Desconfianças e Medos




Capítulo 22
Desconfianças e Medos


Sexta-feira havia, finalmente, chegado. Quanto mais as horas passavam, mais lentamente elas pareciam transcorrer. Aproximavam-se também os testes de aparatação, a semana de provas, os trabalhos árduos, os treinos de Quadribol para o último jogo do ano, entre várias outras coisas que deixavam os alunos cada vez mais aflitos, e com mais vontade de que toda a semana passasse voando. Até Hermione, por incrível que pareça, estava deixando transparecer que estava cansada, acordando com olheiras profundas e queixando-se, ora ou outra, de ter tido que ir dormir tarde. Porém, era a única que conseguia aproveitar o final de semana, pois tratava de fazer tudo que precisava até sexta-feira.

Naquele momento, o grupo de amigos voltava à Sala Comunal da Grifinória, depois de apreciar um jantar delicioso no Salão Principal. Os adolescentes comiam como nunca naquela época, dando um trabalho imenso para os elfos na cozinha e também na limpeza das Salas Comunais.

Draco e toda a patota sonserina haviam parado de incomodar tanto aos grifinórios, que passavam dias mais tranqüilos sem pensarem em vinganças ou em frases que deveriam ter sido ditas e não foram. É lógico que essas provocações não pararam totalmente, sempre havia rinhas entre os estudantes, mas nada que fosse grave a ponto de precisar dirigi-los a diretoria de suas casas, ou mesmo ao diretor de Hogwarts.

- Merlim, quantos deveres nós temos! – falou Ron, enquanto ajeitava a pesada mochila nos ombros.

- Hm, deixe-me ver. – ponderou Tracy. – Temos que fazer relatórios para Poções, Transfiguração, Feitiços e dois para Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Dois para Defesa Contra as Artes das Trevas? Achava que era só um, sobre aquela cobra estranha de três cabeças. – comentou Ron.

- E o outro é sobre o descobridor do feitiço para controlá-la. – disse Hermione, desgostosa. – Alan DeNott, um homem fantástico.

- Se ele não tivesse descoberto esse feitiço, nós teríamos menos dever. – resmungou Ron.

- Teríamos também menos seres humanos no mundo. – disse Harry.

- E isso seria ótimo. – falou Tracy, recebendo um olhar intrigante dos amigos. – Os seres humanos destroem tudo, não preocupam-se com nada... Nossa raça tem que ser extinta. E só um prevalecer.

Todos se entreolharam.

- E quem seria esse um? – indagou Ron, erguendo a sobrancelha.

- Um ser humano supremo, que estivesse acima de todos os outros. O mais parecido com os animais, mais perseverante, mais astuto, mais inteligente. – respondeu a garota, com um estranho brilho nos olhos.

Ron entreolhou Harry, que deu a entender estar achando Tracy louca, fora do normal.

- Hermione, você me ajuda com aquele feitiço de Transfiguração? Eu treinei, mas ainda não consigo transformar minha cama num rádio. – Ron pediu.

- Oh, mas é claro. – respondeu Hermione, e depois falou, olhando para Harry e Tracy. – Vocês também já vão subir?

- Não. – falou Harry. – Eu preciso falar com a Tracy ainda, mas logo subiremos.

- Tudo bem. – respondeu Hermione novamente e ela e Ron continuaram o caminho, enquanto Harry e Tracy pararam no meio do corredor.
Harry olhou ao redor, e acenou para uma garota também da Grifinória, que passava por ali naquele momento. O corredor ficou vazio rapidamente e ele encarou Tracy.

- Que história era aquela de só um ser humano supremo dominar o mundo? – indagou ele.

- Ah, viagem minha. – a garota falou. – É bom você “viajar” um pouco na imaginação.

- Você não parecia estar se divertindo. Tinha algo estranho no seu olhar, e deixou Ron bem desconfiado.

Tracy soltou um muxoxo.

- Jura? – ela indagou. – Não posso acreditar... Eu não podia fazer dessas, não agora. Ele continua desconfiando de mim?

- Bastante. – Harry respondeu. – Hermione andou conversando com ele, e parece que você subiu alguns pontos no conceito dele. Mas nada bom o suficiente ainda.

- Sabe, Harry, eu pretendo não esconder mais as coisas. Realmente acho que Voldemort é muito inteligente, muito corajoso e...
- Como? – indagou Harry, surpreso.
- É, eu acho isso sim. Harry, se ele não fosse isso jamais teria chegado aonde chegou. Ele é muito inteligente, muito astucioso e... Convenhamos, ele é perfeito.

- Tracy, juro, não estou entendendo! Como você quer que Ron acredite em você falando dessas coisas? – Harry parecia estar a ponto de explosão.

- Só estou sendo sincera, Harry. – a garota disse. – E você tem que admitir isso. Voldemort não é nenhum idiota, nenhum ignorante.

Harry ponderou.

- É só um ser humano.

- Ele vai além, muito além de um mero humano. – disse a garota. – Muito diferente do idiota do Dumbledore. Este sim, é um velho imprestável, que não faz nada da vida a não ser olhar para os lados e dizer o que os outros devem fazer. Ele apenas manda. É detestável ver esse velho achar que pode alguma coisa contra o magnífico Lorde das Trevas.

Harry não conseguia falar nada. Sua boca parecia ter sido fechada, enquanto os olhos e ouvidos permaneciam extremamente abertos e estupefatos com o que acabaram de ver e ouvir.

- Você é tudo que dizem mesmo. – ele sibilou. – Não sei como pude deixar de acreditar em Dumbledore, para acreditar em você! Não sei como pude!

Harry saiu correndo dali.

- Harry! Harry, espera! Eu só estava brincando, como antes! – Tracy gritou. – Pelo amor de Merlim, volte aqui! Harry! Harry!

Não adiantava mais, pois ele já estava muito longe para ouvir e sua cabeça muito infestada de desconfianças para querer voltar. Ela resolveu não deixar passar nada, apenas correr atrás dele para corrigir o erro.

Depois de caminhar mais dez minutos e virar mais de cinqüenta corredores escuros, Tracy deu a senha a Mulher Gorda e entrou na Sala Comunal da Grifinória.

Olhou ao redor procurando um rosto conhecido. Deparou-se com Gina sentada a um canto, olhando aborrecida para o chão e dirigiu-se até ela.

- Gina? Oi! Você viu se o Harry está por aqui?

- Quem? Ah, o Harry. – disse ela, como se tivesse voltado a Terra com um solavanco terrível. – Ele entrou aqui meio nervoso e se trancou no dormitório com o Ron.

Tracy mordeu o lábio.

- Eu aconselharia você a não ir lá agora. Eles estavam gritando antes, mas, graças a Merlim, pararam não faz muito tempo. – continuou Gina.

- É que o caso é realmente importante. Eu necessito falar com o Harry. – explicou Tracy, ansiosa.

- Tudo bem, mas vá por sua conta e risco. – respondeu a garota despreocupada.

Tracy sorriu para ela e começou a subir as escadas que levavam para o dormitório dos garotos. Já tinha subido uns cinco degraus quando teve que se agarrar a parede para não descer rolando até o chão. Alguém de cabelos extremamente ruivos estava descendo aquelas escadas desesperadamente, como se tivesse fugindo de algo.

- Ron, o Harry está lá em cima...? – começou a garota, mas parou porque Ron já havia sumido pelo buraco do retrato.

Tracy ficou confusa e subiu rapidamente o restante da escada. Identificou a porta do dormitório de Harry e girou a maçaneta. Só que a porta não abriu.

- Harry? Sou eu, a Tracy. Abre a porta, nós precisamos conversar.

Ninguém respondeu.

- Harry, eu sei que você ficou chateado com aquilo, mas... Eu gosto de você. Muito, é sério.

Nada, tudo estava completamente silencioso.

- Abre, Harry. – ela bateu mais uma vez e mais uma. – Eu sei que você está aí.

Agora ela estava socando a porta, não mais simplesmente batendo nela.

- Se você não abrir essa maldita porta por bem, eu vou abri-la por mal. – vociferou Tracy, esperando uma resposta que não veio. – Ah, não vai abrir? Ótimo!

E sem esperar sequer um minuto:

- Alorromora!
A maçaneta girou e Tracy empurrou a porta. Ela ficou chocada e arrependeu-se no mesmo instante por ter feito aquilo. Harry estava caído no chão, duro, com os olhos fechados.

- Harry! Harry! – gritou Tracy, jogando-se em cima do garoto e o chacoalhando.
Os piores pensamentos começaram a surgir na mente da garota. “Será que ele está morto? Não, Merlim, por favor, não!”. Seu coração não queria que Harry morresse, queria vê-lo vivo e bem. Já sua cabeça desejava profundamente que isso tivesse ocorrido.

Em meio as lágrimas de desespero, a garota teve uma idéia que reavivou suas esperanças e acalmou seu coração.

- Enervate!

Os olhos verdes de Harry foram se abrindo lentamente e um sorriso no rosto de Tracy também. Harry não tinha sido morto, apenas estuporado.

- Está tudo bem, Harry? – perguntou ela, preocupada.

- Cadê o Ron? Onde está aquele idiota, eu vou pegá-lo e o estraçalhar! – gritou ele, sentando-se no chão e olhando desesperadamente ao seu redor.

- Harry, está tudo bem? – repetiu Tracy.

- Claro que sim, Tracy! Agora, sai de cima de mim, sai! – respondeu ele, seco.

A garota levantou-se e parou na frente da porta, trancando a passagem.

- Quem fez isso, Harry? Quem te estuporou? – perguntou ela, demonstrando uma enorme preocupação.

- Sai da frente, Tracy! – berrou Harry tentando afastar a garota da frente da porta com as mãos.

- Responda-me! Eu não saio daqui sem saber quem foi que te estuporou!

- Vai ter que sair! – vociferou ele.

Harry pegou a amiga pelos braços e a empurrou para dentro do quarto. Foi com tanta força que a garota chegou a bater as costas na cama de Neville.

- Ah, não, Harry!

Tracy levantou-se toda dolorida e seguiu Harry que descia apressado as escadas.

- Quem fez aquilo, Harry? Não fuja de mim, volte aqui!

- Sai do meu pé, Tracy! Gina, o Ron está por aqui? – perguntou ele a ruiva, nervoso.

Gina olhou para os dois e arregalou os olhos.

- Não sei, Harry, não presto atenção nele. Mas porque essa exasperação toda?

Fazendo de conta que aquela pergunta não havia sido feita, Harry saiu desabalado pelo buraco do retrato com Tracy em sua cola.

- Tracy, dá para parar de me seguir? – vociferou Harry, perdendo a calma com a garota.

- Se você me disser quem te estuporou, tudo bem. – respondeu Tracy se chateando.

Harry revirou os olhos.

- Foi o Ron, satisfeita?

- O quê? – admirou-se ela. – Ah, por favor. O Ron jamais faria isso, jamais!

- Ah, faria.

- Duvido. – falou Tracy, sinceramente. –Dê-me só um motivo para isso.

- Ah! Isso por causa do que você fala e faz, Tracy! Você está envenenando todos nós, uns contra os outros! – gritou ele, virando a um corredor e se chocando com um aluno do segundo ano.

- Blasfêmia! Como você pode pensar isso de mim? – falou a garota, chocada.

- Tracy. – disse Harry, parando, finalmente. – Seria bom que você controlasse um pouco a sua língua. Você não pensa e fala, você pensa alto. Fala tudo que passa na sua cabeça sem se importar com os sentimentos dos outros.

- Esse é o meu jeito, minha personalidade, e eu não posso fazer nada. Ah, e eu me importo com o sentimento dos outros, sim! – berrou Tracy, no meio do corredor da sala de Feitiços.

- Não é o que parece. – disse Harry, aborrecido.

Tracy respirou fundo e se acalmou.

- Eu, você e a Hermione achamos que Dumbledore é maluco em dizer que você é outra pessoa, que sua mãe é a mesma que a minha, que seu pai é Voldemort, etc.. Ron e o resto das pessoas dizem que você é uma espécie de herdeira do mal, que está do lado de Voldemort e quer matar a todos nós. Isso confunde muito a gente, logo quem terá que ser internado com problemas mentais sou eu!

Lágrimas falsas escorriam pelo rosto de Tracy.

- Você acredita em mim, Harry? – perguntou ela, secando uma lágrima.

- Eu... Sei lá! Acho que sim, não sei...

Com um pequeno sorriso nos lábios, Tracy abraçou seu alvo.

- Prometa-me, Harry, que não irá atrás de Ron a não ser para pedir desculpas a ele. – disse ela, ainda abraçada ao garoto, temendo que aquela história fosse tão longe que se tornasse incontrolável.

- Está bem. – respondeu Harry, visivelmente contrariado.

Naquele momento uma garota de cabelos ruivos apareceu na ponta do corredor.

- Desculpe interrompê-los no que quer que estejam fazendo... – disse Gina com um sorriso no rosto, apesar de trazer nele uma expressão muito triste. – Mas fiquei preocupada e resolvi vir atrás de vocês para ver se estava tudo bem.

Tracy e Harry se soltaram do abraço e a garota disse:

- Já resolvi tudo, Gina. Não há mais problemas, pode ficar tranqüila.

~*~*~


Farway,

Preciso urgentemente conversar com você. Sei que hoje nenhuma das suas aulas é livre e que vai ter uma tarde cheia. Mas é importante! É urgente! O que você tem no terceiro tempo à tarde?

Responda rápido!

Tracy Mignonette.

Tracy escreveu essas palavras numa folha de pergaminho branco e endereçou-as à Jessica Farway, eram sete e meia da manhã. Olhava angustiada para lados da Sala Comunal, esperando Harry e Hermione. Ron havia acordado extremamente cedo e já descera para o café da manhã com Dino e Simas.

- Harry! – chamou Tracy ao avistar o garoto. – Eu poderia, por favor, pegar a Edwiges emprestada? É que eu preciso urgentemente mandar uma carta para a Farway, coisa rápida.

- Claro, pode pegar. – disse Harry bocejando.

- Obrigada. Hermione, vem comigo até o Corujal?

- Tudo bem. – respondeu Mione.

As duas garotas subiram rápida e silenciosamente as escadas que levavam até o Corujal, quando Mione pensativa resolveu fazer uma pergunta.

- Han... Tracy?

- Diga. – respondeu a garota.

- O que há entre... Entre você e o Harry? – disse ela mais rápido do que o normal. - Só responda se quiser, é claro. – adiantou-se ela a falar.

Tracy riu estrondosamente da pergunta que fora feita. Haviam chegado ao Corujal naquele momento.

- Somos só amigos, Hermione. Por quê? – perguntou Tracy ainda sorrindo.

Mione corou de leve.

- Não, não é nada comigo, é que...

- Ah, Mione. Não precisa esconder nada de mim. – disse Tracy prendendo a carta na pata de Edwiges.

- Não, sério, não tem nada a ver. – concluiu Mione.

- Sei... – falou Tracy sarcástica enquanto olhava Edwiges voar para o outro lado do castelo.

- Está bem, eu vou contar. Sei que dá para confiar em você. – Hermione definitivamente não sabia com quem estava falando. – Quem pediu para eu perguntar o que havia entre você e o Harry foi a Gina.

Tracy parou no meio da escada, chocada.

- A Gina gosta do Harry? – perguntou ela rapidamente.

- Fazem seis anos.

Se Tracy tinha escancarado a boca antes, nem se comparava a agora.

- Eu não acredito... Nunca a vi demonstrar isso!

- Ela parou de fazer demonstrações há algum tempo. Meio que... Desistiu. – explicou Hermione.

- Mas ainda gosta dele. – falou Tracy.

- Pois é.

Quando as garotas chegaram ao Salão Principal, Edwiges já estava lá, esperando por elas.

- Eu adoro essa coruja! – comentou Tracy enquanto desdobrava a carta que ela trazia amarrada à pata direita.

Tracy,

O que é tão urgente? Fala logo, me deixou curiosa! Eu tenho Herbologia no terceiro tempo, mas por quê?

Farway

Por causa de todo o desespero da amiga Tracy respondeu e enviou a carta no mesmo instante.

Farway,

Falte a Herbologia e me encontre na frente da estátua da bruxa de um olho só, no terceiro tempo. Vamos conversar naquela passagem que dá para Hogsmeade, em Hogwarts as paredes tem ouvidos. Até logo,

Tracy Mignonette.

Naquela Quinta-feira, Grifinória e Sonserina não tinham nenhuma aula juntos, mas o terceiro tempo da Grifinória era livre.

As aulas decorreram-se calmamente, apesar dos professores estarem cada vez mais atentos aos movimentos de Tracy. A garota desconfiou que Dumbledore havia espalhado para todos eles quem realmente era ela. E isso não era bom.

Depois da aula de feitiços, Lia se juntou a ela e a Hermione.

- Oi, Lia! Tudo bem? – cumprimentou-a Hermione.

- Oi, tudo e com vocês?

- Também. – responderam as garotas em uníssono, o que as fez rir.

- Bom, amigas... Eu vou ali em cima ver uns negócios, está bem? A gente se encontra na próxima aula, Mione. Até mais, Lia.

- Até!

Tracy caminhou lentamente até a primeira curva do corredor e depois, fora das vistas das amigas saiu correndo até onde se encontrava a estátua da bruxa de um olho só.

- Ah, oi Farway! Vamos, nós não temos muito tempo, só uma aula.

- Oi! Ok, então.

Farway virou-se para a estátua e murmurou “Dissendium”. Abriu-se a passagem secreta e as garotas entraram.

- Está tudo bem? – perguntou Jessica.

- Não! Nada está bom, tudo está péssimo! – respondeu Tracy de mau-humor.

- Uh, calma aí! As coisas ainda podem estar piores?

Tracy parou abruptamente e murmurou:

- Engraçadinha.

- Desculpa aí! Prometo falar sério agora. O que aconteceu?

- Coisas horríveis.

Jessica fez cara de preocupada.

- Quais?

- Como se não bastasse o Dumbledore saber de praticamente todo o meu plano e do Lorde das Trevas, várias pessoas na escola estão desconfiadas de mim. Eu nunca estive tão preocupada, estou falando sério!

Farway ficou calada durante alguns instantes e depois falou, com a voz fraca:

- É, eu... Ouvi algumas coisas. Se depender da imaginação de certas pessoas você estará realmente encrencada, Evans.

- Não me chame de Evans. – murmurou Tracy, sem expressão nem tom, automaticamente. – Mas não é isso que me preocupa, de jeito nenhum.

- É o Dumbledore, não é? – perguntou Farway, piedosa.

- Também não. – respondeu Tracy convicta, mas caiu no choro logo depois.

- O que é, então? – indagou a garota novamente, tentando manter suas emoções estáveis.

- Estou com medo, muito medo. O que o Lorde das Trevas irá dizer quando souber que Dumbledore está a par de todo o nosso plano? – aí a garota desesperou-se e começou a guinchar ao invés de falar. – O que ele dirá quando eu lhe contar que Dumbledore sabe que eu sou Evans Riddle e que estou possuindo a Mignonette? O que ele achará desse velho maldito do Dumbledore saber que nós nos comunicamos através de um Espelho de Duas Faces?

- Calma! – gritou Farway, exasperada e inquieta. – Você é filha dele, ele não irá fazer nada contra você!

- Meu pai não é como o seu, Jessica! Ele não me perdoará nunca, será que você não entende? Ele vai me matar! Vai me matar... Vai... Eu sei que vai.

- Evans, pelo amor de Merlim! Se há alguém que leva esse plano de Voldemort adiante é você! Ou você acha que ele seria capaz de se transformar em outra pessoa para enganar alguém? Se sujeitar a viver a vida de outra pessoa para ajudar o pai? Se você desistir disso hoje, Evans, não haverá ninguém para te substituir!

- Eu sei! Mas o Lorde das Trevas não entende essas coisas, ele não tem piedade de ninguém! – disse Tracy, era a primeira vez que ignorava ser chamada de “Evans”. – Ele não perdoa falhas!

As duas garotas ficaram em silêncio por alguns instantes e depois Tracy continuou:

- Sabe, às vezes eu penso que nada mais sou do que um instrumento de meus medos.
Farway ficou em silêncio, pensativa.

- Nada nunca deu certo para mim. – falou Tracy, com lágrimas escorrendo pelo rosto, mas calma. – Desde que surgi a única coisa que faço é obedecer ordens de um homem que se diz o melhor bruxo do mundo! Alguém que eu gostaria tanto de chamar de pai com convicção, e não apenas saber que é meu pai. Alguém sem coração, de sentimentos frios, ou melhor, sem sentimentos.

Tracy levantou-se e não conseguiu se conter, caiu no choro novamente, de costas para a amiga.

- Quando é que as coisas darão certo?! – gritou. – Quando é que eu vou poder agir por conta própria, sem me preocupar com o que me espera?! Quando, Farway, quando?!

Farway levantou-se também, começando a ficar preocupada com a exasperação de Tracy.

- Tudo dará certo. – Farway tentou animá-la.

Tracy virou-se vorazmente para encarar a garota.

- Tudo dará certo?! Tudo dará certo?! – berrou. – Jessica, isso não é um conto de fadas! Por mais que você insista em viver fora desse planeta você ainda faz parte dele! Eu não sou uma princesa, não existe um príncipe encantado me esperando e eu não serei feliz para sempre!

Ela tirou um frasco de poção do bolso e atacou-o contra a parede, gritando. Farway só torcia para que ninguém escutasse aqueles gritos e viesse ao encontro das duas.

- Seja forte, Evans! Seja você, resista a isso se lhe incomoda tanto! – gritou Farway.

- Eu não consigo. é impossível. – ela se jogou de borco no chão.

- Você ao menos tentou? – perguntou Farway, se aproximando da amiga, querendo ajudá-la.

- Prefiro não tentar.

Elas ficaram alguns minutos assim, naquele clima angustiante. Logo, Farway perguntou:

- Você já tem alguma idéia quanto a quem contou todo o plano ao Dumbledore?

- O pior é que não. – respondeu Tracy, aborrecida, com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. – Mas eu acho que foi alguém próximo a nós, sabe, os Comensais. Por que, se não fosse, como saberia contar ao Dumbledore tantos detalhes?

- Mas... – Farway ponderou. - Quem seria tão infiel?

- É o que eu não demorarei a descobrir.

~*~*~


Tracy jogou-se em cima da sua poltrona preferida, na Sala Comunal. Observou Harry, Hermione e um extremamente relutante Ron fazer o mesmo.

- Finalmente chegou o fim de semana, eu não agüentava mais. – falou Tracy, tentando fazer Ron e Harry interagirem novamente.

- Sinceramente? Tenho que concordar. – admitiu Hermione. – Estudar está sendo muito cansativo.

- Aconteceu um milagre. – falou Harry, exaltando um pouco a voz. – Hermione dizer que estudar é cansativo, é, e só pode ser, um milagre!

Todos riram.

- E ainda tem um trabalho de Poções para entregar segunda-feira. – resmungou Harry.

- Como se não bastasse, ainda teremos que ver a cara daquele crápula do Snape. – falou Hermione.

Neste momento Tracy percebeu o motivo dos comentários de Hermione. Ela havia entendido tudo que havia ocorrido entre ele, Harry e Tracy e queria reaproximar a todos.

- Falando em Snape... – disse Tracy. – Ele anda muito estranho ultimamente, não é?

- Ah, sim. – concordou Harry, ficando sério. – Muito quieto, e parece estar mais nervoso do que antes.

- O que será que ele está aprontando? – indagou Tracy. – Se vocês que já tem aulas com ele há mais de cinco anos também estão o achando muito estranho, provavelmente é por que ele está mesmo.

- Seria legal descobrir o que é que aconteceu. – falou Ron, um pouco baixo.

- Seria muito legal mesmo. – concordou Harry. – Nós poderíamos fazer alguma coisa, não é?

As garotas se entreolharam.

- No que é que você está pensando, Harry? – indagou Hermione.

- Em... Sei lá, em revistar a sala dele. Segui-lo, talvez.

- Você não está indo longe demais? Só por que ele está estranho? – Hermione ponderou. – Nós não podemos nos arriscar desta maneira.

- Não é arriscado, Mione. – falou Tracy, um antigo brilho tomando os olhos. – Vai ser divertido, se tivermos um pouco de cautela.

- Harry e Ron não são nem um pouco cautelosos. – falou a garota. – Eles vão se afobar com essa idéia.

- Ora, achei que você confiasse na gente, Hermione. - disse Harry.

- Eu confio, só acho isso arriscado e inútil demais.

Eles ficaram em silêncio por alguns instantes.

- Ok, nós esquecemos essa idéia. – murmurou Harry, contrariado. – Vou subir pro meu dormitório.

- Não, Harry! Espera. – falou Ron.

Harry parou e observou o amigo.

- Que foi?

- Eu... – ele começou. – Eu queria que você me desculpasse pelo que aconteceu. Eu não sei o que deu em mim, não sei o que me fez agir daquela maneira.

Harry baixou os olhos.

- Desculpa-me? – perguntou Ron.

- Claro. – respondeu o garoto, levantando a cabeça. – Eu nem fiquei magoado.

Ron sorriu e foi até o encontro de Harry, onde os dois se abraçaram.

N/A.: E então, gostaram? Espero que sim. Talvez a briga de Harry e Ron tenha ficado meio confusa, mas tem uma explicação para isso. Um pedaço deste capítulo foi escrito há mais de um ano atrás, e minha idéia era fazer algo entre Tracy e Harry. Porém, o tempo foi passando e eu acabei achando que ficaria muito idiota fazer isso neste ponto da história. Então tive que pensar em alguma coisa, e aquela declaração aberta da Tracy foi a única que consegui...

Bem, já deu para perceber também que a grande maioria das pessoas estão desconfiadas e que a história da herdeira já está meio espalhada por Hogwarts. Eu não podia simplesmente deixar todos parecem ignorantes, não percebendo nada. Optei por colocar um pouco de persuasão a mais na Tracy. Mas, como o título do capítulo mesmo diz, a maioria das pessoas está desconfiada e nossa protagonista, com medo.

Muitíssimo obrigada por todos os comentários, fiquei muito feliz! Continuem fazendo isso, okay? E, para postar o próximo capítulo, cujo título é Descoberta Decisiva, quero míseros seiscentos e sessenta comentários. Vão deixar para mim, não é? *__*

Até mais, Manu Riddle.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.