá-lo, nós e o Dudiquinho poderemos morrer o mais breve possível, tudo de mal virá para nós... - chorava e soluçava Petúnia - E, além de tudo, terei de aceitar e cumprir alguns favores pedidos por você. - disse Petúnia virando-se para Marco.

Os olhos de Marco deram um brilho de felicidade, depois o brilho se apagou e ele secamente falou:

- Por que você me disse isso? Não era melhor você ficar calada e eu não ficar sabendo disso?

- Tive de responder, porque você perguntou... - Petúnia soluçava -, espero que ninguém tenha mais algumas pergunta, estou exausta...

Todos balançaram a cabeça negativamente.

- Então vou varrer o quarto, e você Harry, volte já para o seu...

- Eu não quero que ele volte para o quarto, quero que fique aqui até quando ele não quiser mais, e gostaria de almoçar. - dizia Marco autoritariamente.

- Mas você não - Válter começou a gritar, mas foi interrompido por fungados e gemidos. Os olhos de Petúnia se encheram de lágrimas, ela soltou a vassoura e rumou ao fogão, enquanto Harry abafava um riso, desejando que a sua mãe também tivesse amaldiçoado a tia Petúnia...

- Bom, já que o desejo de meu pai era que eu morasse aqui, tenho de dizer aos meus pais adotivos, não é? Vamos lá comigo Harry? Enquanto eu vou lá vá fazendo o almoço, quero ver tudo pronto quando eu voltar.- dizia Marco um tanto animado.

- Aqui não é nenhum palácio, fique sabendo. - Harry dizia enquanto rumavam para fora da casa dos Dursley...

- Pode não ser, mas agora será, afinal posso mandar e desmandar nela não é?

Moody olhou seriamente para Marco e falou:
- Olha, Marco, não abuse da autoridade, geralmente maldições tem um fim, procure saber quando essa vai chegar para depois você não entrar em confusão... Você não vai sentir falta de seus pais adotivos?

- Claro que vou, mas eu vou morar no mesmo bairro que eles, não é? - Marco respondia em tom sarcástico.

- OK. Bom, Harry tenha paciência. Aproveite os últimos dias de férias e conte sobre o mundo mágico a Marco, certo?

- Hum hum. - Harry se virara para Marco. Então lembrou-se que queria perguntar algo a Moody, virou-se e falou: Porque é que você estava ali hoje, antes de usar o feitiço de desarmar em mim?

Mas antes de dizer isso, com um craque, Moody havia desaparecido. Com um aceno de mão Marco chamara Harry para segui-lo até a casa de seus pais adotivos.

Os dois foram mergulhados em um pleno silêncio, inertes em pensamentos sobre o que acabaram de ouvir.

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