Mais uma Vez
Mais Uma Vez
Rony abriu os olhos e sentiu o sol adentrar seu quarto, com a delicadeza de finos dedos de luz. Aquela manhã tão bela começara com um clima de verão que ele há muito não sentia. Apesar de já ser Outono.
Ele se levantou e se espreguiçou, tentando tirar do corpo a vontade praticamente irresistível de dormir mais um pouco. Abriu a janela e olhou para os campos ‘té a linha do horizonte. Todos verdejantes e sorrindo. Pegou a toalha e foi até o banheiro.
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
Hermione se levantou de um pulo. Não dormira bem durante a noite toda. Tivera pesadelos desconexos e não gostara do que sonhara. Olhou, através da cortina entreaberta, aquela luminosidade amarela quase repulsiva se esgueirando por entre as tramas do tecido e adentrando seu quarto. Odiava o Outono. Não todos, mas aquele em especial. O Outono do ano em que tudo dera errado.
Escuridão já vi pior
De endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
Rony desceu para tomar café com um sorriso quase besta se estampando em seu rosto. Encontrou Hermione com a cabeça baixa, contemplando um prato vazio, alheia a tudo e a todos. Tocou seu ombro e sussurrou:
— Se anime. Tudo vai dar certo. Foi só uma tentativa frustrada. Você vai se recuperar.
Hermione se levantou e foi para fora da casa. Rony a seguiu, embora ela não quisesse. Viu a garota sentar-se sob uma árvore e baixar a cabeça contra os joelhos flexionados. Ficou apenas olhando, por algum tempo. Tinha dó de Hermione. Como tudo pudera dar errado? Ela se preparara tanto...
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Rony sentou-se ao lado dela, quieto. Ouvia a garota soluçar e chorar, mas não sabia o que podia fazer. Não aguentando vê-la daquele jeito, ele a abraçou. Hermione levantou o rosto para ver quem era e se surpreendeu ao ver Rony. Mas não saiu de perto dele. Ele ao menos não a trairia. Estaria ao lado dela, e apenas ao lado dela.
A garota comprimiu o rosto contra o peito de Rony, e pôde ouvir os batimentos acelerados de seu coração. Sorriu. Sabia que ele estava desnorteado, tadinho. Mas ela adorava esse jeitinho atrapalhado dele. Era agora seu único refúgio.
Rony aconchegou Hermione contra seu corpo e engoliu em seco. Ele nunca tivera uma garota tão perto assim dele. Ainda mais sendo a sabe-tudo Hermione, a garota que nunca precisaria de conforto, aquela que nunca se mostrara frágil. Ele acariciou os cabelos da menina e encostou a cabeça na árvore. Suspirou.
Tem gente que machuca os outros
Mas ele sabia muito bem que aquela fragilidade não era aparente e rendia a Hermione muita dor e sofrimento. Aquele que a ferira certamente não pensara que seria tão doloroso. A ferida que lhe fora feita duramente atingira o coração, a confiança, o orgulho, a determinação... Tudo.
Rony até pensara que ela tinha se recuperado. Quando os dois começaram os estudos para a entrevista, Hermione estava bem, e, mesmo depois do não, ainda lhe parecera bem. Mas aquilo fazia quase duas semanas. A estação mudara e, com ela, a falsa aparência de pouco caso de Hermione. Ela se importava, se importava sim, com o que acontecera naquele dia.
Tem gente que não sabe amar
Quem fizera aquilo com ela certamente perdera toda a confiança que nele ela depositara. Quem fizera... Rony sorriu, sarcástico. Sabia quem fora, por que se comportava como se não soubesse? E aquele porco dissera a ela que a amava... Nojento. Hermione merecia algo melhor.
A garota ainda estava encostada em Rony. Ele conseguia, pouco a pouco, acalmá-la, de modo que ela agora já não soluçava. Mas ainda estava muito sentida. Se desvencilhou do abraço de Rony e o olhou. Ele sorriu, olhando, com aquele jeito desnorteado, mas seguro, no fundo dos olhos dela.
Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
— Ah, Rony, ainda bem que você está aqui... – murmurou ela. – Não sei o que seria de mim sem seu apoio.
— Eu sempre estarei ao seu lado, Hermione – respondeu ele. – As pessoas passam muito tempo nos enganando, depois nos abandonam e ficam ainda rindo de nós pelas costas. É só ver: você perdeu sua chance naquele emprego, eu fui demitido sem justa causa, e os dois canalhas que nos fizeram isso estão gargalhando, juntos...
— Mas um dia nós poderemos olhar para trás e, quem sabe, rir, depois – disse ela, pouco convicta. – A gente acaba aprendendo a lidar com isso.
— É – ele a abraçou novamente, e ela se aconchegou contra ele. – Um dia, quem sabe, a gente aprende.
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança
Eles permaneceram abraçados por muito tempo. O sol de Outono, que nascera com presságios tão diferentes para os dois, agora se punha, no mesmo horizonte, sob os olhos de duas pessoas que se amparavam. O péssimo dia de Hermione acabou anoitecendo não tão ruim, e o belo dia de Rony acabou anoitecendo não tão bom. Mas eles estavam um pouco melhores, os dois.
Quando entraram em casa, a senhora Weasley estava servindo o jantar. Os dois sentaram-se à mesa e comeram em silêncio. Depois, foram para cima, até o quarto de Rony, que agora recebera uma decoração mais sóbria. Hermione sorriu; ou ele estava criando juízo ou se tornara mais autoconfiante. Ou os dois.
— Aprendi uma coisa, com isso tudo – murmurou Hermione, mais para si do que para Rony. – Há certas coisas que eu só posso contar para mim mesma.
— Como se só pudesse confiar em si mesma – completou Rony. – Eu sinto o mesmo.
Os dois sorriram e foram para a janela, olhar por sobre os campos verdes agora escuros e as colinas que se perdiam no horizonte.
Mas é claro que o sol
Vai voltar amanhã
Mais uma vez eu sei
— Queria que tudo fosse simples como o nascer do sol – murmurou Rony. – Simplesmente acontece e nos tira da escuridão.
— O sol sempre nasce, mas isso não quer dizer que seja simples – disse Hermione. – É bem complexo. Mas nós não vemos todo o processo. Não podemos julgá-lo por completo se não o vemos por completo.
— Foi isso que aconteceu conosco – comentou Rony. – Não vimos aqueles dois por completo, não os julgamos por completo.
— Até quando você vai guardar esse rancor? – perguntou Hermione.
— Enquanto ele existir aí no fundo de seu coração, Mione – respondeu ele, firme. – Foi cruel o que ele fez com você.
Escuridão já vi pior de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem
— Mas pessoas já me fizeram pior, Rony, e eu sempre superei.
— Mas antes eu não estava ao seu lado – respondeu ele. – Eu não sentia sua dor. Eu não sabia o quanto doía.
Ela o abraçou. Estavam vivendo dias escuros, os dois. Dias de traição, de sombra, de remorso, de mágoa. De ódio. Eram dias horríveis, mas um dia iam passar. Um dia a escuridão passaria e o sol brilharia.
Passaram a madrugada juntos, conversando e tentando se animar. Rony conseguiu arrancar alguns sorrisos de Hermione, e vice-versa. Mas tudo foi por água abaixo com a chegada daquela carta, trazida por aquela coruja negra.
Era para Hermione. A garota a abriu e leu. Conforme seus olhos se movimentavam, se enchiam de lágrimas. Quando ela pousou a carta, já estava chorando.
— Que houve? – perguntou Rony.
Hermione lhe estendeu a carta, a cabeça baixa, as lágrimas escorrendo.
Nunca deixe que lhe digam
Que não vale a pena
Acreditar num sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Querida Hermione, e Ronald, que deve estar aí também,
Eu queria lhes apresentar nossos sinceros pêsames por não terem conseguido se manter no trabalho... Aliás, Hermione, você nem conseguiu a vaga, não é? Que peninha... Bom, foi mais para dizer o seguinte: desistam de nos superar. Somos muito mais do que vocês. E somos felizes, assim. E, Hermione, chore muito ao ler a próxima linha:
EU E VÍTOR VAMOS NOS CASAR. E eu estou grávida dele, querida. Desde muito antes de vocês terminarem... Aliás, de ele te dar um fora. Você foi traída duas vezes, amiga. E você, Ronald, é um corno sem tamanho, querido... Se consolem, é a única coisa que podem fazer.
Walkiria e Vítor
Rony amassou a carta e a queimou com um feitiço. Olhou para Hermione, que chorava ainda mais. Pegou sua mão e a abraçou. Para ser sincero, queria chorar também. Sabia que aqueles dois haviam falado apenas uma montanha de merda, mas Mione estava sofrendo por isso.
A garota estava silenciosa, quieta feito um túmulo. Ele murmurou:
— Eles são dois babacas, Mione – Rony levantou o rosto dela e lhe enxugou as lágrimas. – Queriam apenas te ver sofrer. Mas não se importe com isso, Mione. Você é melhor que eles. Um décimo de você supera aqueles dois.
A garota sorriu e disse:
— Eles se merecem. Ela é uma vadia e ele é um corno.
— Exatamente- concordou Rony. – Agora você se animou?
— O suficiente – respondeu ela, sorrindo.
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende...
Os dois se entreolharam e sorriram, juntos. Olharam para fora da casa. O sol estava nascendo de novo. Ambos haviam sido machucados, mas se recuperariam. Juntos, unidos, sempre lado a lado. Ninguém mais os faria sofrer.
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Esse ficou melhor, né? Mais bunitinho... Bom, galera, o próximo é o último... e vem depois dos coments... por favor, não custa tanto... apenas digam o que acharam, é minha primeira fic. Não precisa escrever trinta linhas. Por favorzinho! Obrigada!
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