Conto IX – Saindo pela culatra
Notas iniciais: Este conto será narrado por mim, Aluado. Como vocês devem imaginar, estou narrando esta parte da história para mostrar como ficou a minha vida sem a amizade dos outros marotos. Posso antecipar uma coisa: ficou um verdadeiro tédio! Entretanto, toda e qualquer tribulação sempre se desfaz, tudo sempre termina bem, não é mesmo? Só basta mesmo sabermos como fazer tudo dar certo!
Remo Lupin
Não é difícil imaginar como a vida de uma pessoa pode tornar-se uma verdadeira desgraça em pouco tempo. Nem como pessoas passando por más situações e, sem conseguir se livrar da desgraça, desistem no meio do caminho. Nem é difícil imaginar como alguém pode fazer coisas erradas para sair de uma enrascada. Entretanto, creio que seja fácil imaginar como a vida de uma pessoa torna-se absurdamente entediante depois de perder tudo que tinha.
Deixar a sua família para trás, família, esta que cuidava de ti como um príncipe, e, por fim, perder os seus grandes e verdadeiros amigos. Solidão e tédio são o que resta para alguém em tão lamentável estado. Sinto em dizer, meus caros, eu estava nessa situação.
Depois da desavença que o meu ato sincero, porém estúpido, causou, a minha companhia diária limitou-se a Lílian Evans, a garota super inteligente da Grifinória que se mostrou bem mais que uma simples mente brilhante, mas uma menina capaz de aconselhar-me a todo instante e cumprir o papel de irmã, amiga e mãe.
Minha admiração por Lílian somente crescia e, muitas vezes, eu me pegava pensando em minha mãe, mas tendo a imagem de Evans em minha mente. Os bons momentos que eu vivia com ela, porém, não eram suficientes para encobrir a dor que eu sentia em ter perdido três grandes amigos, pessoas que dividiam o quarto comigo e fingiam que eu nem existia. Isso é desolador e inaceitável.
Quantas vezes não ensaiei um discurso de desculpas, tentando explicar a ação imbecil que me fez ser excluído do grupo? Encenações vãs! Eu não me atrevia a falar com eles! Não tinha coragem... E foi assim que o ano foi passando, e passando e passando... Então, me vi no mês maio e eu não podia mais suportar apenas a companhia de Lílian Evans. Não que ela fosse insuportável, jamais! É que eu estava precisando me reunir a meus velhos amigos, conversar com eles, dizer como me sentia. Surgiu uma oportunidade pela manhã. Porém, deixei-a escapar, enquanto repassava em minha mente as palavras que eu tinha para dizer.
Entretanto, o destino quis rir mais um pouco de minha cara. Eu estava em um corredor do sétimo andar, de pé em frente a uma janela, quando um barulho de passos se fez. Passos ecoantes que se aproximavam. Porém, eu não estava interessado em saber quem estava vindo. Continuei ali, olhando os pássaros voando, as árvores balançando ao vento. Foi quando uma voz que eu bem conhecia desarmonizou aquela bela visão:
- Ei! O Lupin está ali, acelera – era a voz de Pedro Pettigrew, falando mais alto do que devia. Inexplicavelmente, a minha voz saiu, rouca e arrependida:
- Não precisa passar rápido só porque estou aqui– e me virei, encarando Sirius, Tiago, Pedro e Lana Finch que se aproximavam – Não vou morder ninguém.
- É, mas quem sabe vai inventar histórias sobre nós para a “Buffilha” – zombou Lana, que estava ao lado de Tiago.
- B-buff o quê? – perguntei, vendo os quatro garotos rirem em demasia.
- Ah, a sua queridinha! Lílian Evans – respondeu Sirius, enquanto parava em frente a um quadro.
- Eu não inventei nada para ela – respondi, calmamente – Eu falei a verdade, mas devia ter ficado calado. Falei demais, admito, e isto está me custando caro.
- Ah, sim! Vai dizer que está com saudades de nós? – zombou Tiago, sentindo-se arrasado quando respondi:
- Sim! Estou quase morrendo – falei, o mais sincero que podia demonstrar, e baixei a cabeça. A pronúncia dessas palavras pareceu deixar os outros quatro sem voz, então aproveitei a situação e tentei me lembrar do meu discurso de desculpas. Porém, as palavras fugiam quando eu tentava dizê-las, falei-lhes, enfim, a primeira coisa que me veio à mente:
- Por favor, me desculpem – e, involuntariamente, uma lágrima escorreu dos meus olhos, atravessando toda a minha pálida face.
- V-você está falando sério? – perguntou Tiago, que também tinha os seus olhos molhados – Você quer ser nosso amigo mesmo depois do tanto que nós implicamos com você e com a Lílian?
- Sim! Foi o preço que paguei por ter te traído, Tiago. Não só traí a sua confiança, mas a de todos vocês – eu não podia acreditar que estava dizendo aquilo. O pedido de desculpas enfim fluía pelos meus lábios.
- Oh, amigo! – Pedro Pettigrew desatou-se a chorar, andando em minha direção e dando-me um forte abraço – Eu disse pro Tiago que você estava arrependido, eu disse!
- Desculpa – disseram Tiago e Sirius juntos. Um olhou para o outro, então Tiago se calou e Sirius continuou: - Nós também estávamos errados. Desculpa por não termos te perdoado logo.
- É isso aí – disse Tiago por fim, enquanto uma Lana Finch sorria ao seu lado.
- Estava mesmo muito difícil implicar com você o tempo todo – completou Lana, com um largo sorriso.
Os dias tornaram-se infinitamente mais iluminados e felizes depois do acontecimento que acabei de narrar. Eu estava com os meus amigos de volta! E, ainda por cima, recebi uma carta de minha mãe me informando que o Saint Mungus arrumou uma erva medicinal excelente para o ferimento em meu braço! Tudo parecia perfeito demais. É, mas como dizem, tudo o que é bom dura pouco! E durou...
- HAHAHA! – eu, Tiago, Pedro, Sirius e Lana ouvimos essa gargalhada ao passarmos juntos no Saguão de Entrada – QUER DIZER QUE O GRUPINHO DE FARRAPOS ESTÁ JUNTO OUTRA VEZ?
Era Severo Snape. O garoto de cabelos negros e sebosos, nariz curvo e olhos afiados e gélidos como facas. Junto a ele se encontrava um garoto do terceiro ano da Sonserina.
- Você não está falando conosco, está? – perguntou Tiago, o desdém marcando o tom de sua voz.
- Claro! Quem mais forma a gangue dos farrapos aqui em Hogwarts? Ninguém! – grunhiu Snape, enquanto descia uma escadaria em direção a mim e aos outros, o garoto do terceiro ano em seu encalço.
- Não sei do que você está falando! – brandi, pondo-me à frente do grupo.
- Que você pensa que vai poder fazer, rapazinho? Ouvi dizer que até para tomar banho você precisa de um elfo doméstico! SIM, SIM, SIM! Os boatos correm rápido, Remo. A Escola está cheia de conversas que dizem que sua mãe contratou um elfo para limpar a sua bunda! – a zombação havia chegado longe demais.
Retirei a varinha do bolso de minhas vestes, girei-a no ar e gritei com firmeza: - CRESCIBELLOS! - e um raio cor-de-cobre disparou da ponta de minha varinha e atingiu o meio da testa de Snape.
Severo piscou por um instante, então ele não tinha mais nenhuma parte de seu rosto visível; todo o seu corpo estava cheio de pêlos. As sobrancelhas tinham adquirido o tamanho de travesseiros, os seus cabelos arrastavam-se no chão feito um véu, os seus braços estavam repletos de tufos do tamanho de tacos de beisebol...
- FINITE! – bradou o outro sonserino, e os pêlos começaram a desaparecer lentamente.
- FIQUE QUIETO, SEU TRASGO NOJENTO – ecoou a voz da única garota presente no saguão de entrada, Lana Finch, enquanto um lampejo azul disparava de sua varinha e atingia o ombro do terceiranista. Ele tombou para trás e caiu no chão, ficando incapacitado de se levantar.
- Estupefaça! – gritou Snape, e um lampejo vermelho zuniu de sua varinha, atingindo Sirius nas pernas – Impedimenta! – brandiu Severo, e um lampejo acertava Pettigrew entre os olhos.
- Fiolis! – gritei ao que fios finos e leves voaram de minha varinha para a varinha de Snape, atando-a. Vendo que o feitiço havia sido bem sucedido, segurei a minha varinha com firmeza e puxei, forçando a varinha de Snape em minha direção.
Severo não havia percebido as linhas amarradas em sua varinha e surpreendeu-se ao vê-la escorregando de sua mão. Tentou segurá-la, mas foi em vão. Ela já se arrastava pelo chão empoeirado, vindo em minha direção.
- Accio Varinha! – brandiu o terceiranista e, para minha frustração, vi que ele apontava para mim e não para a varinha de Snape. Como duas flechas amarradas por um barbante, as varinhas voaram em direção ao sonserino enquanto ele gargalhava alto.
Entretanto, quem ri por último ri melhor. Belo e certo ditado, este.
As varinhas atadas pelo feitiço do fio serviram de armadilha para os dois sonserinos. Como um bumerangue, girando ao redor de si mesmo, o sistema varinha-fio-varinha atingiu os sonserinos em cheio, enrolando-os em uma teia de linhas finas, invisíveis e quase inquebráveis.
- HAHAHA! – zombou Tiago Potter, imitando o tom de Severo Snape quando eles atravessavam o Saguão de Entrada – Vejam isso! Acho que é a maior concentração de idiotas por metro quadrado já vista no mundo!
- Literalmente, concentrados! – sorriu Sirius, saindo do efeito do feitiço estuporante.
- E agora, o que fazemos com eles? – perguntou Lana, enquanto ajudava Pettigrew a se levantar.
- É! Temos que sair logo daqui! Se um professor ou monitor nos pegar... DETENÇÃO! – falou Pedro Pettigrew, visivelmente preocupado.
- Tive uma idéia – falou Tiago, e seu tom de voz sugeria malícia e vingança - Acho que a lula gigante ficará contente em ter dois sonserinos para o jantar.
Notas finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).
# Snape não implicou com os marotos apenas no início e no final do ano. Ele foi implicante com os garotos quase que diariamente, mas não mostrei isso em detalhes porque não seria de importância para a história. A confusão no final do conto foi especial, pois ela mostrou uma briga dos garotos contra Snape, mas só que desta vez eles eram realmente grandes amigos.
# Lana Finch não está namorando Tiago Potter, apesar de que posso adiantar que ela gosta muito dele. Na verdade, ele é que é ingênuo demais para perceber.
# Filch, Madame Norra, Pirraça e todos os professores e monitores estavam no momento da confusão em uma sala do quinto andar. O motivo da reunião era dar uma grande bronca no poltergheist. Motivo: ele havia entregue a todos os monitores uma nota aparentemente oficial informando que todos eles estavam expulsos do colégio. O pior de tudo era que as notas tinham assinaturas de todos os professores e até mesmo a de Dumbledore! Daí, a necessidade de todos eles estarem presentes na reunião, para sorte dos marotos.
# A lula gigante não é carnívora, portanto ela não jantou Snape e o sonserino terceiranista (chamado Mike Tyflen) quando Lana Finch e os Marotos jogaram-nos no lago. Com o seu bom humor de sempre, a lula tirou os dois sonserinos de dentro da água e alojou-os sob a sombra de uma árvore. Entretanto, para os outros garotos isso não importava, afinal a vingança estava feita!
Pois bem, este foi o penúltimo conto do primeiro ano dos marotos em Hogwarts. No próximo conto encerrarei o ano letivo. Logo após, começarei a escrever o segundo ano dos garotos.
Espero que tenham se divertido com esta parte da história, porque eu achei bem divertida e comovente.
Um abraço a todos.
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