Conto XXV – Uma questão de nic



Conto XXV – Uma questão de nichos

Nota Inicial: O evento que se desencadeia no conto que se segue daria motivação aos Marotos para a idealização do mais impressionante dos seus feitos. Narrado pelo Almofadinhas em primeira pessoa, o conto apresenta-se num tom sombrio e, ao mesmo tempo, de aventura. Leia e divirta-se.

Remo Lupin

O vento soprava pelas largas janelas da Ala Hospitalar e lançava os meus cabelos negros e bagunçados por todo o meu rosto. O sol nunca parecera tão convidativo e até mesmo o canto dos pássaros, à distância, me chamava para sair daquela maldita cama e aproveitar mais um final de semana em Hogwarts.

Os furúnculos estavam quase curados. Ainda tinha uns poucos pelo pescoço e abdômen, mas, no geral, eu não parecia mais um pão embolorado. Completava-se minha segunda semana aos cuidados da enfermeira do colégio.

Volta e meia, Tiago, Pedro e Lupin apareciam para me visitar. Era o único momento feliz do dia.

- Se sente melhor? – Tiago me perguntou, sentado à beira de minha cama.

- Ah, sim... os tumores lá de baixo já sumiram – respondi-lhe, com uma expressão de alívio no rosto – E vocês, como vão?

- Bem, apesar das aulas. Muitas atividades por entregar – Pedro respondeu, olhando-me como que curioso.

- Cara, precisamos te contar uma coisa – Lupin anunciou, dobrando o seu tronco e aproximando os seus lábios do meu ouvido – Temos um mapa da escola – sussurrou.

- Um mapa?

- Shhh! Fale baixo! – os três me censuraram – Ninguém pode ficar sabendo, a não ser nós três, é claro. O mapa foi meio que, digamos, roubado – Tiago explicou, ao que franzi a testa.

- Mas não vai fazer falta ao dono! E o dono era o Filch, se quer saber – Pedro completou, a voz baixa, fazendo a minha expressão mudar no mesmo instante.

- Ah, sim. Se foi do Filch, não há problema – respondi – Então...?

- O mapa é extraordinário, cara! Mostra-nos todos os pontos dentro de Hogwarts, todos – Tiago me contava, estupefato – Todos os banheiros, salas, cozinhas... tudo!

- Exceto o território externo que inclui jardins, lago e a Floresta Negra – corrigiu Lupin a Tiago, encarando-me, ali, deitado na cama do hospital.

- Nossa! Como que vocês...?

- O Remo durante a detenção, conseguiu tomar do Filch – Pedro explicou, em tom de sussurro.

- Isso aí, garoto! – exclamei, sentando-me na cama – Então... dá pra saber onde fica o Salão Comunal das outras casas? Onde é o banheiro das meninas?

- Claro! O salão da Sonserina fica atrás da escultura de uma cobra na masmorra três. Só não descobrimos ainda a senha para que ela abra passagem – Tiago explicou e eu ficava mais animado a cada palavra.

- Não vejo a hora de sair daqui – confessei.

- O que ainda vai demorar um pouco, senhor Black, principalmente se seus colegas vierem sempre, perturbando a sua recuperação – Madame Pomfrey, a enfermeira responsável pelos meus cuidados, surgiu, preocupada, insistente, atenciosa e chata como sempre.

- Estamos em número de três! – Lupin respondeu a mulher.

- O que não significa que possam fazer tanto barulho. Fora daqui!

- Mas nós não...

- Eu disse fora!

- Peçam a Francy que venha mais tarde! – exclamei para os garotos à porta.

- Sr. Black, descanse!

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A noite chegara mais uma vez e eu acabara por concluir que a Francy não viria mais uma vez. Por que ela não dava mais bola para mim? Em que eu precisava mudar para tê-la de volta? Estava recluso nesta teia de pensamentos quando escutei um barulho de pessoas correndo vindo do corredor.

- Alohomora – os passos cessaram rente à minha porta e ouvi uma voz masculina invocar o feitiço.

Os rostos de Pedro e Tiago apareceram na fresta da porta recentemente aberta.

- Não fale nada. Não pergunte nada. Apenas venha! – Tiago murmurou e as cabeças dos dois sumiram atrás da porta.

Assustado, levantei-me do leito com muita cautela, para que as molas da cama não estalassem e alertassem a minha fuga. Retirei a veste hospitalar e apanhei minhas roupas de baixo e vestes negras da escola, trajando-as ligeiramente e pulando para fora do hospital. Pedro e Tiago me aguardavam encostados à parede do escuro corredor iluminado apenas pelo brilho amarelo da lua cheia. Entendi tudo segundos antes de Tiago revelar:

- O Remo precisa dos seus amigos.

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Caminhamos pela escuridão por algum tempo. Muito tempo, aliás. Ao contrário da pressa que haviam apresentado para me retirarem da Ala Hospitalar, agora Pedro e Tiago andavam com cautela, visando a fazer o menor ruído possível nos vazios corredores de Hogwarts. Descemos mais um lance de escadas até que avistei a escadaria de mármore, um pouco à frente, levando ao Saguão de Entrada.

A porta para os jardins de Hogwarts estava entreaberta e isso me causou um certo arrepio:

- Mas como...?

- Shh. Filch deve ter descido para alimentá-lo. Não lembra do que eu e Pedro comentamos? – Tiago advertiu, mas não me aquietei.

- Mas, Tiago, estamos indo à direção do zelador! Talvez isso possa nos trazer alguma encrenca.

- Ainda há tempo de voltar atrás, se quiser! Mas eu vou em frente – Tiago rebateu, um tanto rude, e eu percebi o quão covarde estava mostrando ser. Consenti e me calei, continuando a seguí-los na empreitada noturna.

Mais alguns minutos de caminhada, a lua cheia encimando nossa aventura, e Tiago advertiu:

- Se virem qualquer coisa... se ouvirem qualquer coisa... me avisem e se aproximem –mexendo no bolso do seu casaco.

O ar frio da noite não tornava as coisas mais fáceis. Nossa respiração se mostrava ruidosa e era impossível não pigarrear a todo instante; tinha a impressão de que uma espécie de rolha tapava a minha garganta, dificultando ainda mais a minha respiração e concentração em ser o mais silencioso que pudesse.

- Tiago... ali – murmurei e no mesmo instante todos nós paramos de caminhar. O meu dedo indicava um arvoredo próximo circundado por alguns arbustos baixos e densos em que alguma coisa se mexia ruidosamente.

- Aqui. Todos, venham – Tiago exclamou, retirando de seu casaco uma espécie de manta de tecido fino e delicado. Aproximamo-nos do garoto e ele nos cobriu com a vestimenta.

- Para quê isso? – eu e Pedro perguntamos, em coro.

- Estamos invisíveis agora.

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Havíamos alcançado o arvoredo com os arbustos, mas não encontramos a fonte do estranho ruído que nos assustara. Ainda sob o manto da invisibilidade, ficamos sob as copas das árvores por uns instantes até...

Um uivo alto e agudo cortou o silêncio da noite e, mesmo sentindo minhas pernas tremerem incessantemente, percebi que o som parecia estranhamente doloroso. Parecia mais... um pedido de socorro.

- É o Remo. Ele precisa da gente – gritei para os garotos e saí da manta no mesmo instante, correndo na direção do uivo.

Depois de correr uns quinhentos metros avistei à minha frente a fera, meu amigo Remo Lupin. Estava num estado de dar dó: esparramado no solo gramado dos jardins, a mandíbula suja de sangue, as garras e pêlos impregnados de lama... os olhos tristes e lacrimejantes.

- R-remo... pode me ouvir? Sou eu, Sirius! – falei, aproximando-me dele com cautela.

- Sirius, espere! Ele não vai te entender! – a voz de Pedro surgia às minhas costas. Ele e Tiago vinham às carreiras pedindo-me para recuar, mas não os dei atenção alguma.

- Remo, somos nós. Sirius, Tiago e Pedro, seus amigos da Grifinória. Os marotos, lembra? – tentei outra vez, situando-me a três metros do lobisomem – Por favor, preciso que se recorde.

Mas então o lobo resmungou e abriu a sua mandíbula para disparar um grande e temível uivo. Desta vez, porém, parecia dizer com todas as letras: “não quero sua companhia”.

Meu coração disparou ao avistar o lobisomem erguer-se nas quatro patas e então ficar de pé, como um bípede, e caminhar em minha direção. Era o momento das escolhas: ficar ou correr. Foi quando decidi permanecer e tentar contato que uma voz rouca e raivosa emergiu da escuridão:

- Saia daí, moleque! Esse monstro maldito vai te devorar!

E avistei, a menos de dois metros de distância, o lobo dar-me as costas e disparar na direção de Argo Filch, os olhos faiscantes e uma expressão de ódio figurando em sua face peluda. Paralisado, assisti ao ataque em que Lupin desferira um único golpe, sumindo na escuridão, e deixando um Filch sangrento e desfalecido para trás.

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- Lumos! – bradamos eu, Pedro e Tiago de diferentes pontos nos jardins da escola, fazendo com que três finos feixes de luz se unissem ao brilho da lua na iluminação dos terrenos de Hogwarts.

- Corram! Ele foi pra lá! Cuidemos do Filch depois – Tiago bradou e os passos desembalados de nós três soaram por toda a extensão do jardim.

De fato, os grunhidos secos e ruidosos unidos ao barulho de quatro patas velozes mais à frente nos indicavam que estávamos na trilha certa em busca do nosso amigo lobisomem, embora não o víssemos em lugar algum. Sentia-me ao mesmo tempo disposto e relutante.

- Acho que seria melhor analisarmos nosso próximo passo antes de sairmos correndo por aí outra vez – sugeri, a voz ofegante de cansaço – Sabem, ele não parece mesmo o nosso Remo Lupin.

- Ele pode nos atacar – Pedro anunciou, segurando a sua varinha mais fortemente – E, sinceramente, não gostaria de revidar.

- Não revidaremos! Mas precisamos avistá-lo antes de seguir ou podemos ser confundidos e atacados – Tiago falou, olhando para a escuridão além do brilho das nossas varinhas.

- Esperem... Ali! Sob a árvore grande... não é ele, rolando no chão? – Pedro notou, apontando para uma mancha acinzentada mais à frente que indicava uma grande árvore de grosso caule e resistentes galhos sob a qual uma estranha criatura se encontrava.

- Deve ser ele... vamos! – Tiago bradou, apagando a sua varinha e aproximando-se a passos leves.

Imitamos o seu gesto e, após alguns minutos de lenta e silenciosa caminhada, pudemos finalmente reconhecer a criatura sob aquela árvore bizarra. Era, de fato, Remo Lupin.

- Amigo... o que há? – perguntei, escondido atrás de um arbusto.

A criatura parou de se mexer no mesmo instante, farejando ameaçadoramente o ar.

- Sirius, não acho que seja uma boa...

- Você está se sentindo só, não é mesmo? – indaguei outra vez, pondo minha cabeça para fora do amontoado de folhas que me escondia.

Mas foi aí que ele se pôs de pé, as garras brilhando ameaçadoras. Então ficou de quatro outra vez e avançou lentamente em nossa direção.

- Sirius... ele vai nos atacar! Não somos ratos ou corujas... somos humanos! A presa natural do nicho dos lobisomens! – Pedro balbuciava, nervoso, às minhas costas – Sabe, não adianta dialogar... ele não está entendendo nada!

- CORRAM! – gritamos todos juntos, quando o lobo avançou na direção do arbusto, os dentes afiados à mostra. Corremos desenfreados pelo gramado solo dos jardins da escola enquanto os grunhidos afiados de dentes rasgando galhos e folhas surgia e sumia do ponto em que nos encontrávamos segundos atrás.

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- O que... o que você disse sobre... ratos e corujas? – Tiago perguntou a Pedro, quando nos achávamos no interior do castelo, sentados na escadaria de mármore do Saguão de Entrada, seguros.

- Bem, tem a ver com as aulas de Tratos de Criaturas Mágicas. Não lembram que o professor mencionou o conceito de nichos? Nichos ecológicos? – indagou Pedro, encarando-me.

- Nichos não são os hábitos... a rotina do animal? – Tiago perguntou.

- Exatamente. Pois, nós fazemos parte do nicho dos lobisomens, numa parte não muito privilegiada, se me permitem: somos seu alimento favorito. Eles não são do tipo de comer ratos, pássaros ou castores, os lobisomens... apreciam a carne e o sangue humano... e seus gritos quando têm seus corpos dilacerados.

- Que trágico – suspirei, massageando meu peito, dolorido após tanto tempo de corrida.

- Precisamos nos incluir fora do nicho dos lobisomens – Tiago falou, o olhar muito além das quatro paredes do Saguão.

- Isso é tecnicamente impossível, Tiago. Mesmo para bruxos – Pedro retrucou, um tom de indignação permeando sua voz.

- Impossível para bruxos comuns, Pettigrew, não para animagos – concluiu de forma enigmática, pondo-se de pé.

Notas Finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).

# Sirius e Francy, o dilema continua. Embora algumas fãs mais exigentes abominem esse relacionamento, ele ainda vai dar o que falar. O galã Black, posso adiantar, se desdobrará e revisará os seus conceitos para se encaixar nos moldes de Francy, dona do seu coração! XD

# Filch não foi mordido, apenas sofreu ataques de garras afiadas. Isto o livra da contaminação com o vírus (ou magia, como queiram) causador das transformações em lobisomem.

# Sim, os garotos esqueceram de recolher Argo Filch dos jardins da escola! Não preciso dizer que ele viverá, não é mesmo? Bem, mas talvez depois deste incidente os olhos do zelador sejam um pouco mais duros para os nossos marotos.

# Romances! Prometo-os para o próximo conto! Cobrem se eu não cumprir! Pares: Tiago e Lana (uma última tentativa de reconciliação), Remo e Lílian (aquele romance inocente que adoramos ler) e Sirius e Francy (uma nova e louca paixão que está por surgir). Vou tentar e realmente espero cumprir o compromisso!

Eis mais um conto da série dos Marotos! Confesso que foi particularmente difícil de escrever. Não pelo roteiro, em sim, mas porque estou realmente catando nichos de tempo entre tantas horas de estudo. Espero que tenham gostado. Comentem, por favor, e até a próxima! ^^

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