Declaração
A atitude de Hermione ao fazer Rita Skeeter entrevistar Harry no caldeirão furado aquela tarde, apesar de causar um grave problema amoroso – ou uma solução - a ele, trazia grandes promessas de melhorar o clima pesado que pairava sobre o amigo. Só essa perspectiva já era bastante animadora.
Mas enquanto algumas coisas pareciam que estavam para melhorar, outras caiam por água. Mesmo que Harry detestasse admitir, ter sua felicidade dependendo da habilidade de Rony em defender gols era algo que ele dispensaria, sem pensar duas vezes. Mas como amante – expulso – do time de quadribol da grifinória, assistiu a partida contra a Lufa-Lufa naquele sábado, que durou apenas vinte dois minutos de agonia.
Rony parecia querer se afogar na garrafa de cerveja amanteigada que segurava em sua mão, enquanto Fred, George e Gina conversavam com Harry sobre o jogo na sala comunal mais tarde naquele dia. Nem uma palavra sequer ele disse, provavelmente o coro pulsante de “Weasley é nosso Rei” fez o efeito que a Sonserina desejava.
Hermione assistia os amigos conversando do outro canto da sala comunal, e não conseguia resolver um sério desentendimento que estava ocorrendo entre o que ela sentia e o que ela pensava. Não queria falar com ele, sabia que ia ficar totalmente atrapalhada – como acontecia muito ultimamente. Mas algo dentro dela dizia que ela tinha que fazer alguma coisa.
Quando ele pareceu que iria se levantar, Hermione levantou-se tão rapidamente que acabou tropeçando no tapete. Se levantou rapidamente, olhou para os lados para conferir se ninguém tinha visto nada e foi andando na direção de Rony. Ele estava tão cabisbaixo que sequer percebeu sua presença quando ela sentou à sua frente.
No mesmo instante ela pensou em levantar e sair dali o mais rápido possível. Mas foi tarde demais. Ele ergueu o rosto e a encarou com surpresa, e Hermione pode jurar que ele apertou os olhos e xingou em silêncio quando voltou a encarar o chão.
- Não tem por que você ficar assim, Ron. Não foi tão ruim... – Disse ela em tom de consolo.
...
- Está bem. Foi. – Admitiu ela, depois da falta de resposta - Mas tecnicamente não por sua culpa. Você devia estar contente pela Gina, ela está ótima, não é?
...
- A Lufa Lufa ganhou da Sonserina no último jogo, você sabia não é? – Insistiu - O time está realmente forte, A Luna disse que eles estão treinando t....
- Hermione, você não precisa se preocupar tanto assim. – Rony se manifestou erguendo um pouco o seu queixo, que estava quase encostando nos seus pés.
- Eu só estou conversando, não estou me preocupando tanto assim. – Hermione retrucou prontamente, tentando parecer ofendida.
- Sério? - Rony a encarou. Hermione sentiu sua respiração travar, e teve a impressão de que seu corpo estava agindo por conta própria.
- Pra você estar falando de quadribol eu devo estar parecendo mesmo miserável. Aliás, eu estou sempre parecendo miserável, não estou? – Perguntou Rony a si mesmo.
- É claro que não. – Disse Hermione tentando parecer o mais Hermione possível.
- Eu sei que você não se importa com quadribol. – Rony insistiu.
- É eu não me importo mesmo. – Disse espontaneamente, demorando alguns segundos para perceber que tinha se entregado. – Quero dizer, não é que eu não me importo, mas eu não sou exatamente fascinada por isso como você e o Harry... – Tentou consertar.
- Sorte sua. O time da Grifinória está condenado. Nunca mais vamos ganhar uma taça... – Culpou-se Rony.
- Isso não é verdade! Vocês são ótimos! Você só precisa acreditar em você tanto quanto a Angelina... – Respondeu sinceramente.
- Sinceramente não sei por que ela ainda não me expulsou a vassouradas do time ainda. Tenho certeza que mais uma partida e ela vai mudar de idéia. Eu sou um desastre completo, um caso perdido...
- Você não sabe o que está falando, Ron. Na verdade, você tem sorte de eu não mudar de idéia e te dar um belo sermão...
- ... nem no quadribol, que eu conheço desde que nasci eu consigo ser bom... – Disse Rony sem prestar muita atenção.
- Puro Nervosismo. – Respondeu Hermione impulsivamente.
- ... não tenho ao menos coragem, ou talento pra ser um bruxo...
- Você só é preguiçoso Ronald.
- ...totalmente desastrado, não consigo fazer nada do jeito certo...
- Nem sempre o jeito certo é o melhor.
- Ei, olha quem está falando sobre não ser certo! – Rony pareceu, derrepente, se dar conta das coisas estranhas que estava ouvindo. Por um minuto, não acreditou, até que Hermione respondeu novamente.
- Eu posso estar errada.
- Hermione, você está passando bem? – Perguntou Rony começando a ficar preocupado. Ela o olhava com um olhar estranho, as sobrancelhas contraídas e o peito ofegante. Sua voz demonstrava aquela convicção de sempre, mas nada que ela dissesse lembrava, nem de longe, a Hermione.
- Sim, eu estou.
- Por Merlin, quem é você?!
Mas Hermione não riu. Normalmente ela não ria das suas piadas por que estava muito ocupada mandando ele fazer o dever ou prestar atenção na aula, mas naquele momento, não havia nenhum dever. Nenhuma obrigação. E nenhum sorriso. Hermione obviamente tinha perdido a batalha que estava lutando consigo mesma há muito tempo.
- Você não vê que é isso que faz você ser você?
- O que você está dizendo?! – Disse Rony com uma expressão quase apavorada.
- Ron, você não precisa ser famoso, não precisa ser engraçado, não precisa ser nada e nem ninguém, além de ser... o Ron.
Rony pareceu deixar sua surpresa de lado, o argumento de Hermione estava sendo mais forte do que seu comportamento estranho.
- Mas essa é a questão! Não tem nada de bom ser eu ! Esse uniforme, por exemplo, nem é meu! É remendado do Fred e do Geroge! Essa vassoura eu ganhei por que ninguém esperava que eu fosse conseguir ser monitor, quero dizer, todo mundo achava que “o Rony” não tinha capacidade pra tanto... E eu só entrei no time de quadribol por que não havia nenhuma outra opção, na verdade. Além disso, eu aposto que só não estaria em metade das matérias esse ano se não fosse pela sua ajuda. Hermione, a verdade é que você merece ser bruxa cem vezes mais do que eu mereço ser um Elfo doméstico. Por que eu deveria considerar isso uma vantagem, afinal? – Desabafou. Por alguma razão, parecia a coisa mais natural do mundo naquele momento.
As lágrimas estavam insistindo em encher os seus olhos, então Hermione desviou o olhar. Não que ela não tivesse uma resposta. Ela tinha. E esse era o problema.
O silêncio que se seguiu foi o suficiente para fazer Rony cair em si. E com a mesma intensidade que não entendia a atitude estranha de Hermione alguns minutos antes, ele se culpou por ter dito tudo aquilo.
- Eu vou dormir. Noite.
E ele se levantou e foi em direção à Torre da Grifnória. Mal seu pés tinham sumido nas escadas, ela liberou o ar que estava preso em seus pulmões, como se tentasse se livrar da dor imensa que sentia em seu peito. Olhou para as escadas e deixou uma lágrima cair.
- Por que eu te amo, Ron.
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