...de como eu matei Louis Garr
Capítulo 4
...de como eu matei Louis Garrel
"Olhou para o meu eu, dormindo imóvel na cama. Pegou todas as libras de seu bolso e colocou de mal jeito em meu sobretudo. Depois saiu correndo assustado"
Fiquei paralisado sem entender o que ele disse. Não foi preciso muito para entender o que estava acontecendo. Penetrei fundo em sua mente e descobri um lugar em sua memória que eu, por não precisar, nunca tinha visitado.
Era ele, Louis Garrel ao meu lado, enquanto eu dormia. Tinhamos feito sexo, foi nossa primeira noite juntos e ele estava saindo da cama de mancinho. Ele foi para meu sobretudo e começou a pegar meu dinheiro. Então era isso, ele me roubava! Depois, ele mecheu de novo e encontrou... minha varinha. Ficou fitando o objeto sem entender para o quê exatamente eu usava aquilo.
Foi na minha escravinha e viu meus livros. Claro, ele não conseguia ler, eram livros em uma lingua muito distantes e esquecida no tempo. Mas ele observa fascinado a grafia e as figuras ali presentes.
Ele continuou mechendo e encontrou... Algumas cartas. A maioria era em inglês, essas ele deixou de lado. As que ele parou para ler estavam escritas em francês e pertenciam a um dono de uma loja de livros no centro da cidade. As cartas falavam que ele me serviria como seu criado quando eu precisasse.
Em outras, ele encontrou coisas secretas sobre a Ordem dos Comensais. Continuou lendo e descobrindo muitas outras coisas. Ele pareceu desesperado e preocupado. Olhou para o meu eu, dormindo imóvel na cama. Pegou todas as libras de seu bolso e colocou de mal jeito em meu sobretudo, devolvendo assim, as notas roubadas. Depois saiu correndo assustado.
Ele desceu as escadas do bar e saiu pela noite. Sozinho, perdido e confuso.
Parou num outro bar qualquer e pediu bebida. Encheu a cara e acendeu um cigarro, não parava de pensar em mim e nas suas descobertas. Em seus pensamentos eu via que ele estava muito confuso e achava que tudo era um mal entendido. Mas ele vira tudo! Ele sabia nomes importates de comensais. Era sem dúvidas agora mais do que um simples Trouxa. Era um trouxa que podia colocar todo os meus planos a perder.
Sai de sua mente no mesmo segundo que entrei, ele continuava chorando ajoelhado no chão.
- Então - eu disse - você sabe de tudo, hein?
- Eu descobri umas cartas na sua...
- Não precisa explicar, eu já entendi.
Fez-se um silêncio neste instante que se misturou com os soluços dele.
- E então - eu disse - por que não fugiu, não foi embora? Por que voltou a me visitar todas essas noites?
Ele parara de chorar e resolvera se sentar na cama, perto de mim.
- Não sei, talvez por que eu tivesse curiosidade, e... Não sei, gostei de você.
Aproveitei o momento para pegar minha varinha.
- Você sabe o que é isso? - falei.
- Sua varinha, né?
- É...
- Eu já li sobre isso, mas vem cá... Esse tipo de religião que você freqüenta... É coisa do diabo, não é? Por que, olha... Eu não tenho nada contra isso. Sou ateu! Não me encomodo se você acredita em bruxaria ou nessas coisas místicas.
Eu sorri.
- Não mesmo? - perguntei.
- Não! - disse ele destemido.
Apontei a varinha para seu peito e disse-lhe.
- Então, Louis. Você está mesmo sofrendo por que eu vou embora.
- Eu quero ir com você, já disse! - ele anunciou desesperado.
- Vou acabar com seu sofrimento...
- O que você está dizen...
- Avada Kedavra!
Um raio de luz verde saiu da ponta da minha varinha e tudo se apagou para Louis. A vida para ele havia acabado. Que pena... Ele até que era bonito.
E foi assim, por causa desse garoto, que quase pôs tudo a perder, que eu, o Lord das Trevas, enfeiticei o braço de cada um dos meus comensais para que assim, eu possa comunicá-los sem precisar usar outro meio mais arriscado. A caveira e a cobra do hotel Bouit tornou-se uma espécie de símbolo para os meus aliados.
Isso, eu devo em parte ao um garoto das noites perdidas de Paris, cujo o nome jamais esquecerei: Louis Garrel.
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