O passado que se torna o prese
O passado que se torna o presente
by Jesse Kimble
“Nós já passamos pelo passado, mas o passado ainda não passou por nós”
- do filme Magnólia
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Era sua vida que dedicava a... Dumbledore? Aquele bruxo que sequer existia mais? Voldemort? O Lord das Trevas que por tantos anos enganara? Havia uma vida para dedicar a alguém, a alguma causa? Havia sonhos, ilusões, esperanças ou já teriam sido todos esses sentimentos destruídos antes mesmo que pudessem ter existido em seu coração, em sua mente, em sua história?
Uma vida... que, mesmo tendo passado nela mais de quarenta anos, não poderia dizer que lhe pertencia realmente, caso existisse. A guerra não deveria estar longe de terminar – e ele continuava agindo como um espião até aquele dia, para uma causa que não passava de uma abstração, de uma utopia... continuava agindo como espião por causa de um pedido, uma promessa...
Seria isso que Alvo Dumbledore queria? Na busca pela resposta a esse questionamento, não gastou mais do que o tempo que levara para fazer a pergunta. Não se importava realmente com Dumbledore, não era mais hora de fazê-lo.
Não era mais jovem, sequer fora bonito e muito menos feliz. Por quarenta e três anos, ele existira como o odiado professor e espião para a Ordem da Fênix Severus Snape. Existira como um Comensal da Morte; Severus Prince. E sua existência carregava em si tanto significado quanto o de uma ostra mutilada que nunca pôde produzir pérola alguma.
Era vazio, sozinho. Algo que ele não conseguira mudar no decorrer dos anos e, na verdade, sequer dedicara-se a isso. Os anos deixaram em sua personalidade, em sua face, em sua voz, rudes marcas que não se apagariam jamais. Marcas que o fizeram esquecer alguns dos poucos sentimentos bons que um dia experimentara.
E agora era tarde. Não havia perspectiva de uma melhora no presente, não havia a oportunidade de um futuro. Tudo que existia era a tarefa que deveria ser cumprida; que ele dedicara o máximo de seus esforços aquela manhã...
Poderia, de fato, ser bem-sucedida a tentativa que Harry Potter faria de conquistar para sempre o Lord das Trevas. Poderia. E, ainda assim, isso não importava.
Agira em tempo. Cumprira a promessa. Obedecera sempre. Enganara quando necessário. Manipulara a todos, inclusive a si mesmo. Traíra a vida, a esperança, a virtude e a sorte. Fora leal aos princípios que conhecia, mesmo que não fossem seus. Existira dentro de uma mentira que se tornara tão complexa para impedir que o começo, o fim ou qualquer meio de escape fossem conhecidos.
Tornara-se um mito, uma imagem ilusória que aceitara e incorporara em seu comportamento. Era um mito, agia e sentia como tal – não mais como um bruxo qualquer. Era um mito que mantinha as pessoas à distância, uma representação idealizada de uma pessoa fria. Um personagem que representara tantas vezes que – em certo ponto – não soube mais distinguir se estava agindo como o personagem ou como si mesmo.
Como si mesmo... como a pessoa singular que não vivera; que existira nos últimos quarenta e três anos e passara pelo mundo como um vento passa por uma rua vazia – totalmente fadado ao certo esquecimento.
Existira nos últimos quarenta e três anos. E então, existia não mais. Nunca vivera, não viveria agora. Não soubera o que era vida – era tarde demais para tentar descobrir. Escolheu o caminho mais fácil: descobrir o que era a morte.
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A/N: Eu estava relendo a fic da Lori e parei para pensar na possibilidade de continuação (parte 3) da "nossa" fic... pensei... eles já exigiram "apenas obediência" na parte um... "mais do que a obediência" na parte dois... o que poderia ser exigido nessa "parte três"? Eu respondo: a vida. E não é Voldemort ou Dumbledore que tem de exigir isso, é o próprio Snape. Tristemente, foi tarde demais para ele... quem sabe um dia... certo, pararei com o non-sense, Requiém já parou de tocar aqui... Lembrem-se, por favor, que minha inspiração é movida a reviews... Beijos...
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