Emoção demasiada
Era tarde da noite quando os garotos finalmente encontraram uma oportunidade para se reagruparem. Rabicho, sentado em sua cama, fuçava o Mapa do Maroto com uma curiosidade de chereta, sempre espichando-se para ler alguns nomes que lhe interessavam. O passa tempo ia acompanhado de uma pacote de rosquinhas de chocolate, que ele mordia com entusiasmo por sobre o pergaminho.
Tiago redesenhava algumas táticas de quadribol para os últimos jogos da temporada, a escrivaninha forrada por papéis, os óculos deslizando no nariz, a testa franzida, os dentes de vez em sempre se encontrando nos lábios com uma ferocidade sangrenta e ansiosa...
Remo estava no carpete debruçado sobre alguns livros e lições de casa, no entanto,não parecia conseguir se concentrar para coisa alguma. Seu olhar castanho perdia-se no nada, um sorisinho tolo ocupava seus lábios enquanto,sem notar, a mão do rapaz riscava alguma coisa nos pergaminhos destinados para a redação que deveria fazer. Suspirava de vez em quando, a atenção no espaço, a cabeça nas nuvens...e o cotovelo no tinteiro ao lado.
Sirius estava próximo à janela aberta, sem camisa, fumando descontroladamente. Era o único ali que parecia um tanto irrequieto, sempre abrindo a boca para falar alguma coisa para,no instante seguinte, calar-se com o fumo bruxo. Seus olhos penetrantes vasculhavam o dormitório numa ânsia de louco, agitados como ele. Por fim, após uma boa meia hora de silêncio total, o animago conseguiu arranjar algo para tirar todos os outros daquela abstinência:
-Rabicho,seu paquiderme, você está jogando todos seus farelos nojentos em cima do nosso Mapa!
-Num fô naum!-grunhiu o gordinho, a boca cheia de rosquinhas. Sirius fez uma careta para ele. Pedro engoliu seu lanche para dizer, todo animado-Olha só, o Lucio bichola e o Seboso napão estão sozinhos na torre sul!
- E daí?!- proferiu Sirius, jogando o cigarro pela janela e apoiando os cotovelos no parapeito, a fim de virar-se para o amigo.
-A gente bem que podia ir lá...sabe, só pra dar uma espiada na conversa deles...- continuou Pettigrew,misterioso. Sirius soltou uma gargalhada seca:
-Que coisa mais sem graça; espiar um casal de gays se comendo no escurinho!Vai lá você então, que não tem mais nada pra fazer da vida!
Pedro fechou a cara, espanou alguns farelos de bolacha para longe e voltou a se debruçar sobre o Mapa delator, murmurando “Aposto que brigou com a namorada, por isso está duas vezes mais chato!”.
-O que disse?-bramiu Sirius, aproximando-se do bolotinha. Pedro estremeceu, a voz saiu mais fraca:
-É que você voltou muito estressado lá de Hogsmead,e...
-É verdade Almofadinhas!-cortou Tiago antes que Sirius conseguisse se irritar de verdade com o pobre, obeso e dentudo Pedrinho.- Como foi passar o Dia dos Namorados com uma namorada de verdade?
Sirius voltou um olhar zangado para o melhor amigo. Sentou-se na cama, ao lado de um apavorado Rabicho e, ao em vez de responder, decidiu replicar:
- E como foi finalmente passar o dia dos namorados com a musa Lílian Evans? Pensei que esse dia nunca chegaria...quem diria,hein Pontas?Já está virando um homenzinho...
Tiago corou até a raiz dos cabelos negros, jogou pena e táticas para longe e preparou sua defensiva:
-Eu vi um outro cara passeando com a “santa” Adams lá no 3 Vassouras!
-Não adianta apelar Tiago, os chifres do grupo pertencem a você, não a mim!- reedarguiu Sirius, tentando com todas as forças de seu ser controlar o ciúme,raiva e mágoa ressuscitados com o assunto.- Aquele era só o primo idiota dela.
-Se já chamou ele de “idiota” quer dizer que algo aconteceu!-alfinetou Tiago, triunfante. Sirius mirava-o num silêncio temeroso. Pedro divertia-se com a conversa.Remo continuava ausente feito um abajur.- Pode dizer Almofadinhas, estamos aqui pra isso!
Sirius não queria admitir sua embaraçosa situação, não para Tiago,não na frente do estúpido Pedro...seu orgulho era dez vezes maior do que sua humildade, além de trinta vezes mair poderoso do que sua vontade de ser ajudado.Além disso, Elizabeth já tinha feito sua imagem de garanhão decair o suficiente; não seria preciso adicionar a isso um primo distante,íntimo e amado. Droga, amado demais!
-Eu acho que devíamos enfernizar o Aluado.- contornou Sirius, espertamente.- Ele fica aí, viajando na maionese, e ninguém pergunta nada pro infeliz!
Todos voltaram os olhares para Remo, que de infeliz não tinha nada. Pelo assombroso contrário!
-Hei Aluado, como foi o passeio com a Sylvia?-questionou Tiago, sentando-se no chão ao lado do monitor. Lupin enfim ergueu os olhos para ele, desnorteado:
-Perdão, disse alguma coisa?
Os outros três gargalharam. Remo ficou confuso,olhando ao redor como se tivesse acabado de acordar de um sono de cem anos.
-Vai nos contar o que te deixou retardado desse jeito ou não?- pressionou Sirius, também sentando-se no carpete, descuidado. Remo protejeu alguns livros dos sapatos do amigo antes de dar de ombros:
-Ah, nada de importante.
-O que é isso?!- guinchou Pedro, apontando num sobressalto alguma coisa cintilante no dedo do companheiro. Lupin sorriu levemente,tentando esconder o objeto:
-Ahn,nada demais...
Mas nada, nem mesmo “nada demais”, passava em branco para Almofadinhas e Pontas. Com uma troca de olharzinho maldoso, a dupla voou para cima do maroto, que lutou bravamente para manter seu segredo, o que foi inútil. Os três rolaram pelo quarto em meio à gargalhadas,feito um bando de cachorros brincando de morder. A luta teve fim apenas quando Sirius conseguiu imobilizar Aluado,permitindo assim que Tiago roubasse o objeto atraente em seu dedo.
E foi com uma exclamação de surpresa,choque e um traço de pavor que o rapaz questionou,admirado:
-Isso aqui é...é uma aliança?!
-Uma O QUE?!- urrou Sirius, largando os braços de Remo para saltar para o lado de Tiago. Comprimindo os olhos, ele inspeccionou a jóia. Rabicho parecia embasbacado demais para dizer ou fazer qualquer coisa.Lupin,ainda no chão,aguardava pacientemente que o show pirotécnico de surpresa e choque apresentado pelos marotos terminasse.
-Você só pode estar brincando!- grasnou Tiago, lançando seu olhar pasmado de Sirius para Remo e deste para o anel, em busca de maiores explicações.
-Leia isso Pontas; tem um “C” e um “R” aqui dentro!-observou o jovem Black, girando a jóia entre os dedos.
-Peraí, “Sylvia” se escreve com “C”?
-É Cynthia, Tiago!-explodiu Remo,divertido. Os amigos não puderam impedir que ele recuperasse a aliança,continuando- E...sim...é exatamente o que você estão pensando.
Tanto o rapaz de óculos quanto o de olhos cinzentos empaldideceram feito moscas mortas, perderam as forças nos joelhos e caíram sentados na cama de Rabicho, que não se conteve:
-Mas eu não to pensando nada! O que diabos ta acontecendo?!
Dessa vez ninguém respondeu,para desespero do desligado ratinho. Remo recolocava a aliança com um carinho excepcional, Tiago parecia desmaiado, no entanto,mantinha os olhos abertos...e Sirius, bem,Sirius entrara em tranze,desfalecera, pois sua alma, que não agüentou o choque, parecia ter ido dar uma voltinha na Terra do Nunca...para talvez não voltar mais.
-Hum...vocês estão...contentes por mim?-perguntou Remo,timidamente. Seus companheiros,agora definitivos zumbis, viraram as cabeças para ele paulatinamente, ainda atingidos com o peso da notícia.
-O que houve?!- continuava Rabicho, saltidando de um lado para o outro em sua busca infindável por respostas.
Mas Lupin apenas suspirou, voltou a deitar ao lado de seus materiais e disse,num murmúrio:
-Você vai saber logo,Pedrinho...volte a brincar com seu mapa,sim?
A goles surgiu chamuscando no ar feito um cometa cujo rabo de fogo carimbava o trajeto percorrido. Sirius voou agilmente na direção da bola (tremendamente lançada por Rodolfo Lestrange), mas foi impedido de alcançá-la quando Avery atirou com brutalidade um balaço em sua direção.
“Oh, o goleiro de Grifinória foi atingido!”- urrou o corvinal chamado Chang, um simpático chinês, narrador dos jogos- “Dez pontos para Sonserina!”.
Ouve-se uma explosão de vaias misturadas a aplausos. Tiago, furioso, plana na direção do amigo,que sentou-se em uma das balizas para retomar algum tipo vesgo de fôlego:
-SIRIUS!!! Eles estão ganhando e você fica aí olhando os passarinhos!Já perdeu um gol, agora se mexa antes que eu decida te trocar pelo reserva!
-FAÇA ISSO ENTÃO!-gritou o outro em resposta, abandonando a massagem no peito para voltar aos ares.
-Black, Potter, seus idiotas!Parem de brigar; a bola já voltou pro campo!- exclamou Alice com voracidade para a dupla.
-E onde você estava pra impedir esse balaço de estourar meu fígado?!- cuspiu Sirius ferozmente antes de zunir para longe da garota.
Antes mesmo que a batedora pudesse responder ou voltar para sua posição de jogo, um segundo balaço passou zarpando muito próximo a ela, indo aterrisar, de raspão, mais uma vez no braço de Sirius.
A única moça do time não pôde conter um sorriso irônico que cresceu em seus lábios, voltando agora para a concentração do jogo, enquanto Sirius, agora mutilado, cambaleava por entre as balizas.
Nas arquibancadas, a população vermelho e dourada estava tensa. Poucos falavam , a maioria prestava atenção em cada passe dos jogadores de seu time, enquanto outros soltavam apenas pequenas exclamaçãoes irritadiças.
-Meu Deus, Katherine!Seu irmão está péssimo!Num dá uma dentro...- murmurou Stephanie, nervosa.
A negrinha virou para a amiga olhos incrédulos:
-Cala a boca, Sté!Eu acho que o Silvester nem sabe se está jogando ou dormindo!
-Dããã...ele não dorme assim, ele ronca!- completou estupidamente a moça de cabelos castanhos, buscando qualquer resposta para desvencilhar o irmão do aperto.
-O time não está em uma boa harmonia hoje, né amor?- sussurou Cynthia para Remo, compenetrada em cada lance, apertando as mãos do noivo, tensa.
As “amigas” da moça viraram os olhos para o casal, entediadas.
Sem se conter mais um segundo, a jovem Patil seguiu observando com desdém, falando de modo que os próximos pudessem ouvir:
-Acho que a doença é contagiosa...mal noivaram e a pobrezinha também já está branca como papel... ela deve estar imaginando a fome que vai passar quando eles se casarem ou então as jóias que ela vai ter que vender para poder almoçar nos Natais...por isso desde já ela empalideceu...
Alguns grifinórios,poucos, se deram somente ao trabalho de lançar à garota uma significativa expressão de paisagem, como alguém que quer deixar explícito o quão sem importância era o desconjuntado comentário. Remo,mais uma vez, ignorou a moça com aquela sua incrível capacidade de esconder o que realmente pensava ou sentia.
Mas as rixas entre os alunos, subtamente, foram interrompidas:
“O QUE É ISSO MINHA GENTE?!-sobressaltou-se a voz reboante do narrador- FALTA! FALTA ASSOMBROSA!”
E foi com indignação, outros com comicidade, que todos se viraram para o campo, onde Goyle havia abandonado sua vassoura para saltar de carona na de Frank Longbottom, arrancando-lhe o bastão das mãos e (pasmem!) usando-o para rebater sua cabeça. O jogador atacado perdeu não somente sua lucidez mas também seu acento: deslizou para um canto em meio aos gritos de Alice e, feito um pacote, despencou na direção do solo.
A jovem, o mais rápido que pôde, virou sua própria vassoura em direção ao ferido, fazendo muito esforço para alcançá-lo antes que este chegasse ao chão. Em meio caminho, no entanto, já notando que seria fracassada em sua tentativa, sacou agilmente a varinha do bolso das vestes murmurando algo que fizesse o corpo do namorado paralisar no ar e, em seguida, pousar delicadamente no solo gramado.
Diante daquele show de horrores, numa explosão de fúria, Tiago zuniu até o juiz, esbravejando ameaças e insultos. O apitou soou forte; Goyle foi expulso sem mais delongas, enquanto o capitão de Grifinória, graças à demasiada euforia (que beirava ao desrespeito), foi advertido com um cartão.
Mas agora era tarde. A revolta atingira a todos, e o jogo esquentou. “Agora a goles está na posse de Mundungos Fletcher, que foi habilmente defendido por uma feroz Alice!Calma moça, seu namorado vai ficar bem!”
-Que jogo violento...- grunhia Courtney ao pé do ouvido de Lílian, os olhinhos cavados arranjando uma maneira de se esbugalharem.A ruivinha,por sua vez, encontrava-se erguida, pulsos cerrados, gritando uma série de recomendações a Tiago- que nunca as ouviria . A ação continuava:
“Ele se aproxima, trabalha na direita com Kevin...oh, que bela defesa de Sonserina!”.
Tiago rilhava os dentes. De sua posição mais elevada, analisava os movimentos dos jogadores com uma metódica atenção, e ali teria se perdido em suas filosofias e táticas se não fosse o grito de seu amigo, que se balançava diante das balizas:
-PONTAS, PARA DE SONHAR! OLHE ATRÁS DE VOCÊ!!
Ele obedeceu, e foi com uma profunda e inexplicável emoção que se deparou com a bolinha mais importante da partida. Sentiu ganas de saltar para ela, mas era inteligente, não queria chamar a atenção do apanhador adversário, que não tirava os olhos dele (já que não conseguia se virar na busca por conta própia).
Mas o momento apropriado surgiu logo em seguida, quando os três artilheiros de Grifinória, perseguidos pelos de Sonserina, atravessaram velozmente o espaço entre os apanhadores, interrompendo o contato visual. Quando o sonserino se deu conta, Tiago havia desaparecido.
Tantos lances aconteciam simultaneamente que demorou uns bons minutos para que as pessoas, e inclusive o comentarista, se dessem conta do jogo individual de Tiago com o Pomo de ouro.Na arquibancada, por exemplo, somente Pedro (que acompanhava os movimentos do maroto religiosamente com potentes binóculos) percebeu o importante acontecimento:
-Aluado, o Pontas já está perseguindo o pomo!!-guinchou ele, sacudindo a mão livre do amigo (o outro braço era de Cynthia).
-Finalmente!!
Lily imediatamente urrou um “Ahnnneeuu” sem sentido, aos ares, segurando com força a bandeira dourada e vermelho em sua mão, quase com lágrimas nos olhos.
Berta virou-se para ver se a reação do público de sua casa era boa ou ruim ao acontecimento, para depois poder, agora com confiança, soltar um gritinho tímido.
Stéphanie e Katherine começaram um coro animado de “Tiii- lindinho- pega o pominho!” enquanto Cynthia subiu na cadeira, segurando os cabelos, em gritos histéricos e desvairados, sendo acompanhada por todos os colegas de casa. A onda de pungente emoção se propagou pelo estádio de tal maneira, que a própria torcida da serpente logo ficou a par da iminente derrota. Imediatamente, uma enxurrada de ordens, berros e conselhos desgovernados foram atirados para cima do apanhador das cobras , que, confuso, não conseguia captar nenhum.
“MAS OLHEM SÓ QUE GESTO ABSURDO! Vejam com que agilidade o apanhador do Leões se move pelos ares!”- espantou-se Chang, só então atento no animago.- “POTTER ESTÁ NO RASTRO DO POMO!”.
“Não diga!” pensou Lupin, revirando os olhos em seu acento.Ao seu lado,Pettigrew transpirava.
“E Rockey parte em disparada para disputar a posse com Potter, que já vai longe, que faz uma cambalhota...oh, balaço! Que desvio impressionante, deve ter arrancado tinta da vassoura!”.
Muito mais do que tinta da vassoura, no entanto, a manobra de Tiago causou uma desconfortável reviravolta em seu estômago, que protestou veemente. Insano em sua busca, no entanto, o rapaz tornara-se insensível a tudo...sua meta era agarrar aquele par frenético de asas que trepidavam diante dele.
“E o time inteiro de Sonserina larga seus postos para pular sobre a vassoura de Potter, mas este é muito rápido, eu mal consigo enxergá-lo!”.
E era a mais pura verdade. Para toda a platéia, o moço não se passava de uma mancha vermelha que se transportava com perspicácia por todos os cantos do campo, sempre na cola da bolinha. Esta, no entanto, tentou sua última e desesperada manobra...
Para desespero de todos, que já haviam visto muitos apanhadores se estabanarem em momentos como aquele, o pomo dourado atirou-se para a terra, totalmente entregue às forças da gravidade, na vertical, sempre caindo, cintilando à luz do sol. No final do trajeto, caso seu perseguidor não brecasse um segundo antes, o chão iria encontrá-lo com uma fatal solidez. Era um ato suicida, mas Tiago simplesmente cerrou as sobrancelhas... e atirou-se corajosamente em busca de seu destino, cumprindo o dever de salvar Grifinória.
Remo tapou os olhos de Cynthia e de Lílian, crente de que aquele era o fim do corpo solene e intacto do amigo, que se tivesse muita sorte, se transformaria em cacos. As meninas, no entanto, desvencilhiaram-se urgentemente do monitor, tomando posições mais vantajosas e compenetrando-se na ação.
Tiago começou a despencar feito um piano em queda livre, aproximando-se da bolinha, um dos braços esticados, o outro agarrado com ferocidade na vassoura para impedir que seu corpo esguio pendesse para fora. Manter-se em vertical,nos ares, era extremamente difícil...
O chão estava cada vez mais próximo...em questão de segundos o maroto colidiria com terra firme...
Por o que pareceu um minuto, todos em todas as arquibancadas emudeceram. Até mesmo o vento pareceu parar de soprar. Sirius prendeu a respiração...
Mas o turbo humano não colidiu com coisa alguma, muito pelo contrário, ele espantosamente mudou sua direção, ficando na paralela com o solo, ainda em altíssima velozidade, distante,quase invisível para quem estava nas alturas...
O narrador espichou-se, querendo enxergar com clareza. Para se fazer entender, no entanto, Pontas disparou para cima, sempre na direção da torre principal, onde Chang e seu microfone mágico se encontravam. Todos viram quando o rapaz desceu da vassoura, agarrou o auto falante e gritou,rouco de cansaço:
-CHUPAAAA!!!! ESSA É PRA VOCÊ LILY!!!-em suas mãos erguidas, uma bolinha dourada debatia-se freneticamente.
Como se um furacão tivesse acabado de passar por ali, imediatamente, uivos de alegria e gritos desesperados cortaram todo o estádio.
Os guinchos de desapontamento foram completamente abafados por uma onda de euforia que tomara conta de todo o ambiente. Enquanto muitos torcedores grifinórios deixavam as arquibancadas, invadindo o campo, uniam-se aos jogadores em uma massa gloriosa de vermelho e dourado, sonserinos lamentavam-se,socavam-se, chutavam qualquer criança que passasse por perto.
Mas era o saboroso gostinho da vitória que pairava no ar, no rosto triunfante de cada torcedor e até mesmo professor, especialmente no de Minerva, que debulhava-se em lágrimas emocionadas.
Uma chuva de confetes e pequenos foguetes foram soltos de repente, alunos entoavam hinos de lealdade e vitória, bandeiras se partiam ao meio tamanha era a euforia de seus donos, que as chacoalhavam por cima de diversas cabeças...
A taça era deles!Estava acabado!
Lílian voou em direção ao campo, descabelada, vermelha, com um sorriso que ia de orelha a orelha, o velho uniforme de quadribol de Tiago, que a moça pedira emprestado, folgado em vários pontos, a acompanhava em uma busca frenética por seu vencedor.
Por um instante de ilusão, afinal, a ruivinha pensou ter o encontrado,pois um par de braços a saldou retirando-a da muvuca:
-Evans!!!Ganhamos, cara!!!-bradava Sirius, que a abraçava calorosamente, visivelmente espantado com aquele vibrante final.-Você viu só como seu moleque humilha?!Eu adoro aquele cara!!!Vamos atrás dele!!-e, antes de ir, a abraçava e soltava de novo, indeciso.
Alice,por sua vez, abraçou-se radiante aos mais próximos para em seguida correr rapidamente para o castelo, em direção a enfermaria e ao seu Frank.
Os jogadores (inclusive os reservas) eram erguidos pela mutidão eufórica, prestigiados como heróis! Fãs declaradas de Sirius aproveitavam-se da situação para dar no rapaz abraços e beijos escandalosos de congratulações, que ele retribuía com gosto; nas arquibancas, Katherine e Stéphanie abraçavam-se a um grupinho de garotas insuportáveis, com seus gritinhos agudos de “Ele estava perfeitoo!” e “Deixa aquela Evans soltar dele...vocês vão ver só, vou dar um beijão!!” entre outras coisas mais.
Berta e Courtney faziam grandes esforços para se espremerem entre a multidão e chegar ao campo, o que se tornara uma tarefa complicada já que todos os grifinórios pretendiam o mesmo, sem contar os torcedores das outras casas que, em grandes grupos, partiam calmamente de volta ao castelo.
Cynthia, que permanecera até agora em pé sobre sua cadeira, com ambas as mãos na cabeça, inexplicavelmente, de repente, desabou.
Perdeu completamente os sentidos, a pouca cor que lhe restava nas faces e também muito de sua temperatura, desfalecendo molemente nos braços do namorado.
Atônito, Remo ajoelhou-se com a moça, o que foi um ato suicida diante dos milhares de pés que trotavam na direção contrária, chutando-os como a um irritante empecilho. Muitos desviavam,outros sequer davam-lhes importância...
E,em meio à balburdia infinita, o monitor gritava no ouvido inconsciente da garota (aparentemente sem vida) que tinha largada em seu colo:
-Cynty, o que aconteceu?!Tá me ouvindo?!-mas sua voz angustiada não passava de um abafado chamado, apagado pela festa extrema.
Sirius foi arrastado para longe de Lily, tomando um banho de cerveja amanteigada que alguém chacoalhara para fora da garrafa. O fluxo de jovens se deslocava para o castelo ao som da voz reboante de Dumbledore, que anunciava:
“E a taça da Copa é de Grifinória, sendo que, este ano, faremos uma menção honrosa ao nosso destaque do ano!”.
-Foda-se a menção honrosa, eu quero é a minha Lily!!- sussurrou uma voz fervorosa ao ouvido da jovem, que finalmente encontrara seu maroto e agora abraçava-se a ele e cobria seu rosto de beijos apaixonados, entre sussurros de “Parabéns!”, “Foi maravilhoso!”, “Perfeito, meu neném!”, “Eu te amo!” e por fim, “Vá receber o que é seu, você merece!”.
-Você é mais importante, depois o prêmio!- respondia ele em intervalos, sempre beijando a moça com pungente vontade e frescor. Outros os rodeavam feito urubus, loucos por um pedacinho de Tiago para congratular,chacoalhar, triturar e atirar aos ares. Mas, no momento, o rapaz era inteiramente de Lily.
O gordinho maroto, feito uma bolinha flácida e rosada, pulava à sombra do amigo, sempre guinchando algo sobre “Festa!”, “Medalhão!” e “Salão Comunal!”.
Sirius, erguido por diversos braços, longe de tocar o chão, chamou, apressado:
-Vamos logo sair desse sol! Cadê a Adams, aliás?!
Não houve resposta,assim como não houve sequer uma pausa ou tempo suficiente para que todos se localizassem em meio à baderna, pois o ritual de premiação iniciou-se sem mais delongas: todos os cinco jogadores ali presentes (Frankie, desacordado, estava sendo atentido por Alice, na enfermaria) receberam belas e encantadas medalhas douradas, enquanto rabugentos sonserinos foram presenteados com medalhas “foscas” de segundo lugar.
A coroa mais brilhante, no entanto, estava destinada ao capitão de Grifinória, que foi nomeado “o melhor apanhador de 1970”. Agora, em seu peito estufado de orgulho, cintilava um belo broche dourado.
Quando a pesada taça foi erguida aos ares, diante dos flashes de muitas máquinas fotográficas, Lily recebeu o mais intenso beijo de sua vida, exposta ao público exausto por tanta e descontrolada euforia.
O clima no Salão Comunal era o mesmíssimo abandonado a poucos minutos atrás no estádio de quadribol, retomado agora com a presença de cervejas amanteigadas e uma tremenda festa de bandeiras, fitas decorativas e a taça, imponente, exposta sobre o console da lareira.
Sirius sentiu um cutuque tímido em suas costas, o que o fez virar de imediato.
-Parabéns, queridinho!-exclamou Ligia com os olhos ligeiramente inchados, o rosto emocionado. O rapaz parecia se surpreender a cada dia com a tremenda coragem (ou palermice?) da moça, que mesmo depois das mais diversas humilhações, continuava a bajulá-lo, indiferente.
-Você já tomou aquela poção?!-indagou ele subtamente profundo, grave, mudando o assunto mesmo a contragosto.
A jovem abriu a boca para responder, porem ao olhar em volta notou o numero assustador de meninas que pareciam ter brotado em volta, esperançosas por seus 3 segundos de fama ao lado do maroto.Mas antes também que qualquer uma delas pudesse dizer ou fazer mais alguma coisa patética, o moreno viu-se envolto pelo abraço mais sincero e subito de todos aqueles, acompanhado por pernas que envolviam sua cintura.
-Ganhamos!-a jovem Elizabeth recolheu com as mãozinhas frias o medalhão no pescoço do rapaz selando-o com um beijo radiante.
Caminhando de costas e afastando-se de desapontadas garotas, Sirius manteve a moça escanchada em sua cintura até dar de encontro com um sofá, onde largou-se sentado com ela sobre si. Assim, antes de responder ou lançar-lhe qualquer pergunta, o maroto simplesmente despejou beijos quentes em seu pescoço e lábios, usando uma língua faminta para traduzir desejos e sentimentos. Suas mãos, ainda alojadas nas pernas de Eliza, apertavam-se com vontade contra a pele macia.
-Você viu o jogo?- indagou por fim, duvidoso, sem ar, e profundamente curioso.
-Não, não... não pude ver.-sibilou ela, desviando os olhos frios, enquanto acariciava docemente a nuca do namorado, com as unhas afiadas.-Você se maxucou?-desviou rapidamente.
-Um pouco...- ele deu de ombros, só então se lembrando de que ouvira um estalar de ossos em alguma parte de seu corpo durante o segundo choque de balaço.- Porque? Onde estava?!- teimou, no entanto, os olhos fixos nos dela.
-Eu estava...-Eliza não desviou os olhos, mas muito pelo contrário: preferiu penetrá-los nos dele, como uma legítima mentirosa, certa de que nada poderia ser lido naquele seu cintilante par de mistérios cinzentos -estudando! – A moça em seguida recostou a cabeça e a pesada cabeleira sobre o peito do jovem, meio que deitando-se sobre ele, que foi obrigado a se recostar no encosto do sofá.
Sirius sabia que ela estava mentindo, não graças ao indecifrável olhar,logicamente, mas sim graças à desculpa pouco (ou nada) confiável. Não fazia sentindo algum a moça ter estudado durante a última partida (nem mesmo Remo Lupin o fizera!!), no entanto,ele guardou a indignação para uma outra hora.
Com o leve, mas sensível peso da garota, o goleiro então pôde sentir uma lufada de dor no peito inicialmente atingido, por isso, sem exitar, desabotou o uniforme para depositar a delicada mãozinha de Eliza no ponto que o apertava.
-Aqui foi onde estraçalharam meu pulmão quando a senhorita não estava olhando!
-Coitadinho...-suspirou ela, passando os dedos pelo local, em seguida abaixando-se para depositar ali um segundo beijinho.Voltando-se para o rosto de Sirius, perguntou, com as sobrancelhas erguidas, expressão especulativa-Será que eu peguei a baba de alguém?Eu não estava lá pra te vigiar...e se tratantando desse meu Black e das meninas de Hogwarts...
-Falou bem Estrelinha; eu sou o seu Black...- e Sirius, com uma piscadela, se inclinou para ela. Ao deitá-la no macio acento aveludado,ele inclusive despejou os longos cavelos negros da namorada por todo a área ao seu redor].
Com os braços posicionados de cada lado do corpinho esguio, Sirius deitou seu cheiro quente e morno sobre ela, mordicando-lhe os lábios ao perguntar se ela desejava um outro lugar para ir...
-Não.Está ótimo aqui, e agora vamos comemorar com os outros.-e dando nos lábios de Sirius um ultimo selinho frágil, Elizabeth desvencilhou-se daquele corpo para se juntar à multidão, caminhando daquele jeito que ele bem conhecia, sem nem ao menos olhar para trás ou espera-lo para que pudessem ficar juntos.
Sirius não pôde fazer nada além de aceitar o copo transbordante que lhe meteram nas mãos; era Tiago, já alterado, que trazia consigo uma Lily um tanto descabelada pela mão.Ambos pareciam radiantes:
-Beba até vomitar suas tripas Almofadinhas!
-Beberei...- sentenciou o outro, nervoso, mas energético. Diante deles, a alguns metros, Mundungo Fletcher já despencava feito um trapo pisoteado por álcool pesado, sempre grunhindo palavras sem sentido...
A festa, se estava “de arromba” logo no início, tomou proporções inimagináveis ao raiar da madrugada, quando McGonagal, em sua camisola de seda vermelha, tão rubra e de tom tão vivo quanto seu rosto exaltado,surgiu marchando pelo buraco do retrato.
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