Sentimento



Fazia uma noite quente e abafada, quando Hermione chegou à sede da ordem da Fênix. Não sabia muito bem onde estava ou o que estava fazendo lá quando chegou. O Sr. Weasley tinha sido muito gentil quando foi buscá-la, mas não tinha dito uma palavra sobre para onde eles estavam indo, já que ele havia se preocupado apenas em explicar para seus pais que o mundo mágico estava em crise e que Hermione ficaria muito mais segura junto com eles.

Mas quando finalmente entraram pela porta do Largo Grimmauld, número doze, ela ficou muito feliz de ver tantos rostos conhecidos. A Sra. Weasley e Gina vieram prontamente recebê-la e não demoraram a lhe explicar o que estava acontecendo, quando Fred e George chegaram, junto com Rony.
Gina não pode deixar de reparar que o irmão andava muito estranho desde que soube que Hermione ia chegar. Teve certeza de que o motivo era mesmo a amiga, já que quando a campainha tocou, ele levantou correndo da mesa, derrubando quase tudo o que estava em cima dela. O estranho é que ao invés de correr em direção à porta, ele desapareceu rapidamente na direção oposta.

Alguns dias depois, Hermione já estava acostumada com a rotina da Ordem. A Sra. Weasley logo a colocou para ajudar os outros com a limpeza, e o constante movimento de gente entrando e saindo começou a parecer normal. Chegou até a se divertir com Fred e George quando conheceu as orelhas extensíveis. Mas se penalizava toda a vez que dava um sorriso, pensando no que Harry estaria passando sozinho na rua dos Alfeneiros.

- Não é justo Mione, eu sei. - Gina disse a ela enquanto tiravam a grossa camada de mofo de uma parede. – Talvez se nós déssemos a ele algumas pistas, Dumbledore não ficaria tão furioso.


- Você acha mesmo que ele não ia saber? – Respondeu desapontada - Eu sei que não podemos fazer nada, mas eu não me sinto melhor por isso. Como ele reagiu à sua última carta, Ron?

Ron não estava participando muito da conversa de propósito, e na hora que foi abrir a boca pra responder, e nitidamente gaguejar, ele consegui escorregar da escada onde estava e derrubar o balde cheio de poção que estava suspenso no ar.

- Rony! Denovo? É a terceira vez essa semana! – Reclamou Gina.

- reparo - Disse Hermione, olhando com uma certa pena para Rony. - Você ta bem Ron?

Rony parecia bem irritado. Então se virou para a garota.

- Eu já disse que é esse seu gato. Ta me dando algum tipo de alergia ou coisa assim. – Resmungou mau humorado.

- Não começa Rony. – Reclamou Hermione. – Aliás, de nada por te ajudar!
- O único jeito de me ajudar é tirando esse esfregão de cara achatada de perto de mim! Essas coisas só acontecem quando você está por perto, já percebeu? – Disse Rony erguendo a voz.

- Vai começar... – Murmurou Gina.

- Não sei como você pode culpar o bichento de tirar a sua concentração Ronald, além do que, ele é muito saudável e... – Discursou Hermione. Mas Rony a interrompeu.

- Saudável? Com essa cara toda remelenta? Eu to falando que é ele que ta me deixando doente e ninguém acredita!

- Doente você vai estar o dia que parar de implicar comigo, Ronald. Além disso, você não pode falar muito de mim, não é? – Retrucou Hermione impaciente.

- Claro que posso! Olha pra esse... – Apontou enojado para bichento, que estava enrolado em um canto da sala - Se você cuidasse melhor disso talvez ele parecesse mais com um gato.

- Como você se atreve? E a sua coruja? Tudo que ela precisa é de um pouco de atenção por que ela é hiperativa... e você só sabe gritar com a probrezinha! - Replicou.

- Além de protetora dos elfos vai virar protetora das corujas também? Como vai se chamar o clube? – Debochou Rony

- Seja qual for, você com certeza não vai ser membro. – Disse ainda mais mau humorada.

- Ei! vocês dois! Dá pra parar um minuto? Meu ouvidos já estão doendo! - Gritou Gina. - Rony, a mamãe já disse que não tem nada de errado com você.

- Tem sim! E é culpa desse gato que a Hermione carrega pra todo canto que ela vai! – Reclamou Rony.

- Deixa Gina. Eu não estou nem escutando. – Disse Hermione, voltando a tirar o mofo das paredes. Gina suspirou, torcendo para que o irmão resolvesse parar de discutir.

Tinha que admitir que ele estava um desastre ultimamente. Rony podia jurar que a culpa era do bichento, mas Gina achava muito mais provável ser por causa da dona.

O verão continuou da mesma maneira para os jovens da casa. Estava começando a ficar realmente entediante ficarem trancados naquela casa velha e escura, mesmo quando os membros da ordem estavam presentes, para variar um pouco.

- Tonks, você pode me passar a chaleira, por favor? Vou colocar mais chá. – Pediu a Sra. Weasley na mesa do café.

- Então meninos, como está indo a faxina? Já acharam alguma coisa interessante atrás daquelas cortinas do segundo andar? Estava esperando que vocês tivessem um pouco de emoção. – Disse Tonks alegremente, passando a chaleira para a Sra. Weasley com um aceno da varinha.

- A única emoção que estamos tendo ultimamente são as trapalhadas do Rony. – Disse Hermione, olhando para o garoto, que estava em um canto afastado na mesa, sem falar nada há horas.

Quando todos se viraram e olharam para Rony, ele estava encarando Hermione sem sequer piscar, com uma expressão bem abobada. Quando percebeu o que estava fazendo, fechou os olhos apertado e virou a cara para o outro lado.

- Rony você está bem querido? – Perguntou a Sra. Weasley ao fiho, percebendo o que estava acontecendo.

- Sim! É.. só... um cisco! - Disse ainda com os olhos fechados, agora explorando o espaço com as mãos enquanto se levantava e saia correndo em direção às escadas, batendo-se em todo tipo de coisa à sua frente e murmurando algo que lembrava “matar, Fred, George.”

Hermione lançou a ele um olhar caridoso, mas quando ia abrir a Boca, alguém falou:

- Acho que não era bem esse tipo de emoção que eu estava pensando. – Disfarçou Tonks, que estava com uma cara bem confusa, igualzinha à de todos os outros que estava na mesa, ainda acompanhando Rony subir as escadas com os olhos.

Fred e George estavam no quarto quando Rony escancarou a porta e começou a gritar muito irritado.

- O que foi dessa vez?

- O que foi o que Roniquinho? – Disse George em um tom inocente.

- O que vocês inventaram dessa vez? E como vocÊs estão testando em mim sem eu saber?? – Berrou Rony.

- Inventamos muitas coisas interessantes maninho. Mas não testamos nada em você. – Respondeu Fred calmamente.

- É, achamos que os resultados não seriam confiáveis, já que você não está no seu estado normal. – Completou George.

- Não me venham com essa. Eu sei que vocês andaram me dando alguma coisa. É algum tipo de caramelo “afeminador” ou coisa assim? – Rosnou Rony furioso.

- Boa idéia! Por que você não descreve os sintomas? assim gente pode tentar desenvolver. – Riu Fred.

Rony pareceu abster-se da sua fúria por um momento. – Quer dizer isso não tem nada a ver com as gemialidades de vocês? – Perguntou angustiado.

- A gente aceita suas desculpas se você disser o que está acontecendo, não se preocupe. – Disse George.

- Acho que eu estou pior do que eu pensava então. – Disse Ron com uma expressão de desespero, fechando a porta atrás dele. Devia ser aquele gato denovo. Ou alguma fada mordente o havia pego sem que ele visse.
Eram os sintomas mais estranhos que ele já tinha sentido. Imagine, que ele ficou reparando quinze minutos inteiros no jeito que a Hermione piscava os olhos! Devia estar febril para ficar vendo esse tipo de coisa. E não era a primeira vez. Outro dia seu coração quase pulou do peito só por que ela e a Gina tinham pego as mãos dele pra ajudá-lo a se levantar. Achava que era melhor pedir algum tipo de antídoto pra sua mãe bem rápido, mesmo que não soubesse exatamente o que o tinha atingido.

A notícia de que Harry estava vindo causou tanto alegria quanto
preocupação. Hermione ficou quase tão furiosa quanto a Sra. Weasley quando souberam que Harry teve que enfrentar dementadores por causa do furo de Mundungo.

Mas sua chegada não pareceu animá-los muito. Na verdade, ele estava furioso com Rony e Mione, (que por sinal, não tinham culpa de nada) e o restante do verão passou de um jeito bem diferente do que eles imaginaram.

O desfecho da audiência e a idéia de voltar à Hogwarts pareceram animar Harry por um tempo. Mas a notícia de que seus amigos seriam monitores esse ano pareceu desanimá-lo novamente.

A viagem de volta à escola correu bem. Com certeza algo “diferente” aconteceu, pois não há como descrever Luna Lovegood com outra palavra. Mas o que ele queria mesmo que tivesse sido diferente foi seu encontro com Cho.

Harry logo descobriria que não era só a viagem que lhe traria surpresas. O trimestre começou trazendo mais algumas também. A pior delas foi, definitivamente, a detenção com Umbridge. Ganhou de longe do mau humor de Snape.

- Harry, você não sabe de nada que eu não sei? – Perguntou Hermione meio sem jeito enquanto estava com o amigo na sala comunal. – Sobre... o Ron?

- Acho que não. Por que? - Respondeu achando a pergunta da amiga bem estranha.

- Eu não sei... Ele tem estado diferente ultimamente. Hoje mesmo, é cedo ainda e ele já foi dormir. Está assim desde a ordem, sabe? – Continuou um pouco constrangida.

- Talvez ele só esteja nervoso por causa dessa coisa toda de entrar para o time. Acho que ele não acredita muito em si mesmo. – Respondeu Harry.

- É, talvez. – Disse Hermione pensativa. – Mas não deixa de ser estranho. Ele ficava dizendo que estava doente e acusando o bichento, você sabia?

- Você já me contou. – Disse Harry sorrindo.

Hermione sorriu de volta. Mesmo sem querer, estava se sentindo um pouco comovida por Rony ultimamente. “Não que ele mereça, é claro” Pensava. Continuava grosseiro como sempre e as brigas dos dois chegaram a irritar tanto Harry, que eles tiveram que dar um tempo.

Estava na sala comunal lendo um livro sentada na poltrona em frente à lareira, quando Rony entrou muito branco no salão comunal, com sua vassoura na mão.

Hermione ergueu os olhos para ele, esperando o que ele iria falar, mas ele ficou parado com uma cara incrédula.

- O que foi Rony? – Disse percebendo seu estado meio desgrenhado. – Onde você estava?

- Eu entrei. – Disse baixinho pra si mesmo.

- É claro que entrou. – Hermione largou o livro e se levantou, indo em direção a ele. – Rony, você está dentro da sala com... – Dizia ela enquanto passava a mão na frente de seus olhos como se quisesse ver se ele estava mesmo acordado.

- Eu entrei no time... sou goleiro! – Disse Rony sorrindo, olhando para a amiga, ainda um pouco em choque.

- Sério? – Hermione deu um grande sorriso. – Isso é muito bom Ron!
Rony pareceu sair do transe. – É! É realmente ótimo, não? Eu não esperava...

Eles trocaram breves olhares alegres, e quando Hermione pensou em abraçar o amigo, o restante do time entrou na sala.

- Acho que precisamos comemorar, não é? – Disse ao invés, disfarçando os movimentos que tinha feito em direção a ele.

- Eu e o George já providenciamos as cervejas amanteigadas. Ei pessoal! Roniquinho aqui entrou para o time! – Gritou Fred.

- Ora, não é nada de mais afinal... – Riu Rony.

A festa começou. Em minutos, a sala comunal virou uma verdadeira bagunça. Rony, que parecia chocado de mais no começo, começou a exibir um sorriso enorme e pareceu finalmente convencido do seu “feito” aquela noite. Quando Harry chegou, contou tudo muito excitado a ele.

No dia do primeiro jogo, Hermione parecia especialmente solidária. Rony, que estava muito nervoso, pareceu se animar um pouco com o beijo na bochecha que tinha ganhado da amiga. Ele não sabia por que aquilo lhe pareceu tão bom, talvez por que fosse a primeira vez que a viu fazendo isso.

Quando beijou Rony, Hermione também não sabia por que tinha sido tão diferente de beijar Harry, e olhou para trás quando os amigos se afastavam, e viu Rony com a mão no local onde ela o tinha beijado. Sem querer, sorriu para si mesma.

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