The Black day
Capítulo II
The Black Day
Pontualmente, como sempre, às 7 horas da manhã os Black, com exeção de Wladimir, o patriarca, que tivera um compromisso logo cedo, e Sirius que ainda não dera as caras, estavam todos reunidos na mesa do café. O silêncio mórbido combinava com o ambiente luxuoso, porém frio e austero, da sala de refeições. O cômodo largo que ficava entre a sala principal e uma sala íntima no lado leste da mansão, era decorado em tons de carmim e preto que se somavam ao castanho escuro dos móveis de madeira de lei.
Tudo corria como de costume, quando, algo atípico aconteceu; justamente Helen Black que clamava que a primeira refeição do dia deveria ser feita em total silêncio, quebrou a regra.
- Sólon, onde está seu irmão? Por que ele ainda não desceu? - Perguntou ela levando uma xícara de chá à boca.
- Não sei, senhora. Quando acordei ele já não estava em seu quarto, mãe.
- E quando foste dormir, viu-o? - Insistiu ela no tema.
- Na verdade... - Sólon se ajeitou na cadeira parecendo pensar. As feições de Helen contraíram-se demonstrando sua impaciência com a demora do filho mais velho em lhe dar uma resposta. - Pois então, responda! - seu tom era de uma calma intimidadora.
- É que eu não tenho certeza, senhora. Quando fui me deitar ele já havia se recolhido.
- Pois bem, alguém o viu, Regulus? Sarah?- Ambos se limitaram a negar com a cabeça enquanto continuavam a tomar seu café.
Balançando uma única vez o sininho de prata ao seu lado na mesa, Helen chamou por Monstro.
- Monstro está aqui senhora - Uma figurinha horripilante se fez notar, saltando de um canto escuro da sala, erguendo a cabeça para aparecer do outro lado da mesa; estava dando a mamadeira pra Sophie a caçula dos Black, que estava prestes a completar um ano.
- Onde está o Sirius?
- Monstro não viu o gêmeo Black voltar. Mas Monstro viu ontem quando aquelezinho do sangue sem tradição chamou ele e eles saíram juntos envergonhando o sobrenome de vossa família.
- Bom dia gente... - Para surpresa geral Sirius surgia na porta nesse exato instante, vestindo seu pijama de quadribol, com o cabelo todo bagunçado. ¿ Desculpe o atraso, acho que perdi a hora. - Justificou-se.
N/As: Sirius e Sarah são irmãos gêmeos e pertencentes a uma família de sangue puríssimo. Por essa razão nasceram com um poder especial, possuem a capacidade de se comunicarem telepaticamente. Além disso, gêmeos desse tipo podem vir a desenvolver entre si oclumência e/ou legitimência, mas nenhum desses dons haviam se manufestado. Nenhum de seus amigos e familiares tem conhecimento sobre a telepatia..
OBS: Toda vez que o diálogo entre os dois estiver entre aspas trata-se de uma conversa telepática.
- Sirius, você tá tããão ferrado!
- Não me diga que ela sabe? Como? - Disse desanimado, ele realmente havia se esforçado para não ser pego.
- Sabendo. Se você tivesse chegado na hora certa como sempre ou se pelo menos tivesse escolhido um pijama mais amassado, até que daria pra enrolar um pouco, mas assim passadinho mano, esquece!
- Bom, pelo menos eu não esqueci do cabelo, tá todo bagunçado, uma verdadeira obra de arte, fala sério? - Brincou o garoto tentando afastar o nervosismo.
- Cê é muito cara de pau...
- Sem chance mesmo de ela acreditar que eu dormi em casa?- Declarou seu resto de esperança.
- Coloquemos assim, é mais fácil mamãe permitir que eu case com um Abdelazir do que acreditar em você nesse instante.
- Nossa! Tá assim tão ruim? - Ele deu um meio sorriso.
- Você devia ter inventado que dormiu na casa do Walden ou do Lucius, Sirius. Deu mole...
Antes que Sirius pudesse responder a voz de Helen cortou o ar num tom imperativo.
- Me deixem a sós com ele!!
Sirius jurava que pode ver certo sorriso no rosto do irmão dois anos mais velho, Sólon.
- É maninho, eu realmente gostava de você, sabe que cê era o meu favorito? - Falou Sarah que a essa altura já estava do lado de fora da sala de jantar, junto com Sólon, Regulus e monstro que com muita dificuldade tomara Sophie no colo e cantava para ela não despertar: "Nãna neném, que os trouxas vão morrer...Você é uma Black, vão todos te temer."
Sarah ao ouví-lo balançou a cabeça descrente, até na máxima demonstração de afeto, Monstro conseguia ser mais exdrúxulo que o esperado.
Com a saída de todos, Sirius pensou que o clima em um campo de concentração, tema que ele havia dado em História dos trouxas, devia ser bem parecido com o que ficara na sala de refeições.
Tentando evitar encarar os olhos da mãe, o garoto pôs-se a observar com um falso interesse uma escultura em cima da lareira, como se a peça não tivesse estado ali todos os dias desde antes do seu nascimento. Naquele momento, Sirius pode até se sentir grato por algum de seus ancestrais de muito mau gosto ter posto ali, aquela que ele considerava a peça mais horrorosa na mansão Black.
- Onde você estava? - Argüiu Helen num tom nada agradável.
- Dormindo... - Respondeu o garoto sem muita certeza de como iria se safar daquilo.
- Eu não perguntei o que você estava fazendo, eu perguntei aonde! - Insistiu Helen agravando o tom de voz.
- Essa resposta não é óbvia mamãe? - Falou o garoto fazendo cara de simpático.
- Sirius Black, hoje não estou para estas suas brincadeiras.
- A senhora nunca está - Disse ele de forma quase inaudível.
- O que foi que disse? - Questionou ela.
- Nada. Já que a senhora sabe onde eu estive, por que não acaba logo com isso? Decrete minha punição! O que vai ser dessa vez? - A voz do menino demonstrava mais irritação do que submissão.
- Por hora eu não pretendo puni-lo... - Os olhos dela cravados nos de Sirius, o extremeceram por dentro apesar da boa notícia. - Mas, permita-me alertá-lo de que se você não pretende passar os próximos anos num internato na Irlanda deve afastar-se imediatamente de qualquer membro dessa família asquerosa.
- Quem foi que disse que eu sou próximo de toda a família? - Brincou de novo com certo receio. Mesmo que quisesse, Sirius não conseguia evitar, sua natureza parecia gostar de desafiar a autoridade.
- Sirius Reymond Black não ouse me provocar. Eu falo sério. É inadmissível que alguém da sua classe e posição se relacione com esse tipo de gente. Estou sendo clara?
- Sim senhora. Mas como já lhe disse antes, eu não tenho e não pretendo ter nenhum tipo de amizade com os Abdelazir. Meu convívio com ele é meramente social, pode acreditar. - Sirius não podia estar mais repleto de cinismo.
- Bem que eu gostaria. - Devolveu ela relaxando o cenho. - Deixe-me aproveitar a ocasião para lembrá-lo de que hoje haverá nessa casa um jantar, no qual a sua presença é de extrema importância.
- Jantar? Eu, importante? Por quê? - Ele estranhou.
- Não lhe dei permissão para me interromper. - Helen detestava ser interrompida. - Retomando o assunto, eu gostaria de dizer que estou disposta a esquecer sua ignóbil conduta com a simples condição de que você mantenha, nesse jantar, todo o padrão de etiqueta e classe, dignos do seu sobrenome.
- Se não? - Indagou o garoto num tom quase irônico.
A expressão de Helen se fechou novamente com a tamanha ousadia do filho.
- Não me desafie Sirius. Nunca mais fale comigo nesse tom! Eu exijo que você esteja simplesmente impecável quando descer para o jantar de hoje à noite, e eu sei que é exatamente isso que você fará caso não queira que sua carta de autorização para os passeios a Hogsmade seja cancelada, ou que eu mexa alguns pauzinhos para que você nunca mais jogue quadribol, ou então que eu destrua seus ingressos para o próximo campeonato mundial desse esporte vulgar e grotesco, ou que algum elfo estúpido use suas vassouras como lenha quando eu quiser que a casa fique aquecida, ao ainda que coloque seu pai a par de certos episódios...
- Tá bom mãe, eu já entendi. - Nenhuma daquelas ameaças era exatamente nova para Sirius. - Você sempre consegue ser muito persuasiva. E me desculpe, não foi minha intenção desafiar sua autoridade com a minha maneira de falar, senhora. - O garoto odiava sua posição, odiava se dar conta de que sua vida estava totalmente sobre o julgo de sua família, mesmo assim, sabia que em certos momentos o melhor a fazer era não bater de frente.
Helen esboçou um sorriso vitorioso - Tome seu café, Sirius . Não há nada melhor após uma noite bem dormida, não é verdade? - O garoto trincou os dentes de raiva. Helen continuou - Não é bom que você coma tarde para que não esteja sem fome no almoço. Bom apetite, com licença meu querido! - Disse ela antes de se retirar.
* * *
Sirius mal comeu e em seguida subiu as escadas apressado, enquanto chamava pela irmã mentalmente.
- Onde cê ta? Cacete!
A menina repondeu como quem diz a coisa mais óbvia do mundo - No meu quarto, onde mais?
Mais, alguns poucos passos e Sirius alcançou o ambiente. Sarah tinha treze anos como o irmão, mas, seu quarto deixava a impressão de que a menina era, ao menos uns dez anos mais velha.
O cômodo era bem amplo, talvez maior do que um apartamento pequeno em Londres. Na parede em frente a porta dava-se com uma espécie de saleta, um sofá vinho de veludo com almofadas brancas bordadas também em vinho e em preto. Ladeando o sofá à esquerda havia uma poltrona da mesma cor e a direita uma cômoda de madeira onde a menina, dispunha, de forma quase linear, talvez não por vontade própria, escovas, perfumes e outros utensílios que Sirius não fazia idéia de pra que serviam. Acima da cômoda um espelho jazia. No centro uma mesa baixa, também de madeira, mas com um tampo de vidro, onde alguns livros pareciam desta vez indiciplinadamente jogados ao lado de um vaso de cristal com rosas vermelhas.
Olhando-se para a esquerda percebia-se um degrau, uma espécie de elevado. Ali em cima a cama era o móvel central. Uma cama de casal, coberta cuidadosamente com colchas pesadas também em tons de vinho, um tecido, porém delicado e aparentemente aconchegante. Ladeando a cama dois criados mudos, miniaturas do outro móvel, um abajur repousando sob cada um. A menina mantinha também na cabeceira uma foto de cada lado. Na primeira ela sorria alegremente, amarrava os longos cabelos e mandava língua para o fotógrafo, na segunda aparecia séria tendo toda a família ao redor.
O chão de tábuas rústicas e escuras, brilhavam de tão limpo, e era coberto apenas por dois grandes tapetes detalhadamente trabalhados, um em baixo do sofá e outro em baixo da cama. As paredes eram pintadas de um branco marfim, e as cortinas tinham sua primeira camada em branco e a segunda em vinho. Ao lado direito da cama, na mesma parede da porta de entrada, também no elevado, um armário de apenas quatro portas no mesmo estilo que todos os demais móveis. Ao lado esquerdo da cama, depois do criado mudo, duas portas no feitio de janelas, se abriam e davam para uma varanda.
Sarah sentada no meio da cama lia uma revista européia, mas não tardou em notar a expressão tensa do irmão.
- E aí, como foi? - Perguntou fechando a revista e levantando-se da onde estava.
Antes de responder Sirius se deixou cair no sofá, estava com sono, passara a noite em claro afinal. Sarah se aproxiumou e sentou-se na poltrona ao seu lado.
- Sei lá, estranho. - Ele disse, um pouco depois.
- Como assim?
Sirius pareceu não ouvir a pergunta - Cê tá sabendo desse jantar que ela vai dar hoje?
A menina fez apenas que sim com a cabeça.
- Desde quando? - Disse ele se sentando também, num súbito interesse pela conversa.
- Si, você realmente mora aqui? Desde que nós chegamos ela não fala noutra coisa.
- E eu lá ouço o que ela fala, Sarah? Você sabe quem vêm?
- Os de sempre. Com exceção dos Abranson que vão passar com os familiares em Lavifis e do pessoal da tia Viviana. Eles viajaram, eu acho!
- Viajaram sim, foram pra França. Eu lembro de ouvir a Andie comentar alguma coisa.- Andie era como Sirius chamava Andrômeda, a prima mais velha.
- Você não sabe a última! - Sarah sorriu. - Você precisa ver a última edição do Profeta Diário!
- Sarah, desde quando eu leio jornal?
- Não, se liga, chuta quem tá dividindo o pódio com o poderoso clã Black? - perguntou rindo
- Nossa deixa-me ver.- Sirius brincou fazendo cara de pensativo - Os Fortman? Não,não, não, não os McNair! Quem sabe os Malfoy?! - Disse fingindo incerteza.
- Negativo.
- Ué, alguém subiu então?. - Perguntou por perguntar. De tempos em tempos, a coluna social do jornal publicava uma espécie de escala das famílias mais conceituadas em cada país, os Black nunca deixaram de estar em primeiro lugar em muitos países.
- É o que eu estou tentando te contar. Agora chuta quem?
- Sei lá... Os Abranson, os Clifford, fala logo Sarah! - Pediu mais pra se livrar do assunto do que por curiosidade.
- Não figura, Aquelezinhos do sangue sem tradição - Disse a menina que além de ser uma cópia fidelíssima da mãe em termos de beleza, imitava Helen com bastante exatidão. Sirius mal pode acreditar no que ouviu.
- Mentira !! Tá falando sério? Dona Helen já viu isso? - Aquilo era uma bomba!
- Acho que não. Eu não estou ouvindo nenhum escândalo!
- Ela vai se rasgar inteira quando souber. - Afirmou o garoto já se levantando.
- Eu só espero estar longe quando isso acontecer... Ei! Espera! - Disse a menina fazendo o irmão que já alcançava a porta, girar nos calcanhares e olhar para ela.
-Que foi? Eu preciso dormir.
-Moufid, como vai?
- Normal. - Disse ele sonolento.
- Eu não entendo porque você insiste nessa amizade. Nada contra ele, você sabe, mas é que...
- Coloquemos assim Sarah: Moufid além de ser um cara legal e morar num lugar onde as coisas são bem mais animadas que por aqui, me dá a chance de ver Dona Helen possessa de raiva, o que por sinal muito me agrada.
- Quem te vê falando assim até pensa que você não tem o que temer. Se eu fosse você eu tomava mais cuidado. Quem brinca com fogo...
Sirius a interompeu:
- Se acostuma à queimadura! - Disse firmemente.
- Pode ser. Mas quando papai souber que você ...
- Ele não vai saber. Fui salvo por esse jantar. - Respondeu o menino respaldando todo o corpo na lateral porta.
- Como assim?
- É que eu e o poder em pessoa fizemos um acordo. Unilateral é lógico! Se eu me comportar como um digníssimo Black, eu saio dessa ileso.
- E se não?
- Não repita essas palavras novamente. Elas não são boas. - Disse, meio sorriso na boca, numa alusão a conversa com a mãe. - Eu não tenho essa opção. É isso ou encarar o velho Wladimir, sair do time, perder meus ingressos pra Copa, perder autorização pra Hogsmead...
- Original essas, hein?! - Sarah sorriu. - Mas pensando bem eu acho engraçado, ela está tão preocupada com um jantarzinho de Natal. Tá certo que normalmente você se comporta que nem ... Isso é, quando você desce , né? Mesmo assim é muito estranho...
- Foi o que eu disse no ínicio, estranho.
- A menos que...
- O que? Fala...
- Nada, besteira.
- Qual é Sah? Isso não vale!- Fez força para ouvir os pensamentos dela
- Sai fora, Sirius - Ela respondeu percebendo.
Para felicidade da menina, Sólon surgiu no quarto nesse momento - Sirius, mamãe está te chamando?
- Pra que? - Perguntou ele em tom de manha.
- O Sr. Wilson, o alfaiate está lhe aguardando.
Ninguém merece, algo me diz que o dia vai ser longo. Eu quero dormir...Droga!!
* * *
Pontualmente às 20 horas os convidados começaram a chegar, alguns com autorização exclusiva aparatando no hall de entrada da mansão, outros pelos meios mais convencionais. Todos sendo recepcionados pela família, que a essa altura já estava reunida na sala, com exceção de Sirius e Sarah que ainda estavam se arrumando e de Sophie que dormia sendo velada por Monstro.
A decoração como de costume continuava sóbria, e mesmo sendo véspera de natal nenhum objeto evidenciava tal data. Helen Black estava em sua usual elegância, vestida majestosamente com um longo vestido de veludo negro, estando acompanhada à altura pelo marido Wladimir Black em trajes de gala. Sólon e Regulus estavam igualmente alinhados e impecáveis, apesar de Regulus não dar nenhum sinal de entusiasmo com a ocasião.
Simon Regulus Black era o último filho homem do casal, o garoto de apenas 10 anos já demonstrava alguns traços de rebeldia, similares aos do irmão Sirius. No entanto, devido a sua personalidade introspectiva seu comportamento parecia não incomodar muito sua mãe.
A sala de estar antes vazia, acolhia agora além dos anfitriões da casa, três das quatro famílias convidadas. O casal Forttman e seu único filho Caim da mesma idade de Sólon, os McNair e seu filho caçula Walden que regulava com Sirius e Sarah, e os Malfoy com seu único herdeiro Lucius que também regulava com os gêmeos.
Em poucos minutos o silêncio deu lugar a conversas em todos os grupos que se formaram. Num canto os homens sentados em confortáveis poltronas não tardaram a discutir política e negócios, sendo assistidos atentamente por Caim Fortman. Já Helen após ordenar a Regulus que chamasse os irmãos, se dirigiu a saleta acompanhada das amigas, para que assim com um pouco mais de privacidade pudessem iniciar suas críticas à vizinhança, em especial a Emma Potter.
Em seu quarto Sirius parecia não ter nenhuma pressa em acabar de se arrumar, detestava com todas as suas forças tais reuniões. Se distraia com o cadarço do sapato quando percebeu a presença de Sarah ao seu lado.
- Nossa que veela! Só sendo minha irmã gêmea mesmo... Isso tudo é pro Caim, é? - Provocou.
- Sirius eu já te mandei pastar hoje?
- Ih calma! Cê não precisa ter vergonha, o amor é lindo mesmo! - Ele riu, dando finalizando o nó no cadarço.
- Tão engraçadinho. Vai brincando, quero ver quando acordarem uma garbour pra casar com você.
Sirius sorriu debochado - Eles não são nem malucos. Agora aproveita que você está aqui e põe essa gravata aqui pra mim? - Pediu ele a irmã.
-Me dá!
- Aí, a mãe tá mandando descer agora. - Era Regulus que acabara de despontar na porta.
- Putz, já começou a chatice. - Reclamou Sirius.
- Se eu fosse você, descia logo, eu a ouvi comentar com o pai que você já tá começando a noite mal com esse atraso. - Enquanto falava, Regulus, agora dentro do quarto mexia na coleção de miniaturas de vassouras de Sirius, que voavam dentro de uma estante embutida de vidro.
- E começa a diversão! - Ironizou Sirius. - Já chegou todo mundo, Lugos?... Ai, Sarah! Isso é um nó de gravata ou um homicídio?
- Com você se mexendo fica difícil. Pronto... acabei seu trasgo!
- Acho que ainda tá faltando alguém. Porque, faz diferença? - Respondeu Regulus entediado.
- Nenhuma. É só mais gente para aturar mesmo.
- Anda meninos chega de papo, vamos descendo, este não é um bom momento para desafiar Dona Helen.
- Não disfarça não Sarah. Tô dizendo... Sabe o que é isso Lugos? Ansiedade para ver o noivinho. - Regulus riu.
- HÁHÁHÁ ... Eu mal posso esperar. Vamos só ver quem vai rir por último essa noite Sirius! - Disse Sarah em tom de ameaça.
- O toade já tá lá em baixo, puxando o saco dos coroas. - Comentou o caçula.
- Ele é um bom menino. O exemplo a ser seguido. - Riu Sirius.
* * *
A chegada de Sirius e Sarah ao salão atraiu a atenção de todos. O menino pelo fato de ter dado o ar de sua graça, o que era raro acontecer, e a menina por sua beleza indescritível, que se tornava ainda mais gritante devido à elegância e o bom gosto de suas vestes. Mesmo tão nova, não havia no bairro ou em Hogwarts rapaz que não tivesse por Sarah Black uma ligeira queda. Além da beleza, a garota era dotada de carisma e personalidade, assim como seu irmão, mas ao contrário dele, ela parecia não ter se dado conta ainda do poder dessas características. Sua prima Bellatrix embora fosse tão ou mais bonita provocava antipatia a maioria das vezes.
Os dois trataram rapidamente de cumprimentar os presentes, se desculpando pelo atraso. Sirius não pode deixar de notar que Helen o observava atentamente da saleta.
A única dificuldade para Sarah era cumprimentar Caim Fortman, tal tarefa já não era mais tão fácil desde que ela completara seus 11 anos e fora informada de que seus pais já tinham acordado seu casamento com o rapaz, como era de costume. Sempre que ela tentava iniciar alguma conversa um abismo surgia entre eles.
Agora com apenas 13 anos, casamento continuava a ser de fato uma coisa bastante distante e abstrata, ocupando assim pouco espaço nas preocupações da menina, que alias acabara de iniciar seu primeiro e morno relacionamento amoroso com Jonathan Bradley, artilheiro da Sonserina, dois anos mais velho.
Os jovens, com a chegada de Sirius, se reuniram na sala de jogos, com a exceção de Caim. Walden McNair, Lucius Malfoy e o próprio Sirius além de serem amigos de infância devido à proximidade de suas famílias, elos que atravessaram os séculos, e de suas residências, dividiam também o mesmo quarto em Hogwarts, juntamente com Severus Snape e Moufid Abdelazir.
Moufid era o filho mais novo de Mustafah Abdelazir, um comerciante de especiarias árabes que enriquecera muitíssimo nos últimos anos, em grande parte, porém devido ao comércio ilegal de artefatos de magia negra. O convívio diário com Moufid acabou por gerar entre os rapazes e ele uma amizade que agora tinha de ser disfarçada, por ele pertencer a uma família emergente, sem tradição e classe, que a todo custo tentava penetrar o hall da alta sociedade.
A implicância entre os emergentes e as famílias ditas sem tradição se agravara principalmente desde que sem a devida autorização, as famílias emergentes fundaram um bairro ao redor de Sandels, plagiando inclusive arquitetura do bairro e das mansões.
N/As: Sandels é um dos muitos bairros bruxos que abriga apenas as famílias que dispõe de alta posição social e financeira, bem como de respeito público. São elas nesse caso: os Malfoy, o clã Black, os Fortmam, os Abranson, os McNAir, os Clifford, os Potter e os Geller.
Bastou que eles se afastassem dos adultos para que Walden começasse a perturbar Sirius.
- Quem diria, hein? Sirius Black finalmente se tornou um garbour! Tá tão lindinho!!!- Lucius não pode deixar de rir do comentário debochado de Walden.
- É seu toade? Isso é culpa sua! Se eu não tivesse chegado tarde em casa, graças a sua genial idéia de...
- Fala mais alto Sirius, acho que não estão te ouvindo do outro lado do bairro.- Interrompeu Lucius sério ao perceber o interesse repentino de Sólon, que parara a partida de abalíste com Regulus (uma espécie de boliche bruxo, que se joga com uma varinha de ferro) e agora prestava toda atenção na conversa.
- Até que enfim, achei vocês ! - Sarah adentrava o salão de jogos.
- Ué! Cê tá me enxergando agora? Pensei que estava invisível. Você passou por nós e nem deu oi, foi logo paparicar as antiguidades. - Disse Walden, Lucius concordava seriamente com a cabeça enquanto tomava seu drink de frutas vermelhas, onde Sirius discretamente, tinha virado algumas doses de álcool.
- Até parece Walden!- disse Sarah enquanto abraçava o amigo pra logo em seguida, cumprimentar Lucius, que estava ao seu lado, com um pouco mais de formalidade.
- Gente dá um desconto, não são as antiguidades, é que ela não resiste ao magnetismo do Abel. É a maça do pecado!- Até Sirius foi contaminado pelas risadas dos dois amigos e riu do seu próprio comentário, como se aquela piada não tivesse sido repetida um milhão de vezes desde a última aula de estudos trouxas sobre religião.
- Por Merlim, você insiste em falar nisso! Pro seu ministério eu e ele estamos evoluindo. - Sarah queria falar sério, mas não resitiu e pôs-se a rir no meio da frase - Saiba que nós até trocamos mais do que cinco palavras? Levando-se em consideração, é claro, que boa noite já somatizam duas.
- Ainda assim, é um grande passo... Quem sabe depois do casamento vocês consigam até trocar impressões sobre o tempo.- Conclui Walden que ainda não havia parado de rir.
- Para o amor nada é impossível.- debochava Sirius enquanto abraçava a irmã.
- Bradley que o diga, né Sah!- Walden só se apercebeu da burrada que tinha feito quando o silêncio se instalou. O garoto se sentiu completamente arrependido, por colocar Sarah em tal situação, já que deveria ser óbvio que ninguém, principalmente Sirius, soubesse do recente namoro. Lucius deu um meio sorriso, era incrível como o amigo sempre se atrapalhava.
- Como assim?- questionou Sirius, encarando Walden - Não entendi.
Numa tentativa de consertar seu erro, Walden pôs-se a enrolar. - Ah! Sirius, como não entendeu? Fala sério...! Vai dizer que você não se lembra?
- Lembra do que?- Sirius já parecia levemente irritado.- Do que ele ta falando, Sarah?- Sarah fez que também não estava entendendo olhando para o Walden, num misto de nervosismo e curiosidade sobre como ele sairia dali.
- Sirius, como você pode não lembrar? Bateu a cabeça? Cê lembra sim. É claro que lembra! Lucius... - Ele pediu apoio.
Lucius apenas sorveu mais um gole da mistura em seu copo.
- Walden! Eu não só não lembro, como eu também não faço idéia do que você está falando.
- Nossa como você é esquecido! Nem faz tanto tempo assim.
- Walden, para!! Diz! Do que você está falando afinal?
- Daquela que vez que... Hum então, sabe o Jonathan é então, o Jonathan que é do sexto ano sabe? Lembra que ele foi lá , qual é o nome daquele lugar mesmo? Cê sabe qual é o Jonathan que eu to falando? - Até Sarah não conseguia não achar graça nas tentativas de Walden de parecer sério.
- É lógico que eu sei quem diabos é o Jonathan, Walden! Só pode ser o cara que joga no mesmo time de quadribol que eu e você! Você só conhece um Jonathan em toda Hogwarts - Sirius já não conseguia disfarçar sua impaciência.
- AH...! É verdade?
- Cê ta querendo me enrolar ou é impressão minha,Walden? - Perguntou Sirius. Lucius ao seu lado só observava a fisionomia de Sarah.
A situação começava a ficar ridícula, mas para sorte da garota e de McNair , naquele momento Helen surgiu na porta do salão.
- Sólon, Sirius, Sarah e Regulus, por favor me acompanhem. Os demais também. Quero que vocês conheçam meus convidados especiais dessa noite, que acabaram de chegar.
Todos, obviamente, obedeceram. E Lucius desaprovou e sorriu ao encarar Walden e sua expressão de alívio.
Ao chegarem na sala deram de cara com um casal e uma menina que aparentava ser sua filha.
"Surpreendente. Uma perua, um ricaço e um girino". - Pensou Sirius.
Sarah teve que se virar, pois não pode conter o riso com o comentário do irmão, que apenas ela escutara telepáticamente.
Helen adiantou-se em apresentá-los, mas ficou claro para Sirius que apenas os jovens não sabiam de quem se tratava.
- Esses são: Michael Cohen e sua esposa Antonella, antigos amigos de seu pai, que estiveram morando na Irlanda nos últimos dez anos e essa - prosseguiu sem olhar para a menina- é Hannah, sua adorável filha.
"Até minha meia amassada é mais bonita que isso. Perto disso aí, adorável é o Snape"
Dessa vez, não houve tempo para que Sarah virasse, a menina teve que disfarçar a risada, com uma crise de tosse e uma série de inspirações profundas.
- Nossa Helen, como eles estão crescidos. Obviamente vocês não lembram de mim, não é? - Disse o homem do casal se aproximando. - Mas não tem problema nós teremos muito tempo para nos conhecermos melhor. Estamos voltando para Sandels. Ocuparemos de novo a Mansão da Noite. - Sirius não entendia como alguém podia estar tão contente em voltar para aquele tedioso bairro.
- Bom, agora que chegaram todos, podemos iniciar o jantar. Venham comigo.
O jantar será servido no terraço.- De braços dados com o marido, Helen encabeçou a fileira de subida para o terraço, sendo seguida por todos os presentes.
O terraço estava majestosamente decorado num estilo europeu clássico, no centro se encontrava uma mesa com os exatos dezoito lugares, já arrumada com toda a louça e prataria marcada pelo emblema "Black". As dezenas de taças e talheres registravam a nobreza dos que ali estavam, ajudando a compor o clima de formalidade e refinamento da ocasião.
Com a entrada dos convidados, instrumentos bruxos semelhantes a: dois violinos, um violãocello, e um piano de cauda trouxas, iniciaram magicamente uma fúnebre valsa. A iluminação era feita em grande parte por velas, que não derretiam, deixando o ambiente num misto de claridade e penumbra.
Num movimento quase mecânico, os convidados se posicionaram ao redor da mesa conforme as normas de etiqueta bruxa, que ditava entre outras regras que:
1.Os anfitriões devem sentar-se nas cabeceiras.
2.À direita da anfitriã deve ser ocupada pelas convidadas (as respectivas esposas), tendo como critério a ordem de importância. À sua esquerda posicionar-se-ão as filhas da anfitriã respeitando a ordem etária. O mesmo deverá ocorrer com o anfitrião, seus filhos e convidados.
3.Havendo acordos pré-nupciais, o noivo, sendo convidado, sentar-se-á a direita da noiva, sendo filho do anfitrião sentar-se-á a esquerda da noiva.
4.Os lugares restantes deverão ser ocupados sem regras fixas, porém seus ocupantes deverão ser os últimos a sentarem.
N/As: Visualização da localização das pessoas na mesa, disponível logo na sequência.
Diferente do que era comum nas refeições particulares dos Black, o silêncio não se fez presente durante o jantar. Por toda à mesa várias conversas paralelas ocorriam. Na extrema direita, Caim Fortman dialogava prazerosamente com a madrinha e futura sogra, Helen Black e com as demais senhoras. Nem de longe ele lembrava o antipático e monossilábico rapaz, que Sarah tentara cumprimentar horas atrás.
- Caim, meu querido, deixe-me aproveitar a oportunidade para pedir-te que nos mantenha informadas sobre qualquer sinal de aproximação entre os meninos e aquele outro, o Abdelazir. Infelizmente nós não podemos averiguar o comportamento deles dentro dos muros de Hogwarts.
- Com toda certeza, madrinha. Eu ficarei atento, não se preocupe. A ingenuidade é sempre um terreno fértil para influências negativas.
Sarah mal podia acreditar no que estava ouvindo. Mas a menina não pode ficar mais incomodada do que Lucius, já que Áurea Malfoy aderira ao assunto com bastante fervor.
- Eu e Miran já avisamos a Lucinhus.- Walden precisou reprimir o riso com o guardanapo, Sarah conseguiu ser mais discreta tratando de ocupar a boca com um pedaço de sua lagosta. - Se por acaso chegar ao nossos ouvidos que ele andou brincado com esse menino ...- Sarah engasgou, "brincando" era demais, a garota tinha certeza de que Lucius desejava morrer naquele instante- nós tomaremos atitudes drásticas.- Walden não teve outra escolha a não ser pedir licença, para que não perdesse a compostura na mesa. Lucius inconformado olhava feio para a mãe.
Após as sobremesas os convidados já ameaçavam se levantarem quando foram conclamados a continuarem na mesa por Wladimir Black que pôs-se de pé.
- Meus caros amigos, antes que nós nos retiremos para a sala de charutos ou para a sala de chás, eu e Helen gostaríamos de compartilhar algo com vocês, que é motivo de grande alegria e satisfação para nós, e eu creio que será para vocês também. Finalmente é chegado o dia em eu posso anunciar que o elo que une os Black aos Cohen irá se fortalecer ainda mais, num futuro que não tardará por chegar. É com um imenso orgulho que vos digo que foi confirmado na presente data o acordo pré-nupcial que ligará definitivamente essas duas famílias pelos laços do casamento.
Uma salva de palmas tomou os ares. Wladimir Black estava profundamente emocionado. Michael Cohen ergueu-se abraçando-o. Antonella e Helen trocaram vitoriosos sorrisos. Sarah olhava aflita para Sirius como se previsse o pior. O garoto estava pálido, sentia seu estômago dançar enquanto, torcia para que não fosse ele e sim Regulus o envolvido em tal contrato. Sólon não poderia ser, já que o anuncio sobre os planos de uní-lo a prima Bellatrix tinha sido feito ao mesmo tempo que a confirmação da futura união de Sarah e Caim.
A expectativa era grande, todos mantinham sua total atenção ao Sr. Black que não se demorou em prosseguir levantando sua taça e sendo imitado pelos demais.
- Um brinde aos nubentes*. Minha estimada e futura nora Hannah Cohen e meu querido, - Wladimir inspirou fundo como se para ganhar fôlego - e muitíssimo amado filho Sirius Reymond Black. Congratulações meu filho!!
Uma nova salva de palmas ecoou pelos quatro cantos do salão.
* * *
- Achei que você fosse estar aqui. - Disse Sarah adentrando a sacada vazia do terceiro andar do lado leste da mansão, enquanto cruzava os braços sob o roby azul, para se aquecer do frio da madrugada.
- Eu não quero conversar Sarah. - A voz de Sirius vinha de cima. O garoto estava deitado no telhado, Sarah mal podia ver seus pés.
- Boa noite, então. - Sirius não respondeu, estava absorto demais em seus pensamentos. Não havia nada que pudesse fazer, debater o tema com seus pais estava fora de cogitação principalmente devido à felicidade de Wladimir.
Glossário do capítulo:
Nubentes( latim nubens)- Aquele que é noivo ou noiva, que está para se casar.
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