Motivo e Intenção



Rony estava muito bem humorado. Durante a semana seguinte à segunda tarefa, todo mundo queria saber os detalhes do que acontecera dentro do lago. Rony pareceu, uma vez na vida, dividir com Harry a posição de “assunto do momento”. Toda aquela atenção estava fazendo tão bem a ele, que, na tentativa de estendê-la o máximo que pôde, acabou acrescentando alguns “detalhes” aos fatos. Hermione, que andava muito irritada graças às brincadeiras dos colegas sobre ela ter sido a coisa que Krum mais sentiria falta, não demorou para trazer Rony de volta à história original com algumas alfinetadas bem doloridas.


Ele não pareceu gostar nem um pouco. Rony continuava esperando que uma comitiva viesse falar com ele toda vez que chegavam a algum lugar movimentado, e fechava a cara para a Hermione quando isso não acontecia, como se quisesse culpá-la.

- Qual é o problema com ela? – Resmungou Rony à Harry enquanto voltavam da aula de adivinhação.

- Devia ficar feliz por não começar a prever a sua morte também. – Respondeu Harry um pouco distraído.

- Não, eu estava falando da Mione! – disse agora mais impaciente – Por que ela não vai cuidar da vida dela e me deixa em paz um pouco? Estou cheio de ficar ouvindo bronca, ainda mais dela, que não sabe nem o que está fazendo.

- Por que você não fala isso pra ela? – Disse Harry sem jeito. Ele tinha que admitir que estava bem melhor sem ter que ouvi-lo contar aquela história pela milésima vez. Ainda que cada vez ela fosse “diferente”, é claro. Mas preferiu não tecer nenhum comentário para não chatear o amigo ainda mais.

- Por que não adianta! – Respondeu Azedo. - Mesmo que eu escrevesse na minha testa “mantenha distância”, a Mione não ia entender! - Mas ele mal terminara de concluir a frase quando, ao ouvir alguns passos, virou-se para trás.

Sua expressão mudou rapidamente. Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu. Hermione estava parada de frente para ele, agarrando os livros de aritmancia com tanta força, que Harry teve a impressão de que ela acabara de ouvir que Rony dissera.

- Não se preocupe, Ronald. – disse ela com um esboço de lágrimas nos olhos e um rosto muito vermelho – Você não vai precisar fazer isso, ou vai acabar espantando também a sua legião de fãs. Eu entendi muitíssimo bem. – Ao terminar, Hermione passou bufando pelos dois e foi direto aos dormitórios, batendo os pés. Todos que estavam no salão comunal olharam para a expressão pálida de Rony.

- Não esquenta, amanhã ela esquece. – disse Harry, empurrando o amigo ainda em estado de choque para dentro. Ele sabia que iria demorar um pouco mais para que isso acontecesse, mas se dissesse isso a Rony ele provavelmente teria que ser levado à ala hospitalar.


No outro dia, durante a visita dos amigos à Sirius, Hermione dava sinais claros de que Harry estava certo. Rony, por sua vez, parecia fazer um esforço maior do que o normal para falar com ela, mas era ignorado na maioria das vezes. Quando não, recebia uma resposta um tanto “enérgica” da garota. Mas não demorou muito, Rony voltou ao normal e os dois começaram a brigar tanto, que Harry fazia todo o esforço que pudesse para passar o máximo de tempo longe deles.

Mas Rony parecia persegui-lo. Olhava para ele ansioso toda a vez que ficavam em silêncio, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa. Depois de alguns dias de Harry ignorando-o ele pareceu não agüentar mais e falou:

- Cara, como você não se preocupa com isso? – Disse Rony como se falasse de algo como o fim do mundo.

- Com o que Ron? – Perguntou Harry, sem a mínima vontade se saber a resposta.

- Com esse... esnobe do Krum andando atrás da Hermione onde quer que ela vá! Nem quando ela está estudando ele dá um tempo! – Bufou Rony.

- Talvez ele goste dela Ron. – Disse Harry sem ânimo.

- Gostar? Ta louco? Ele nem... conhece ela! Ta na cara que ele está querendo alguma coisa. – Falou Rony se alterando - E ela não parece estar em juízo normal, afinal, o que era aquele cabelo, e aquele... vestido? E as informações que ela deixa escapar? Desde quando ela esconde alguma coisa da gente? Não é a Mione. Não pode ser.

- Acho que ninguém melhor do que ela sabe o que está fazendo, Ron. Por que você se preocupa tanto afinal? – Harry falou em um tom suspeito.

- Você também não, Harry! Isso não tem nada a ver comigo, tem a ver com ela! Você é amigo dela também, devia se preocupar! – Disse Rony impaciente - Ficar conversando com aquele... brutamontes de 18 anos, vai que ele está jogando alguma azaração nela quando não tem ninguém por perto, para obter informações?? Aposto que ela foi a coisa que ele mais sentiu falta, por que sem ela não conseguiria nem ter chegado à segunda tarefa.

- Já disse pra você falar isso pra ela então, Rony! – Resmungou Harry, já se cobrindo com o edredon.

- Não vou dizer uma só palavra pra ela. Já tentei avisá-la no baile e... já está de bom tamanho. Fiz a minha parte. – Disse Rony muito seco. Mas Harry não respondeu, deixando Rony muito insatisfeito. Pelo jeito estava sozinho nessa.


*

Finalmente, as férias de Páscoa chegaram. Hermione não parava de receber cartas ofensivas graças à matéria que Rita Skeeter publicou dizendo que ela tinha seduzido Krum e Harry ao mesmo tempo. A cada uma que chegava, ela parecia mais obstinada a descobrir como a repórter estava conseguindo ouvir conversas particulares dentro do castelo. E apesar de já ter dito a Rony e Harry, que não ia pedir a ajuda deles, ela não tinha dito nada sobre não mencionar o assunto. Eles já estavam tão cansados e ouvi-la discursar sobre isso, que quando se sentaram na mesa para almoçar, estavam torcendo para que ela resolvesse falar sobre o F.A.L.E.

- Já revirei a biblioteca, conversei com o prof. Moody, e ainda não consigo encontrar nada! – disse Hermione mal humorada quando sentou à mesa. – Ontem fiquei até tarde procurando no livro disfarces famosos da idade media , mas não há nada sequer parecido com o que ela consegue fazer.

- Bom, seja lá o que for, pelo menos ela deu um tempo. Faz dias que não publica nada ofendendo ninguém – Disse Harry enquanto tomava seu suco de abóbora, na tentativa de fazer a amiga mudar de assunto.

- Por isso mesmo, ela deve estar ansiosa para ouvir a conversa de alguém e colocar aquela pena horrível dela em ação. – Respondeu Hermione prontamente – Ninguém tem como saber qual vai ser a próxima vítima, até descobrirmos como ela consegue...

- É, isso te dá muitos motivos para se preocupar, não é? – Interrompeu Rony ironicamente.

Hermione lançou um olhar a ele, em uma mistura de curiosidade e irritação. Harry percebeu que Rony ia falar alguma coisa estúpida, então tentou impedi-lo:

- Bem Rony, eu também acho que.... – Mas o garoto o interrompeu já aos gritos.

- Você não vai querer a Rita espionando seus encontros secretos com o Krum, não é? Imagina! Ninguém pode saber as coisas patéticas que ele te diz, já que tem muito mais graça se você contar, correto? – Ao dizer isso, começou a imitar o sotaque de Krum e fazer caretas, enquanto a mesa inteira da grifinória olhava para ele - “Hermi-on-nini eu nunca me senti assim con nenhuma garrota...”

Hermione estava muito vermelha. Parara de olhara para Rony há um bom tempo, e apesar de Harry procurar o olhar da amiga, ela estava olhando para alguma coisa invisível à sua frente. Rony movia seus lábios como se estivesse formulando mais alguma ofensa, mas quando ele foi abrir a boca novamente, Harry o encarou, desencorajando-o a continuar. Depois de alguns segundos de silêncio total, Hermione levantou, deixando seu prato de mingau pela metade, e saiu em direção os jardins. Não saiu correndo ou batendo os pés como costumava fazer. Parecia ofendida demais para dizer ou fazer alguma coisa naquele momento.

- É Rony, acho que agora você conseguiu. – Lamentou Harry, acompanhando Hermione com os olhos.

- Consegui o que? – Disse Rony, ainda irritado.

Harry lançou ao amigo um olhar nervoso.

- Eu só estava dizendo a verdade! – Rony se defendeu. Mas novamente, não recebeu resposta.


*

O trimestre começou com um bonito dia de primavera. Os alunos levantaram cedo, e logo se reuniam lentamente no salão principal para tomarem café da manhã, antes de se dirigirem às salas de aula. O torneio tribruxo estava novamente se tornando um assunto entre os colegas, que se perguntavam o que seria a terceira tarefa, e começavam a especular qual campeão tinha mais chances de ganhar a taça.

Se todos estavam preocupados, Harry, então, era uma pilha de nervos, só imaginando o que ele teria que enfrentar. Felizmente, a prof. Minerva acabara com seu sofrimento, avisando-o que ele deveria se reunir aos outros campeões para receber instruções.

Quando foi contar a Rony o que ela dissera, o amigo não parecia muito interessado. Na verdade, há dias estava se comportando de um jeito bem estranho.

Hermione parecia evitar todos os lugares em que Rony poderia estar, mas às vezes, não conseguia e dava de cara com ele. Estava o tratando com uma indiferença assustadora. Harry se sentia culpado por estar gostando da situação (já que pelo menos eles tinham parado de brigar). Achou que seria bom dar um empurrãozinho, ver se eles conseguiam se entender.

- Olha Rony, eu acho que você pegou um pouco pesado dessa vez. Talvez você devesse falar com ela. – Começou Harry, durante uma das aulas de trato das criaturas mágicas.

- Falar com ela? E dizer o que? Que eu sinto muito por ter dito a verdade? – Rony pareceu não conseguir segurar as palavras dentro da própria boca. Por sorte, Hermione estava bem longe deles.

- Acho que “Me Desculpe” soaria melhor, Ron. – Harry falou, percebendo que mais uma vez seria inútil tocar no assunto.
- Como se ele fosse realmente capaz de dizer algo sensível, Harry. – Parvati, que estava bem atrás dos garotos, se intrometeu na conversa.

- Se ela merecesse, eu certamente diria. – Disse Rony azedo. Demonstrando não ter gostado muito da intromissão.

- Não é uma questão de merecer Rony... – Harry tentou emendar. Mas Parvati continuou falando.

- É uma questão de discernimento, Ronald. – Disse com um tom malicioso - Você tem sorte da Hermione ainda olhar para sua cara. Se fosse comigo, já teria lançado pelo menos uma dúzia de maldições em você.

- Ah! Nem foi tão ruim assim... eu já disse que não falei nada além da verdade – Respondeu Rony ainda mais mal humorado.

Harry achou que as palavras de Parvati estavam fazendo mais efeito do que as suas, então achou melhor a garota continuar.

- Então você está no caminho certo, por que é exatamente isso que ela está pensando. Talvez por isso não tenha amaldiçoado você ainda. Tão bobinha... – Suspirou ironicamente. – Mas afinal, a verdade dói . – Virou-se e foi em direção ao grupo de meninas que estava tratando de um explosivin.

- O que foi isso ? – Perguntou Rony confuso e nitidamente enojado.

- Com certeza não foi nada bom, Ron. – Pense bem, o que você pensaria de alguém que te só te ofende a maioria do tempo, e que insiste que “só está falando a verdade”?

Rony pensou por um minuto, e pensou que Harry tinha toda a razão. Podia odiar Vitor Krum, odiar mais ainda quando o nome dele saía da boca da Hermione. Mas definitivamente, não odiava a amiga.

Seus pensamentos foram interrompidos bruscamente, pela mesma voz que o estava aborrecendo antes.

- Não, é claro, que eu realmente acredite que essa é a verdade. – Parvati tinha voltado, e agora dava muitas risadinhas olhando de Rony para as amigas – A gente acha mesmo Ronald, é que você louco de ciúmes. – Virou-se novamente, rindo ainda mais.

Rony soltou uma risada bem alta. Parecia ter acabado de ouvir uma piada muito engraçada. O grupinho de garotas o olhava decepcionado, como se esperasse outra coisa.

- Ciúmes? – Disse entre os risos. – Da Hermione? Você ouviu isso Harry? – Rony parecia achar aquela idéia muito absurda. Não conseguia parar de rir, e ficava repetindo para si mesmo a palavra “ciúmes” com uma cara incrédula.

Harry apenas encarava o amigo como se quisesse concordar com Lilá, mas sequer pensara na possibilidade de falar isso. Rony percebeu.

- Ora Harry! No duro, você não acredita no que ela disse, não é? – Falou com um ar muito debochado. – Afinal, por que eu sentiria ciúmes da Mione? “Francamente” - Imitou.

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