Uma proposta indecente
Cap 04- Uma proposta indecente
“Na Escócia, os membros do Clã MacLaine, do distrito de Lochbuie, evitam a todo custo andar pela estrada da região durante a noite. Eles temem encontrar um dito "cavalo espectral" conduzido por um cavaleiro negro sem cabeça, e ouvir seu tropel de cascos brilhantes e o tinir sinistros de rédeas. Dizem os moradores do local que esse cavaleiro anuncia mortes iminentes.
O nome do cavaleiro é Ewen, que era filho e herdeiro do Chefe do clã MacLaine. Mas a inveja e ódio que sentia pelo pai, fez com que os dois caíssem em desgraça, e resolvessem as diferenças no Campo de Batalha de Lochbuie. Em 1538, os dois exércitos se encontraram e o filho acabou decapitado com um golpe de machado desferido por um dos seguidores de seu pai. Desde então, até hoje, muitas testemunhas afirmam ter visto e/ou ouvido Ewen, sem cabeça, em seu corcel negro, cavalgando para colher as almas dos Campos de Batalha.
Seus grunhidos fantasmagóricos buscam avidamente por uma vítima em quem possa desferir seu golpe de vingança; pois o cavaleiro espectral faz qualquer coisa que esteja em seu alcance para decapitar algum pobre desprevenido. Ele surge entre as névoas da noite,montado em seu corcel da cor do breu, lançando estocadas no ar com sua espada ensangüentada: é a imagem do próprio demônio.”
-Mas e o Jack-O-Lantern? –interrompeu Pedro,balançando-se para frente e para trás,segurando as pernas que cruzara para sentar-se encolhido sobre uma almofada.- Não é a abóbora que o cavaleiro usa no lugar da cabeça?
-É sim,mas eu acho essa parte da história sem graça.- Courtney acabou desviando a luz da lanterna para outra direção quando,cruzando os braços,apontou o objeto para outro lado, pois prendia-o em suas mãos finas. –Quem é que vai se assustar com um cara que tem cabeça de abóbora?Ainda mais uma abóbora sorridente e iluminada?!
-Mas você não pode mudar a história.-criticou Katherine de algum canto á direita da loirinha,que aproveitou a intromissão da negra para avacalhar:
-Desculpe Kath,mas eu não consigo te enxergar nesse breu.- a jovem Brown, ao ouvir o comentário ultrajante,sentiu o rosto queimar.- Sua pele se fundiu com o escuro,mas é só você mostrar sua dentadura que eu te localizo,e só então poderemos manter uma conversa...
-E você seu fantasma?!Se já era assustador olhar pra sua cara transparente antes,tente imaginar o que é ter de te olhar com essa lanterna iluminando seu rosto descarnado...- a insultada garota chegou a se erguer junto com seu tom de voz,que ia tornando-se ameaçador. Courtney passou o feixe de luz que tinha em mãos por todos os seus ouvintes,tentando encontrar a rival de pele escura; mas uma mão tomou seu pulso e a fez parar:
-Foi emocionante,Court. –Sirius puxou a lanterna para si,retirando-a por entre os dedos magros da colega.- Mas agora vá se sentar, é a vez de outra pessoa.
O salão comunal de Grifinória estava mergulhado em sombras.Cada canto do aposento estava encoberto por um manto negro de apreensão e interesse.Já passara da meia noite. Era incrível o numero de alunos que se achava concentrado no centro da sala,em circulo.Todos encolhidinhos devido aos calafrios providenciados pela baixa temperatura que o outono trazia.Já não havia as chamas quentes da lareira para aquecer-lhes os corpos...havia apenas as trevas sombrias de um fim de Halloween. Saciados da fome pelo extraordinário banquete que havia terminado ainda a pouco,os alunos grifinórios retornaram a seu salão e devido à idéia peculiar de dois alunos,ninguém mais e ninguém menos do que Black e Potter,achavam-se em sua grande maioria atentos aos mais singulares e extraordinários contos ali narrados. Por hora,quem tivesse algo realmente bom para contar devia se dirigir ao centro da roda,empunhando a lanterna(única fonte de iluminação) e relatar,do modo mais medonho possível,sua história.
-E ai quem vai contar agora?-indagou Lily,que estava entre Alice e Mundungo,em uma voz animada.
-Euzinha aqui oh!-proferiu Jorkins em sua vozinha tosca.A garota fizera questão de se sentar ao lado de Remo,este que tinha do seu outro lado Cynthia com as duas pernas em cima de seu colo.-Posso?-e sorriu para Sirius e em seguida para Tiago.
-Vai nessa,garota!-o rosto energético de Pontas foi visível apenas na penumbra, mas a íris clara de seus olhos cintilava no escuro denunciando sua posição. O rapaz,ousado, se sentara em uma poltrona com Stéphanie e Ligia, a então namorada de Sirius. Este,por sua vez, ia voltar para o lado de Frank,mas se deteve:
-Tome.-entregou a lanterna nas mãozinhas balofas de Berta,que toda ansiosa,planejava o seu momento glorioso. Todos se silenciaram. Ela iluminou o rosto: parecia-se com uma abóbora medonha de Halloween,mas sem se dar conta disso, estufou o peito,pigarreou e contou seu conto de horror:"Uma família estava voltando de suas férias à noite quando viram uma mulher pedindo ajuda no acostamento..ai eles pararam para ver o que estava acontecendo...ai a mulher disse que um acidente havia acontecido e que seus filhos estavam gravemente feridos ai a família então continuou com a viagem, dizendo que parariam no local do acidente.E eles fizeram isso. Mas, ao retirarem os feridos, eles perceberam que a motorista, já morta, era a mesma mulher que pediu ajuda para eles." –a gordinha contou tudo rapidamente,sem mistérios ou delongas.Apenas contou.Sem qualquer entonação,e ao fim sorriu esperando reações.Os colegas a encaravam como se esperando que ela gargalhasse e gritasse “Primeiro de Abril!Agora vai vir a história de verdade!”...mas isso não aconteceu. Em uníssono,Stéphanie,Katherine,Cynthia e Elizabeth caíram em risadinhas de deboche, o que fizeram Berta sentir-se,mais uma vez,humilhada.
-Foi...maravilhoso Bertinha!-tentou a ruivinha.
-Foi um lixo querida.-vexou a jovem Adams o que fez a já corada garota retornar à seu lugar,abraçada à lanterna.Novas risadinhas a ,que assistira todo aquele espetáculo de opressão de cara fechada, finalmente se rebelou:
-Contem vocês então uma porra de história!- arrancou a lanterna das mãos da amiga e,teria atirado na cabeça de uma das jovens, se não fosse por Tiago, que segurou sua mãozinha magra no ar:
-Calminha cave...digo, Courtney.-Lílian o fuzilou com o olhar,mas devido a penumbra ninguém notou isso.
-Então ta.Eu conto.-Elizabeth se levantou lentamente e se encaminhou até aonde ouvira a voz,ao seu ver,ridícula de Court e de Tiago.-Me de a lanterna Caveirinha.-mandou.
A loira-aproveitando que o rapaz se dispersara- atirou a lanterna pesada por pilhas mirando a cabeça de Elizabeth, com todas as forças de lançamento que seus bracinhos magros puderam investir. Ouviu-se o barulho de algo zunindo no ar .Agilmente, uma voz apresada adiantou-se:
-Impedimenta!- o feitiço luminoso foi rasgando todo o seu caminho no ar até atingir o objeto arrebatado,fazendo-o paralisar e planar. Movendo a varinha, a protetora de Eliza comandou a lanterna até o chão,onde ela pousou brandamente.
-Obrigada Sté!-a voz de Adams permanecia calma porém ameaçadora -Foi sorte sua não ter me acertado,Banks...muita sorte.Bom...minha história!-e se dirigiu até o centro do circulo, ligando a lanterna e iluminando o próprio rosto: "Quando minha mãe ainda era viva, contou-me um caso que até hoje me deixa de "cabelo em pé". Em certa época de sua vida, estava ela muito deprimida e com pensamentos tristes, que giravam em torno da morte. Uma noite, foi ela dormir, com aqueles mesmos pensamentos sombrios. Adormeceu imediatamente. Nesse dia meu pai não estava em casa,e ela por tanto dormia sozinha. No meio da noite, no entanto, acordou sobressaltada com alguém esmurrando a porta de entrada do quarto... –o tom adotado pela garganta de Elizabeth era macabro. Seus lábios semi ocultos moviam-se gelados, assim como os olhos,também vidrados. Ela tamborilava as unhas compridas no cabo da lanterna,que proporcionava toda o sombreamento em seu rosto pálido -Foi correndo até lá e olhou pelo "olho mágico" da porta para ver quem era. A luz do corredor estava apagada e ela nada conseguia perguntou quem era e ninguém havia respondido, voltou a dormir, um pouco inquieta. Após uns quinze minutos, novas batidas violentas a acordaram. Meio apavorada, minha mãe perguntou quem era e ninguém respondeu novamente. Olhou pelo "olho mágico" uma segunda vez e constatou que o corredor estava um pouco iluminado, pois o elevador estava no andar, trazendo uma luz difusa. Minha mãe viu, então, no fundo do corredor, uma figura toda de preto, que parecia um homem. Não se podia ver o rosto, mas minha mãe estava tão apavorada que voltou para a cama correndo.-Pedro Pettigrew,cagando-se de medo, agarrou uma almofada e pressionou-a contra seu rosto,tentando esconder-se de seus próprios pensamentos.Mas era impossível: as imagens materializavam-se em sua cabeça com perfeição graças aos detalhes dados pela garota. Remo acariciava com os dedos a mão delicada de sua namorada,sempre mantendo um silencio respeitoso. Tiago, estrebuchado em sua poltrona,deliciava-se com o clímax da história,enquanto Sirius atracava-se com Lígia,desinteressado. Os demais pareciam prender a respiração tamanho era a apreensão. - Após uma hora, mais ou menos, os murros na porta recomeçaram. Minha mãe, quase histérica, gritava para irem embora. Assim que as batidas pararam, ela resolveu olhar novamente pelo "olho". Seu susto foi tão grande, que ela quase caiu no chão. Desta vez, o corredor estava todo iluminado e a figura de preto estava bem pertinho da porta... só que de costas.Minha mãe não dormiu a noite toda. Quando estava quase amanhecendo, ela caiu em um sono profundo. E foi acordada com leves batidas na porta.
“Toc-toc-toc”
-Ahhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!!!!!-esgoelaram-se algumas garotas,dando saltos de pavor em seus lugarzinhos ou voando para seu vizinho a fim de abraça-lo o mais apertado possível. Rabicho estava branco e encolhido no sofá.
-Sirius!-repreendeu Longbottom, que passara o braço ao redor de Alice. O maroto gargalhava:
-Desculpe, eu não pude evitar!
-O-o que aconteceu?!-gaguejava um trêmulo e acuado Rabicho. Remo sorriu para ele:
-Foi só o Almofadinhas que bateu naquela mesinha de madeira. – Pettigrew pareceu afrouxar os músculos,enrijecidos e em alerta. Sirius voltou á colocar as mãos ao redor da cintura de Ligia, que tentava disfarçar o susto.
-Eu só estava tentando dramatizar,seu pateta.-o animago,satisfeito com o resultado de sua brincadeira, explicou-se.
-Continue Eliza,por favor.-pediu Brown, que ainda arfava graças ao choque.
-Bom... Quase como em um sonho, foi andando lentamente até a porta, como se estivesse hipnotizada.Olhou pelo "olho mágico"e nada viu. O olho estava tapado por algo que poderia ser um objeto... ou uma mão.Minha mãe contou que sentiu uma vontade irresistível de abrir a porta. Mas que quando estava quase fazendo, eu, que era criança e dormia com ela nessa noite, acordei,finalmente,e perguntei o que estava acontecendo. Sobressaltada, ela piscou os olhos como se estivesse acordando e voltou para a cama. Só abriu a porta de manhã e nada encontrou.Desde aquele dia, minha mãe nunca mais ficou deprimida daquele jeito. Quando tinha pensamentos negativos, procurava se animar...é isso.-finalizou a jovem sombriamente,desligando a lanterna.Alice escondeu a cabeça nas vestes do namorado,Berta abraçou-se a Remo com desespero e assim o fizeram também Cynthia, que subiu para seu colo, e Pedro que chorava.Lupin sufocava. Lílian apertou o braço de Fletcher,tentando não demonstrar o quão assustada estava,não apenas com o ultimo conto mas também com a série que o antecedera,que devido ao breu tornaram-se presentes na cabeça de todos.Katherine agarrou-se á Stéphanie, os olhos arregalados. Ligia, montada em Sirius, choramingou. Tiago congratulou a amiga:
-Muito legal essa historinha.
-Ela é real Ti...por incrível que pareça!O mais estranho é que os elf...os empregados não ouviram nadinha...bom,aonde eu sento?-Elizabeth era a única controlada,de voz serena. Para caminhar de volta,ela reacendeu a lanterna, amenizando o pavor que dominava os grifinórios. Mundungo,livrando o braço dos dedos que o friccionavam, tomou a vez:
- Também tenho uma história maneira pra contar pra vocês.-pigarreou,limpando a garganta (que assim como o dono parecia ser esfarrapada como um trapo velho)- Uma vez em uma certa estrada muito perigosa, em uma noite muito chuvosa um caminhoneiro já perto do seu destino, vê uma mulher com uma capa de chuva amarela pedindo carona.Sensibilizado com o sofrimento da mulher, resolve ajuda-la: “Para onde a senhora esta indo ? ” “Minha casa fica na beira da estrada a uns 3 quilômetros daqui... vim até a casa de uns amigos aqui, e preciso voltar para casa, mesmo embaixo dessa chuva toda, pois minha mãe deve estar muito preocupada. Pode me dar uma carona ? ” “Claro,pode subir. ” Era uma moça muito bonita e simpática. Ela tirou a capa de chuva e começou a conversar com o motorista animadamente, e ele sentiu até um carinho por ela pois ela era muito espontânea e de bem com a vida. Chegando ao local indicado pela moça, ela agradeceu o motorista , deu-lhe um beijo no rosto e despediu-se. Logo ao sair, o motorista reparou que ela havia esquecido a capa de chuva no caminhão, e como estava perto resolveu voltar para devolvê-la a moça. Bateu à porta da casa, e viu sair uma senhora de uns 60 anos mais ou menos. “Boa noite minha senhora, eu dei uma carona para a Ana, e ela acabou esquecendo essa capa no meu caminhão, poderia entregar a ela por gentileza ? ” Com lágrimas nos olhos a senhora responde: “Por favor meu senhor, não brinque com essas coisas... a minha filha Ana morreu há 5 anos atrás atropelada numa noite muito chuvosa igual a essa, quando tentava voltar para casa, não brinque moço... não brinque! ”- o maltrapilho finalizou piscando a luz que o iluminava sucessivamente,como se tivesse sido atingido por um raio.
-Ai Jesus...eu vou me deitar!Eu to com muito medo...-lamuriou-se Ligia já se levantando.-Boa noite...ainda bem que as meninas já estão no quarto!-e dando um selinho em Sirius se foi.
-Eu não agüento essa garota!!- Almofadinhas sussurrou para o melhor amigo, que fez um gesto como quem diz “E eu não sei?!”. Mundungo, desligando a lanterna por fim e,com um aceno da varinha,acendendo o fogaréu apagado da lareira, comentou numa foz sádica,coçando o queixo:
-Seria mais sinistro ainda se hoje fosse Lua cheia!- alguma garota chiou, mas o rapaz se completou ainda idealizando sua noite sombria.- Amanhã a lua vai estar redondinha,mas pena que amanhã não vai ser mais Halloween.
-Amanhã?!- Remo repetiu um tanto pálido.-Sério?!
Cynthia,que ainda estava no colo do namorado,sussurrou em seu ouvido:
-Eu tenho medo de lua Cheia,Remo...quero que você fique comigo o tempo todo,ta? O lobisomem, se possível, ficou ainda mais sem graça. Desviou os olhos da garota para poder dar sua resposta,um tanto vaga:
-Claro...
-Você tem algum compromisso?-ensistiu a loira e voltando-se para Pedro e Berta-Hei!Da pra vocês dois largarem dele?Que saco!Principalmente você sua gorda..-e deu um leve tapinha na mão de Jorkins que a olhava invejosa.O maroto com ar de roedor soltou-se do amigo agora que a luz já fora acesa, as histórias haviam cessado e seu terror,gradativamente, começava a passar. Livre dos braços que o prendiam, Lupin encaixou o rostinho de Cynthia em seus dedos e juntou seus lábios.Pretendia ser rápido de início,mas a euforia foi crescendo de mãos dadas com a ternura do toque úmido, de modo que o rapaz de cabelos castanhos foi aproximando-se,juntando o corpo ao dela, ajeitando os braços e,finalmente, inclinando-se para a frente.
Pedro,que dividia o mesmo sofá, ergueu-se discretamente para ir se sentar,risonho, ao lado de Lílian que já havia cruzado os braços e fechado a cara. Katherine assistia a cena com repugnância. Torceu a cara, mordeu os lábios e ergueu-se: sem olhar para trás foi na direção das escadarias, sem nem ao menos despedir-se dos demais, e se foi para os dormitórios.Stéphanie a seguiu murmurando um quase inaudível “Até amanhã” .Tiago e Sirius se entreolharam.
-Eu também estou com sono,mas não sei se vou conseguir dormir.-Courtney se espreguiçou como um gato raquítico,mostrando toda a elasticidade de seu corpo. –De qualquer forma; vamos?-chamou a amiga de olhos verde-esmeralda.
-Vamos.-respondeu seca-Boa noite gente.-e seguiram pelas mesmas escadarias aonde minutos atrás a negrinha e a jovem de cabelos mel subiram.Lily antes de partir lançou um olhar de esguelha para Tiago e em seguida um ultimo,para o casal.
-Boa noite, meu anjo.-Pontas desejou sinceramente, olhando sonhador para a ruiva que preparava-se para partir. Almofadinhas revirou os olhos repreendendo-o. Recolhendo uma almofada do chão a ruiva a jogou na cara do moreno,fazendo seus óculos escorregarem.
-Hei.-Elizabeth também se levantara e parecia estar pronta para ir se deitar,parou perto da dupla de rapazes deu um beijinho na bochecha de Tiago,que colocava os óculos no lugar certo e se dirigiu enojada para o outro-Quero falar uma coisa para você depois.Bom,boa noite gente,boa noite Ti!Vem comigo Cynty?
Pontas desejou um boa noite dando um selinho nos lábios de Elizabeth,para logo depois se lembrar de que não tinha mais compromissos com a amiga:
-Ops!Erro de pontaria, me desculpe!
Sirius deu um tabefe na cabeça do companheiro, que novamente teve seus óculos retirados do lugar graças ao impacto da batida. Remo, ainda abraçado á namorada, disse serenamente:
- Boa noite,Adams. Pode me emprestar sua amiga por mais alguns minutinhos?- se referia á Cynthia, acolhida em seus braços.
-Ah claro Lupin.-sorriu a jovem de longos cabelos negros e novamente voltando-se para os morenos-Imagine Ti...esse tipo de erro,vindo de você,é bem vindo!Ah Black...amanhã te falo.-e fez menção de se retirar de modo delicado.
-Porque não hoje?- Sirius se ergueu num pulo. Levou Eliza para um canto distante do salão comunal,guiando-a com leves empurrões em suas costas. Os demais,mesmo curiosos, continuaram alojados confortavelmente em seus sofás,pufes e poltronas ou deram continuidade ás despedidas,intercaladas por bocejos. O moreno, permitindo que fios negros lhe caíssem sobre os olhos, perguntou curioso. A voz soou macia e profunda: - O que foi?
-Já disse que falo amanhã.-seus olhos acinzentados estavam gelados e o penetravam de modo que chegava a incomodar.Elizabeth parecia aborrecida.
-O que te impede de falar agora?-seus olhos faiscavam de interesse e, em meio ao rosto moreno,abriu-se um sorriso branco.- Já conversamos tanto! O que tem de errado nisso? Mas a jovem não parecia ter gostado do comentário.Nem um pouco na verdade.O encarou por alguns segundos e em seguida sorriu maliciosamente,dizendo de modo lúgubre:
-“Conversamos tanto?”Não entendi..-ela agia de modo debochado e cínico. Ele piscou, levemente aturdido. Não demorou para se recompor e dizer:
-Ok,então não conversamos. –e voltando a sorrir de modo galanteador-Então vamos conversar agora!Me conte o que é.
“Como ele pode ser tão cara de pau?”.Por um segundo ela teve ímpetos de lhe dizer EU TE ODEIO mas desistiu,afinal fora ela mesma que dissera que tinha algo para lhe contar.Se arrependera amargamente.Mas estava sendo bastante divertido ver ele,Sirius Black,curioso.
-Não pode esperar um diazinho Black?Estou cansada...tenha uma boa noite!-e sorriu de modo falso e irônico.
-Não vou ter uma boa noite enquanto não souber do que se trata.-Sirius a conteve,tocando mansamente seu ombro.Estava se comportando do modo mais cavalheiresco que conseguia.
-Você é pior do que eu!Caramba!-Eliza revirou os olhos e disse por fim-Trata-se de Dumblendore...e aquela nossa aula de Astronomia.Satisfeito?Amanhã explico tudo...
-Aula de As..ah!!- o animago,após forçar um pouquinho as suas lembranças, iluminou-se.- Você falou com ele sobre aquilo?E o que ele disse?
-Ai,por Merlin!-ela se deixou cair no sofázinho atrás de si,completando-Nada de muito revelador,como sempre...mas parece que isso que nó...digo,que eu vi,é bastante raro e parece ser realmente uma “premonição” digamos...não sei bem como explicar.
-Que sinistro!- Sirius parecia se divertir com aquele assunto,mesmo sabendo que era algo sério.- Mas o Dumbledore disse de quem os planetas estavam falando?E quem é que vai nascer?E quando?
-O Dumblendore não é profeta Black!-irritou-se Adams-Só podemos esperar agora...bom,era só isso.Achei que ficaria...achei que gostaria de saber que “eu contei para o bom velhinho”...ok?
-Ah, ok. Se levantando de modo feminino e voluptuoso,terminou:
-Posso ir Black?
-Pode,ué!- e sem pedir,o maroto inclinou-se para lhe beijar na bochecha suave.-Boa noite.
-Boa.-e afastou-se ainda daquele jeitinho provocante,frio e distante,mas ao mesmo tempo tão quente e sensual.O rapaz acompanhou-a com olhos sedentos.
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A manhã de domingo não parecia tão animada quanto estavam os alunos de Hogwarts naquele outono; todo o terreno parecia monótono,quieto, gelado. As abóboras da noite anterior ainda planavam,sorriam, iluminadas de um modo diabólico. Hagrid tentava enxotar o espantoso número de corvos de suas plantações,mas as aves negras partiam em uma falsa debandada, para logo depois pousarem apenas alguns metros de distancia. Remo acompanhava o movimento de ruflar de asas das aves, os xingamentos de Hagrid e a leve neblina que encobria o terreno. Ao seu lado, também sentado na grama debaixo do grande carvalho, Pedro bocejou:
-Não fiz minhas lições até agora. E amanhã é segunda-feira, oh vida... Tiago, num ato tão negligente quanto maroto, retirou do bolso interno de seu casaco uma coisinha redonda e vivaz,que não precisou nem sequer iniciar seu zumbido irritante para ser reconhecida:
-Ah não Tiago...-Sirius, que estava estirado na grama com o braço sobre os olhos, murmurou numa voz cansada.- Eu pensei que você tinha perdido essa coisinha!
-E perdi.- agora o apanhador permitiu que seu mais novo pomo de ouro voasse da palma de sua mão para o ar,pronto para iniciar uma perseguição divertida.- É que eu consegui roubar outro do estoque da madame Hooch!
-Ah não, me dá isso aqui!!- num salto, apoiando-se nos cotovelos para se erguer, Sirius foi pra cima de Tiago, tentando agarrar a bolinha dourada que planava perto do outro.
-Não Sirius,deixa!- Tiago tentou defender seu brinquedinho,mas era impossível agarra-lo com Almofadinhas tentando atrapalhar.
-Deixa a criança ser feliz,Sirius. –brincou Remo, desviando a atenção para os amigos. Ele agora descruzou as pernas para esticar-se num ato preguiçoso, enquanto os outros dois lutavam para prender o pomo entre os dedos; a batalha variava entre risadas e empurrões. Rabicho, assistindo a dupla que rolava na grama, comentou:
-Se a Evans visse isso te acharia ainda mais moleque do que ela já acha,Pontas!- mas o rapaz agora estava ocupado demais para pensar nisso: Sirius segurava seus pulsos,que lutavam para se livrarem do aperto e se moveram na direção do pomo alado. Uma garota extremamente branca tentava prender os cabelos loiros em um rabo de cavalo, a cabeça virada na direção do carvalho.Suas amigas,sentadas ao seu redor, também adoravam aquele cantinho perto do lado cristalino e arredondado do castelo, onde o sol,mesmo que opaco,refletia na superfície.
-Como eles são felizes...- Courtney, esticando,puxando e ajeitando o cabelo entre os dedos finos, comentou ao som de “Larga, Sirius!” e “Tente se soltar sozinho,fracote.Ih...lá vai a sua bolinha” .
-Eu prefiro o termo idiotas...-continuou Lily entediada.
-Hei!Vamos chegar mais perto deles?-sugeriu uma Jorkins empolgada,os olhinhos brilhando de admiração-Que tal se nos fossemos nos sentar do outro lado da arvore?Ia dar pra ouvir as conversas deles..
-Eu não me interesso nem um pouco por suas conversas,Ber..NÃO BERTA!-a ruivinha ia criticar a idéia da amiga mas quando virou-se para encara-la Evans percebeu que era tarde demais.A gordinha já caminhava sorrateiramente em direção à arvore e alguns minutos seguintes sentava-se ao lado oposto ao que se encontrava os marotos,ou seja “nas costas do grosso e imponente tronco do carvalho”.Acenou para as outras duas,que reagiram de maneiras distintas:uma embasbacada e a outra empolgada já preparando-se para segui-la.
-Vamos Lil!-Court puxou a amiga pelo braço e dirigiu-se também para o sorrateiro esconderijo. Mesmo a contragosto Lílian apurou os ouvidos assim como as companheiras.
Tiago finalmente conseguiu resgatar seu brinquedo alado,o que o custou muito caro: ele arfava, tinha os cabelos arrepiados como uma moita negra e terminara aquela batalha amistosa sem óculos no nariz,pois estes tinham caído em meio ás raízes da árvore. Arfando,o apanhador decidiu guardar o pomo de ouro dentro do bolso para evitar mais constrangimentos e agora,sem nada para fazer, recostou-se nas costas de Remo,apoiando todo o peso do corpo ali,como se estivesse acomodado em uma poltrona. Lupin reagiu ao toque, e logo ambos estavam servindo de apoio um para o outro. Rabicho, já com a barriga doendo de tanto ficar deitado de bruços, decidiu encostar-se no tronco da árvore,suspirando confortavelmente.Os olhos pesavam e todo o clima de calmaria estava favorecendo o sono de chegar...a brisa o embalava, a sombra o amortecia e ele relaxava. Sirius rolou na grama para finalmente deitar com a barriga para cima, voltando o rosto para o céu cinzento, que parecia estar constantemente ameaçando chuva, mas que nunca materializava suas ameaças. Apoiou a cabeça com as mãos,que se cruzaram para deixar a visão do rapaz elevada.
-Como eu vou fazer?-resignou-se Tiago de repente,ao que os outros se voltaram para ele de modo inquisitivo.- Como eu vou fazer pra me aproximar da Lily?-do outro lado da árvore a garota revirou os olhos e sussurrou “Só nascendo de novo!”.
-Não...essa história de novo não!-Pedro fez menção de tapar os ouvidos.
-Primeiro lugar...-pigarreou Aluado,sério.-Pare-de-convidar-ela-pra-sair-tão-descaradamente!
-E o que eu faço então?-Tiago falava olhando para o mesmo ponto que Sirius; uma nuvem de forma bizarra que se deslocava mansamente.
-Diga a ela o que você sente.-continuou Remo.
-O que?!-ganiu Tiago, quase assombrado.- Ta louco?Ela vai rir de mim!!-a jovem de olhos verdes completou,dessa vez apenas mentalmente “É aí que você se engana rapazinho...você nunca tentou!”.
-Vai nada,Pontas...- debochou Sirius,ainda mergulhando os olhos profundos no céu á sua cabeça.- Ela vai gostar de saber que você gosta dela.
-Bem,pensando melhor...-agora Remo, revirando os olhos,reaviu seus conceitos.- Talvez ela não acredite em você,porque,bem...eu não acreditaria depois de todos esses anos em que você demonstrou ser bem...você.
-Mas eu me importo com ela!Eu só consigo pensar nela!Por Merlim, eu até sonho com ela!- era duro confessar aquilo até mesmo para os demais marotos,porque Tiago sentia que eles nunca o compreenderiam. Sendo o romântico perdido que era, ele já devia saber que o amor dói, mas mesmo assim ele sofria – sua sensibilidade exacerbada de fato só fazia as coisas perfeitamente piores. Seu amor por Lily era não-correspondido e nem em seus sonhos seria de outro modo – e era certo de ser assim.Ele não a merecia...e a cada dia aquilo ficava cada vez mais claro. Berta e Banks encararam a outra com olhares severos e neles podia-se ler com clareza !”. Forças, Merlin, pelo menos forças, para ele não cair de joelhos e gritar.Burro, idiota, imbecil, cretino, estúpido, retardado, jumento, anta, lesado, tonto e todas e quaisquer outras definições que servissem para designar problemas no funcionamento da inteligência; Tiago se sentia assim e mais um pouco. Era sua culpa a ruiva estar tão afastada dele...sua,toda sua. Bem...talvez um pouco de seus hormônios em brasa, que não deixavam sua adolescência passar batida e lhe arranjavam uma garota para cada mês do ano, ou ás vezes para cada semana.Ele sorriu um tanto orgulhoso,pensando que sim, aquilo não era tão ruim...ter fãs por toda a parte,ter fama, impor respeito. Ser um disputado e popular garanhão! "Tire. Essas. Idéias. Da cabeça."-rosnou para si mesmo.
-Pontas...quer minha sincera e humilde opinião?-a voz brejeira de Sirius soou em seus ouvidos como uma sineta lhe chamando de volta.
-Manda.
-Tasca-um-beijo-nela.-Lílian fez um “Quê?!” e sorriu pensando que até que não seria uma má idéia,mas guardou esse pensamento bem quietinho dentro de si. Era bem verdade que cada encontro que Tiago tinha com Lílian era mais um motivo para fazer seu autocontrole ficar a um passo de ir para o espaço sem passagem de volta.Mas ele sabia que se não soubesse se frear perderia até mesmo a “coleguisse” de Lílian,se é que existia alguma.
-Não posso,Almofadinhas.-ele disse resignado.-Não posso me dar ao luxo de afasta-la ainda mais...seria o mesmo que estar me matando aos pouquinhos. Remo de repente se desencostou das costas de Pontas.Algo naquela frase parecia tê-lo acertado mais profundamente do que os amigos imaginavam:
-Você...você gosta dela tanto assim,Tiago?
-U-hum.
-Eu...eu não sabia...-“Nem eu!” a ruiva surpreendeu-se.E,naquele instante,o lobisomem amaldiçoou cada fibra de seu corpo até sentir nojo de si mesmo:como podia cobiçar a paixão de um de seus irmãos?Como podia guardar um carinho desejoso por uma garota que, de alguma e qualquer maneira,deveria terminar nos braços de Tiago?! Como ele podia manter uma namorada se amava,admirava,idolatrava o único sonho que Tiago respirava todos os dias?! Agora aquilo se tornara obrigação:ele tinha que esquecer Lílian Evans. Faria aquilo pelo bem do outro,pois pensava em si mesmo por último,sempre. Sirius,finalmente se sentando na grama numa espreguiçada gostosa, disse:
-Vamos pro castelo.Achei emocionante as confissões de hoje!- “Eu que o diga!!” esgoelaram-se os pensamentos da loirinha,que permanecia com os lábios zipados ao lado de Lílian e Jorkins, no outro extremo do tronco. Dois dos outros marotos se ergueram com o chamado de Sirius,estralando as costas e braços. Rabicho permaneceu estatelado na mesma pose de antes:a cabeça despencara no colo, e ele já começava a babar. Lupin se agachou para sacolejar o amigo:
-Pedro...-segurou uma risada ao ouvir os roncos de Rabicho,que se parecia com uma vaca dopada.-Acorda,Pedro! Tiago,impaciente, chutou os sapatos do ratinho humano, o despertando bruscamente.Ele saltou com os olhos arregalados, gemendo alguns “Quié?Que foi?Quem me chamou?!”.
-Vamos, seus lerdos!- insistiu Almofadinhas, seguindo para os confins do terreno gramado.
-Hei Almofadinhas!!!Espere meu amor!!!Espere!!!-Ligia vinha esbaforida na direção do moreno e o agarrando pelo pescoço completou-Não vai ficar nem um pouquinho comigo hoje?-e voltando-se para o rapaz de cabelos castanhos-Acho que vi a sua namoradinha te procurando,por ai...
-Me chame de SI-RI-US...-insistiu o rapaz, rosnando para ela de um modo que pareceu á Tiago um tanto animalesco demais.Ele quase pode vislumbrar o cachorrão negro ali,andando em duas patas.- Ah é...e eu me esqueci de avisar:eu terminei com você. Pedro tapou os ouvidos,Remo revirou os olhos, Tiago fez uma careta: “e lá se vai mais uma namorada do sabichão Almofadinhas...” pensaram os três, já aguardando a típica histeria feminina. Mas para a surpresa de todos a garota sorriu.E virou-se novamente para Remo:
-Não ouviu Aluado?A Cynty está te procurando faz muito tempo...-caminhou até Black e entrelaçou seus dedos completendo-Vamos voltar pro castelo,amorzinho?Pode vir com agente Pontas...e você também Rabby!
-Eu acho que quem “não ouviu” foi você...-Sirius despregou suas mãos das de Ligia como se estivesse se livrando de uma pegajosa teia de aranha. Lupin, que queria muito ir ao encontro da namorada,aguardou o fim daquela intriga pacientemente. Tiago já estava para protestar um “Quem te deu o direito de você usar nossos apelidos assim?E nossos direitos autorais?!” mas o jovem Black era,definitivamente,o mais pasmado com a cena.
-Ouvi o quê?Que nós terminamos?-e soltou uma gargalhada alta-É o que você pensa..não terminamos Sirius!E nem nunca vamos terminar!Nós nos amamos,será que você não percebe?-Coox parecia extremamente calma.
-Não,não percebo não!!-exaltou-se Sirius,se afastando dela com explícito desgosto. Era como se ele olhasse para uma louca desvairada,fugida do hospício.- Saia da minha frente,garota!!
-Não,não saia ainda!-pediu Remo serenamente.-Me diga aonde está a Cynthia, daí você pode sair...
-Ah,fica quieto Aluado!- e Sirius empurrou as costas de Ligia como se afastasse um objeto de seu caminho.- E você,apressa o passo sua ninguém...é isso mesmo; NINGUÉM! Você e um montinho de estrume são a mesma coisa para mim; é,eu sei, eu menti pra você aquela noite...não,eu NÃO GOSTO DE VOCÊ , me deixa em paz sua vaga... Ligia continuava sorrindo abobalhada.Parecia ser surda,na melhor da hipóteses:
- Você é ingênuo!-e voltando-se para os outros três proferiu cordialmente-Meninos,podem nos dar uma licencinha?Preciso falar com o meu noivo á sós... sim?
Tiago não agüentava mais:caiu numa gargalhada estrondosa, esbaforida, assim como Pedro,que o imitou como um boneco. Remo sorriu de leve, mas Sirius, que deu um ronco de risada antes de responder, foi muito sardônico:
- Escute garota; que tal abrir os olhos e sair do seu conto de fadas?Eu nem sei mais o seu nome, te odeio, a cada minuto que passa te acho mais patética, mais insana, burra...
-É,é,sim.-apressou Remo.-ela é tudo isso e um pouco mais, mas por favor, eu preciso saber onde está a Cynthia! Voltando-se para o ultimo a garota disse em tom de fofoca:
-Se eu fosse você “Alu” eu ia correndo lá pra entrada da floresta proibida por que aqueles sonserinos estavam por lá a ultima vez que passei... “Pont” e “Rabby” queridos,podem sair também?
- Minha nossa, “Rabby”?!- Pedro repetiu ironicamente. Tiago revirava os olhos agora, enquanto que Remo,dando as costas para o grupo, apressou-se para a direção da floresta –conforme a garota insuportável indicara. Sirius, cansado de tanto humilhar aquele grude feminino e não chegar á lugar nenhum, simplesmente, começou a andar de volta para o castelo. Era como se tivesse deixado para trás um bolinho de papel amassado,daqueles que nós sentimos no fundo do bolso,tateamos, e jogamos fora.
-Accio Sirius!-a menina retirou a varinha com agilidade da capa bruxa e comandou o feitiço sem pestanejar,fazendo com que Sirius voltasse para ela.- Escute meu bem e preste muita atenção:não vamos terminar!Nãããããããããããããão!Quero que entenda que acho que ninguém é dono de ninguém,nem muito menos eu sua dona mas...se você continuar namorando comigo,e assumir isso, eu lhe prometo...lhe juro que você pode ficar com quem quiser!Pode fazer o que quiser dês de que não me deixe!-ela agarrava o recém enfeitiçado Sirius fervorosamente,forçando-o a ficar. Seus olhinhos cintilavam sonhadoramente,fitando-o suplicantes.
Sirius, desprendendo-se dela do modo menos brusco que conseguiu, deu um suspiro cansado. Agora começava a sentir pena daquela pobre criatura: ela era doente por ele, fanática. Esquecera-se de se valorizar e,por ele, passava humilhações das mais diversas,menosprezava-se...não se importava com a rejeição. Tudo o que queria era que ele a tolerasse, mas não necessariamente amasse. O rapaz refletiu um pouco sobre aquilo: o que tinha a perder caso mantivesse suas relações com Ligia? Com certeza só ganharia com isso, pois teria uma “namorada passa-tempo” que realmente não se importaria com a traição. Olhando de um certo ângulo ela era a garota de seus sonhos maquiavélicos: bonita e burra.
-Escute,garota: quero então que fique bem claro pra você que, se continuarmos juntos, você não vai alimentar esperanças muito bombásticas não...lembre-se que eu estou aceitando isto apenas porque não tenho nada a perder, pois, nunca vou negar uma garota á mais. – ele falava fitando-a,sem remorso algum.-Mas saiba que se acontecer de algum dia,alguma vez na minha vida, por qualquer que seja a razão, eu me cansar de você...bem, então você vai ter que aceitar essa separação sem abrir o berreiro. Aceitar mesmo; seguir o seu caminho e me deixar em paz. Eu fico com você, dês de que você não interfira nada em minha vida “amorosa”. Nada de ciúmes, nenhum comentário, nada. Saiba que nem todas as garotas pensam com você: elas se importam muito com o fato de eu estar ou não “comprometido”, o que quer dizer que você não pode sair me agarrando na frente delas,ou pior, espalhar para alguém que ainda estamos juntos. Meus outros relacionamentos todos irão por água á baixo caso você não mantiver segredo. Combinado?
Sirius acabara de expor as regras. Bastava saber se a garota aceitaria aquele jogo ditatorial.
-Ok!Se você quer assim,eu não me importo!-e como pondo um ponto final naquela conversa completamente desagradável a garota pulou nos braços do maroto e lhe deu um beijo apaixonado.
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A silhueta elegante do cervo balançava-se conforme seu corpo de pêlos castanhos seguia em frente em cavalgadas brandas. Mais á frente, Almofadinhas movia as quatro patas caninas tão silencioso como-por mais contraditório que isto possa parecer- um felino cauteloso;seu corpo confundia-se com a noite dês da cauda até o focinho negro e brilhante, que permanecia erguido farejando o ar com doçura. A língua cor de rosa pendia entre os dentes brancos,que destacavam-se de modo impressionante naquele mar de cor escura. Sirius ergueu as orelhas,tentando reencontrar o resto do grupo sem precisar latir.
Não precisou procurar muito, pois sem aviso um ratinho cinza zuniu para cima de um entulho de lixo, alcançando um nível elevado quando deixou o corpinho ereto apoiar-se nas patas traseiras, estas por sua vez sobre uma caixa úmida. Os bigodes de Rabicho moviam-se junto com todo o fuço afilado; precavidos.Almofadinhas torceu o nariz ao passar pelo cantinho escondido e mal cheiroso onde encontrava-se o amigo, que parecia estar acostumado com o odor do lixo,das latas,dos sacos e de tudo o mais que ali fora abandonado. Coisa de rato.
O beco era uma das primeiras visões para quem saia da Casa dos Gritos,o que significava que a jornada dos quatro aventureiros tinha apenas começado.Tiago avançou com seus trotes mansos, fazendo com que as pontas galhudas sobre sua cabeça se balançassem como uma árvore viva no movimento mas morta graças á falta de folhas. Ele procurava Aluado, que dês de que abandonara o Salgueiro parecia ter adotado uma certa excitação esfomeada pelo pequeno vilarejo que mostrava-se ao seu redor.Por isso foram avançando por Hogsmead com olharzinhos sempre curiosos,aproveitando não só para procurar o lobisomem mas como também para refletir sobre aonde explorar primeiro.
Sirius dispersou-se de Pedro para poder fuçar uma esquina que particularmente adorava: ela era ladeada por postes sem iluminação (irônico era seu nome, no entanto: Rua Lumus Luzia),mas também preenchida por lojinhas interessantes; era uma pena estarem todas fechadas e abandonadas aquela hora da noite.
O cachorro sentiu as patas molhadas quando alcançou o piso irregular da ruazinha apagada pela falta de cuidados com os postes;notou que água estava acumulada em casa inclinação do asfalto de pedra ou projeto de buraco. Seguiu mesmo assim,espalhando água com os dedos peludos,olhando animado á sua frente, quando um par de faróis amarelos cintilaram do outro lado da rua. O primeiro impulso de Sirius foi arreganhar os dentes e ondular o dorso num gesto ameaçador, mas no instante seguinte essa reação precavida afrouxou-se: parece insano dizer que Sirius sentiu-se seguro ao constatar que era apenas o lobisomem.
Aluado foi até ele andando de quatro também: os ossos despontavam em suas costas á medida que as patas grosseiras ajeitavam-se para andar. O pêlo, de cor indefinida e todo bagunçado, parecia ter se eriçado com o choque do encontro para logo depois ter se acalmado. Graças á falta completa de luz Sirius não pôde perceber os diversos arranhões que espalhavam-se no corpo de Remo,denunciando sua última luta contra si mesmo.Os caninos trocaram olhares: um de domínio o outro de humilde compreensão. Seguiram em frente agora juntos.
“O Remo parece mais controlado á cada Lua Cheia...”observou um satisfeito Almofadinhas,abanando o rabo de leve. O lobisomem o seguia com o seu entre as pernas e com as orelhas rente ao pescoço. De repente, um som de galope veio ressoando atrás de ambos os animais,que se viraram de modo arisco:era apenas Pontas que se juntava á eles trazendo Rabicho em suas costas.
Os três animagos fizeram uma breve recapitulação de um trecho de Hogsmead: cruzaram ruas,becos e esquinas. Saltaram muros,passaram em frente á estabelecimentos interessantes. Esquivaram-se de cercas. Dominaram o caminho.
Agora, já certos do plano para aquela noite, os quatro animais faziam um atalho de volta para uma das alas mais conhecidas do povoado; para o conjunto de bares e doçarias mais visitados nos fins de semana... Iam direto para o território do Três Vassouras, do Correio Coruja,da Zonko´s (loja de brincadeiras que- definitivamente -lucrava mais com eles do que com todo o resto dos alunos de Hogwarts juntos),do barzinho da Madame Puddifoot,do Cabeça de Javali e também do Dervixes&Bangues. A rua Principal era com certeza a mais bela:as vitrines,mesmo apagadas, pareciam chamativas. A lua cheia e as estrelas iluminavam todo o cenário que agora tinha um toque engraçado com a presença de um cachorro negro, um cervo, um rato e um lobisomem, que iam andando despreocupadamente em direção à Dedosdemel. Pontas trocou um olhar falante com Almofadinhas,que grunhiu em assentimento. Eles iriam assaltar uma loja.
É claro que na presença de Lupin não podiam adotar suas formas humanas novamente,por isso o que tinham em mente era algo de amador mesmo:arrebentariam a vidraça usando os coices de Pontas. Sim. O cervo planejava deferir um ataque furioso contra á atraente Dedosdemel: feitiços,se os tinha, seriam postos á prova. Foi quando, pensando em algo menos ruidoso, Sirius latiu com uma nova idéia: algum buraco deveria existir suficientemente grande para que Pedro entrasse sem que eles precisassem arrombar nada. O ratinho não viu perigo naquilo: se ele alcançasse alguma janela ou se espremesse pela fenda da porta poderia entrar e,uma vez lá dentro, pegar os doces!Não, não...teria de destrancar a porta para os amigos. Mas depois ficava com os doces!
Tiago e Sirius contornaram a loja em busca de alguma falha naquela fortaleza sólida de paredes; o cão farejou a vitrine uma-duas-três vezes, sentindo-se cada vez mais guloso quando percebia o aroma açucarado entrar em suas narinas caninas. Agora atiçado, ergueu-se em duas patas para apoiar-se no parapeito da vitrine:vidro sólido o separava das delícias do lado de dentro. Rabicho guinchava de desapontamento. Nada. Não havia sequer um cano,buraco,fechadura ou alçapão por onde ele pudesse se infiltrar na loja. Repentinamente, algo aconteceu em meio ás buscas furtivas...
Foi quando reencontraram-se nos fundos da loja que Sirius e Tiago ouviram um uivo ressonante. Empinaram-se de susto:Lupin parecia ter encontrado alguma coisa,ou melhor traduzindo:alguma coisa de se comer.Uma presa.
O uivo alongou-se no segundo aviso do lobo, fazendo com que toda e cada construção que constituía a rua principal se arrepiasse de pavor. Até mesmo um banquinho para pedestres pareceu se encolher de medo, mas dentre estas reações apavoradas a que mais merece destaque é com certeza a resposta dada pelos habitantes do povoado: ao longe uma casinha acendeu suas janelinhas. Uma bruxa gritou ainda mais distante. Alguém em sua cama puxou as cobertas para além da cabeça,tornando o corpo um bolinho trêmulo entre os lençóis. Um bruxo mais ousado passou a mão na varinha,enfiou os pés em pantufas e saiu porta á fora para averiguar.
Agora a presença do lobisomem não era mais segredo algum. Toda a cautela se esvaiu por completo, pois o animal não colaborava para mantê-la. Ele espreitava a rua grunhindo para si mesmo, passando as pupilas amarelas por cada sombra e ala iluminada, farejando, avançando para depois parar e erguer-se. Estava faminto. Um cervo,um cão e um rato vieram em seu encalço numa carreira desenfreada, pois agora a besta da lua-cheia avançava para o Correio Coruja de Hogsmead entre rosnados ansioso. As corujas,empoleiradas em suas gaiolinhas, tornaram-se afoitas. Muitas aves sortudas ficavam guardadas dentro da loja, mas haviam aquelas que serviam como “objeto vitrine” para o comerciante e,por isso, eram postas em gaiolas do lado de fora( na calçada). E eram belos animais. Talvez os melhores. Tinham um porte perfeito para completarem árduas entregas aéreas e variavam em cor,tamanho e forma de acordo com a urgência da carta. Eram perfeitas propagandas para o correio mágico.
Lupin debruçou-se sobre uma gaiola que estava firmada e erguida elegantemente em uma base dourada. Ele caiu com fúria levando consigo o desesperado animal, que batia as asas enlouquecidamente dentro da gaiola.Os pios misturavam-se com os rosnados de seu predador,que não exitava também em lançar investidas com as garras por entre as grades da gaiola redonda. A coruja pedia socorro. As outras piavam em desespero. Desistindo de lutar contra o metal resistente,o lobo agora voltou-se irado para uma gaiola de mais fácil acesso: derrubou-a também, usando os dentes para entortar a fechadura... a corujinha cinza por detrás das grades que estavam sendo violadas ficou histérica. A outra,ainda toda complicada com a queda de sua gaiola, não cessava os guinchos assustados.
Foi quando um novo grito-dessa vez de cólera- reboou pela rua:
-AFASTE-SE DELAS SUA BESTA MALIGNA!!-um vulto bípede tomava forma conforme se aproximava da cena.- VOLTE PARA O LUGAR DE ONDE VEIO,SUA FERA MONSTRUOSA!!
O lobisomem perdeu o apetite pelas aves no mesmo instante em que captou o humano que se aproximava. Apesar de estar receoso, aproximou-se lambendo os beiços. O bruxo apontou-lhe um cabo rígido de madeira polida;o ato teve réplica no milésimo seguinte...
De um modo medonho o animal arreganhou os dentes, eriçou as costas e costelas e preparou as garras. Os olhos amarelos transmitiam ira.Ameaçador, ele soltou um grito horrível que não era nem humano nem animal...era diabólico. O bruxo que o fitava perdeu toda a coragem que o impelira para fora da cama.Sua voz enfraqueceu-se,seus joelhos oscilaram. Ele sentiu no corpo os arrepios causados pelo horror,pelo susto,pela compreensão da enrascada em que se metera. Tentou rezar,pedir ajuda divina,proteger-se de alguma forma e recuperar suas forças...mas até mesmo as palavras bíblicas fugiram de sua mente. Foi gaguejando que ele ofegou:
-Expec...Expecto Patro-nu-num!-Mas estava nervoso demais tanto para segurar a varinha quanto para materializar um pensamento feliz em sua cabeça Só via a figura selvagem do lobisomem á sua frente. Que avançava,e avançava...
“Remo, Nããããããããããããããoooooooooooo!!!”
Almofadinhas lançou-se para Lupin levando-os á rolar no chão, embolando-se com ele numa luta sem mordidas. Tentou imprensa-lo apenas para conte-lo, usando somente o corpo e as patas, mas imobilizar um lobisomem que á segundos atrás se preparava para atacar não é um ato fácil. Ele recebeu em troca mordidas profundas e arranhões violentos,que lhe rasgaram trazendo junto muito sangue para seus pêlos negros. Sirius ganiu dolorosamente ainda assim sem desistir de seu objetivo.
A vítima que acabara de ser salva pelo animago era um senhor entre seus quarenta e cinqüenta anos de idade. Ele agora parecia aparvalhado com a repentina ajuda,pois o braço descansava ao lado do corpo pendendo a varinha molemente entre os dedos. Foi mirando com horror a luta desvairada entre os caninos que o morador adulto de Hogsmead começou a gritar por ajuda. Sua voz saiu rouca.
Duas almas vivas apareceram ali;uma era Pontas,que chegava aos trotes para ajudar Sirius, o outro era um velho de seus setenta e quatro anos que carregava em mãos enrugadas uma espingarda:
-Onde está o monstro?!!- esganiçou-se o ancião contraindo a boca em meio ás rugas de seu rosto.Ele também trajava suas vestes de dormir e parecia ter se sobressaltado com o uivo lupino de minutos atrás.
-Ali,Alfred!!-o outro apontou na direção da calçada da Dedosdemel.-Você é cego?!
-BASTARDO!!-urrou o velho,agora comprimindo os olhinhos azuis na mira de sua arma-Vai comer chumbo!!
Sirius ganiu quando Remo o empurrou para longe,ainda sem tomar conhecimento do bruxo armado que lhe apontava uma bala prateada do outro lado da rua Principal...
POU!!
O tiro foi disparado. Um flash de luz despontou do cano da arma numa velocidade espantosa. A bala teria acertado seu alvo com precisão, se não fosse por Tiago-que havia surgido ali do nada: Alfred levara,instantes antes de atirar,um coice do cervo,o que resultou na perca de mira e no tiro desordenado. A arma voou das mãos velhas quando os cascos do veado a acertaram furiosamente, fazendo com que a bala acertasse um dos vidros da Dedosdemel,que se estilhaçou ruidosamente. O outro bruxo foi em socorro do atirador,que parecia ter tido um ataque cardíaco com o susto dado por Pontas:
-ANIMAL MALUCO!!-urrou o bruxo quarentão, passando um dos braços de Alfred atrás de seu pescoço- SUMA DAQUI!-e apontou a varinha na direção do cervo,que agora balançava as orelhas para ele- Expect...
Mas agora o lobisomem- assustado com o tiro da bala que quase o matara- saiu em disparada pela escuridão da noite, levando Sirius em seu encalço. Tiago viu-se sozinho e não demorou para cavalgar atrás deles, deixando as palavras do homem morrerem no ar a meio caminho da construção da frase.
Os três animais passaram agora por uma leva de casinhas e lojinhas que,uma a uma, iam acendendo suas luzes em sinal de desconforto. Uma bruxa já de idade colou a cabeça para fora de sua janela,e foi pontual o suficiente para ver o lobisomem passar pela rua:
-FERA SELVAGEM!!SOCORRO!!!-gritou eufórica,fazendo o coque em sua cabeça desmanchar com o movimento brusco do pescoço. Alguém gritou mais ao longe um “Pega!” ao que responderam “Mata!” de alguma outra esquina.
Sirius jogava as quatro patas para frente e para trás num esforço tremendo para quase sair voando, pois sabia que teria de guiar Aluado para longe dali o mais veloz que conseguisse. Tiago fechava o cortejo em saltos eqüinos. Rabicho se perdera kilómetros atrás deles...
Luzes de feitiços começaram ricochetear atrás dos animagos, que zuniam para a Casa dos Gritos. Um lampejo vermelho cortou as costas de Pontas, raspando seu pêlo como navalha...ele lançou um olhar rápido para trás-tentando encarar o infeliz feiticeiro que tinha o acertado- mas sempre sem parar de correr. Uma névoa flutuante pairava entre as patas dos animais,raízes das árvores,pés dos todo o chão de pedra do vilarejo. Condensada, crescente, contagiante, ela foi avolumando-se conforme as trevas daquela noite ia engolindo o quarteto que se dispersava...
-VENCEMOS!!-gritou uma voz grossa. Varinhas sacudiram-se no ar em gestos de glória ao verem as “feras selvagens” recuarem. Alfred,o velhote,abriu os olhos para contemplar o ar de vitória dos outros moradores.
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O início pentelho da clara manhã começou gelado. A alvorada cinzenta trouxe um ar de tristeza ainda mais pesado para a fúnebre floresta. Por entre as copas emaranhadas das árvores (molhadas pelo sereno da noite) tentavam passar um ou outro raio fosco de sol, enquanto este, por sua vez, lutava para surgir ainda aos bocejos por entre a névoa aquosa que pairava no ar. Corujas fechavam os olhos; morcegos voltavam para suas grutas; caçadores noturnos voltavam correndo para suas tocas; animais diurnos pestanejavam... A manhã chegava lenta enquanto a lua cheia despedia-se do céu.
Após sua pequena aventura no povoado de Hogsmead, os três animagos e o lobisomem acabaram passando a noite inteira explorando a Floresta Proibida e os limites do terreno da escola. Dominados por excitação, nenhum dos quatro percebeu o tempo passar, o que explica o porquê de terem sido pegos de surpresa pelo sol na travessia de uma clareira.
O lobisomem ergueu os olhos flamejantes para o céu já não tão escuro assim. Sua respiração rápida e ardil foi tornando-se falha, pausada,lenta...ele procurava a lua enquanto sentia o corpo fraquejar.O resto do grupo estancou alguns metros atrás do animal, que parecia acuado pela chegada da manhã –aparentemente- repentina. Almofadinhas ergueu as orelhas e parou de arfar; Pontas inclinou a cabeça para a esquerda enquanto Rabicho balançou as orelhas:todos deduziram que naquele momento iriam perder seu selvagem companheiro quadrúpede.
E estavam certos.
Assistir aquele espetáculo de regressão seria ao menos suportável, pois o lobisomem não parecia sentir dor durante o processo e sim cansaço: Os membros grotescos da besta noturna foram perdendo a forma, assim como perdiam os pêlos. Ele cambaleou, sentindo o corpo perder toda robustez...num “crach” seus ossos se reajeitavam...Num ganido a voz se transformou...e em um minuto Remo estava de volta,todo humano. Ele olhou ao redor com um semblante tanto confuso quanto desbotado e doentio. Seus joelhos tremeram e ele despencou no chão de relva selvagem, folhas úmidas e terra barrosa.
-Como passou a noite,Aluado?!-A voz de Sirius soou nos tímpanos desnorteados do rapaz,que tentava levantar. Ele sentiu os braços fortes de Black pegando um de seus braços latejantes de dor num gesto cuidadoso:
-Engraçadinho...você sabe que eu não me lembro de nada!- Lupin murmurou num suspiro inexpressivo. –Ai!! Estou sangrando...devo ter me mordido,afinal...
-Então você se lembra de uma ou outra coisa, pelo que vejo.-respondeu ainda um animado Almofadinhas, que agora já conseguia manter Remo de pé com certa dificuldade. –Pontas!Rabicho!Vocês plantaram raízes aí atrás?!Venham me ajudar!
O veado começou aproximando-se á galopes e terminou em passadas pois,assim como Sirius fizera, Tiago abandonou sua forma animaga:
-Acho que você devia morder o Sirius pra ver se ele deixa de ser resmungão, Remo.-ia dizendo o maroto de olhos mel esverdeados enquanto oferecia o peso do corpo como suporte para Lupin.Enquanto isso,Black desabotoava o manto negro de Hogwarts para cobrir o corpo nu do recém recuperado maroto.-Acho que só assim ele perde um pouco a pose!
-Eca! O Sirius parece ter um gosto muito ruim...não,não, obrigado!- Aluado se vestiu rapidamente, pois sentia a pele ser esfaqueada pela temperatura baixíssima que fazia na floresta àquela hora da manhã.
-Oh,é verdade...-observou um maldoso Tiago-Ele é carne estragada. Não serve nem pra ser reciclado. -Sirius lançou-lhe um olhar de “Humpt!”para,finalmente, retrucar toda aquela gozação:
-Sei que você me ama Tiago,mas tenta disfarçar...
-Ora,seu...!
-Fala a verdade!É por isso que você se transforma em veado...- Almofadinhas agora permitia que o vento devastasse seu uniforme, que ficou mais leve sem a capa bruxa (Remo se ajeitava dentro dela nesse momento).
- Eu devia ter escolhido um outro animal,mesmo!-Tiago falava não tão arrependido pela escolha de sua forma Pontas,mas sim de saco cheio com a ambigüidade que trazia seu animal.Ambigüidade esta que era sempre explorada nas avacalhações de Almofadinhas.
-Um porco espinho,talvez!-Sirius deu um tapinha nos cabelos escandalosos de Tiago,que resmungou imediatamente:
-Nunca mais toque neles!!-passou as mãos pelos fios negros.- Isso aqui é propriedade privada!É altamente ilegal triscar nessas belezuras...
Os outros riram,enquanto Pedro também se aproximava,novamente em sua forma bípede e gorduchinha:
-E então rapazes, pra que lado?!-Os outros três passaram os olhos pelo conjunto fenomenal de árvores e arbustos. Tiago jogou os cabelos pontudos para longe dos óculos antes de dar um chute ás cegas:
-Acho que é pra lá! – e deu de ombros-Bem, como eu estou sempre certo deve ser pra lá mesmo!
-Se seu senso de direção for tão grande quanto é a sua modéstia...- ironizou Sirius, concluindo-Eu prefiro ir por lá!- e apontou uma trilha completamente contrária à escolhida pelo amigo,que fez uma careta:
-Olhe aqui espertinho, eu passeio por essa floresta á dois anos e tenho absoluta certeza de que o caminho mais rápido pro Salgueiro é este!
-A-há!- Sirius agora puxava um fraco e quieto Remo pelo braço-Pois eu também passeio pela floresta á dois anos, e digo que vamos por aqui!
-Não vamos não!-Tiago agarrou o outro braço de Lupin,que agora revirava os olhos.
-Larga!-latiu Sirius, puxando Remo com mais força.
-Larga você!- Tiago parecia estar convencido de que estava brincando de cabo-de-guerra. Sirius não parecia pensar diferente,pois cravou os sapatos na terra como forma de agarrar-se e,assim,impedir que Tiago levasse Remo para longe dele. Iniciou-se uma competição de força na qual ganhava quem conseguisse arrastar o lobisomem consigo.
-Erm,pessoal...-uma voz um tanto lerda cortou o duelo entre os marotos, que não lhe deram importância:
-Deixa ele,Sirius!
-Deixa você,Tiago!
-Me deixem os dois!
Almofadinhas forçava Aluado para a esquerda;Tiago retrucava puxando-o para a direita,enquanto o coitado,logo no centro daquela rixa de malucos, sentia o corpo alquebrado pedir clemência. Se a elasticidade de seus ossos,pele e músculos já havia sido testada com a transformação daquela noite,estava tendo agora de provar ser inigualável:
-Vocês vão me partir no meio!
Enquanto isso gotículas acovardadas já brotavam da testa lívida de Pedro. Ele tentou o aviso mais uma vez, cutucando o ombro de Sirius (que ainda puxava Remo como se tentasse rasga-lo):
-Pessoal,por favor...- seus olhos de rato estavam vidrados. Ele fitava com aversão algo que,definitivamente, não era o confronto do trio. Como não conseguiu fazer com que o ouvissem, começou a retirar-se de fininho,andando cuidadosamente para trás.
-Ahhhh!!!- quem gritou finalmente foi um apático e arranhado Lupin. Tiago e Sirius pararam finalmente de maltrata-lo pelo susto que provocou sua voz escandalizada.Ambos se afastaram por pensar tê-lo machucado de verdade:
-O que?!-perguntaram num coro exaltado.
-Ali...-sem o apoio de Tiago e Sirius,Remo deixou-se cair no chão da floresta.Seus olhos agora estavam fixos no mesmo ponto que os de Rabicho. Os outros marotos viraram-se não com curiosidade,mas com certo receio...
O que viram fez com que toda a energia moral ante aquele perigo se esvaí-se junto com os guinchos sufocados que Rabicho dava encolhido atrás de Lupin: uma Acromântula. A maior que eles já tinham visto,o que era surpreendente levando em conta o número de
vezes que os marotos já haviam estado naquela floresta que,mesmo com uma coleção invejável de mata, jamais poderia esconder uma criatura daquele tamanho durante dois longos anos. Como é que eles nunca haviam se deparado com ela?!
A aranha titânica examinou os visitantes passando seus oito olhos negros e brilhantes de forma conjunta para não ficar tonta. Suas pernas-com envergaduras que atingiam precisamente quatro metros e meio cada- permaneceram imóveis, porém, suas pinças produziam um estalido distinto mostrando que ela estava excitada. Uma secreção venenosa escorria das mandíbulas (estas cobertas por pêlos grossos e negros), como se o bicho estivesse salivando graças ao apetite. Apesar de dar preferência á presas de grande porte aquela acromântula em particular parecia ser bem inconstante, pois apenas o fato de estar visível numa clareira (ainda mais á luz do dia) já ia contra seus hábitos naturais.
-C-como essa coisa surgiu aí do nada?!-Sirius indagou após um pigarro.Ora essa, ele bem podia estar na Grifinória, mas afinal de contas quem é que disse que coragem é a ausência do medo?!
-Ela não surgiu aí do nada,Sirius...-explicou Pedro numa voz que ia morrendo a cada palavra proferida- E-eu tinha visto um vulto imenso ali...-e apontou para um conjunto fechado de árvores,moitas e barrancos- muito antes dela chegar até aqui.
-E porque não avisou?!- a pergunta de Tiago pareceu-se mais com um sopro.
-Eu avisei!-choramingou Rabicho, agora diminuindo gradativamente. Voltou a ser um rato numa questão de segundos e, em menos tempo ainda, se jogou furtivamente para o bolso do manto longo que cobria Remo. O rapaz de cabelos castanhos lançou um olharzinho invejoso para o calombinho que se formou em seu bolso, meteu a mão lá dentro e voltou os olhos para o monstro á frente. Tentou recapitular todos os dados que sabia sobre acromântulas...mordeu os lábios,franziu a testa. Oh sim! Como podia ter esquecido?!
-Bom...bom dia dona aranha!-Lupin tentou ser gentil.Tiago e Sirius o fitaram abestalhados:
-Você enlouqueceu?!O que está fazendo?!!
-Remo, acho que a lua te afetou mais do que eu imaginava...
Mas Aragogue ficou grato em poder trocar uma última palavrinha simpática com suas presas do dia:
Então você é o lobisomem de ontem.
Os marotos não esperavam esse comentário.Não esperavam na verdade comentário algum, afinal de contas, não é normal ficar parado em frente a um predador de oito pernas aguardando o seu “Bom dia” antes de ser devorado.
-Ela fala?!-engasgou-se Almofadinhas-Mas é um bicho!
-Pensei que você fosse um dos destaques dessa escola, Sirius.- Lupin lhe lançou um olhar de “é o que dá ser inteligente mas não estudar!”- É claro que ela fala. Ou,devo dizer...ele?!
Vocês vem aqui todas as luas-cheias.-Aragogue continuava a relatar a ficha técnica do grupo humano ignorando por completo as perguntas de Remo- Eu os vejo sempre.
-Que bom!Então já somos íntimos!!-Tiago abriu um sorrisinho nervoso- E pessoas íntimas,digo, criaturas íntimas não devoram umas ás outras,não é?!Aliás somos todos meio animais,não ?!Eu um meio-cervo, o Sirius um meio-cachorro...só o Pedro que é um completo rato!!-Rabicho teria feito um “Hei!” com o comentário,mas não pôde,pois estava escondido no bolso de Aluado.
Carne boa deve ser a de vocês...humanos tenros com poderes especiais.-grunhiu a aranha movendo uma das patas para a frente.
-Boa, Tiago!!-Sirius o repreendeu, sacando a varinha logo em seguida.
-Não Sirius, calma!-Remo segurou o braço do amigo- Essa aranha aí é uma raridade!Existiam boatos de que uma colônia desses animais teria se formado na Grã Bretanha,mas...
-Mas então nós acabamos de confirmar que é verdade!- Sirius incitou Tiago a fazer o mesmo.-Antes ele do que nós,Aluado!
-Apoiado!-Pontas, já de varinha em punho, tentava se lembrar de um feitiço potente contra aranhas também potentes. Rabicho tremia feito um pudim no bolso de Lupin,que abraçou-se tanto por frio quanto por medo da situação. Estava sem varinha, roupa, saúde, forças...não tinha nada,apenas o robe de Sirius (ah sim, e o corpo coberto por arranhões).
Aragogue soltou um chiado horrendo de quem está preparado para o ataque. Os marotos encheram os pulmões de ar para ordenarem seus feitiços defensivos quando algo,de repente, começou a se aproximar do grupo em passadas poderosas. O estranho parecia calçar botas de couro de trasgo tamanho 57,ou quem sabe,62?!
Hagrid!
Resmungando aquele nome a Acromântula macho deu indícios de querer cessar fogo e se afastar. Sirius não sabia se sentia orgulho ou desapontamento:
-Aonde vai,bicho covarde?!Desistiu?!
Mas o aracnídeo ainda era infinitamente grato ao meio gigante e, graças á todo esse respeito,decidiu poupar aquele grupo de humanos que-provavelmente- faziam parte da escola em que o guarda caça trabalhava. Foi-se rastejando para as sombras da mata fechada,sumindo pelo mesmo lugar de onde viera. Ao vê-lo partir,Remo suspirou aliviado, Tiago vitorioso mas Sirius quase que entediado:
-Oh não! E lá se vai mais um divertido passa-tempo!
-Ainda teremos muitas Luas-cheias para voltar até aqui,Almofadinhas.-consolou o único maroto que não se sentia triste em dizer aquilo- E pode ficar animado porque nossos problemas ainda não acabaram!
-Ah não?!-o outro sorriu de orelha a orelha.
-Não.-concordou Lupin ,sério-O Rúbeo não pode nos ver aqui e ele está chegando...-uma voz grossa assoviava á uma distancia consideravelmente próxima-Ouviu?!
-Caramba!-Sirius voltou-se para Tiago respirando rápido graças ao impasse de sair correndo ou ir se esconder- Onde está sua capa,cara?!
-Ihhhhhh...Eu joguei ela em cima da cama do Aluado lá na Casa dos Gritos!
-Então o que estamos esperando?!Vamos por ali!- e agora o rapaz moreno lançou todo o corpo na direção que indicara alguns minutos antes,quando ainda nada de relevante acontecera naquele amanhecer. Potter torceu a cara:
-Hum...eu ainda acho que devíamos ir por lá!
-Ah não, de novo não!!- o monitor decidiu tomar as rédeas da situação- Deixem de ser pirracentos e vamos logo com isso!- passou os olhos pelo local, tentando se localizar. Farejou o ar, aguçou os ouvidos e, pestanejando, concluiu-É por aqui!!
Tanto Sirius quanto Tiago fizeram um muxoxo ao notar que o lobisomem não escolhera nenhuma das duas opções apontadas por eles.
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