A dor da perda



O Salão Principal estava apinhado de gente. Os pais dos formandos estavam até mais ansiosos que os filhos. Gina e Harry, que agora esperavam o segundo filho, estavam sentados na primeira fila, juntamente com Rony e Hermione.


- Como está demorando! Não vejo a hora de começar o banquete – resmungou Rony com a mão no estômago – Estou morrendo de fome!


- Agora sei a quem Ângelus puxou – disse Harry sorrindo. Ao olhar para a esposa, o auror notou que a mesma estava nervosa.


- Acalme-se, querida. Logo Ângelus aparecerá no palco para pegar o diploma.


- Não é isso, querido. Não sei explicar. Sinto algo estranho. Estou com medo.


Harry segurou as mãos da amada e beijou-as, delicadamente.


- Eu estou aqui para protegê-la. Ficar desse jeito pode fazer mal ao bebê.


- Não é comigo. É com nosso filho. Eu preciso vê-lo. – Gina ia se levantar, mas foi impedida por Harry.


- Calma. Sabe que Ângelus detesta quando o tratamos com uma criança. Está tudo bem.


Minerva, atual diretora de Hogwarts e professora de Transfiguração, subiu ao palco e deu início à cerimônia de abertura. Fez um longo discurso sobre a importância dos estudos sobre Magia. Ao fundo do palco, os professores estavam sentados atrás de uma longa mesa cheia de pergaminhos e flores.


Após os aplausos para diretora, os alunos que se formaram foram subindo e ficando à direita do palco.


- Harry, cadê o Angel?


- Deve ter se atrasado.


- Anne também não está – disse Gina, aflita. – Merlin! Aconteceu alguma coisa, Harry. Eu sei!


- Aposto que estão namorando por aí e perderam a hora. Relaxa, Gina.


A entrega dos diplomas começou pelos alunos da Corvinal. Mais ou menos trinta alunos da casa receberam os diplomas sorridentes por ter terem concluído o curso.


Chegara a vez da casa de Grifinória. Ângelus seria o décimo aluno a receber o diploma de acordo com a lista. Quando o nono aluno pegou seu diploma e ergueu mostrando aos pais, Minerva disse próximo nome.


- Potter, Ângelus.


Nem sinal de Ângelus.


- Potter, Ângelus – repetiu a diretora, um tanto impaciente.


Gina suava frio. Algo ruim estava acontecendo. Segurou forte a mão do marido e lhe pediu:


- Harry, querido, vá atrás de nosso filho.


O auror levantou-se e foi em direção à porta, quando a mesma se abriu e Ângelus entrou carregando Anne nos braços. O garoto estava com as feições transtornadas. A roupa toda suja de terra e o rosto banhado em lágrimas. Ao ver o pai, disse:


- Pai, ele a matou! Aquele desgraçado a matou!


Harry ficou paralisado com a cena. Não queria acreditar em que estava vendo. O Salão Principal ficou em silêncio observando o sofrimento do jovem Potter.


- Filho! – gritou Gina que saiu correndo em direção a Ângelus – Quem fez isso?


- Snape! Aquele demônio!


Harry tirou Anne dos braços do filho. Queria ver se tinha pulsação. Nada. Anne já estava fria. Auxiliado por Rony ele a levou para a enfermaria. Gina tentou abraçar Ângelus, mas esse a empurrou violentamente, totalmente fora de si.v

- Anne! Não! – Ângelus foi correndo atrás do pai.


Gina caiu com tudo no chão. Começou a sentir fortes dores no ventre. Hermione tentou ajudá-la mais a ruiva começou a chorar.


- Hermione, estou perdendo meu filho!


Hermione gritou por ajuda e Hagrid veio ao seu encontro. Pegou Gina como se pegasse um saco de penas e levou-a também à enfermaria. Chegando lá, Madame Pomfrey e sua ajudante examinavam o corpo inerte de Anne.


- Infelizmente, Potter, ela morreu.


Harry olhou para a porta e viu seu amigo meio gigante trazendo sua esposa nos braços.


- O que aconteceu, Hagrid?


- Ela está sangrando! – disse Hagrid, esbaforido.


- Coloque-a na maca – ordenou Pomfrey.


Examinou a ruiva e constatou que estava realmente acontecendo um aborto.


- Potter, precisa levá-la urgente ao St. Mungus. Não tenho condições de salvar seu bebê.


Harry, com a ajuda de Rony, saiu com Gina para o hospital, que felizmente estava praticamente vazio.


Uma hora depois, um medibruxo apareceu para conversar com os dois amigos e Hermione que veio logo depois.


- Infelizmente não conseguimos salvar o bebê. Era muito novo.


Harry sentou-se na cadeira do corredor. Suas mãos alisavam seus cabelos desesperadamente.


- E Gina, doutor? – perguntou Hermione.


- Está muito fraca. Mas não é nada grave.


- Posso vê-la? – perguntou Harry, levantando-se.


- Claro. Venha comigo – disse o medibruxo.


Antes de ir, como um estalo, Harry lembrou-se de Ângelus. Virou para os amigos e disse:


- Por favor, voltem e cuidem de Angel enquanto falo com Gina.


Hermione abraçou Harry. Imaginava o quanto estava sendo duro para o amigo toda aquela tragédia.


- Fique tranqüilo. Iremos cuidar de Angel. Cuide de Gina.


Rony também abraçou o amigo.


- Eu sinto muito, cara.


-Valeu, Rony – disse Harry, que saiu em direção ao quarto onde estava Gina.


Ao entrar, viu que a esposa estava acordada.


- Oi, Gi.


- Harry, como está Ângelus?


- Rony e Mione foram atrás dele. E você?


- Eu preciso sair daqui.


- Não pode. Está fraca.


- Eu preciso ver meu filho.


- Acalme-se. Ângelus não fará besteira.


- Eu temo, Harry, que ele vá atrás de Snape.


- Acho que nesse momento ele estará ao lado de Anne.


- Pobre Anne! Que morte trágica! – Harry abraçou a esposa. Ele sentia muito a morte da namorada do filho. Era como se fosse sua filha.


- Harry, precisamos fazer alguma coisa. Snape pode voltar atrás de Angel.


- Gina, se ele encostar num fio de cabelo de Angel, eu o matarei. Eu juro que matarei aquele maldito.


Gina olhou para o marido temerosa. Nunca o viu tão bravo.



***



Na manhã seguinte, o salão estava cheio de gente que viera se despedir da amiga e aluna de Hogwarts, Anne Sweethy. Ângelus estava inconsolável ao lado do caixão. Não saíra de perto de Anne um minuto sequer. Harry ficou ao lado do filho, dando-lhe forças. Gina não pôde sair do hospital, e Hermione ficou lhe fazendo companhia.


O corpo de Anne foi enterrado no Cemitério perto da Escola, perto da Floresta Proibida. O namorado ficou mais de uma hora após todos irem embora. Ele estava de joelhos onde fora enterrado o seu tesouro.


- Anne, por que me abandonou? Como viverei agora? – dizia com a voz entrecortada por soluços que sacudiam seu corpo.


Harry foi ao encontro do filho. Era doloroso ver seu sofrimento.


- Angel, meu filho, vamos para casa.


- Não. Eu vou ficar aqui.


- Não adianta, filho. Anne não iria querer vê-lo nesse estado.


- Ela me deixou. Ela tinha me prometido que nunca ia me deixar. Que seríamos felizes. Ela mentiu para mim! Mentiu!


Os olhos de Harry encheram-se de lágrimas. Podia imaginar se fosse Gina que estivesse ali. Sua vida com certeza iria acabar naquele momento.


- Venha, filho. Anne estará com você em qualquer lugar. Ela te amava e agora vive em seu coração.


- Pai, promete! Promete que me ajudará a matar aquele maldito! Promete? – Ângelus, ajoelhado, estava agarrado as calças do pai.


Harry o ajudou a se levantar.


- Prometo, filho. Agora vamos. – Pai e filho foram para casa. Harry enfiou Ângelus debaixo do chuveiro e depois fez o garoto comer alguma coisa. Estava fazendo o que Gina faria se estivesse ali. Ângelus deixava-se levar como se somente seu corpo estivesse ali. Deitou-se e, exausto, adormeceu.



***



Dois dias depois, Gina voltou para casa acompanhada do marido e do irmão. Hermione tinha arrumado a casa da amiga.


- Cadê Ângelus?


- No quarto. Não saiu de lá desde o enterro.


Gina foi ao quarto do filho. Ao vê-lo dormindo com o rosto molhado por lágrimas, seu coração despedaçou-se. Aproximou-se e sentou na beira da cama. Enxugou as lágrimas no rosto do seu querido filho. Este, meio sonolento, disse:


- Anne, você voltou?


- Não, filho, é a mamãe.


Ângelus abriu os olhos e viu a mãe. Ela era seu porto seguro. Agarrou-a e começou a chorar.


- Mãe, me desculpa. Sei que fui o culpado por ter perdido o meu irmãozinho.


- Não fale besteiras. Você não tem culpa de nada.


- Eu quero morrer, mãe!


- Não diga isso, meu filho!


- Não posso viver sem a Anne! Não posso!


- Pode sim, filho. Seja forte. Você é a minha vida. Não posso te perder.


- Você tem o papai. Ele te ama.


Gina alisou o rosto do filho. Queria poder trazer toda a dor que ele estava sentindo para ela.


- Eu te ajudarei.


- Não pode fazer nada. Ninguém pode. – Ângelus disse isso e descansou a cabeça no colo da mãe, adormecendo em seguida.


Harry, ao deixar Gina em casa, dirigiu-se para Hogwarts. Minerva enviara-lhe um recado dizendo para ir urgente ao castelo. Chegando na Sala da Diretora, viu que a mesma estava acompanhada da enfermeira da escola.


- Boa tarde, Potter. Como está? – perguntou Minerva.


- Recuperando-me – respondeu o auror com o semblante cansado.


- Eu sinto muito – disse a Diretora.


- Eu sei. Mas o que a senhora deseja?


Minerva apontou para Pomfrey, que o cumprimentou com um aceno da cabeça.


- Bem, por meio de um dos exames feitos pela Madame Pomfrey em Anne foi descoberto algo… – Minerva estava tomando coragem para dizer o que precisava ser dito.


- Diga logo – pediu Harry, ansioso.


- Bem, Potter – disse Pomfrey, por fim. – Anne estava grávida.


- Hã!?? Não entendi.


- A senhorita Anne estava grávida de dois meses.


Harry olhava para as duas como que esperando que elas dissessem que estavam mentindo. Não podia ser verdade. Ângelus não suportaria saber que também perdera um filho.


- Eu não sei o que fazer… – disse Harry,confuso. – Não posso contar para ele.


- É preciso, Harry. Seria a vontade de Anne – disse Minerva.


- Como a senhora sabe? – indagou o moreno.


- É estranho, mas parece que ela sabia que iria acontecer algo. Ela deixou uma carta com sua melhor amiga e pediu que entregasse a Ângelus, caso acontecesse algo com ela. Desculpe se li a carta…


- Tudo bem – disse Harry. – Onde está a carta?


Minerva levantou e pegou a carta que estava na estante, entregando-a ao seu ex-aluno.


Harry abriu a carta e leu.


Angel, querido…


Se você estiver lendo essa carta, é porque algo aconteceu comigo.
Em primeiro lugar quero dizer que amo você mais do que tudo. Quero que seja forte. Que lute para tornar o Mundo um lugar melhor.
Meu amor, sem mais mistério, estou esperando um filho seu. Só não contei antes por que queria fazer isso quando me pedisse em casamento. Espero que não seja tarde demais.
Prometa que nem mesmo a minha morte lhe tire a vontade de viver que vejo em seus lindos olhos todos os dias. Refaça sua vida e seja feliz


Um beijo da mulher mais feliz do mundo
Anne Sweethy



Toda a tragédia que acontecera, deixara Harry muito sensível. E ali, na frente da diretora e da enfermeira, ele chorou. Sabia que tinha de ser forte pela sua família, mas não estava mais agüentando represar as lágrimas que vinha escondendo de todos durante esses dias. Minerva, emocionada, levantou-se e foi consolar Potter. Entregou-lhe um lenço de pano e deu uns tapinhas em suas costas.


- Chore, Potter. Isso lhe deixará mais aliviado – disse Minerva. Pomfrey, não querendo ser indiscreta, saiu da sala.


No final da tarde, Harry retornou à casa. Rony e Hermione ainda estavam lá. Hermione ajudava Gina a preparar o jantar. Rony estava na sala quando o amigo chegou. Notou que estava com os olhos vermelhos.


- Harry, está tudo bem?


- Sim – respondeu Harry, forçando um sorriso. – E Ângelus?


- Dormindo. Acho que é melhor assim. Pelo menos ele se desliga um pouco da realidade.


- E Gina?


- Na cozinha com Mione.


- Eu vou tomar um banho e já volto.


- Ok.


Os dois casais jantaram em silêncio. Não havia o que podia ser dito para aliviar a dor da perda. Depois do jantar, Hermione e Rony despediram-se.


Harry foi com Gina para o quarto.


- Gi, desculpa se eu nem te dei atenção. Você também sofreu com a perda do nosso filho.


- Não me importo, Harry – disse Gina, indiferente. – O que está me matando é ver como Ângelus está sofrendo.


- É normal que ele sofra. Ele perdeu alguém que amava.


- Não é normal, Harry! – gritou Gina – Ele o odiará pelo resto da vida!


- O que esperava? Ângelus sempre odiou Snape, mesmo antes do acontecido! Aliás, com exceção de você, todo o mundo bruxo odeia o Snape!


Gina sentou-se na cama e chorou. Harry foi perto dela. Abaixou-se e disse:


- Olha para mim – ele falou, erguendo o rosto dela com uma das mãos. – Lembra o que te prometi um dia? – Gina afirmou com a cabeça. – Eu estarei sempre com você. Sempre. Eu te amo. Muito. Você e Ângelus são tudo para mim. – Dizendo isso, Harry beijou-a delicadamente nos lábios. – Agora deite-se. Precisa descansar.


- E você?


- Irei ver Angel – disse Harry, ajeitando o cobertor sobre a esposa. – Já venho, meu amor.


Harry foi ao quarto do filho. Ângelus dormia tranqüilo. Ele se aproximou e deu um beijo em sua testa.


- Eu te amo, filho – disse baixinho para não acordá-lo.


Saiu sem fazer barulho e foi para seu quarto. Gina o esperava.


- Como ele está?


- Dormindo – Harry vestiu seu pijama e deitou. Gina aconchegou-se em seu peito e adormeceu. O moreno alisava os longos cabelos da ruiva. Queria poder ficar para sempre com ela em seus braços. Enfim, acabou adormecendo.


Continua…

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