Conto XV – Suor, odor e carne.
Nota Inicial: Contos marotos chega ao seu décimo quinto episódio e, enfim, teremos a participação do nosso até então ausente amigo, Pedro Pettigrew. Confesso que tentamos evitar que ele narrasse alguma coisa (ele mesmo evitou!), mas, não deu jeito, esta parte realmente precisa de sua narração. Não será a totalidade do conto, portanto, teremos narração conjunta. Serei narrador-observador e o Rabicho, ao seu devido momento, será narrador-personagem. Divirtam-se!
Remo Lupin
Faltavam apenas 15 minutos para o fim da dupla de poções. Slughorn havia encomendado aos segundo-anistas a preparação da poção do bem-me-quer. Segundo ele, bastava banhar-se com a solução de duas gotas da poção em água morna para que todos, incluindo o seu maior inimigo, sorrissem para você ao passar. Boa parte da sala estava mergulhada na doce fragrância de rosas silvestres que os caldeirões exalavam; a extrema esquerda do aposento, entretanto, escondia-se atrás de uma nuvem de fumaça amarelo-podre.
- Que diabos você fez, Pedro? – dizia Lupin, tapando o nariz com a mão e esgasgando-se com o forte odor de ovo podre.
- E-eu não sei – respondia o amigo, em meio a tossidas, enquanto a sua poção borbulhava fétida.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou Slughorn, aproximando-se do caldeirão. Esse ponto da sala estava quase vazio, já que muitos alunos, sem agüentar o cheiro da poção mal preparada, fugiram para a outra extremidade do aposento.
- Minha poção, professor... está um pouco... mal cheirosa – falava Pettigrew, com ânsias.
- A ignorância parece ser uma grandeza sem medidas! Por que diabos você pôs quatro pernas de sapo ao invés de duas pedras dos rins de um dragão norueguês? – Slughorn dizia aquilo rispidamente, arrancando risos de toda a sala – É claro que tinha de sair algo com este cheiro! – então, com um aceno de varinha, limpou o caldeirão – Hum, hum... – limpou a garganta – Detenção.
- Mas...
- Mas, nada! Você será avisado quando cumprirá a detenção, assim como o que irá fazer por castigo. E me agradeça por não tirar pontos de sua casa! – e virando-se para toda a classe - Bem, garotos, depois desse fiasco, aula encerrada. Evans, preciso falar com você...
- Por que você é tão desatencioso, Pedro? – indagava Lupin ao amigo, enquanto sentavam-se à mesa do Salão Principal para o almoço – Não há como confundir pernas de sapo com rins de dragão, mesmo que você não saiba ler!
- Eu sei ler! – retrucou o garoto, apanhando uma coxa de galinha e levando-a a boca.
- Não é o que parece... – ironizou Tiago, sentando-se à mesa ao lado de Sirius. Pôs a sua mochila sobre seu colo e, abrindo-a, retirou uma edição do Profeta Diário – Andei pensando umas coisas a respeito da Coluna da Sra. Pufflower. Não seria uma boa enviarmos uma coruja a ela, perguntando de onde tirou essa informação sobre o Sr. Coaty? Ele devia estar morto, tenho certeza. Mas, como vimos, não está. Eu bem que disse que ainda havia muito a se descobrir...
- Realmente, não há como discordar agora. Se esta mulher não é tão esclerosada como as suas leitoras, você tem razão em muito que diz respeito ao Tíber – falou Sirius, virando, logo depois, um copo de laranjada.
- Se isto for mesmo verdade, Tiago, há implicações muito sérias. O Tíber não estaria agindo por conta própria. Dumbledore pensaria ter um elfo a sua disposição, mas este estaria cumprindo ordens de um outro mestre. Se o Sr. Coaty não for alguém de bom caráter, as coisas complicam ainda mais – Lupin acrescentava, servindo-se de mais um filé de boi.
- OK... terminado o almoço, vamos ao corujal – finalizou Tiago, apanhando os talheres e concentrando-se em seu prato vazio.
- Pronto... “Atenciosamente, Srta. Sweethin” – pronunciava Tiago, finalizando a carta em um pergaminho perfumado – De onde você tirou esse nome, Pedro?
- É o sobrenome de uma tia... Mas, não se preocupe, ela não lê o Profeta – respondeu o garoto, observando Tiago dobrar o pergaminho, introduzi-lo em uma espécie de envelope artesanal e atá-lo a pata de uma coruja-das-torres, que voou levemente do corujal para a imensidão azul e branco do céu anuviado.
Mal tinham saído do corujal, entretanto, uma coruja grande e parda voou sobre eles e deixou cair nos braços de Pedro um pedaço de pergaminho. O garoto, temeroso, apanhou-o e leu em voz alta:
- “Detenção. Data e hora: hoje, às 9 da noite. Atividade: auxiliar o zelador Filch em algumas atividades noturnas” – lembrando de um relato assustado de Tiago no ano anterior, Pedro engoliu em seco e tremeu ao imaginar o que poderia presenciar naquela noite.
Sabem, eu estava realmente assustado. Mas, fazer o quê? Quem manda não dar atenção às instruções do professor Slughorn? Pus quatro pernas de sapo na poção, quando deviam ser duas pedras dos rins de um dragão norueguês. Mas é assim que funcionam as coisas por aqui... Resultado, estou de detenção. Nada pior. Podendo ficar no salão, curtindo esta noite fria, tomando chocolate. Mas, ao conto.
Desci da torre da Grifinória faltando vinte minutos para as dez e me apressei para chegar a tempo à sala de Filch. Eu nunca gostei muito dele. Me lembra um pouco um tio de segundo grau que tenho... ele tem um hobbie meio esquisito. Sempre que íamos celebrar o Natal, ele gostava de me pegar pelo braço, me jogar no chão e pisar em minhas costas... Espero que o Filch não faça o mesmo, senão, pobre Madame Norra.
Quando cheguei à sala do zelador, não pude deixar de sentir ainda mais medo. Era algo muito sombrio, muito... ah, nem sei direito como dizer. Só sei que não era muito legal. Ele já me esperava e, impaciente, me informava que o serviço daquela noite tinha de ser bem feito e coisa e tal.
Saímos da sala dele, Filch empunhando uma pá, Madame Norra à nossa cola, miando baixinho. Era muito apavorante. Noite, corredores quase vazios e semi-escurecidos, pás sujas e encardidas na mão, caminhando em direção de algo que prometia ser ainda mais assustador... A única fonte de luz sempre presente na nossa marcha era a da lua cheia, que penetrava pelas janelas empoeiradas e projetava sombras de todos os tipos (pensei até ter visto uma que lembrava um pomo) no chão.
Mal percebi e já estávamos fora do castelo. Madame Norra estava quase que grudada aos pés do zelador e eu me sentia ainda menor diante da escuridão que se alastrava pelos imensos terrenos de Hogwarts. Não havíamos trazido velas! Foi aí que me toquei que não era o único desatencioso na Escola...
Mas foi aí que Filch falou e sua voz exprimia tudo, menos coragem:
- Ele está ali... por Merlin, por que ainda não voltou ao salgueiro?
- Qu-quem está ali? – eu dizia, apertando os olhos para ver mais longe, mas então um cheiro terrível tomou conta do ar.
Era algo como carne podre ou em putrefação... Sei que perto disso, o odor de ovo-podre da minha poção era extremamente agradável. Mas foi aí, quando uma pequena nuvem encobriu a lua e, instantes depois, a fez reaparecer, que um brilho amarelado se fez no meio da escuridão. Dois pontos brilhantes, ameaçadores... A única vontade que tive foi de correr, mas as minhas pernas não atendiam! Quando me virei para encarar Filch, vi que ele era ainda mais covarde do que eu! Já estava a metros de distância, junto de sua maldita gata!
Enquanto encarava aqueles dois olhos que se aproximavam velozmente (sim, olhos... percebi que eram olhos!), senti um calor dentro de mim... e esse calor foi capaz de destravar as minhas pernas! E eu corri... e corri... e corri o máximo que pude me lembrar de ter corrido na minha vida, quando tropecei e caí sobre a fonte de todo aquele odor.
Eca! Estava caído sobre bolos de carnes sangrentas e ossos estilhaçados. O fedor era tão forte que eu sentia que ia desmaiar... mas nem a isso eu me dava o direito! Se desmaiasse, aqueles dois olhos iriam me pegar, eu sabia! Pus-me de pé o mais rápido que pude, a ponto de perceber a quê aqueles dois olhos pertenciam...
Era um ser peludo... negro... bípede... com olhos brilhantes e assustadores... garras afiadas e um tremendo mal hálito! Era um lobisomem. Juro, que a primeira coisa que me veio à cabeça eu fiz.
- Calma, cachorrinho, calma... – falei, assustado, apanhando um pedaço de carne podre e levantando à altura dos olhos do monstro.
Foi quando percebi que o monstro olhava para a carne e não para mim! Exultando de alegria, joguei a carne longe e, para o meu gargalhar, o lobisomem correu atrás. Mas ele parece ter ouvido o meu riso, porque disparou a correr atrás de mim e eu, sem acreditar que o bicho seria tão burro a ponto de cair naquela de novo, disparei na escuridão.
Foi quando, às cegas, tropecei e caí sob algo molhado... Água! Era o Lago Negro! Tenho certeza de que em minha vida li em algum lugar que monstros mágicos terrestres não gostam de tomar banho e, com este embasamento, joguei-me dentro do lago, nadando para longe da margem, até não mais poder ver o monstro que me perseguia.
Notas finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).
# Está aí! Enfim, um conto narrado pelo Pedro Pettigrew. Confesso que me foi muito difícil escrever este conto. É um estilo muito diferente do que costumo escrever... O Pedro escreve muito mal, hehe. Espero que tenham gostado.
# O monstro era um lobisomem! Surpresos? Creio que não... A sua primeira aparição foi no conto VII, lembram-se? Agora, da outra vez, ele não parecia estar solto pelos terrenos depois de se alimentar... Por que estaria agora?
# Pedro Pettigrew agiu com coragem! Muitos teriam chorado, entrado em desesperado ou, até mesmo, “feito xixi” nas calças...
# Filch voltou instantes depois, seguido por Dumbledore. O diretor pôs a fera de volta à seu lugar e Pedro, percebendo a movimentação, nadou de volta à margem.
# Preciso explicar porque o lobisomem preferiu à carne ao Pedro. Ao meu ver, esta fera movimenta-se prioritariamente pelo faro. A carne de cordeiro “cheirava” muito mais forte do que Pedro, podem ter certeza.
Pois bem... é isso! Espero que tenham curtido mais uma aventura marota!
Até a próxima, de volta, espero, à trama das malas sumidas ^^.
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