Um jantar entre amigos



Capítulo Seis – Um jantar entre amigos

“Not without secret trouble

Our bravest saw the foe;

For girt by threescore thousand spears,

The thirty standards rose”


***

“Hermione leu as últimas linhas já preocupada em lembrar-se de todas as perguntas que rondavam sua mente. Pousou o pergaminho sobre a escrivaninha e virou-se para o marido, que a encarava, confuso.

– Quem é Alexander Rhaity? – perguntou ele.”

Procurou dominar as várias perguntas que se formavam em sua mente e formular a reposta que Harry esperava. Ela sabia quem era Alexander Rhaity, pelo menos de nome. Até mesmo a filha já o mencionara vez ou outra. Agora, como explicar isso ao esposo e, ainda mais, como justificar as linhas que estavam marcadas no papel à sua frente?

– É um professor de Hogwarts… – comentou em um tom próximo a um murmúrio.

– E por que ele e Leah trocam correspondências? – Harry perguntou, desconfiado.

– Não sei, Harry. Eu nem sabia disso… Mas ele parece saber de… – Hermione falava enquanto seus olhos percorriam a carta mais uma vez – muita coisa…

– Claramente. Você o conhece?

– Não. Minerva ou Neville devem ter comentado sobre ele, mas faz tempo – ela esperou alguns instantes antes de continuar: – Harry, eu acho que você não deveria mencionar a carta.

– Por que não?

Hermione estava segura quanto à atitude que deveria ser tomada e queria demonstrar isso a ele. Não deveriam ter mexido nas coisas dela e muito menos ter lido algo tão pessoal como aquela carta. O melhor seria que passassem a ignorar as informações de que tinham tomado conhecimento.

– Nós a lemos sem permissão… – justificou ela.

– Sem permissão? Somos os pais dela!

– E Leahnny tem direito a ter um pouco de privacidade.

– Mas esse cara sabe mais sobre ela do que nós!

– Isso pode ser bom, querido. Mostra que Leah está tentando se abrir com alguém. É uma questão de ganharmos a confiança dela. Com o tempo, ela conversará mais conosco… – disse Hermione.

– O problema é com quem ela está se abrindo. Nem conhecemos esse Alexander…

– Mas, Harry, ele é professor em Hogwarts. Dumbledore sabe o que faz.

Malfoy também é professor em Hogwarts – disse Harry, encarando a parede.

– Draco está lá há doze anos e ninguém tem reclamação alguma contra ele. Por que você insiste nisso?

– Nenhuma reclamação? Pois eu tenho! Quem colocou na cabeça de Leah que eu odeio sonserinos?

– E não é verdade?

Harry bufou de raiva. Odiava ver sua esposa defendendo Draco Malfoy. Justo ele, que passara anos chamando-a de sangue-ruim. Por mais que todos dissessem a mesma coisa, não acreditava que Malfoy pudesse mesmo ter passado para o lado de Dumbledore.

– Não vamos começar mais uma discussão. Vamos procurá-la. Não podemos continuar adiando essa conversa.

– Ok – assentiu Hermione.

Os dois saíram abraçados e, quando se dirigiam aos fundos da casa, viram a filha conversando com alguém na entrada da floresta. Um sujeito de cabelos loiros e tez clara, com olhos que não paravam um minuto, analisando os arredores. Aproximaram-se deles e notaram que a conversa fora interrompida.

– Esses são meus pais… Harry – Leahnny anunciou, apontando para o pai, e depois continuou –…e Hermione.

– Bem… – sorriu o estranho –…então acho que isso faz de nós… vizinhos. É um prazer, sou Guccio Sangiorgi.

– Vizinhos, o senhor disse? – perguntou Harry, estendendo a mão para cumprimentá-lo, mas mantendo uma expressão reservada. – Eu não sabia que alguém mais morava nas redondezas.

– Eu moro a algumas poucas milhas daqui, mas estava fazendo uma caminhada… de qualquer forma, é melhor eu ir agora, já está ficando tarde. Foi um prazer conhecê-los – e, sem mais delongas, ele retirou-se, não sem antes trocar um olhar suspeito com a garotinha com quem conversara.

Harry e Hermione acompanharam a filha de volta ao jardim de casa e ali se sentaram, em um dos bancos. Leahnny continuava em silêncio quando Hermione, notando que Harry estava nervoso ao seu lado, pediu:

– Sente-se, Leah.

– ‘tá bom, mãe.

– Precisamos conversar – disse Harry, fitando o lago, aparentemente distraído.

– É sobre as cartas que o Professor Dumbledore nos enviou, Leah – iniciou Hermione, diante do silêncio da filha.

– E sobre o motivo de ele ter me chamado a Hogwarts… – completou Harry.

– Ah… – Leahnny engoliu em seco.

– O Professor Dumbledore disse que você utilizou Artes das Trevas para revidar as provocações dos seus colegas… e nós não temos motivos para duvidar de Dumbledore – disse Harry.

–… mas também não temos motivos para não ouvirmos o que você tem a dizer – continuou Hermione – antes de falarmos alguma coisa.

– E então? – a voz de Harry era apreensiva.

– Mas eu… não fiz nada de errado.

– Não estamos dizendo isso, filha – disse Hermione, sorrindo. – Só queremos saber o que aconteceu.

– Eles que começaram, mamãe!

– Eles quem, Leah?

– São sempre os mesmos… eles são do segundo ano…

– Sonserinos? – Harry não conteve a pergunta.

– É…

– O que eles fizeram para você? – perguntou Hermione.

– Nada.

– Então por que você os atacou? – Harry intrometeu-se novamente, e acabou recebendo um beliscão de Hermione em seu braço, gesto este que passou despercebido pela garotinha.

– Eu não–

– Você usou Artes das Trevas contra eles, Leahnny!

– Eles usaram também!

– Como disse? – perguntou Hermione.

– Eles também usaram Artes das Trevas! – repetiu ela. – Como esperavam que eu me defendesse?

– Você poderia ter contado para alguém isso, algum professor… – Harry imediatamente lembrou-se da carta que lera há pouco.

– Eu contei…

– E por que Dumbledore não sabia de nada? Por que ele não falou sobre os outros alunos usando Magia Negra?

– Eu não sei, pai. Da primeira vez, eu contei ao Professor Snape, mas eles continuaram…

– E o que o seboso disse?

– Harry! – ralhou Hermione, depois, com um tom mais ameno, voltou-se para a filha: – Leah, o que o Professor Snape disse?

– Ele… – Leahnny refletiu por alguns instantes. – O que importa? Ele não fez nada mesmo…

– O que foi que ele disse? – insistiu Harry, ajoelhando-se na frente dela e segurando os ombros da filha.

– Ele disse… – a garotinha hesitou, mas o olhar que o pai lhe dirigia a obrigou a continuar –…que como filha do famoso Harry Potter e da Sabe-Tudo Granger, eu já deveria saber me defender…

– E foi ele quem a ensinou a se defender? Foi ele quem lhe ensinou Artes das Trevas?

– Hum-hum – negou Leahnny, olhando para o chão.

– Filha – recomeçou Hermione –, você deve saber que Artes das Trevas são… perigosas.

– E, por isso mesmo, são proibidas. Há motivos para que vocês não aprendam a usá-las na escola – acrescentou Harry, voltando a sentar-se.

– Mas o professor disse…

– Elas machucam as pessoas, Leah, por isso são proibidas pelo Ministério.

– O que seu professor disse? – perguntou Hermione, quase interrompendo o esposo.

– Todos eles usam Artes das Trevas, mãe, por que vocês não querem que eu use?

– Todos eles? Os professores?

– Não. Os garotos do segundo ano!

– Você tem de usar só por que eles usam? Então, se todos eles virassem Comensais da Morte, você também seguiria Voldemort?

– Harry! – Hermione censurou-o mais uma vez.

– Mas, papai… eles são maiores e mais fortes…

– Não se faça de vítima, Leahnny. O Professor Dumbledore nos disse que foi você quem os atingiu.

– Ele não estava lá – a garotinha respondeu.

– Continue, filha – pediu Hermione. – Conte-me… o que eles fizeram para você?

– Eles me insultaram e…

– E…?

– Não foi a primeira vez. Eu tinha avisado que, se eles falassem do pa… – Leahnny parou no meio da frase –…que se fizessem aquilo de novo, eu não ficaria quieta…

– Por que você não os ignorou? – perguntou Hermione, tentando entendê-la.

– Eu fiz isso no começo, mãe, mas eles não pararam. Se ao menos fosse só de vez em quando, mas eles são da minha casa, mamãe.

– O que eles fazem? O que eles dizem que a deixam tão irritada?

Leahnny recusou-se a pronunciar as inúmeras ofensas que os sonserinos continuamente usavam contra seu pai. Recusou-se até mesmo a contar aos pais que fizera de tudo para defender o nome dele e a ascendência da mãe.

“Leah?”

– Nada. Já disse que eles não fazem nada. Não dizem nada.

– Você pode nos contar, querida – disse Harry com a voz mais gentil que tinha.

– Papai, eles não fazem nada.

– Leah, você disse agora há pouco que só usou Artes das Trevas para se defender – falou Hermione, acariciando o rosto da filha –, que eles começaram.

– Eu menti – murmurou a garotinha.

– Ou está mentindo agora? – insistiu Hermione.

– Não.

– Filha?

– Não.

– Leahnny… – Harry tocou o queixo da filha, fazendo-a encará-lo. – Por que você está com medo?

– Não estou com medo, papai – disse ela, respirando depressa.

– Nós somos seus pais, meu amor… sempre estaremos ao seu lado.

– Estão me acusando… não estão do meu lado…

– Não estamos acusando você, Leah! – Hermione abraçou-a com força, pegando-a no colo. – Só pensamos que quisesse nos contar.

– Eu não posso, mamãe… – respondeu ela, chorando.

– Por que não, filha? – Harry afagou o cabelo da garotinha, enquanto esta permanecia no colo da mãe.

Leahnny abraçou Hermione com mais força, soluçando, e passou os minutos seguintes nos braços da mãe. Harry limitou-se a esperar que a filha respondesse, mas não precisou de muito tempo para ter certeza de que Leahnny encerrara a conversa.

– Por que não entramos para tomar um chocolate quente, filha? Está ficando frio aqui fora.

Ainda no colo de Hermione, a garotinha concordou, ainda sem afastar o rosto do ombro da mãe. Harry trocou um olhar com a esposa e a seguiu quando esta carregou a filha até o sofá da sala.

Enquanto Harry preparava o chocolate, Hermione acalmava Leahnny, secando as lágrimas da filha e sorrindo candidamente para ela.

– Você gosta do chocolate que o papai prepara?

– Gosto – respondeu Leahnny, com a voz ainda embargada.

– Hum… você está melhor?

A garotinha apenas assentiu, sem olhar para a mãe.

– Quer continuar deitada no meu colo ou vai se sentar?

– ‘tá bom assim.

– Leah, agora que seu pai está na cozinha, você não quer me contar o que aconteceu?

– Mamãe, eu já disse tudo…

– Não é você que eles ofendem, não é, querida?

Leahnny fechou os olhos e não respondeu.

“Somos seu pai e eu, certo?”

– Eles…

Naquele momento, a garotinha recuou na resposta que daria por ver o pai entrar na sala carregando duas xícaras de chocolate quente. Harry entregou uma das xícaras para Leahnny e a outra para Hermione, voltando à cozinha em seguida, provavelmente para apanhar a sua.

– Eles o quê, querida? – Hermione insistiu.

– Eles… disseram que o papai… que ele… eles ofenderam o papai… Não gostam muito dele lá na Sonserina, mamãe, e…

– E…?

– Nem de san… quer dizer, de bruxos que nasceram trouxas…

– Eles não gostam de você, querida?

– Os meninos do segundo ano é que implicam comigo…

Harry voltou com sua xícara de chocolate quente. Demorara-se bem mais do que o necessário na cozinha, depois de receber um olhar assassino da esposa por ter interrompido Leahnny justo quando ela resolvera falar alguma coisa. Soprando seu chocolate, ele sentou-se no sofá e resolveu mudar de assunto.

– Que tarefas você estava fazendo hoje à tarde? – perguntou ele, apesar de ter olhado a redação dela.

– Trato das Criaturas Mágicas – respondeu Leahnny, finalmente saindo do colo da mãe e sentando-se apropriadamente no sofá.

– Estava muito difícil? – perguntou Hermione.

– Não.

– Você tem muitos deveres ainda?

– Eu já fiz quase todos.

Hermione sorriu e piscou para o marido, que entendeu perfeitamente o que ela quis dizer.

– Leah, sua mãe e eu pensamos em fazer uma visita ao seu padrinho. O que você acha? – Harry perguntou, sorrindo.

– Quando?

– Hoje à noite.

– A gente não vai ter que ir de avião, né?

– Não, querida, vamos de pó de flu. Lupin disse que está com saudades de você.

Leahnny sorriu.

– Eu também estou com saudades dele.

Imediatamente, ela teve uma idéia. Precisava de alguém que Dumbledore confiasse e que, ao mesmo tempo, fosse próximo o suficiente para que ela conseguisse convencer a interceder junto ao diretor para não ser obrigada a mudar de Casa.

“Eu vou me arrumar para irmos.”

A garotinha largou a xícara vazia sobre a mesinha de centro e foi para o quarto, deixando os pais sozinhos na sala. Hermione virou-se para o marido, tomando um gole de chocolate, e perguntou:

– Você acha que é uma boa idéia levá-la junto?

– Quer deixar Leah sozinha aqui?

– Não, só achei que você poderia ir enquanto eu fico com ela.

– Não precisa. Rony estará lá também e, enquanto falamos com ele, Leah pode ficar com Lupin.



***

Assim que Harry pedira para visitá-lo naquele domingo, Lupin estendera o convite para o jantar. Apesar de ter visto o amigo há bem pouco tempo, estava ansioso para encontrar a afilhada, algo que não fazia desde que ela fora para Hogwarts.

Remo Lupin vivia em Shandwick Place, em Edimburgo, há doze anos. Ele morava no quinto andar de um prédio ocupado por vários conhecidos seus. Minerva McGonagall o convidara para morar ali logo depois de ele ter conseguido o emprego no Departamento de Execução das Leis de Magia, no Ministério.

Desde então, a vida de Remo Lupin progredira em uma curva ascendente. Os esforços da Ministra Bones fizeram com que várias leis fossem desenvolvidas para proteger os direitos dos bruxos vítimas de licantropia. Apesar de muitos membros das famílias tradicionais serem contra essas medidas, isso não impedira que Lupin – assim como outros –, através de seu bom trabalho, provasse que era até melhor do que muitos bruxos considerados “normais”.

O julgamento – e a absolvição – de Harry Potter lhe trouxeram fama e respeito. Harry morara com ele depois disso por pouco mais de dez meses e os dois se tornaram ainda mais amigos durante esse período. Harry e Hermione o convidaram para ser padrinho da filha recém-nascida, proporcionando a Lupin uma das maiores alegrias da vida.

A primeira coisa que ele fez, ao ver a afilhada sair da lareira, foi abraçá-la. Estivera esperando-a desde que recebera o aviso de Hermione, no meio da tarde. Harry sorriu ao ver a filha no colo do padrinho. Ele e a esposa cumprimentaram Lupin e logo encontraram Rony saindo da cozinha.

– Olá, Harry, Hermione. O jantar está quase pronto.

– Ah, não se preocupe com isso, Rony – disse Hermione, abraçando-o.

– Vamos para a sala? – Rony sugeriu.

– Acho que poderíamos deixar os dois por lá – falou Harry, apontando para Lupin e Leahnny. – Vamos conversar na cozinha.

– Tudo bem – Rony concordou, sem especular sobre o motivo de Harry querer falar-lhe em particular.

Harry fechou a porta da cozinha enquanto Rony e Hermione sentavam-se em torno da mesa de quatro lugares que havia no canto direito do âmbito.

– O bruxo que você estava seguindo, Rony, era Æthelind, não era? – Harry foi direto ao assunto.

– Harry, você sabe que não posso contar isso… – Rony olhou para Hermione, buscando apoio da amiga.

– Harry, tem certeza de que quer falar sobre isso? – perguntou Hermione.

– Eu preciso saber! Rony, Æthelind está vivo, você sabe disso. Não minta para mim. Ele nos seguiu no trem...

– Trem? Que trem? – perguntou Rony, nervoso. – Aliás, Harry, como você sabe sobre o Æthelind?

– O Expresso do Oriente. Foi como levei a Mione para a Itália pela primeira vez. Ele está vivo, não está? – Harry insistiu, ignorando a última pergunta do amigo.

– Não vou responder a essa pergunta enquanto não me disser onde ouviu falar de Æthelind.

– Eu o vi na mente de Voldemort – resmungou Harry.

– Hã?

– Quando lutei da última vez… – Harry complementou, sentando-se ao lado da esposa.

– Hum. Æthelind foi amigo de Tom Riddle. Foi com ele que aprendeu Artes das Trevas.

– E ele estava lá quando a filha de Dumbledore morreu… – Harry sentiu as mãos de Hermione pegando as suas, por baixo da mesa. – Eu sei de tudo isso, Rony. Foi por esse motivo que Dumbledore o mandou atrás dele, não foi?

– Foi porque Æthelind estava planejando alguma coisa. Ele não ficou de fora nas duas primeiras guerras por acaso…

– Ele está de volta, Rony. Está nos vigiando, não sei há quanto tempo…

– Como assim? Você o reconheceu? Harry, você tem certeza? Eu… eu cheguei a mencionar que perdi todas as pistas?

– Por culpa dele… ele fez isso para voltar, para que ninguém soubesse que está tentando conquistar o lugar de Voldemort.

– Dumbledore tem de saber que ele esteve vigiando vocês – Rony acrescentou, como se pensasse em voz alta.

– Você vai contar? – perguntou Harry.

– O mais rápido possível, mas… podemos mudar de assunto?

– Ele está certo, Harry. Não podemos envolver Lupin nisso também… – disse Hermione. – Viemos para uma simples visita, lembra?

– Claro, desculpe. Vamos ver o que aqueles dois estão aprontando na sala?




***

Fazia tempo desde a última vez que Lupin encontrara a afilhada e, por isso, a conversa deles poderia continuar pela noite toda sem que se esgotasse o assunto. Acomodados naquela sala de sofá azul escuro e tapete creme com detalhes também azuis, os dois aqueciam-se em frente à lareira enquanto podiam ver, pela janela, a neve caindo.

– Que bom que está gostando de Hogwarts, Leah – disse Lupin.

– É, a escola é legal… – a garotinha respondeu vagamente, com lembranças dos melhores momentos passados no castelo permeando a superfície de sua mente.

– E os seus colegas? Aposto que você deve ter feito alguns amigos durante esses meses… quem sabe até mesmo entre os Sonserinos? – ele perguntou, sorrindo.

– Eu falo bastante com duas ou três pessoas, mas…

– Mas…? – incentivou Lupin.

– Os sonserinos… é legal estar na Casa, mas eles não gostam muito de mim.

– Deixe-me adivinhar: por causa do Harry?

– Isso aí – confirmou Leahnny.

– E quem são essas “duas ou três pessoas” com quem você se dá bem?

– Tem a Nathalie… – lembrou a garotinha. – Eu conheci ela no trem. Também está no primeiro ano e, às vezes, temos aula juntas, já que ela é da Grifinória. E o Matthew é da Sonserina, mas é mais velho que eu…

– Matthew Malfoy?

Leahnny assentiu e continuou:

– E tem o Monitor-Chefe, o Ryan, que Nathalie me apresentou. Ele é legal.

– E os professores, Leah?

– Ah, eu gosto muito deles. Isto é, menos do Professor Snape – Leahnny sorriu e encarou o padrinho.

– Snape? – Lupin retribuiu o sorriso. – Por quê? Ah, desculpa, eu deveria ter adivinhado… você faz parte da terceira geração dos Potter e ele amaldiçoou até a sexta… quem sabe seus bisnetos tenham mais sorte…

Ela riu tão alto que foi ouvida pelos pais, da cozinha. Abraçou Lupin com força e continuou rindo, suas gargalhadas sendo abafadas pelo ombro de Lupin. Hermione entrara na sala e, assim como Harry e Rony, encarava a filha, surpresa. Quando Leahnny controlou-se um pouco, seus olhos ainda exibiam resquícios das lágrimas.

– Qual é a graça? – perguntou Harry.

– Snape… – Lupin respondeu, e isso foi o suficiente para que um novo ataque de risos acontecesse entre ele e Leahnny, deixando Harry, Rony e Hermione se perguntando o que teria de tão engraçado com o ex-professor.

Os cinco sentaram-se à mesa e jantaram, conversando sobre os últimos dias. Harry e Hermione falaram sobre a casa e sobre a viagem; Rony contou como tinha sido seu reencontro com os gêmeos.

Lupin e Leahnny preferiram apenas ouvir e trocar olhares cúmplices de vez em quando, prestes a explodir em gargalhadas cada vez que o faziam. Depois da sobremesa, Harry ajudou a tirar a mesa e Lupin convidou a afilhada ao escritório.

– Que foi? – perguntou ela, curiosa, ao vê-lo fechar a porta.

– Nada, querida. Rony e seus pais têm muita coisa para conversar, então eu pensei que você gostaria de continuar me falando sobre Hogwarts.

– Hum… não tem muito o que falar… – a garotinha alegou, sentando-se no sofá próximo a uma estante repleta de livros.

– Você estava falando sobre os professores…

– Ah, sim… eu me dou bem com o Professor Malfoy, sabe…

– É mesmo? – Lupin, de certa forma, surpreendeu-se. Tendo conhecido Draco na época em que ele ainda era um estudante e visto, inclusive, a atitude dele durante a época em que participara da Ordem da Fênix, estranhou que ele agisse civilizadamente – e até agradavelmente – com a filha de Harry.

– Eu gosto muito de Defesa Contra Artes das Trevas.

– Não sei se você sabe, mas fui professor em Hogwarts um ano…

– Aham. E o papai também, não é?

– Ele te contou?

– Não. Alguém lá da escola comentou, eu acho. Ah, foi o professor de Transfiguração.

– Hum… não o conheço, só ouvi falar. É Alexander o nome dele, não?

– É. Alexander Rhaity.

– Como você se dá com ele?

– Muito bem.

– E você gosta de Transfiguração?

– Um pouco. É muito difícil…

– Sua mãe poderia ajudá-la se você pedisse. Ela era boa em Transfiguração. Na verdade, ela era boa em tudo… – ele sorriu. – E como são as outras matérias? Feitiços… Poções?

– Eu gosto de feitiços e… da Professora Clearwater – disse Leahnny. – Já em Poções… sabe como é, o Professor Snape complica a minha vida.

– É, imagino. E como são as aulas de vôo?

– Eu gosto de voar e… não foi muito difícil de aprender.

– Imaginei que não fosse. Seu pai…

–… foi o apanhador mais jovem do século – ela completou, revirando os olhos, entediada.

– Ah, já lhe contaram essa história. Bem, eu convivi com seu avô, sabia?

– Mesmo? – os olhos da garotinha brilharam.

– Sim, ele era ótimo em quadribol, Harry puxou a ele…

– Vocês eram amigos?

– Éramos mais do que amigos. Éramos como quatro irmãos…

– O tal do Sirius era seu amigo, não? – ela perguntou, lembrando-se da conversa que tivera com o pai.

– Sim. Como você sabe dele? Alguém em Hogwarts lhe contou?

– Papai me contou outro dia…

– Harry lhe contou a história dos Marotos?

– Papai disse que um de vocês… Pedro, eu acho, entregou os pais dele para Você-Sabe-Quem.

– Voldemort – Lupin a corrigiu como Harry sempre fazia. – É, Pedro foi para o lado das trevas depois…

– Isso deve ter sido horrível – ela cruzou uma das pernas sob a outra, virando-se para o padrinho.

– O pior foi Sirius ter passado doze anos em Azkaban, preso por um crime que não cometeu…

– Papai também diz isso – Leahnny comentou, sem encarar o padrinho.

– Éramos muito ligados na época de Hogwarts, nós quarto… Pedro, Tiago e Sirius até conseguiram virar Animagos por pesquisarmos juntos.

– Animagos? – repetiu ela, que nunca ouvira tal palavra.

– Bruxos que podem se transformar em um animal quando quiserem.

– E você não é um Animago?

– Er… não.

– Você não conseguiu?

– Há certas… restrições quanto a mim que não possibilitam…

– O que você quer dizer com isso, dindo?

– Na verdade, os três viraram Animagos por minha causa, Leah…


***

– Olha só, aqui é o meu Salão Comunal! – exclamou Leahnny, apontando no Mapa do Maroto, que Lupin lhe dera há pouco tempo e a ensinara a usar.

– Ah, é? – ele perguntou, demonstrando curiosidade e incentivando-a a continuar.

– Dois colegas meus ficaram na escola nesse Natal.

– Consegue encontrá-los?

– Estão no dormitório – disse ela, séria, correndo os olhos pela representação da sala dos professores.

– Você… – Lupin distraiu a atenção dela –… gosta da Sonserina?

– Gosto.

– Ah.

– Sabe, papai e mamãe mandaram uma carta para o Professor Dumbledore, pedindo a ele que me trocasse de casa – disse Leahnny, devagar.

– Então, você quer trocar? – perguntou Lupin, sorrindo.

– Não! – Leahnny apressou-se em dizer. – Eu não quero.

– Por que… não?

– Eu… na Grifinória, eu seria apenas mais uma… A Sonserina é o meu lugar. O Chapéu Seletor me pôs lá.

– E o que ele disse a você na Cerimônia de Seleção?

– Disse que eu me daria bem na Sonserina… e que já estava na hora de algum Potter aceitar os conselhos dele.

– Interessante.

– E agora eu não sei o que fazer para impedir que me troquem de casa… – murmurou ela.

– Leah, seus pais só estão preocupados com você…

– Já está na hora de eles me aceitarem. Primeiro, passaram a vida inteira achando que eu não era bruxa. Agora, acham que eu não devo ficar na Sonserina…

– Eles têm medo, Leah.

– Eles odeiam sonserinos – resmungou ela, sem paciência para explicar a origem dessa afirmação.

– Seus pais têm experiência suficiente para decidir-

– Nunca foram sonserinos para saber. Nem todos são como Snape.

– Nem todos são como Snape – comentou Lupin. – Alguns são como Malfoy, Lestrange, Black…

– Comensais da Morte… – ela suspirou. – Por que não citar o próprio Você-Sabe-Quem?

– Voldemort – Lupin a corrigiu mais uma vez. – São os fatos.

– Claro, sem esquecer que estão me acusando de praticar Artes das Trevas.

– Por quê?

– O quê? – Leahnny estranhou. Normalmente, as pessoas pulavam diretamente para as conclusões, exigindo saber por que ela usara Artes das Trevas e com quem aprendera.

– Por que estão acusando-a de praticar Artes das Trevas?

– Porque eu usei Artes das Trevas quando briguei com uns colegas meus.

– Você brigou com alguns colegas? – Lupin tentou imaginar a afilhada se envolvendo em tal situação. Era verdade que não sabia como era a interação dela com as outras crianças, mas achava difícil entender por que uma garota como ela provocaria uma briga.

– Eles ofenderam o papai e… eu me descontrolei… – ela baixou a cabeça.

– Entendo… e imagino o que seus colegas disseram do seu pai.

– É. E eu tenho que ouvir isso todos os dias…

– Mas você disse que gosta da Sonserina – falou Lupin.

– Eu gosto, nem todos os sonserinos são tão chatos, só esses do segundo ano… e alguns do quinto também, mas eles sempre estão bastante ocupados e quase nunca nos encontramos.

– Ah, sei.

– Sabe, agora que eu sei sobre o papai e tudo… acho que teria de ouvir essas coisas nas outras casas também. Se não isso, pelo menos alguma coisa a ver com ele… não é só na Sonserina…

– Você acha?

– Acho. E já não me importo mais tanto assim. Eu gosto de lá… eu… não quero sair… não quero trocar de casa e ver tudo começar outra vez…

– Seria ruim?

– Meus colegas diriam que eu preciso de Dumbledore para me defender, que eu sou a protegida dele… Eu não quero isso… não quero…

– Não prefere ser vista como protegida de Dumbledore a passar sete anos entre pessoas que não gostam de você?

– Eu já disse quem nem todos me detestam – falou ela. – Posso conviver com a maioria deles.

– O que vai fazer se Dumbledore trocá-la de casa?

– Eu… ainda acho que posso evitar isso… talvez, se você me ajudasse…

– Leahnny… – Lupin pronunciou o nome em um tom de censura.

– Dindo, por favor. Se meus pais podem falar com Dumbledore contra mim, por que você não pode falar com ele a meu favor? Se eu fosse lá, ele nem me ouviria mesmo.…

– Leah, eu não posso ir contra a decisão de Harry e Hermione. Eles são seus pais.

– Mas você é meu padrinho… para que serve um padrinho, se não para cuidar da gente quando os pais não podem?

– Seus pais têm perfeitas condições de cuidar de você, Leah.

– Hum-hum. Eles não pensaram em mim quando mandaram aquela carta para o Dumbledore. Nem perguntaram o que eu queria… não quiseram saber a minha opinião.

– Então como é que você soube da carta?

***


Próximo Capítulo: uma discussão que pode ter resultados não desejados...

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.