Coisas Nada Boas



Apesar de Rony ter achado a história do ciúme algo muito engraçado, ele tinha concordado com Harry que era melhor dizer alguma coisa a Hermione. Não que ele fosse pedir desculpas, é claro, mas dizer a ela que ele não a odeia não ia arrancar pedaço.

Mas logo ele percebeu que aquilo seria bem mais difícil do que ele pensou a princípio. Em primeiro lugar, por que a garota parecia evaporar quando ele aparecia, e agora, as únicas horas que a via era durante as aulas, ou quando Harry falava com ela.

Além disso, com tudo que estava acontecendo, estava complicado arranjar tempo para pensar no assunto: Crouch aparecera à beira da loucura perambulando na floresta proibida e atacara Krum, (Bem que ele gostou dessa), Sirius disse a eles para não saírem mais do castelo, e Harry acabara de saber que iria precisar entrar (ou melhor, sair ) um labirinto cheio de coisas estranhas e perigosas na terceira tarefa.

Parecia que agora, quem estava precisando de atenção era Harry, e não Hermione. Além do mais, ela começou a ficar mais presente depois de tudo isso, o que o animou um pouco. Foi idéia dela, inclusive, que Harry praticasse feitiços afim de se preparar para a terceira tarefa.

Mas o aumento do “contato” entre eles não melhorou sua relação. Hermione lançava a Rony um olhar desconfiado quando era obrigada a falar com ele, coisa que, aliás, fazia somente quando extremamente necessário.


*

A cada dia que passava, a terceira tarefa se tornava mais próxima, e mais Hermione se empenhava para ajudar Harry a estar preparado, mesmo que aquilo significasse que não ia sobrar tempo para estudar para os exames.

- Muito bom Harry – Dizia Hermione com o livro azarações e contra azarações – nível intermediário em mãos – Você já está realmente bom nos feitiços de desarmamento. Acho que podemos continuar a praticar o feitiço estuporante agora.

- Tem certeza...? – Interrompeu Rony, que estava de frente para Harry, com uma expressão não muito saudável. – Talvez a gente pudesse dar um tempo... – Disse em tom de súplica. “Treinar o feitiço estuporante”, significava treinar o feitiço estuporante nele , que já estava bem cansado de servir de alvo.

- Se você não quer ajudar Ronald, não tem problema. – Hermione disse aborrecida, fechando o livro e colocando-o no chão junto com vários outros que ali estavam – Pode treinar um pouco comigo, Harry.

- Não foi isso que eu suger... – Mas Hermione não deixou o garoto terminar a frase e o empurrou para o lado, posicionando-se na frente de Harry com a varinha em mãos.

- Tem certeza Mione? – Perguntou Harry, mas só o jeito que a amiga o olhou já foi suficiente que entendesse a resposta. - Está bem. No três. – Disse Harry, ajeitando a varinha e suspirando – Um... Dois... Três...

“Estupefaça!”

“Impedimenta!”

Rony protegeu os olhos dos raios de luz que saiam das varinhas e cruzavam a sala, e quando olhou, percebeu que a tentativa de Hermione de se proteger não adiantou muito. Ela estava estirada no chão, aparentemente inconsciente.

- Mione! – Gritou enquanto ia em direção à garota, e se ajoelhava ao lado dela. – Mione? Você ta bem?! – Agora estava com a cara em cima da dela, como se chegando mais perto veria alguma coisa que não estava vendo antes.

- Acho que eu acertei bem no peito Ron, talvez devêssemos levá-la para a Madame Pomfrei. – Disse Harry muito aflito, já ao lado do amigo.

Mas Rony pareceu não ouvir, estava muito branco. Agora segurava a mão de Hermione e olhava para ela fixamente, com a testa franzida.

- Ron? Você ta me ouvindo?? – Disse Harry ainda mais preocupado.

- Foi minha culpa... – engoliu - seu eu não tivesse reclamado, isso não teria acontecido – dizia Rony olhando fixamente para Hermione deitada no chão. Estava se sentindo realmente culpado. Será que ele não tinha percebido que ela é mais sensível que ele? Que poderia se machucar? Por que não pedira desculpas a ela antes? Agora não sabia quanto tempo ela ia demorar para se recuperar. Sentia-se um grande idiota.

Harry não parecia muito comovido com a cara do amigo, estava mais preocupado com Hermione no momento. - Ron, pára com isso e me ajuda, vamos levar ela para a ala hospita....

Harry se calou. Rony deu um suspiro muito fundo e um sorriso enorme. Hermione estava abrindo os olhos.

- Mione! Você ta legal?! Fala alguma coisa!! – Dizia Rony aliviado, olhando para ela, sem perceber que ainda segurava a sua mão com muita força.

- Mione, me desculpa! Eu acho que acertei seu peito sem querer... Você ta bem? Ta sentindo alguma cosa? – Disse Harry com uma expressão muito arrependida.

Hermione parecia não estar ouvindo o que eles estavam falando, mas logo que consegui focar seus rostos, percebeu que eles estavam preocupados. Fez um esforço para falar:

- Calma gente... Eu acho q-que ta tudo bem... – Disse baixinho, enquanto começou a se levantar. Prontamente Rony e Harry apoiaram suas costas, ajudando-a a se sentar no chão.

Mas no momento em que ela conseguiu, se deu conta de que algo estava apertando sua mão. Ainda um pouco tonta, olhou para ela e dela para Rony com uma expressão muito confusa e desgostosa. Era como se o que Rony estava fazendo fosse algo extremamente difícil de entender. Logo que ele também se deu conta do que estava fazendo, largou a mão da amiga muito rapidamente, mas não parou de olhar para ela.

- Er... Como você se sente? Quer que a gente te leve para a ala hospitalar? – Disse, tentando disfarçar.

- Não, eu só quero que vocês dêem um espaço, ou não vou conseguir levantar. – Disse olhando para Harry de um jeito que o lembrava a Mione de sempre.

- Não se preocupe, eu estou bem. Foi só um susto – Disse já de pé, mas ainda sem olhar para Rony. – Acho que tô pronta pra outra! E não me olhe com essa cara Harry, você sabe que tem que pratic....

Harry teve que segurá-la, pois a amiga cambaleou como se não estivesse muito segura em seus pés.

- Você ta maluca?! Você quer fazer aquilo <\i> denovo? – Rony ainda estava muito pálido.

- Harry tem que praticar, e eu não vou deixar meu amigo sozinho quando eu sei que ele precisa. – Disse, voltando definitivamente ao seu tom normal, mas ainda sem olhar para Rony. – Além do que, eu já est....

- Pára com isso, Mione! – Descontraiu Harry - Pelo que parece meu feitiço estuporante está muito bom, não é? – Sorriu, na esperança da amiga retribuir, mas não pareceu adiantar.

- Não, Harry, isso foi sorte. Além do que, o que você vai enfrentar lá dentro com certeza vai ser mais forte do que eu. – Respondeu muito séria. Já ia pegando sua varinha, quando Rony interrompeu:

- Eu treino com o Harry, e você senta aí. –Pegou a varinha e virou-se para Harry. – Só mais algumas vezes e você dá um tempo, ok? – Disse novamente mau humorado.

- Eu não preciso de... – Rony tinha a impressão que foi a primeira vez que ela olhou para ele desde que acordou. E sua expressão não parecia nem um pouco frágil, lembrava mais o dragão que harry enfrentou na primeira tarefa. Rony agradeceu por Harry não a deixar terminar de falar.

- Pronto Rony? – Disse Harry, segurando a varinha, mesmo que sem vontade nenhuma de continuar treinando. Hermione se afastou e sentou em uma cadeira ao fundo da sala, e ficou observando os dois.


Algumas azarações trocadas e alguns arranhões depois, Hermione pareceu finalmente satisfeita. Mas não olhava e muito menos sorria para Rony. Toda a preocupação que ele demonstrou não pareceu melhorar nada. Ele mesmo parecia ter esquecido aquilo bem rápido.

Os três saíram da sala e foram em direção ao salão principal, para almoçar. Harry não parava de perguntar se a amiga estava bem, nem tão pouco de pedir desculpas. Mas ela insistia que fora só um susto, e que ela sabia que não Harry não tinha feito de propósito.

Ao ouvir isso, Rony se sentiu culpado novamente. Lembrou do que ela devia estar pensando e pensou novamente em falar com ela. Difícil era imaginar como faria isso, já que Hermione dava até medo.

Talvez, se lançasse um olhar a Harry, o amigo entendesse e lhe desse alguma luz do que fazer, já que foi ele mesmo que sugeriu que Rony pedisse desculpas.

Hermione se levantou para falar com Gina, que passava ao lado da mesa. Rony não perdeu tempo e sussurrou para Harry:

- Cara eu preciso falar com a Mione! – Falara tão baixo, que Harry só não entendeu o que ele disse, mas também não conseguiu decifrar a mímica estranha que ele fazia em direção à Hermione.

Mas pela cara de desespero do amigo, Harry teve a impressão de que ele estava pedindo ajuda. Pensou um momento, e então sussurou de volta, imitando os gestos desajeitados de Rony.

- Deixa comigo. – Harry decidira que era hora de terminar de vez com aquilo. Não deixar Rony arranjar outra desculpa para deixar pra depois.


Assim que todos terminaram de almoçar, Rony ouviu Harry dizer à Hermione algo sobre treinar ao ar livre. Ele não pode evitar a cara de desgosto que fez quando pensou que seria estuporado mais algumas vezes. Em meio aos seus pensamentos, ouvir Harry chamá-lo. O amigo e Hermione estavam se dirigindo à porta que levava aos jardins.

No meio do caminho, Hermione perguntou a Harry por que ele estava se afastando tanto, e ele respondeu que não queria treinar na frente das pessoas. Logo eles estavam próximos ao lago, em um lugar onde iam muito pouco.

Haviam muitas árvores, e o horizonte tocando aquela imensidão de água era uma visão realmente bonita. Havia um vento forte, que movimentava as árvores, completando o ambiente com um som de muita paz.

- Ai! – Disse Harry parando de repente, com uma expressão infeliz, que pareceu a Rony muito mal encenada. – Acabei de me lembrar!

Hermione agora olhava intrigada para o amigo, como se não entendesse o que aquilo significava.

- Eu tinha que estar na sala da prof. Minerva nesse exato instante! Ela me avisou que eu tinha que ir lá para... er... – olhou para Rony, que fez novamente aqueles gestos estranhos pelas costas de Hermione - .... para ela me dar umas dicas sobre a terceira tarefa!

- Dicas? – Perguntou Hermione confusa – Mas Harry, como é que...
.
- Desculpe gente, depois a gente se fala, é melhor eu ir ou a prof. vai ficar realmente furiosa – Disse Harry, já há alguns passos de distância, quando finalmente se virou e saiu correndo.

- Harry? Harry! – Gritou Hermione, ainda mais confusa. Ficou parada olhando o amigo se afastar alguns instantes, muito desconfiada. Logo se virou, e encarou Rony com o que parecia uma expressão de profundo desgosto.

- Bom, eu vou à biblioteca. – Disse friamente, então deu alguns passos na direção do castelo. Rony falou:

- Mione, espera um pouco. Eu... - Mas a garota não se virou, e continuou andando.

– Eu preciso falar com você. – Disse Rony, agora correndo atrás de Hermione tentando acompanhá-la. Nem ele sabia por que estava fazendo tantas coisas estranhas. Há pouco tempo, se ele se imaginasse fazendo esse tipo de coisa iria achar que estava ficando maluco. Mas agora, aquilo fazia todo o sentido para ele.

- Falar comigo? –Disse Hermione em tom desdenhoso, sem parar de andar. – por que você se daria ao trabalho?

Rony continuou andando ao lado dela, como se quisesse obrigar a garota a parar e lhe dar ouvidos. – Escute Mione, é importante. Por Favor.

A garota parou, mas não olhou para Rony. Apenas disse friamente, enquanto tirava os cabelos do rosto, que o vento insistia em bagunçar.:

– Acho bom você falar logo, pois tenho coisas mais importantes a fazer.

- Bem... – ele pareceu fraquejar diante do tom congelante da amiga, mas reuniu forças e continuou, ainda que sua voz insistisse em falhar. – Eu, estive pensando, e... acho que talvez... você tenha entendido errado... – Hermione agora olhava o garoto com a cara muito fechada. – eunãoteodieio – Falou, atropelando as palavras.

- Desculpe Ronald, mas acho que não faz sentido você tomar o meu tempo pra me falar algo que eu não consiga entender – Disse a garota, fazendo menção de continuar andando, mas dessa vez Rony se colocou bem na sua frente, muito próximo dela, a impedindo de continuar. Seus braços agora estavam em volta do corpo dela, como se quisessem segurá-la, ainda que não a tocassem. Ele suspirou, olhou para ela e abaixou os braços.

- Eu não odeio você.

O vento também bagunçava os cabelos vermelhos de Rony, mas ainda assim, ficava muito clara a expressão séria do seu rosto por trás deles. Hermione suspirou. E por um minuto, Rony teve a impressão que ela iria dizer algo gentil, pelo movimento que sua boca fez quando ela respirou e pelas rugas que apareciam em sua testa enquanto ela olhava para ele.

Mas ele estava enganado. Logo, aquela expressão meiga que Rony tinha visto muito poucas vezes desapareceu do rosto de Hermione. Quando ela abriu a boca novamente, falou ironicamente:

- Sério! Por que eu pensaria isso? – Disse ironicamente.
- Pela maneira que eu falei com você sobre o... – Rony engoliu – ...sobre o Krum. Eu fui realmente rude e grosseiro... Eu não quis dizer aquilo, simplesmente saiu!

- Saiu, não é? Do mesmo jeito que sempre saíram todas aqueles comentários horríveis sobre qualquer coisa que eu fizesse! A única coisa que eu não entendo, Ronald, é o que você esta querendo agora com todas essas súbitas demonstrações de preocupação! Se bem que não me importa, não vai me amolecer.

Hermione parecia muito nervosa. Mas seu nervosismo era uma estranha combinação de raiva e de amargura. Rony teve a impressão de ver um brilho incomum nos olhos dela.

- Mione, você ta louca? O que que você ta dizendo? – Respondeu Rony confuso.

- Eu tô dizendo que eu finalmente me toquei do que você queria dizer esse tempo todo! - Hermione começou a gritar. - E te digo uma coisa: se você não gosta de mim, o problema é seu! Mas isso não te dá o direito de não querer que mais ninguém goste! – Hermione não estava nem aí para a cara de pavor de Rony. Sentia-se muito aliviada. Todos aqueles pensamentos, toda aquela mágoa que ela sentia começaram a sair, e ela não conseguia parar, não queria parar. Agora que tinha começado, ia juntar coragem e ir até o fim.

- E saiba que tem muitas pessoas que gostam de mim. Gostam pelo o que eu sou e não por que eu estão ganhando alguma coisa em troca!

O vento soprava forte agora, e Rony não tinha bem certeza se era ele o responsável pelas lágrimas que enchiam os olhos de Hemione.

- Hermione, eu não acho iss... – Tentou falar, mas ela não deixou.

- E se você quer saber, eu não me importo mais se você gosta ou não de mim! Não faço mais questão de ser sua amiga. O que eu faço questão é que você mantenha sua boca enorme bem longe de mim!

Agora que ela parecia ter finalmente terminado, desviou o olhar e suspirou nervosa, em uma mistura de alívio e tristeza. Finalmente, virou-se novamente e saiu correndo em direção ao castelo.

- Hermione? Hermione! – O vento agora abafava a sua voz e ele teve que gritar – Você entendeu tudo errado!

Apesar de Rony tentar alcançá-la, ele acabou tropeçou na raiz de uma árvore, e quando se levantou, Hermione havia sumido.


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