Detalhes



Rony abriu os olhos e encarou um teto muito alto. Piscou lentamente, com a cabeça totalmente vazia, sem fazer idéia de onde estava ou como tinha ido parar lá. Tentou mexer seu corpo e se deu conta rapidamente que cada centímetro da sua pele doída profundamente. Piscou novamente, franziu as sobrancelhas e, em um esforço imenso, levantou a cabeça e encarou seus pés, em busca de alguma explicação.


Então tudo ficou claro. A ala hospitalar se revelou à sua frente, e pequenos pedaços de lembranças começaram a se espalhar rapidamente pela sua cabeça a medida que ele votava a encostá-la no macio travesseiro. Harry dormindo na prova dos NOM’S, a tentativa desesperada que eles fizeram de entrar na sala da Umbridge, Hermione fazendo uma manobra para se livrar da confusão em que eles se meteram, o departamento de mistérios e o encontro frontal com os comensais da morte. Daí em diante, a memória começou a falhar, e foi só um bom tempo depois que ele se deu conta de que a última coisa que se lembrava, era um cérebro cheio de tentáculos vindo em sua direção.


O desespero bateu em seu peito e ele se levantou em um impulso, esquecendo da dor que tomava conta do seu corpo. Olhou a seu redor e não havia ninguém nos espaçosos corredores. A ala hospitalar estava em profundo silêncio e escuridão. Apenas a lua iluminava o lugar, seus feixes de luz prateada cruzavam as janelas.


Milhões de pensamentos terríveis passavam pela sua cabeça. Na tentativa de obter alguma resposta para as doloridas perguntas que se debatiam violentamente dentro dele, olhou com mais atenção ao ambiente escuro que o cercava.


Na cama ao lado, ele pode discernir cachos castanhos espalhados sobre o travesseiro, e no meio deles um rosto familiar, imóvel. Toda a excitação que sentia a poucos momentos se revirou dentro dele e pareceu se espalhar mais rápido por todo o seu corpo. Com os pés cambaleando, como se discordassem da vontade que sentia de levantar o mais rápido possível, levantou da sua cama, fazendo caretas de dor, e foi em direção da garota na cama ao lado.


Ela parecia dormir. Rony tinha a impressão de que ela estava sonhando, pois pequenos suspiros levantavam seu peito de vez em quando. A sensação que aquela cena lhe despertava era tão estranha que parecia engraçado. Nos últimos tempos, não havia um momento sequer que ele pudesse sentir seu coração explodindo e seu corpo estremecendo sem a necessidade de reprimir aquele sentimento, sem ter que se distrair ou disfarçar, sem ter que enganar a si mesmo, e principalmente, a ela .


Não havia um só momento em que ele pudesse apenas observa-la, sem que se sentisse um completo idiota. Era realmente difícil ver seu rosto tão sereno, a maior parte do tempo Hermione o encarava com as sobrancelhas apertadas de quem vai dar um belo sermão. E quando ela estava distraída, dificilmente estava se distraindo com ele. Mesmo quando ele fazia piadas, ela parecia ser a única que não achava engraçado, e ainda por cima arranjava um motivo para começar uma briga.



Pela primeira vez ele pode sentir o seu amor o corroendo completamente por dentro e ainda assim não conseguia deixar de sorrir para si mesmo.


E ali ele ficou, por quando tempo não seria capaz de dizer, até que um pensamento veio à sua mente e o fez sentir como se caísse em um precipício sem fim, tão forte era o frio que sentia no seu corpo todo.


Ela não sentia o mesmo.


*


- Sr. Weasley. Sr. Weasley, acorde por favor. – Rony abriu os olhos com dificuldade, a Ala hospitalar estava iluminada com fortes raios de sol. O rosto bondoso de Madame Pomfrei o encarava. – Ah sim! Bom dia Sr. Weasley!

Antes que o garoto começasse a se perguntar o motivo da expressão aliviada e ao mesmo tempo irritada de Madame Pomfrei, ela voltou a falar, mas desta vez, não era com ele.

- Eu disse à você, Srta. Granger, que ele só estava dormindo! Conheço muito bem o estado de meus pacientes! Agora você pode parar de gritar comigo e continuar tomando suas poções?

Rony olhou para o lado, e se deparou com uma Hermione muito vermelha que encarava o teto como se algo muito interessante estivesse acontecendo por lá. Apanhou uma poção distraída e acabou derrubando uma boa quantidade do frasco no chão, fazendo o rosto de Madame Pomfrei ir de vermelho para roxo quase instantaneamente. Hermione parecia muito agradecida que ela não tivesse falado mais nada.

Antes que Rony pudesse abrir a boca para falar qualquer coisa, ou para abrir o sorriso que insistia em escapar pelo canto da sua boca, outra voz familiar ecoou pela Ala Hospitalar. Harry, Gina, Neville e Luna conversavam enquanto se dirigiam à cama dos amigos.

Uma boa parte da tarde foi perdida comentando os detalhes do que tinha acontecido no ministério. Quando o assunto chegou em Sírius, Harry repentinamente lembrou que tinha esquecido de soltar Edwiges e que ela devia estar morta de fome. Hermione pareceu muito decepcionada quando o amigo saiu, parecia realmente disposta a falar alguma coisa.

Os dias seguintes se passaram rapidamente. A maior parte do tempo Rony e Hermione estavam cercados pelos amigos, e quando não estavam, algum curioso conseguia enganar Madame Pomfrei e entrar na ala hospitalar. A história da aventura dos amigos no Ministério da Magia se espalhou rápido por Hogwarts, e despertou mais interesse do que eles desejavam.


Era mais uma manhã quente e abafada em Hogwarts. Como sempre, Rony acordara com o barulho causado pelos amigos entrando na Ala Hospitalar, e com o tentador aroma dos bolinhos e suco de abóbora que Harry trazia por debaixo da Capa da Invisibilidade, Gina dizia que eles haviam lançado um feitiço para conter o cheiro, assim Madame Pomfrei não descobriria, e Harry não entendia como Rony conseguia saber que eles estavam trazendo comida.

- Ele só está chutando! – Disse Neville.

- Mas ele sempre acerta! A gente traz coisas diferentes todos os dias! Rony, fala logo, o que você está fazendo, ein? – Resmungou Gina irritada.

- Até parece que você não conhece seu irmão, Gina! Ele passa a maior parte do tempo dele pensando em comida, e vocês realmente esperam que um feitiço simples como esse vá enganar o estômago dele? Francamente. Só com poção polissuco você disfarça uma rosquinha perto do Rony.

- Ora! Só por que você não gosta das coisas boas da vida não significa que ninguém goste, Hermione! – Retrucou Rony com a boca cheia de Torta de Maçã. – Vo-ê não quer -esmo, -mione? Ta uma de-ícia!

- O que vocês estão fazendo em volta desses dois? Quantas vezes eu vou ter que dizer... – A voz de Madame Pomfrei ecoou pela Ala Hospitalar, e Harry rapidamente escondeu os farelos e papéis jogados por toda a cama embaixo da capa da invisibilidade.

- Muito bem Sr. Weasley. – Disse ela apanhando os braços cheios de cicatrizes de Rony e dando uma olhada. – O Sr. já está bem. Pode ir.

A cara de Rony se tornou branca o largo sorriso estampado em seu rosto sumiu antes mesmo de madame Pomfrei terminar de pronunciar as palavras.

- Não! Quero dizer, eu não posso estar bem, posso? Eu fui atacado por um cérebro cheio de tentáculos! – Resmungou Rony gagejando.

- Sr. Weasley, as cicatrizes vão ficar por um tempo, mas o Sr. já pode ir. Não precisa mais ficar aqui.

- Olha, mas eu ainda estou sentindo uma dorzinha aqui – dizia ele apontando para uma das cicatrizes do braço, tão desajeitado que nem percebeu que estava apontando na verdade para um arranhão que levara do bichento.
- É claro que está doendo, aquele gato deve estar com as unhas todas sujas, provavelmete vai inflamar. – Madame Pomfrei andava bem mais rude que o normal com Hermione, e lançou a ela um olhar zangado. - Vou pegar uma poção e em 1 minuto você estará novo.

- 1 minuto? Não Madame Pomfrei! Eu preciso de cuidados! Isso não é um arranhão, é uma cicatriz! E olha! Ta saindo sangue! – Dizia energicamente na tentativa de convencer alguém.

- Sr. Wealey, já não é suficiente a Srta. Granger aqui querendo me dizer como tratar meus pacientes, agora o Sr. também? Nada disso! Pode pegar suas coisas e ir tomar um ar! Já!

Harry achou que pelo jeito que Hermione olhava para Madame Pomfrei, ela estava fantasiando consigo mesma qual feitiço faria o maior estrago. Antes que ela se decidisse, Harry achou melhor arrastar Rony para fora da Ala Hospitalar.

- Depois a gente volta para ficar com você Hermione! – Disse Rony enquanto Gina e Neville o “levavam” delicadamente em direção aos jardins.

- Não tem problema, eu vou ver se converso um pouco com a Umbridge! – Disse Hermione olhando feio para Madame Pomfrei. – Ela anda muito mais simpática ultimamente!

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