Acorrentados pela alma
Sinopse: Continuação de “Apenas amigos” - As esquivas de Remo começam finalmente a aumentar as suspeitas de Sirius, que no momento derradeiro, decide deixar tudo em pratos limpos.
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N/A: Eu peço a vocês que para uma melhor compreensão desta fic, e apenas para quem quiser, é claro, sigam a minha recomendação de ler Apenas amigos antes de continuar (ela é bem curtinha, não vai doer nada!). Se você já fez sua visitinha a ela, porém, tudo o que eu tenho a desejar é uma boa leitura! J -AVISO: Esta fic é SLASH, Yaoi, que seja! Se você não SUPORTA casais de meninos, por favor, FUJA! SAIA CORRENDO O MAIS RÁPIDO QUE PODE PARA LONGE DAQUI!
Capítulo 1 – Acorrentados pela alma
É um típico dia de inverno rigoroso. O vento gelado que arrepiava as árvores mortas de Hogwarts acabou afugentando todos os estudantes para dentro do castelo, onde muitos optaram por enfurnar-se no conforto de seus respectivos salões comunais.
Tomando uma xícara de chocolate quente fumegante, esticado sobre um sofá de veludo vermelho e dividindo com Lílian o pequeno espaço de um cobertor, Tiago espreguiçou-se:
-Vai passar o natal aqui mesmo, Lily?
A ruiva, que descansava a cabeça no peito do namorado, remexeu-se confortavelmente, toda aquecida:
-Meus pais vão viajar com Petúnia...eles me chamaram, claro, mas eu pedi pra ficar.
O garoto sorriu diante da resposta, inclinando-se para beija-la. Mas Lily pousou a mão nos lábios sedentos do rapaz antes do fatídico contato, apenas para limpar com os dedos a espuma de leite que formava um bigode doce sobre sua boca.
Ao lado do casal, Sirius ocupava grande parte do sofá. Um cigarro preso em seus dedos liberava uma contínua linha de fumaça no ar, o que não parecia incomodar Angie... muito pelo contrário. A intrusa corvinal permanecia debruçada em seu braço, enroscada em sorrisos tolos e em e indiferente á indiligência do maroto.
Diante dos pombinhos, Remo e Pedro ocupavam uma mesma poltrona, suportando as carícias dos dois casais desconfortavelmente, fortalecendo a contragosto seus títulos oficiais de “velas”.
Mas Rabicho, que aspirava um posto de “candelabro”, intrometia-se nas conversas, gargalhando alto nas horas mais inoportunas e fazendo caretas para momentos em que seu cérebro não conseguia captar algumas piadas. Remo, por sua vez, afundava-se em seu acento, calado feito uma múmia, tentando se fazer de invisível. Mais de uma vez pedira licença para se retirar, o que foi negado por seus amigos cada vez com mais dureza. Todos exigiam sua presença. Queriam desfrutar aquele momento descontraído como bons companheiros que eram, rindo juntos, divertindo-se das desgraças dos outros apenas para contar vantagens sobre si mesmos (o que acabava deixando Lílian claramente irritada).
Remo apreciava a companhia dos marotos profundamente. Mesmo tímido do jeito que era, ele gostava de aconchegar-se num sofá, meter um livro em frente ao rosto ou até mesmo de fechar os olhos, apenas para ficar ouvindo seus companheiros conversarem. Suas vozes alegravam sua alma, afugentavam seus temores e o faziam querer parar os ponteiros do relógio, tornando aqueles momentos eternos.
No entanto, contrária a tanta satisfação, sua mente conturbada sempre acabava se afastando das vozes quentes que o amparavam. E então ele tremia, abraçava-se aos joelhos e, de esguelha, olhava apaixonadamente para Sirius. O moreno gesticulava exaltado, sempre ignorando friamente todos os olhares derretidos que se pregavam nele...inclusive os de Remo.
If you could read my mind, love
(Se você pudesse ler minha mente, amor)
What a tale my thoughts could tell
(Que conto-de-fadas meus pensamentos poderiam contar!)
Era insuportável. O peito do lobisomem farfalhava, como fazem as folhas das árvores sob ação do vento. Sirius não notava. Em meio á uma tragada e outra, em meio á sopros de fumaça e a sorrisos delirantes, ele engolfava sua namorada com beijos sequiosos, fazendo os joelhos da garota tremerem feita gelatina. Então Remo desviava o olhar, úmido, corado, desencorajado. Tiago fazia algum comentário libidinoso que lhe arrecadavam tapinhas de Lílian, além de risadinhas de Rabicho. E em meio á tudo isso, Remo ocultava sua tristeza com um sorrisinho vago, sentindo-se morrer aos pouquinhos, silenciosamente, solitariamente.
Just like an old-time movie
(Apenas como num velho filme de época)
About a ghost from a wishing well
(Sobre um fantasma de um grande desejo)
In a castle dark or a fortress strong
(Num castelo escuro, ou numa fortaleza rígida)
With chains upon my feet
(com correntes em meus pés)
- Hei Aluado, pode me passar essa almofada?!- os lábios vadios de Sirius despregavam-se de Angie apenas para pedirem algum favor a ele. Remo então se esticava e atirava com mais força do que devia uma das almofadas que acabara sentando em cima, deixando que Sirius aconchegasse o pescoço no objeto fofinho. A clandestina corvinal (que supostamente não deveria e nem poderia estar no Salão comunal de Grifinória), muitas vezes decidia deixar claro á todos o quanto Sirius pertencia á ela e, num gesto depravado, desabotoava a camiseta do moreno
apenas para acariciá-lo diante de todos os demais.
-O que você acha da Annabele, Lupin?Ela é bonitinha, não é?
- perguntava então, cínica, enquanto permitia que as mãos de Sirius deslizassem pelas suas coxas, dando uma de despercebida. Remo dava de ombros, receando abrir a boca e acabar soltando uma leva de palavrões ao em vez de responder a pergunta.
-Você precisa de uma namorada, cara.- acrescentava então Tiago, sem desamarrar por um segundo os braços da cintura de seu “lírio do campo”.- E então todos nós poderíamos sair juntos!
Remo sorriu vagamente, o que foi muito melhor do que dar o grito de agonia que seu peito ansiava por dar. Se ele tivesse que sair na companhia de Angie, se tivesse que assistir de camarote seu idolatrado e único Almofadinhas ser solvido por uma qualquer, se tivesse que aturar os gestos dissimulados daquela garota, se tivesse que presenciar, com cara de paisagem, seu bem mais precioso ser usado e arregaçado por mãos que não eram as suas, iria acabar desfalecendo com um ataque epilético.
You know that ghost is me
(Você saberia que este fantasma sou eu)
And I will never be set free
(E eu nunca vou me libertar)
As long as I'm a ghost that you
(Enquanto continuar sendo o fantasma que você)
Can't see
(não pode ver)
- Bah...o Remo é bom demais para o tipinho que ronda Hogwarts, Ti.- comentou Lílian, com uma piscadela para o amigo monitor.- Se for pra ele ter um alguém, quero que seja especial.
-Assim como você, Lils?!
-Não apela, Potter...
E entre gargalhadas francas o casal juntou-se num beijo amável. Pedro Pettigrew bateu palmas, Sirius sorriu, evitando os braços de Angie, que naquele instante começaram a sufoca-lo.
Remo sentia-se um completo nada. Ele não podia erguer os olhos, não se quisesse manter sua integridade emocional e evitar um confronto com a garota depravada que não largava nenhuma parte de seu Almofadinhas, nem por um segundo. Ele então deslizou a atenção para a janela, fitando os flocos de neve que desciam serenamente para se alojarem no parapeito de pedra. Suspirou.
If I could read your mind, love
(Se eu pudesse ler sua mente, amor)
What a tale your thoughts could tell
(Que conto-de-fadas seus pensamentos poderiam contar!)
Just like a paperback novel
(Apenas como papéis de uma novela)
The kind that drugstores sell
(Do tipo que vendem nas drogarias)
Foi quando, enroscando os braços ao redor do pescoço de Sirius, Angie sussurrou três palavras fatais...as três palavras que, em muitas ocasiões, eram capazes de pôr tudo a perder:
“Eu te amo”.
Sirius engasgou-se e mal pôde conter uma exclamação quase ofendida quando afastou a garota, os olhos arregalados, a expressão glacial.Aparentemente, nenhum dos presentes havia escutado a adiantada declaração: Tiago e Lílian agora conversavam, tendo Pedro como ouvinte assíduo. Sirius então decidiu olhar de esguelha para o amigo de olhos mel e cabelos luminosos, mas Remo o evitou, erguendo-se finalmente para dar-lhes privacidade.
Sirius prestou mais atenção na saída ligeira do rapaz do que nos olhos pedantes da namorada, que ansiava por uma resposta.
When you reach the part
(Quando você chegar na parte)
Where the heartaches come
(Onde se iniciam os sofrimentos)
The hero would be me
(O herói será eu)
The hero often fails
(O herói geralmente falha)
And you won't read that book again
(E você não vai ler aquele livro novamente)
Because the ending's just too hard to take
(Porque o final é simplesmente muito difícil de agüentar)
O cérebro de Sirius formigava. Algo estava absurdamente errado. A cena estava desenquadrada, os atores desfigurados. Perturbado, ele subitamente ergueu-se do sofá, largando sua companheira em total desolação. Tiago ainda chegou a perguntar para onde ele estava indo, mas Sirius não lhe deu ouvidos, fechando o quadro da mulher Gorda atrás de si.
“Algo desgraçadamente estranho está acontecendo comigo”.- ele resmungou em pensamentos, puxando um cigarro para fora dos bolsos enquanto seguia com imprecisão pelos corredores da torre de Grifinória, sempre indo enfrente, a fim de isolar-se para ouvir os próprios pensamentos. “Desta vez eu juro pelas bolas de Merlim que é uma coisa grave. Gravíssima. Algo como o prelúdio do apocalipse!” ele foi se carcomendo por dentro enquanto descia alguns degraus em passos largos, metendo o cigarro na boca “Ela disse que me ama, a infeliz.... não é a primeira vez que eu ouço isso de alguém...”.
A essas alturas, Sirius Black estava guiando seus pés para os terrenos do castelo, uma vez que alunos, monitores, professores e até mesmo fantasmas pegavam no seu pé quando inalavam o impregnante cheiro da fumaça do cigarro que se espalhava pela escola. Não era permitido fumar entre quatro paredes, e Sirius até que tinha preferência pelos terrenos congelados, principalmente no inverno, quando praticamente ninguém se aventurava por eles se arriscando a pegar pneumonia
Talvez o vento até mesmo refrescasse sua memória.
Numa situação parecida, uma outra pessoa lhe dissera as mesmas palavras, numa entonação ainda muito semelhante, porém, mais sofrida. Sirius tragou com força para obrigar seus neurônios a trabalharem...Quem?Onde?Como?Quando? Fora á meses atrás?Semanas?Dias?Fora nos jardins?Na escola?
Fosse como fosse, Sirius Black tinha a nítida impressão de já ser amado por alguém que, estranhamente, não lhe causava repulsa. A declaração, vinda da boca de uma garota que ele só considerava graças ao porte físico e á beleza avantajava, era algo quase detestável de se ouvir.
Mas o abraço, o sussurro...Angie estava plagiando alguém. A cena se repetira, não era possível!
Os sapatos de Sirius finalmente afundaram-se na neve, deixando marcas de suas grandes passadas. Ele enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta negra, já que as luvas não eram o suficiente para livrar sua pele do frio intenso. O cigarro ficou preso entre os dentes enquanto ele forçava sua memória. Flocos branquinhos incrustavam-se em seus cabelos negros, que batiam em seu rosto conforme ele andava contra o vento invernal.
I'll walk away like a movie star
(Eu vou embora como uma estrela de cinema)
Who gets burned in a three-way script
(Que acaba queimado de três maneiras num script)
“Ela me ama... humpt! Porque é que isso soa tão falso e forçado quanto engraçado?!”- refletia Sirius, sardônico. Com certa inquietação, ele relembrava-se vagamente de que uma outra pessoa lhe fizera a mesma confissão, mas que, neste caso, as palavras haviam soado amargamente verdadeiras. E era isso que espantava Sirius para as profundezas dos terrenos da escola. Ele repelia sua corvinal ainda mais grosseiramente com a certeza de que existia alguém muito próximo que realmente possuía esse grande sentimento por ele, e de uma maneira pura, simples.
Sirius alcançou seu costumeiro posto no tronco do carvalho pomposo onde ele e os marotos gastavam tardes inteiras em meio á conversas. Apoiou-se ali num gesto incomodado, e, retirando o cigarro dos lábios, decidiu-se: “Vou me livrar dessa garota o mais cedo possível, antes que meu sistema imunológico crie anticorpos contra ela!”.
Ele simplesmente não podia evitar.
Aquilo que de início fora motivo para fazer Sirius se gabar, acabou transformando-se no tormento de sua vida...
Se ele estava no Salão Principal, Angie abandonava a mesa de Corvinal para ir em seu encontro, abobada. Se assistia a mesma aula que ela, acabava tendo que sentar longe de seus amigos simplesmente para tê-la como companhia ou, o que era pior, ficava recebendo toneladas de bilhetinhos melosos, que eram arremessados para ele diante de toda a classe. Se decidia ir tomar sol com os marotos, não podia dar muito na vista para que Angie não viesse em seu encalço. Se treinava quadribol com Tiago, devia sair correndo ao descer de sua vassoura para evitar que a garota surgisse da arquibancada para pular em seu pescoço. Para esquivar-se de seu ciúmes, só mesmo se refugiando no Salão comunal de Grifinória, onde Angie não podia e nem conseguia entrar, pelo menos, não sem o consentimento dele.
“Oh, Merlim, mas quem é a pessoa certa?!Quem me merece?!Quem EU mereço?!”.
Enter number two
(Entra o número dois)
A movie queen to play the scene
(Uma rainha do cinema para interpretar a cena)
Are bringing all the good things out in me
(Estão tirando todas as coisas boas de mim)
Do outro lado do carvalho, Remo apoiava-se no tronco com um ar cansado, triste, apimentado por nervosismo. A temperatura baixa estava o matando, seu casaco parecia fino demais perante aos flocos de neve que o alcançavam, mas, ainda assim, ele preferia arriscar-se a morrer de hipotermia do que ficar plantado diante da lareira quentinha de Grifinória, assistindo seu ciúme aflorar furiosamente.
Ele não podia mais esconder. Seus reais sentimentos em relação ao amigo tornavam-se agulhas afiadas e, dia após dia, iam o martirizando com estancadas ainda mais profundas. Ele estava prestes a se render. Se antes, quando Sirius estava em seu alcance, conter-se e sorrir amigavelmente já era algo torturante o bastante, o que dizer agora que uma garota o tomara para si, selando pela primeira vez um compromisso sério com o rapaz?! Era humanamente impossível presenciar seu companheiro de todas as horas amar e se dedicar para um outro alguém, sem poder fazer nada a respeito.
Remo sentia como se as paredes de uma cela estivessem se fechando ao seu redor. Sirius era seu amigo, estava namorando, estava feliz. Ele devia compartilhar aquela felicidade com ele, não devia? Devia estar aprovando a relação, devia se mostrar bom e fiel assim como Tiago...devia fazer do contentamento de Sirius a sua própria satisfação. No entanto, por mais egoísta que aquele pensamento soasse, Remo simplesmente não conseguia.
Ele via a vida passar diante de si, sem graça. Seus dias eram vazios. Seu ciúme o afogava...
“Oh, me perdoe Sirius! Eu sei que devo me conter, sei que estou errado, mas não consigo...me perdoe!” - e então toda a sua avassaladora angústia explodiu num choro desolado, relutante, que o rapaz tentou refrear tapando o rosto com as mãos.
But for now love, let's be real
(Mas por hora, amor, vamos ser realistas)
I never thought I could act this way
(Eu nunca pensei que poderia agir dessa maneira)
And I've got to say, I just don't get it
(E eu tenho que dizer, eu apenas não compreendo)
I don't know where we went wrong
(Eu não sei onde foi que erramos)
O silêncio sepulcral que Sirius mantinha com suas baforadas lentas de fumaça permitiu-o captar, como ganidos trazidos pelo vento, alguns sons acanhados de soluços. Ele ergueu a cabeça e apurou os ouvidos, mergulhando todos os seus cinco sentidos naquela imensidão branca que se espalhava ao seu redor...As lamúrias baixinhas e quase imperceptíveis continuavam.
Sirius jogou seu cigarro no chão, apagando-o na neve. Gatunamente, ele escorregou o corpo para o outro lado do tronco grosso, o que revelou para ele um rapaz desolado, sentado numa posição encolhida e fragilizada, com a cabeça deitada sobre os joelhos abraçados.Sirius ficou estupefato. Ele não tinha idéia de que havia alguém ali...na verdade, tinha quase que plena convicção de que todos estavam acolhidos no castelo, tremendo até os ossos em seus Salões Comunais.
Por um milésimo de segundo, Sirius temeu que o “estranho” tivesse escutado seus pensamentos, que emanavam de seu peito febrilmente, quase tão perceptíveis quanto palavras. Mas esta idéia foi logo descartada, pois ficou claro para o animago que seu vizinho nem sequer havia notado sua presença.Aproximando-se, ele então decidiu agachar-se e tocar seu ombro.
O toque leve parecia estar carregado por eletricidade. Remo deu um pulo, assustado, virando-se para o desconhecido com o rosto lavado em lágrimas e as faces pálidas.
-Aluado!!Você!!-exclamou Sirius, erguendo-se com a mesma expressão de choque que dominava seu amigo.- O que aconteceu?O que faz aqui?Por que está chorando?!
Remo nunca se sentiu tão amaldiçoado como se sentia naquele momento. Porque é que Sirius sempre o encontrava quando seus nervos estavam em frenesi, quando tudo o que ele queria era afastar-se, mudar os rumos de seus pensamentos, controlar sua agitação apaixonada que o fazia perder a razão?! Ainda mais desbotado, ele deu um passo para trás quando Sirius deu um passo para a frente.
-Eu estou bem...de verdade.-mentiu, forçando a voz a sair.
-Me diz uma coisa, Lupin: por um acaso, eu sou tão amedrontador assim?!-rebateu Sirius, o tom de voz beirando ao seco.
-O que?-Remo piscou, sem compreender.
-Por que raios você sempre se esconde de mim? Quando eu chego perto de você, quando eu falo com você, quando eu me ofereço para te ajudar...você parece ser alérgico á Sirius Blacks!Porque diabos você simplesmente não admite que está mal, ou triste...você acha que eu sou burro?!Retardado?!Cego?! Ou tudo isso junto?!
Remo continuava calado. Uma sombra pareceu trespassar pelos seus olhos, mas ele ainda assim não se atreveu a protestar. Sirius continuou:
- Eu sou seu amigo! O que é que falta pra eu te provar isso?! Nós nos conhecemos á sete anos, já passamos por uma porrada de coisas juntos, e você continua com esse acanhamento, com esse isolamento...eu não te entendo,cara,simplesmente não entendo. –Remo ergueu os olhos para ele, fitando-o através dos flocos de neve que caiam cada vez mais intensa e continuamente. A imagem escura de Sirius, encoberto por suas vestes negras e muito bem escolhidas, contrastava-se absurdamente com o branco e as cores pálidas ao seu redor.
-Eu...eu estou bem, Almofadinhas.- Remo respondeu num sopro de voz, esforçando-se para manter a integridade, sustentando os olhos desfocados de Sirius. Mas o moreno custava a acreditar. Ele deu então um passo à frente, e estava prestes a erguer o braço para tocar o ombro de Remo, quando surpreendeu-se com o salto que o amigo deu, lançando-se para trás com uma expressão quase aterrorizada:
-N-não se aproxime...não toque em mim, Sirius, por favor.
-Mas o que..?
-Vá embora!-pediu Remo, agora ele mesmo se afastando- Ou apenas me deixe ir...
-Espere, Aluado, eu quero falar com você!-Sirius era teimoso e persistente demais; com um avanço repentino, ele prendeu um dos pulsos do outro entre os dedos, contendo-o. – Você não quer me dizer o que tem de errado?!
A fatal proximidade, o desespero, o sufoco...Remo perdeu o ar por alguns segundos.
-Me solte!-implorou, empurrando a mão de Siriu, mas ainda assim sem conseguir desprender seu pulso, já que perto do animago ele se mostrava fraco, quase frágil demais.- Me deixe ir, por favor, eu não quero você perto de mim...
-Remo, o que foi que eu te fiz?-grasnou Sirius, sem perceber intensificando o aperto no pulso espremido entre seus dedos. Remo sentiu uma vertigem:
-Nada, nada!-disse depressa.-Apenas me deixe em paz!
-Não até que você me diga o que está acontecendo!
-Não está acontecendo nada...eu só não estava me sentindo muito bem, mas agora já passou.- Remo ia falando apressado, numa ânsia desaforada de se afastar de Sirius, de livrar sua pele daquele contato quente, de assegurar que tudo continuaria equilibrado, harmônico...e sigiloso.-Oh, Sirius, por favor!Está me machucando!
Apenas com esta última súplica de dor é que o jovem Black decidiu afrouxar seu aperto, permitindo que Remo puxasse sua mão de volta.Eles então se encararam, um questionador, o outro incomodado e, antes mesmo que qualquer outra ação pudesse ser feita, Lupin deu as costas para seu companheiro e se afastou em passos ligeiros, quase correndo para longe.
Sirius o observou partir em total torpor mental. A neve continuava a cair sobre o crescente tapete branco aos seus pés.
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