Divagações, disfarces e discus
20-Divagações, disfarces e discussões.
“O amor é um grande laço
Um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculo
Pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada
Como a fuga de uma ilha
Tanto engorda quanto mata
Feito desgosto de filha...”
(Faltando um pedaço - Djavan)
Após a Assembléia daquela noite, Eriu caminhava solitária em um dos corredores do Edifício dos Sacerdotes. Passado o momento de tensão devido ao debate entre os Conselheiros, a Grã-Sacerdotisa tinha uma sensação ruim em seu peito, algo semelhante à um vazio e ela nem ao menos sabia a razão. Escutou atrás de si o som de passos apressados e quando se voltou, viu Dagda andando em sua direção.
-Eriu?! - Dagda chamou. - Está tudo bem contigo, minha amiga?
Eriu passou a mão sobre seu próprio rosto e depois alisou o peito, como se estivesse sentindo uma grande dor.
-Não sei, Dagda, mas tenho um pressentimento tão desagradável, como se algo estivesse para acontecer e não é nenhuma Visão, disso estou certa.
-Quer que eu a acompanhe até sua casa? - O Sacerdote sorriu paternalmente, enquanto segurava uma das mãos de Eriu. - Você não me parece muito bem.
A Sacerdotisa sorriu fracamente. - Não é necessário, Dagda, mas ainda assim fico grata. Vou passar na Casa das Moças para ver Morrigan. Ela não estava muito bem hoje de manhã e preciso saber se ela está melhor.
-Tem certeza que não quer a minha companhia? - Dagda realmente estava preocupado.
-Não, meu querido. Vá para casa e descanse. Você já fez muito por mim hoje lá na Assembléia. - Eriu deu um leve aperto na mão do Sacerdote, para logo em seguida soltá-la. Voltou-se para o corredor e prosseguiu o seu caminho, deixando Dagda para trás.
A Grã-Sacerdotisa depois de atravessar aquela construção, seguiu o caminho ladeado por colunas e chegou no pátio da Casa das Moças. Ali, teve de incorporar o papel de Grã-Sacerdotisa e manter o rosto impassível e calmo, para não mostrar às suas Sacerdotisas que estavam ali o quanto ela estava angustiada. Sentia uma vontade quase desesperada de ver sua irmã, saber se ela estava bem e em segurança.
Com o coração aos pulos, ela chegou ao corredor onde ficava o quarto de Morrigan. Por que não se sentiu surpresa quando viu que a porta do quarto desta estava entreaberta? Empurrando a porta, deparou-se com o aposento escuro e frio, onde nem as sombras ousavam se mover. Acendeu um lampião próximo à porta e quando a luz bruxuleante iluminou o quarto, Eriu teve de conter um soluço.
Aproximando-se da cama de Morrigan, ela viu as vestes Sacerdotais dela, cuidadosamente arrumadas sobre a cama. Um calafrio transpassou o seu corpo ao ver aquelas vestes escuras ali, lembrando uma mortalha. “Isso só pode ser coisa da minha mente”, Eriu sacudiu a cabaça, afastando aquela sombra nefasta de pensamento.
Acariciou suavemente o tecido escuro, como se este lhe trouxesse consolo e conforto. Num determinado ponto, sentiu algo diferente. Apertando os olhos na tentativa de enxergar melhor, viu que era um pergaminho cuidadosamente enrolado e preso com uma fita vermelha de cetim. Com mãos trêmulas, Eriu soltou o laço que prendia o pergaminho e aproximando-se mais da luz quente do lampião, leu o pergaminho, que na verdade, era uma carta, e ela pôde reconhecer a letra floreada e firme de Morrigan.
Cara Eriu,
Creio que quando encontrares essa carta, eu já estarei longe daqui. Sei que o que fiz não está certo e que você deve estar com preocupações mil em sua cabeça, mas eu não poderia deixar escapar esta oportunidade.
Uma vez, quando eu era ainda demasiado jovem, você me ensinou que uma filha de Avalon nunca deveria fugir de nada e muito menos de ninguém. As coisas que você me ensinou eu sempre tive vivas em minha memória, mas eu simplesmente não conseguiria me despedir de você e ir embora, por isso, decidi sair sem avisar nada. E acredite, me envergonho desta minha atitude.
Fujo de uma despedida, para não fugir de um destino que me chama com voz desesperada. Sei, que tu sempre temeu o que estava escrito em meu destino, mas acho que acabaria enlouquecendo se continuasse aqui. Sempre teria a dúvida em minha mente de como seriam as coisas se eu tivesse tomado uma atitude. Espero que me entendas.
Não sei se a Deusa permitirá que nos encontremos outra vez, mas, mesmo assim, peço perdão por minhas falhas e agradeço tudo o que fizestes por mim.
Onde quer que eu vá, eu sempre a abençoarei. Você que sempre foi minha irmã, minha amiga, minha mãe e, principalmente, a minha Sacerdotisa e Mestra.
Que a Deusa sempre esteja com você
Sempre sua, Morrigan
Uma lágrima solitária desceu sobre o rosto de Eriu, abrindo caminho para muitas outras. Eriu viu, que em determinados pontos, a letra bem feita de Morrigan estava manchada, indício de que ela esteve chorando.
-Oh, minha irmã. Minha pequenina...
Por mais diferentes que as duas tivessem sido, sempre houve muito carinho e respeito na relação das duas e, apesar da diferença de idade, Eriu sempre foi muito amiga e companheira de Morrigan. A sensação que Eriu tinha, era que um pedaço de seu coração havia sido arrancado de seu peito. Sua menininha tinha ido embora...
O tempo passara e Eriu mal tinha se dado conta que Morrigan crescera, a mesma menininha que ela vira nascer numa noite nebulosa como a que fazia hoje.
[flashback]
Vinte e cinco anos antes, véspera de Samhain.
Avalon tinha os seus habitantes em grande agitação devido à Celebração do seu Sabbat mais importante. O Samhain era o festival que lembrava os Ancestrais e onde a Deusa Anciã lamentava a morte do seu consorte. Era uma época de renovação, onde as pessoas se recolhiam para o inverno, aguardando que as sementes plantadas florescessem na Primavera. Mas também era considerado um dos Sabbats mais sombrios, por causa de toda aquela aura de mistério que o cercava.
-Branwen, tu não deverias ficar te cansado desse jeito! - Uma Sacerdotisa de rosto bondoso disse, olhando para a amiga gestante que carregava uma bandeja com grãos.
-Eu também acho, minha mãe!
Branwen olhou carinhosamente para a mulher e para a sua filha, Eriu, que estava se aproximando. Eriu na época tinha dezoito anos, mas já era uma Sacerdotisa plena.
-Ora, Eriu, eu estou grávida, mas não estou doente. Além, de que ainda falta um mês para o nascimento do bebê.
Eriu sorriu diante da expressão determinada de sua mãe. Branwen e Eriu eram mulheres totalmente diferentes, principalmente na aparência. Eriu era alta e esguia, com longas mechas aloiradas, enquanto sua mãe, era morena e baixa, de olhos negros e profundos.
-Eu sei disso, mamãe, mas ainda assim não deverias ficar te desgastando. Existem mulheres suficientes para exercerem estas tarefas.
-Eriu, querida, eu conheço os meus limites. - Branwen sorriu e afagou o rosto de sua filha. - Até parece que os papéis se inverteram aqui. Pareço mais uma filha teimosa recebendo uma bronca de sua mãe.
E dizendo isso, Branwen saiu, deixando Eriu para trás.
Aquele dia transcorreu de maneira normal na Ilha Sagrada dos Druidas. Todos estavam ansiosos para a chegada do Samhain e preparavam com esmero os rituais a serem feitos no dia seguinte.
Quando Eriu tinha acabado de se recolher em seu quarto na Casa das Moças, ouviu batidas insistentes na porta. Vestindo desajeitadamente o primeiro vestido que encontrou, foi atender a porta.
Com uma expressão um tanto preocupada, uma jovem de olhos e cabelos escuros estava parada ali.
-O que foi Andrasta? Aconteceu algo? - Eriu indagou, ao olhar a moça.
-Sua mãe, Eriu, entrou em trabalho de parto. - A essa altura, Eriu já havia se precipitado para fora do quarto e as duas andavam apressadamente pelos corredores da Casa das Moças. - Sentiu as primeiras dores no princípio da noite e mandou chamar as parteiras. Achei melhor que tu estivesses presente.
-Fez bem, Andrasta!
Assim que Eriu e Andrasta estavam próximas da Casa da Senhora de Avalon, puderam ouvir o choro alto e forte de uma criança. Eriu, sem se importar com as convenções, entrou correndo na casa. Quando chegou no quarto, viu sua mãe com um sorriso cansado no rosto segurando um bebê muito pequeno, de cabelos cheios e escuros.
A parteira que acabava de retornar ao quarto com uma bacia com água morna para banhar o recém-nascido sorriu ao olhar a mãe segurando a pequena criança. Aproximando-se de Eriu disse: - Parece que essa aí tinha pressa de nascer. Sua mãe mal sentiu as dores e a criança já estava nascendo.
-Eriu, venha ver sua irmãzinha. - Branwen disse, com os olhos quase fechados. - Mais uma menina para servir no Templo, assim como você, minha querida.
Eriu sentiu um carinho instantâneo pela criança assim que a segurou no colo pela primeira vez. Tão pequena e tão perfeita. Parecia uma bonequinha moldada pelo mais talentoso artesão. Uma verdadeira fadinha!
Após isso, Eriu se encaminhou para o Tor para poder observar as estrelas e ver o que estaria escrito no destino da mais nova habitante de Avalon. O céu estava nebuloso, obscurecendo a lua, mas ainda assim, Eriu já sabia que já estavam no Samhain.
“Que estranho! Nunca vi uma criança nascer na entrada do Samhain”
Eriu deitou-se no chão frio e se pôs a observar o céu. Poucas estrelas foram capazes de brilhar naquela noite, mas havia uma que emitia um brilho avermelhado, diferente de tudo o que Eriu já havia visto, mas ela logo reconheceu aquela estrela: Acrux!
A Sacerdotisa ficou surpresa com o que viu no destino da criança: amor e pesar andando lado a lado, tudo isso ao encontrar um homem de alma obscura, um homem de duas faces que carregaria uma marca que seria a sua maldição.
Tudo isso somado à época em que a criança havia nascido, fez com que Eriu sentisse um calafrio estranho atravessando o seu corpo. “Deve ser apenas o vento frio de outono” ela tentou justificar, enquanto voltava para a Casa de sua mãe.
[fim do flashback]
Sim, a menininha havia crescido e agora ia de encontro ao seu destino. Apesar de todo o cuidado e dedicação para que Morrigan não fizesse nenhuma besteira, Eriu não foi capaz de impedir que sua irmã fosse embora. Talvez as coisas tivessem de acontecer daquela forma. Ninguém é capaz de fugir ao seu destino mesmo!
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Da janela de uma pequena cabana, um homem de cabelos castanhos salpicados de fios grisalhos observava o céu nebuloso, ocultando a enorme lua cheia que ele sabia estar ali. Soltou um longo suspiro e sentou sobre a cama. Era sempre assim que ele ficava quando estava sozinho: pensativo e nostálgico.
Naquela noite, uma pequena dúvida teimava em ocupar sua cabeça: “E se ela não tivesse vindo naquela noite?”
Remus quando fez aquela proposta à Nymphadora algumas noites antes, nunca havia parado para pensar na possibilidade de Tonks recusar. Era um direito dela não ir encontrá-lo numa noite de lua cheia. Ele foi muito confiante em pensar que ela aceitaria.
Mas... e se ela não viesse? Como ele iria ficar após isso? Como a relação deles ficaria após isso? Se em algum momento ele havia duvidado de amor de Tonks por ele, naquela noite tudo havia sido deixado para trás. Ele mal podia acreditar no que estava acontecendo. Se, alguns anos antes, alguém lhe dissesse que ele seria capaz de amar e ser amado com a mesma intensidade com que amava Tonks naquele momento, ele simplesmente iria rir e dizer que a pessoa havia enlouquecido. “Onde já se viu, eu, um lobisomen, vivendo um relacionamento?”
Engraçado como as coisas mudam. Hoje ele já não seria capaz de imaginar sua vida sem a cor e animação de sua “pequena ninfa”. Seu peito inflava de amor e ternura ao pensar nela. Aquela noite em que Lupin e Tonks passaram juntos sobre a luz mágica da lua havia sido inesquecível para o homem. Era como se pela primeira vez na vida ele tivesse se entregado inteiramente, como se pela primeira vez ele fosse apenas ele, Remus Lupin, e não o homem escondido por trás de uma maldição.
Ah, se aquilo fosse permanente e duradouro!
-Pensando em mim, Remus?
Lupin foi desperto de seus devaneios ao ver Tonks entrando na pequena cabana e se aproximando dele. Ela se sentou sobre seus joelhos e tinha um belo sorriso estampado em seu rosto.
-Como é que você adivinhou? - Ele ergueu uma sobrancelha, enquanto a acomodava melhor em seu colo. - Andou treinando legilimência?
-Eu? Legilimente? Fala sério, Remus. - Ela gargalhou. - Eu apenas deduzi isso, sabe... É bom saber que você sempre pensa em mim.
-Nossa, você não é nem um pouco modesta!
Como resposta ela apenas mostrou a língua, fazendo uma careta engraçada.
-Por que você demorou tanto hoje, hein, Nympha?
Tonks suspirou e ajeitou uma mecha de cabelo atrás de orelha. - Ih, tava a maior bagunça lá na casa da Danna. - Vendo a expressão confusa de Lupin, ela explicou: - Os garotos estavam agitados, mas ninguém quis me explicar a razão. O Rony e a Mione ficavam cochichando, de segredinhos e o Harry ficou com uma cara estranha pelos cantos. Ele só apareceu no final da tarde, quase na hora do jantar e não falou com quase ninguém. Ai, eu tive de esperar todo mundo dormir pra vir pra cá.
-Estranho...- Lupin franziu a testa. - Aconteceu alguma coisa de anormal?
-Sei lá, Remus, mas eu não tive coragem de perguntar. Se aconteceu algo durante o dia, eu não fiquei sabendo já fiquei o tempo todo com você aqui, né?
Por uns breves segundos, o casal ficou em silêncio. Tempo suficiente para Tonks recuperar o fôlego e recomeçar a falar: - Não sei por que você continua escondido aqui... Digo, você não se transforma em Lobisomen em Avalon, porque não fica junto com os outros?
Aquela havia sido uma boa pergunta. Por que Remus Lupin insistia em ficar isolado, sendo que ele não se transformou naquela lua cheia?
-Não sei, Nympha... É como se o encanto fosse se quebrar se alguém, além de nós dois, soubesse o que aconteceu. Você me entende? - Tonks apenas olhou para Lupin, tentando compreender o que ele queria dizer. - Eu sei que parece ser estranho, mas não quero que os outros saibam disso. De que adianta os outros ficarem sabendo, sendo que isso não vai ser permanente?
-É... Faz sentido... Mas eu ainda acho que você não deveria ficar escondido. - Tonks ficou pensativa. - Mas voltando ao outro assunto... Fiquei preocupada em ver o Harry daquele jeito. Eu gosto pra caramba daquele moleque, sabe, e acho que seria bom se você conversasse com ele pra saber se está tudo bem.
-Você acha isso mesmo, Nympha? - Lupin indagou, ficando sério.
-Acho sim. Além de ser filho de um dos seus melhores amigos, o garoto tem confiança em você. Aconteceu muita coisa com ele ultimamente, ele deve tá confuso...
-Às vezes essa mania de querer ser sempre seguro e dono da situação do Harry me preocupa. Ele não pode carregar tudo nas costas sozinho...
-Mas o Harry não está sozinho, Remus... - Tonks disse, e na penumbra onde estavam, era possível ver que os olhos dela brilhavam. - Ele tem o Rony e a Mione, tem você e a mim - que posso mudar de aparência e valho por dez pessoas - e também tem uma ruivinha teimosa que não vai abrir mão de estar ao lado dele.
Remus sorriu. Incrível como Tonks sempre via um lado positivo nas coisas. Ele gostaria tanto de ser assim... Mas já havia sido uma benção ter tido a sorte de encontrar Nymphadora Tonks em seu caminho .
-É, -Lupin sorriu - como sempre você está certa!
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Em um aposento fracamente iluminado, uma figura alta e esguia caminhava de um lado para o outro, totalmente imerso em pensamentos.
Aguardava a chegada de seus fiéis servos e, naquele momento, tentava a todo custo se concentrar para conseguir penetrar na mente de um jovem grifinório, possuidor de uma fina cicatriz em forma de raio. Esforço feito totalmente em vão!
Resignando-se, o Lorde das Trevas sentou-se em uma cadeira em frente à lareira, que estranhamente lembrava um trono envolto em sombras. Nagini estava semi-adormecida a seus pés, com a cabeça repousando sobre seu enorme corpo e, vez ou outra, soltava algum silvo baixo, numa bizarra imitação de alguém ressonando.
Voldemort convocou um livro qualquer até suas mãos, mas seus olhos viperinos não registravam nada do que estava escrito ali. Fechando o livro com estrondo, despertou Nagini que ergueu a cabeça alguns metros acima do chão.
-O que tem perturbado o meu Mestre?- Nagini sibilou na estranha língua das cobras, que Lorde Voldemort compreendia tão bem.
Na mesma língua, ele respondeu. - Estou cercado por servos inúteis, Nagini. Até agora nenhum daqueles estúpidos trouxe notícias do que busco.
-Tenha calma, Milorde. Sinto que tem alguém chegando. Ouça!
E parando para escutar melhor, Voldemort ouviu o som de passos apressados se encaminhando para os seus aposentos. Pelo o que pôde deduzir, eram duas pessoas que estavam se aproximando.
-Entrem. - Ele ordenou, antes mesmo de baterem na porta.
Dois vultos usando vestes negras adentraram o recinto. O primeiro vulto caminhava de maneira firme e segura e, por debaixo do capuz de sua capa escura, era visível um par de olhos que brilhavam alucinados e decididos. Aproximando-se de seu Senhor e Mestre, fez uma semi-reverência e retirou o capuz que lhe ocultava as feições. O rosto que outrora fora perturbadoramente belo, agora estava magro e encovado, mas, ainda assim, mantinha os traços que permitiam com que a mulher ainda fosse desejável.
-Mestre! - A voz alta e um tanto histérica de Bellatriz Lestrange ecoou no aposento, fazendo com que, novamente, Nagini ergue-se a cabeça.
-Bellatriz - Voldemort respondeu, encarando a bruxa à sua frente. Depois, procurou com os olhos o outro vulto que adentrara o recinto junto com ela. Um sorriso distorcido brotou em seu rosto ao ver de quem se tratava. - Rabicho, meu caro, aproxime-se de seu mestre. Ou está com medo de mim?
-N-Não, claro que não Milorde. - Rabicho se aproximou, fazendo várias reverências desajeitadas, no pior estilo “elfo-doméstico”.
Voldemort soltou uma breve gargalhada. Sempre se divertia ao ver a reação que provocava naqueles estúpidos que o seguiam. Mas logo em seguida voltou a ficar sério, lembrando-se do motivo pelo qual estava aguardando a chegada de seus servos.
-Rabicho, saia daqui! - Voldemort ordenou. Tudo o que não precisava era ter Rabicho tremendo e suando de medo, como sempre ocorria quando estava na sua presença. “Às vezes não compreendo a razão por manter este inútil vivo”.
Após Rabicho sair do aposento com passos trôpegos, voltou-se para sua cadeira e cruzou as mãos em frente ao corpo. - Pronto, Bella, pode começar. Encontraram o fedelho?
-Não, Milorde! - Ela respondeu, com uma certa repugnância ao se lembrar de sua missão. Dava-lhe asco pensar que estava atrás de sangues-ruins e amigos de trouxas imundos. Se pudesse exterminaria toda aquela escória com apenas um feitiço! Ao ver que um brilho selvagem se acendia nos olhos de seu mestre ela logo completou - O velho tolo do Dumbledore colocou algum tipo de feitiço-protetor no fedelho e é simplesmente impossível encontrá-lo. - E acrescentou, pensativa. - É como se ele estivesse em um lugar inacessível, Milorde. Realmente estranho.
Sim, isso Voldemort já sabia. Todas as vezes que tentava penetrar na mente de Harry não conseguia, como se algo o impedisse. Pensou que com a morte de Dumbledore, seria simples encontrar o garoto e matá-lo. Sabia que agora ele já era maior de idade e, portanto, a proteção existente por causa do sangue de Lilly não mais existia. Mas ele não deixaria que isso o impedisse.
-Certo, Bella, mas ainda assim quero ver todos empenhados em descobrir uma pista que nos leve ao “escolhido”. Ele não pode ter simplesmente ter desaparecido do planeta, não é mesmo? - Sorriu ironicamente. -E então...
E Bellatriz soltou uma gargalhada maníaca. Sabia exatamente o que aconteceria se o seu mestre conseguisse encontrar o Potter. “E então nós conseguiremos purificar o mundo da imundície trouxa”.
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A sensação de voar nas costas de Angus era maravilhosa, mas ainda assim, Morrigan estava começando a se sentir fatigada. Precisava parar para descansar, ou então, acabaria caindo de lá de cima.
Agora, eles sobrevoavam uma grande cidade e, apesar de estarem à uma grande altitude, Morrigan era capaz de ver a luz alaranjada dos postes. Sentindo o vento gélido da noite agitando os seus longos cabelos negros, ela conduziu o animal em direção à terra, para algum lugar onde pudesse se abrigar.
Foram descendo lentamente, e Angus conduziu a Sacerdotisa para uma viela escura e sem movimentação. Morrigan olhou para todos os lados, mas não havia sinal de vida naquele lugar. “Melhor assim”, ela pensou, mas ainda havia algo a ser feito.
-Angus, meu caro amigo, de agora em diante terei de seguir sozinha. - Afagou a brilhante crina do animal. - Não posso ficar circulando com um pégaso no meio de uma cidade, vou atrair a atenção das pessoas. Você me compreende, não é?
Angus relinchou e Morrigan teve de acariciá-lo novamente para que ele não fizesse muito barulho.
-Você é capaz de voltar sozinho para o Lago? Se estiver próximo a Ilha, alguma Sacerdotisa o encontrará e o levará de volta à Avalon.
Angus abaixou a cabeça, como se estivesse acenando afirmativamente e Morrigan depositou um beijo suave perto de sua orelha. Viu o belo animal abrir as enormes asas brancas e subir aos céus novamente. Aquela seria uma busca que teria de fazer sozinha.
Olhou em volta e uma sensação de solidão desabou sobre ela. Caminhou um pouco naquela viela que a conduziu a uma outra ruela, tão ou mais estranha do que a primeira. Logo no começo desta, havia uma placa presa à um poste que dizia: TRAVESSA DO TRANCO.
“Que nome mais estranho”, mas Morrigan deu de ombros e continuou andando. Havia algumas lojas de aparência estranha, mas todas estavam fechadas, afinal, já era tarde da noite. Apenas um estabelecimento estava aberto, um pub de aparência suja e mal-cuidada. Morrigan não teve escolha, entrou ali.
Assim que entrou, uma sineta que ficava na entrava tocou, fazendo com que todos olhassem para a Sacerdotisa que tentou a todo custo não chamar a atenção. Algumas poucas velas davam luz ao ambiente sinistro. Em um canto um homem de aparência asquerosa conversava com uma mulher loura e de enormes unhas vermelhas. Trocavam sorrisos sacanas e Morrigan teve de se segurar para não vomitar ali mesmo.
Ainda assim, ela manteve a pose segura e decidida que uma filha de Avalon deveria ter e se encaminhou até o balcão onde um homem desdentado secava um copo com um trapo encardido. Conforme atravessava o salão, as poucas pessoas que estavam ali paravam o que estavam fazendo para ver a Sacerdotisa. Morrigan nunca tivera uma beleza excepcional, mas sabia criar um encanto à sua volta que prendia a atenção de quem ela quisesse, o que não era o caso naquele momento.
Enquanto caminhava, foi reparando em todos os que estavam ali, com os olhos cravados nela. A única pessoa que não prestou atenção na entrada da mulher, foi um homem louro e corpulento que tinha os olhos cravados numa dose dupla de FireWhiski e parecia extremamente concentrado em algum pensamento perturbador.
Chegando no balcão, a Sacerdotisa perguntou ao homem desdentado onde ela poderia encontrar uma hospedaria, uma pensão, ou algo do gênero onde pudesse se instalar temporariamente. Enquanto o homem lhe cochichava instruções de como chegar em uma hospedaria "Como era o nome mesmo? Ah, sim, Caldeirão Furado”, ela viu o homem louro e corpulento entornar a bebida de uma vez, deixar algumas moedas sobre a mesa e se encaminhar para a saída.
Dando os devidos agradecimentos ao homem do estabelecimento pelas informações fornecidas, Morrigan se encaminhou para fora do Pub. Quando já estava próxima da saída, a barra de sua capa havia se prendido nos pés de uma cadeira. Após ter desprendido a capa, ela se ergueu e deu uma trombada no homem do FireWhiski. No momento, ele tinha tirado uma garrafinha de dentro das vestes e estava pronto para bebê-la, mas ao trombar em Morrigan, parte do conteúdo da garrafinha caiu sobre as vestes da Sacerdotisa. A garrafinha se espatifou no chão e mil caquinhos se espalharam ali.
Com um aceno da varinha, o homem limpou a sujeira que estava no chão e parecendo muito contrariado, deu as costas à Morrigan e saiu dali.
“Ora, veja, que sujeitinho mais sem educação”. Morrigan ficou indignada. O homem sujara suas vestes com um líquido desconhecido (que fez a Sacerdotisa torcer o nariz de desgosto) e não teve ao menos a gentileza de se desculpar. Ah, mas ela não iria deixar barato, mas não ia mesmo...
Sentindo-se crescer cada vez mais, ela foi atrás do homem. Não sabia bem o porque, mas aquele estranho havia deixado ela profundamente irritada.
-Ei! - Ela chamou, enquanto alcançava o homem e tocava o seu ombro. Ele se esquivou de seu toque, como se ela tivesse tocado uma ferida particularmente dolorosa e voltou-se para ela com um olhar gélido.
-O que foi? - Ele disse, num tom de voz baixo e entediado.
-Olhe só o que você fez -E Morrigan apontou para o seu vestido. - Poderia ter tido ao menos a delicadeza de reparar o que fez, não acha?
-Oh, veja, você sujou o seu vestido. - Ele desdenhou, voltando a fechar a cara. - Não tenho nada a ver com isso.
“Cretino!”
Mas de repente, os dois escutaram vozes vindas do outro lado da rua e que se tornavam mais próximas a cada momento. Morrigan não estava nem aí para quem estava chegando, mas o homem pareceu ficar apreensivo. Ela continuou reclamando e reclamando, mas o homem parecia não escutar o que ela dizia.
Num momento rápido de descuido, Morrigan sentiu o homem a puxando pelo pulso e suas costas indo de encontro a um muro qualquer obscurecido pela falta de luz. O homem projetou o seu corpo contra o dela e forçando os seus lábios a se encontrarem. Aquilo não era propriamente um beijo, mas apenas um “encontro de lábios” e, a contragosto, Morrigan pensou que aquela havia sido a experiência mais desagradável de sua vida. Tentou a todo custo se desvencilhar debatendo-se com violência.
Escutou as vozes cada vez mais próximas agora e soube que eram vozes graves e masculinas.
-...E então o homem disse que tinha comprado todos aqueles caldeirões para dar de presente aos parentes. - Um deles disse, soltando uma gargalhada.
-É, que tipo de pessoa compra cem caldeirões para dar à família? Com certeza foi contrabando. - O outro respondeu. Logo escutou o som de gemidos abafados vindos de um canto escuro da rua. - Arre, não agüento mais ver isso, Thomas. Esses casais não tomam vergonha na cara e ficam se agarrando por aí.
-Relaxa, Frank, já está acabando o nosso turno. - Thomas respondeu, dando uma palmadinha no ombro de Frank. - O Ministro fica neurótico mandando nós, Aurores, fazermos rondas na Travessa do Tranco e somos nós que ficamos cansados e estressados...
E a conversa dos dois aurores foi diminuindo enquanto eles se afastavam. Quando teve a certeza de que eles estavam longe o suficiente, o estranho finalmente soltou Morrigan. Foi com muita dificuldade que esteve próximo àquela mulher, pois parecia que o contato com o corpo dela lhe dava pequenas ondas de choque e queimava a sua pele ao mesmo tempo.
A Sacerdotisa estava lívida de raiva. Pensou em todas as maldições que conhecia e que poderia lançar sobre ele. Respirava rapidamente pela boca dolorida e se pudesse mataria o homem ali mesmo, com suas próprias mãos.
-Seu...desgraçado...nunca...toque em mim! - Ela finalmente conseguiu dizer.
-Como se eu quisesse. - Ele deu de ombros. Mas ao olhar para as próprias mãos, uma sombra de preocupação passou por seu rosto. Novamente ele deu as costas para Morrigan e saiu a passos rápidos. Morrigan, achando que o homem não havia ouvido o suficiente foi atrás dele.
Quando se voltou novamente, para dizer àquela mulher estranha que fosse arrumar o que fazer, sentiu sua visão embaçar e aos poucos os seus sentidos se alterando. Morrigan percebeu e tocou novamente no homem. Num último esforço antes de desfalecer ele desaparatou, levando, sem querer, Morrigan junto com ele.
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Sobre o capítulo: Tchan, tchan, tchan, tchan!!!!!!! O que será que vai acontecer com a Morrigan? E o tal estranho do Firewhiski, qual é a dele? E o Voldemort? Será que vai achar o Harry? Suspense... *autora misteriosa e soltando uma risadinha maligna*
Bem, para quem não sabe o Samhaim é um sabbat comemorado no dia 31 de outubro (dia das bruxas), ou seja, a Morrigan nasceu neste dia. Bem, como eu não sou uma pessoa muito normal, eu meio que fiz o horóscopo da Morrigan *corando* e a Estrela Guia do Signo dela se chama Acrux, ou seja, eu não inventei isso...heheh..
Bem, não ando com muito tempo para fazer os agradecimentos individuais como gosto de fazer, mas ainda assim eu agradeço de todo o meu coração as palavras gentis que são deixadas nessa fic. Vocês não sabem como são importantes pra mim! O bloqueio finalmente passou (eeeeee), mas o problema agora é a falta de tempo, mas vou fazer o possível para não atrasar tanto os capítulos, certo? ;D
Essa última cena ia aparecer só no próximo capítulo, mas achei que este ia ficar muito curtinho e eu estava absolutamente ansiosa para escrever essa cena...heehe... e também para deixar um suspensezinho básico para o próximo *risada maligna outra vez*
Well, acho que é isso.
Grande beijo e até o próximo!
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