Conto VI - Como uma apunhalada



Conto VI – Como uma apunhalada...

Notas iniciais: “Este conto será narrado em primeira pessoa pelo Almofadinhas. Não queremos deixá-lo ser contado pelos personagens nele diretamente envolvidos porque muitas surpresas poderiam ser estragadas se procedesse desse modo. Quero deixar bem claro que eu e o Pontas somos grandes amigos até hoje!”

Remo Lupin


Enquanto me espreguiçava sobre aquelas almofadas de veludo vinho, jogadas sobre velhas, porém bem zeladas, poltronas, não poderia imaginar a embaraçosa situação que estava para acontecer. Via Remo Lupin, sentado ao parapeito da janela, pensativo. Tiago estava sentado a uma mesa, pedaços de pergaminho sujo jogados sobre ela, e com a pena ‘capricho’ em sua mão. Lílian Evans, a garotinha que tanto irritara o Tiago naquela manhã, estava sentada perto da lareira.

Fiquei surpreso ao ver o Remo sair tão rapidamente do seu ‘transe’ e caminhar, com passos largos e decididos, porém, com um olhar hesitante, em direção à garotinha. Alcançando-a agachou-se, pronunciou algo ao seu ouvido e, logo após, a menina levantou-se em um salto, como se tivesse se sentado sobre um alfinete, e marchou raivosamente na direção de Tiago, que agora se distraía fazendo caricaturas dos professores.

- HAHA! – a garotinha gritou, com um olhar demente – EU SABIA QUE TINHA SIDO VOCÊ! EU SABIA!!!

Tiago assustou-se com aquela repentina barulheira e largou a sua pena no chão, neste momento levantei-me e cheguei mais próximo para ver o que acontecia de fato.

- Do que diabos você está falando? Quê que eu fiz agora? – disse Tiago, meio irônico, meio preocupado, enquanto se arrumava na cadeira.

- EU JÁ TINHA AS MINHAS CERTEZAS E AGORA, COM UMA TESTEMUNHA A MEU FAVOR, NÃO HÁ COMO VOCÊ NEGAR!!! – e nisso os olhos da menina bombardearam a pena ‘capricho’ que Tiago havia apanhado do chão – FOI COM ISTO QUE VOCÊ RISCOU O MEU LIVRO!

- Ahhh!!! – Tiago grunhiu com arrogância – Você ainda conta com esta idéia? Eu já disse que não fui eu! E, mesmo que eu tivesse usado esta pena, por que eu faria isso? E mesmo que você encontrasse um bom motivo para eu ter feito isso, como você pode provar?

Lílian parecia ter ficado satisfeita quando Tiago pronunciou aquela última palavra, então sorriu e falou com convicção.

- Vou responder a todas as suas perguntas. Sim, continuo com esta idéia e acredito que você teria feito isso para se achar o “bonzão”, dizendo para os seus amiguinhos “Olha só, eu risquei todo o livro da chata da Evans”. Quem sabe? Bom, quanto a ter uma prova... – e apontou para Lupin que estava em pé ao lado dela – Tenho o seu próprio amigo como testemunha!

Os olhos de Tiago miraram Lupin, parecendo nada compreender e, admito, eu mesmo não compreendi nada também. Encarei Lupin nos olhos e perguntei:

- Você está acusando o Tiago de ter riscado o livro da Lílian?

A voz de Lupin falhou, mas os seus olhos tristes contaram toda a verdade e eu bem pude percebê-la: Lupin está tão apaixonado pela Evans que foi capaz de denunciar o seu melhor amigo por causa de uma pequena brincadeira feita no livro dela.

- L-lupin... – a voz de Tiago falhou, sem parecer acreditar no que presenciava. Eu não poderia dizer naquele momento se o que os seus olhos mostravam eram raiva, tristeza, preocupação ou descrença, mas, estava claro para todos os presentes e principalmente para Evans que Tiago era sim o culpado pelo incidente do seu livro – Você não seria capaz, seria?

- E-eu... Eu fiz o que achei que era certo – respondeu o outro, incapaz de levantar o rosto e encarar Tiago.

- E fez muito bem! – disse Lílian enquanto sorria maldosamente – Vou levar o meu livro agora mesmo para a professora McGonagall junto com esta pena – e nisso arrebatou a pena ‘capricho’ das mãos, agora trêmulas, de Tiago Potter.

- LUPIN! VOCÊ NÃO FEZ NADA CERTO! VOCÊ ACHA QUE INCRIMINAR OS SEUS AMIGOS É ALGO LEGAL? AH NÃO! MAS FOI PARA A EVANS, NÃO É MESMO? PARA A SUA QUERIDINHA LÍLIAN EVANS! – gritou Tiago, agora de pé, encarando Lupin bravamente – E VOCÊ! DEVOLVA ESTA PENA AGORA! VOCÊ NÃO TEM PERMISSÃO DE PEGAR O MEU MATERIAL!

- Assim como você não tinha o direito de riscar o meu! – e nisso a garotinha correu pelo Salão Comunal da Grifinória e atravessou o buraco do retrato da Mulher Gorda, atravessando ligeiramente o corredor do sétimo andar.

- VOLTE AQUI!!! – gritava Tiago, inconsciente que outros doze estudantes, sentados nas poltronas do salão comunal, haviam presenciado aquela cena.

Os segundos silenciosos que se fizeram após o grito de Tiago foram atordoantes. Lupin permaneceu de pé, em frente a Tiago, a cabeça baixa e os olhos lacrimejantes, enquanto segurava com força o tecido próximo aos bolsos da calça. Tiago ficou calado, os olhos marejados de fúria, e o rosto vermelho de raiva e preocupação. Pedro, que se uniu a nós três ainda em silêncio, permaneceu calado. Naquele momento eu só conseguia pensar em uma coisa: traição. Não conseguia encontrar um argumento aceitável da parte de Lupin. Só poderia pensar numa coisa; e foi a expressão em palavras deste meu pensamento que quebrou o silêncio no Salão Comunal: - Faça-nos o favor de nunca mais, e eu estou dizendo nunca mais, falar conosco!

Tiago balançou a cabeça em acordo. Pedro ponderou, mas confirmou a idéia com um olhar. Lupin, que tremia dos pés a cabeça, soluçou e disse com tristeza:

- Me perdoem – sua voz saiu extremamente fraca e arrependida – Por favor, eu realmente não queria ter feito isso.

- Por que você está chorando, Lupin? – perguntou Pedro, esquecendo que não deveria mais falar com Remo.

- Meus únicos amigos! Meus únicos e grandes amigos perdidos por uma tola paixão. Vocês sabem... eu nem gosto tanto dela assim – respondeu Lupin em voz baixa.

- É, mas você não pareceu lembrar disso antes de me acusar! Sinceramente, Lupin, eu pensei que você fosse meu amigo! – e nisso, Tiago tentou se distrair com os pedaços de pergaminho rabiscado.

- E eu sou! Tiago, você sabe, eu jamais te trairia... Eu não fiz por mal, eu juro! – falou Lupin, a voz ficando um pouco mais forte à medida que ele erguia a cabeça.

- Ah não! Imagina... Você não fez por meu mal... Você fez pro bem dela, o que, logicamente, se tornou o meu mal! Ah, quer saber? Vai passear! – respondeu Tiago rispidamente. Levantando-se bruscamente da mesa, ele acenou para mim e para Pedro. Nós o seguimos até chegarmos a um vazio dormitório masculino.

- Vocês não deviam fazer isso com o Remo. Quero dizer, nós sempre fomos tão amigos... – persuadia Rabicho, um tanto pensativo.

- Nós pensávamos que ele fosse nosso amigo, mas não era! Sinceramente, o que ele vê naquela menina? Uma chatinha, nerd e feia de dar dó! – exagerou Tiago, descarregando a sua raiva na garota que, admito eu, tinha razão em ir denunciá-lo a McGonagall.

- Mas só uma coisa me intriga nesta história... – comecei dizendo, tentando desviar a conversa para outro rumo – Como o Lupin poderia saber que você havia rabiscado o livro? Nem eu sabia! Você contou para ele?

- Não! Não contei para ninguém e peço desculpas por isso. Vai ver ele me viu com a pena e apenas somou ‘um mais um’... – rebateu Tiago, enquanto jogava-se na cama, cobrindo o seu rosto com um travesseiro.

- Estou me sentindo dividido – revelou Pettigrew, enquanto sentava-se sobre seu travesseiro – Não quero deixar de falar com o Lupin, mas acho que ele não fez certo em te denunciar.

Eu mal abri a boca para responder quando a porta do dormitório se abriu e Lupin entrou, parecendo ainda mais triste do que antes.

- Eu sei que já te disse isso Tiago, mas... Por favor...

- Não tenho mais nada para falar com você! – retrucou o outro, que ainda tinha seu rosto coberto pelo travesseiro.

- É, vai ver se nós não estamos lá embaixo – respondi, mesmo que achando que o pobre Lupin estava realmente arrependido.

Lupin desceu para o Salão, tristemente e não retornou mais.


Haviam se passado quatro horas desde que tudo tinha acontecido e nós ainda não havíamos descido para o jantar. O meu estômago já roncava de tanta fome, mas não desceria para o salão enquanto Tiago não fosse. Pedro já havia ido há poucos instantes e eu insistia em permanecer ali, mesmo sabendo que Tiago deveria estar cochilando. Mais quinze minutos de silêncio e ele se mexeu, tirando o travesseiro de cima de seu rosto.

- Que horas são? – me perguntou, com a voz marcada pelo sono.

- Não sei. Deve ser umas oito da noite. É bom nós irmos jantar, não acha? – perguntei, esperançoso que a sua resposta fosse positiva.

- Claro... mas não sei se eu deva ficar lá se o Lupin estiver... – falou Tiago, enquanto encarava seu reflexo em um espelho.

- Ah, Tiago... Estive pensando... Deveríamos perdoar o Lupin. Ele não fez por mal. Quero dizer, o que ele fez foi mal, mas... Bom, você me entende... – falei, tropeçando nas palavras.

- Mais ou menos... É, talvez eu deva te escutar e perdoar o Lupin, ele é uma ótima pessoa... – falou Tiago, parecendo ter soltado as últimas palavras sem querer.

- E nos passa todas as redações de poções também! – sorri, enquanto descia as escadas para o Salão Comunal.

Tiago parecia realmente decidido a perdoar Remo Lupin por seu ato ‘traiçoeiro’ se não fosse por uma lamentável notícia que a Profa. McGonagall o deu assim que chegamos ao Salão Principal:

- Ah, não poderia me esquecer de suas travessuras, Potter – disse, ao se aproximar da mesa da Grifinória – a sua detenção será sábado às dez horas da noite na sala do Sr. Filch – e nisso virou-se e saiu, caminhando rapidamente, para o Saguão de entrada.


Notas finais: (além de conter notas do autor, há também os pensamentos, detalhes e opiniões pessoais de cada maroto sobre os diversos acontecimentos do conto).

# Muitas pessoas, depois de lerem este conto, podem pensar que o Sirius Black tem amizade com o Lupin por interesse, porém, afirmo que aquilo além de ter sido uma ‘piadinha’, também foi uma forma de listar mais uma coisa em boa em ser amigo do Lupin.

# Não pensem que este conto foi em vão (briga entre Tiago e Lupin, reconciliação no final...). De fato, isso ainda não aconteceu. Muitas águas ainda vão rolar...

# Ao contrário de muitas outras fics, que mostram Pettigrew como um inútil e burro em exagero, espero que tenham percebido uma das qualidades dele neste conto: a sinceridade.

# Alguns podem pensar que o relacionamento “Lupin-Evans” é algo muito precoce, afinal eles possuem apenas onze anos... Espero que vocês tenham notado que o Lupin já afirmou que não ‘gosta’ dela, meio que ‘admira em excesso’. E, quanto a Lílian, posso afirmar que, no momento, ela nada sente pelo Lupin a não ser amizade.


Espero que vocês tenham gostado deste conto. Admito, não o curti muito. Creio que pelo fato dos marotos não estarem unidos, mas sim em desavenças. Entretanto, espero que vocês continuem na leitura dos Contos Marotos! Ainda há muito pra acontecer!!!


Um grande abraço...

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