Aos Onze Anos



Blacks

Nana Jiló

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A Autora: http://jiloh.tk/



II – AOS ONZE ANOS




Sirius estava apertado entre Tiago Potter e um tal de Severo Snap na fila para o chapéu seletor. Ele olhou para as mesas das casas, e deu uma atenção especial para a mesa da Sonserina: lá, ele viu Bellatrix e Narcisa Black, com caras enfadadas. Provavelmente esperavam pelo banquete após a seleção dos novatos.

Sirius sentiu um nó no estômago.

De uns tempos pra cá, ele se convencera de que não tinha vocação para cair na Sonserina como toda a sua família queria. Foi consolado apenas por Andrômeda, que havia caído na Corvinal. Bellatrix e Narcisa já tinham a suspeita de que ele não iria para a Sonserina mais rápido do que ele próprio, e ano passado começaram a se distanciar dele e a tratá-lo com desprezo, o que o deixou, de certa forma, bastante magoado com as primas.

Mas esse sentimento de mágoa fora só no inicio de suas visíveis diferenças de opiniões. Agora ele aprendera a lidar com a arrogância das primas muito bem. Ele até podia dizer que dava para conviver com elas civilizadamente.

Então, seu olhar pousou na casa da Corvinal: Andrômeda ria, radiante. Seus cabelos castanhos estavam presos numa trança, assim como os de Narcisa. Bellatrix era a única das três irmãs que sempre se recusara a usar trança no cabelo. Geralmente o usava solto, os cachos negros caindo-lhe sobre a face pálida.

- Black, Sirius!

A mesa da sonserina se animara só com a menção do nome “Black”. Sirius viu as primas virarem a cara, como se não quisessem admitir que tinham o mínimo parentesco com ele.

Ele caminhou até o banquinho de três pernas e sentou-se, e logo sua visão foi coberta pelo chapéu, que sussurrou:

- Black, eh? – Sirius soltou um muxoxo. – Ambicioso...Inteligente...um pouco maldoso, não? Sarcástico...

Sirius engoliu em seco. Será que seria colocado na Sonserina?

- É, definitivamente...GRIFINÓRIA!

- Hein?! – fez Sirius, sem entender. Não era o chapéu que estava lhe dando todas as características de um Sonserino assumido? “Fazer o que, né.” Conformou-se Sirius, correndo para a mesa da Grifinória, com medo de que o chapéu pudesse mudar de idéia na última hora.

Ele lançou um tímido olhar em direção a mesa da Sonserina, e pôde ver claramente o olhar de censura e decepção que Bellatrix fazia questão de lhe lançar. Já Narcisa, havia optado por ignorá-lo totalmente. Sirius afundou na cadeira e olhou de relance para a Corvinal. Andrômeda lhe lançava um sorriso forçado, porém animador. Ela devia saber o que ele estava sentindo...

- Lupin, Remus!





Já era outubro. O dia das Bruxas se aproximava mais e mais, e Sirius ainda não havia conseguido falar nem com Narcisa nem com Bellatrix. De certa forma, quando ele andava pelos corredores torcia para não encontrá-las...Ele não sabia bem o que sentia, mas de certa forma estava triste por ter decepcionado-as...e não havia motivo para ele estar triste por causa disso! Elas haviam sido tão arrogantes com ele da última vez que se viram!

- Hey, Almofadinhas! – exclamou Lupin, dando-lhe uma cotovelada. – Terra para Almofadinhas, responda!

- Quê? – perguntou Sirius, mal humorado.

- Você estava com uma cara! – observou Lupin. – Você estava em qualquer canto, menos aqui na terra!

- É, Aluado. – concordou Sirius. – Estava no mundo da lua, e daí?

Lupin deu um sorriso amarelo. Sirius não entendeu.

Eles estavam parados em frente a porta da sala de História da Magia, esperando Tiago, que discutia fervorosamente com Lily Evans. Depois de alguns minutos de gritaria, Sirius e Lupin viram uma cabeleira vermelha sair correndo da sala como um pé de vento, trombando com eles. Logo em seguida, surgiu Tiago Potter, com a cara mais emburrada do mundo.

- Essa Evans! – Tiago cuspiu as palavras. – Dá pra acreditar que ela estava me passando um sermão por que interceptou uma das minhas bolinhas para você, Sirius?!

- Dá – responderam Lupin e Sirius ao mesmo tempo, abafando uma risada. – Ela sempre faz isso, todo fim de aula! – acrescentou Lupin.

Eles começaram a andar pelo corredor deserto. Era sábado de tarde, e a aula do profº Binns fora a última do dia para o primeiro ano da Grifinória. O castelo estava relativamente silencioso, e pelas janelas de estilo medieval, entrava uma brisa fria de outono, bagunçando os cabelos dos garotos.

Eles passaram por um grupo de garotas da Lufa-Lufa do primeiro ano, e Sirius e Tiago deram seus melhores olhares galantes, mas todas as quatro garotas olharam para Lupin e deram risadinhas. Logo, afastaram-se rindo ainda mais.

Tiago e Sirius viraram-se para Lupin.

- Me diz – começou Sirius. – O que é que você tem?!

Lupin deu de ombros.

- Você usa algum feitiço? – perguntou Tiago.

Eles viraram um corredor, e Tiago, que estava olhando para Lupin, acabou trombando com a garota que vinha na direção oposta.

- AI! – gemeram os dois, caindo no chão.

- Olha por onde anda, seu... – a garota caída no chão ia começar a xingar, mas quando levantou os olhos e viu Sirius, engoliu as palavras e deu seu melhor sorriso sarcástico. – Priminho, há quanto tempo eu não falo com você!

- Priminho? – espantaram-se Lupin e Tiago, que havia se levantando, olhando para Sirius.

Este fez menção de continuar impassível. Ele inclinou-se para frente, oferecendo a mão para Bellatrix Black, que continuava estatelada no chão, mas esta ignorou seu ato de condescendência e levantou-se sozinha, apoiando-se na parede e se recompondo.

- Você está bem, Bella? – perguntou ele, o apelido soando como um desafio.

- Ótima. – garantiu Bellatrix, com sua postura de superioridade.

Silêncio...

- Como vai tia Ursula? – perguntou Bellatrix, ainda com aquele sorrisinho sarcástico irritante no rosto pálido típico dos Black. – Decepcionada demais com seu grifinório? – a última palavra soou como uma zombaria, e Sirius sentiu o sangue ferver.

“Acalme-se.” Disse a si mesmo “Ela é sua prima, você não pode estuporá-la!”

Tiago, notando o aborrecimento do amigo, disse:

- Vamos embora, Almofadinhas...

- Almofadinhas? – zombou Bellatrix. – Que espécie de nome é esse, Sirius?

Ele cerrou os punhos. Estava a um palmo de distância do rosto de Bellatrix, o olhar desafiante.

- Vamos embora – insistiu Lupin. – Não temos nada com essa sonserina...

Bellatrix olhou-o, fuzilante.

- Eu não estava me dirigindo a você, esquisitão – disse ela, olhando as roupas frouxas e o olhar cansado de Lupin. Fazia dois dias desde a última lua cheia.

Sirius deu um passo a frente, dessa vez irado. Tiago puxou-o pela manga da veste.

- Vamos, Almofadinhas! – insistiu, puxando-o para longe.

Sirius ainda teve tempo de ver os lábios finos de Bellatrix moverem-se:

- Dez horas, Torre de Astronomia.





Sirius abriu a porta com um rangido, e adentrou a torre. Era dez e dez, e a lua minguava lá fora, formando um gracioso e luminoso D. Sua luz entrava por entre as janelas altas e estreitas da torre, desenhando faixas de luz no chão de pedra fria. Juntamente com a luz da lua, vinha o vento frio do outono, que castigava a floresta proibida lá fora.

A torre estava na penumbra, e a visão de Sirius custou a acostumar-se a escuridão. Aos poucos, ele divisou mal e mal as silhuetas dos bancos e das lunetas, dispostas pela torre. No centro, uma mesa grande e circular, onde provavelmente mapas celestes estariam dispostos.

Mas, sem espantar-se, Sirius notou uma silhueta esguia sentada em cima da mesa.

- Bella? – chamou ele, sua voz ecoando pela torre de pedra.

- Shhh! – fez Bellatrix, impaciente. Sirius aproximou-se, tateando a mesa, até tocar a perna de Bellatrix. Ele corou, e por um segundo, achou que ela lhe daria um chute. Mas, graças a Merlin, ela não fez isso, apenas pediu para ele sentar-se ao seu lado. – Você não tem jeito mesmo, hein? – disse ela. – Não consegue ser discreto a noite!

Sirius deu uma risadinha. Agora, o clima estava totalmente diferente entre eles. A tarde, ele sentiu tensão e raiva pairando no ar...Até mesmo desprezo por parte dela.

- O que você queria falar? – perguntou Sirius.

Ele sentiu que ela enrijecia ao seu lado.

- Que estou realmente muito triste pelo que aconteceu – disse ela, em tom mórbido.

- Aquele desentendimento hoje a tarde? – perguntou Sirius. – Não tem problema...foi só...

- Não, não estou falando disso! – cortou Bellatrix. – Me refiro ao fato de você ter entrado na Grifinória. Tia Ursula deve ter ficado possessa, não? Aposto que sim. Eu também, Sirius, fiquei muito decepcionada com sua seleção...Você poderia, no mínimo, ter ido para a Corvinal, que pelo menos são inteligentes...Mas grifinória? Puxa, foi horrível mesmo!

A medida que Bellatrix falava Sirius sentia-se inflar de raiva. Como ela tinha coragem de dizer tudo isso na sua cara?! Como? Ela era realmente uma arrogante mimada! Afinal, o que ela pensava?!

- E, bem – disse Bellatrix. – Queria que você soubesse como me sinto...realmente decepcionada! Só espero que aqueles seus amiguinhos amantes de sangues ruins não te influenciem mal! – observou ela, como uma prima atenciosa. Agora, ela fazia questão de usar o termo “sangue ruim”, e não o “trouxa” que geralmente usava quando era criança. – Até porque eu sei que você tem uma inclinação para esse lado de sangues ruins... – ela dizia isso como se fosse um crime que acobertava.

Sirius levantou-se de supetão.

- Sabe, Bellatrix – retrucou Sirius. – Você quer saber o que eu acho? Que você é uma arrogante mimada que faz tudo que te mandam e que não tem consciência própria para conseguir julgar o que é certo e o que é errado! – exclamou ele, sua voz ecoando pela torre. Bellatrix olhava-o, incrédula. – Você e essa sua mania ridícula de sangues puros! Até mesmo Narcisa, a grande defensora de preservação de sangue, desistiu do casamento com Régulus! E, quer saber? Você é igual a toda aquela família idiota! Odeio vocês! E eu odeio você! Você sabe, não é, Bellatrix? Sabe que sempre foi a prima mais chata de todas, não é? Sempre soube! – ele cuspia cada palavra, cada palavra que ficara entalada em sua garganta desde sempre...desde que seus pais mostravam preferência por Régulus, desde que ele fora rejeitado por toda a família...Aqueles Black idiotas, com mania de sangue puro...Sirius odiava...Odiava ser um Black.

Bellatrix recuperou-se do choque de ver o primo explodir, e também levantou-se, e encarou Sirius, seus rostos a menos de um palmo de distancia.

- Sirius – começou ela, com a voz pausada. Tinha que se manter calma. – Eu sabia que você seria mais um dos traidores do próprio sangue...assim como Andrômeda! Sabia, sempre soube! Mas achei que eu poderia modificar isso! Sabe, com influencias boas como eu (“sei...” Sirius) você poderia ver que o caminho certo é a preservação de nossa raça!

- Faça-me o favor, Bellatrix! – exclamou Sirius – Poupe-me desse discurso idiota...Andou treinando com tia Araminta, eh?

Bellatrix bufou.

- Você é um caso perdido, Sirius! Eu desisto! – exclamou ela, fervendo de raiva.

- Ótimo!

- Ótimo!

Eles viraram as costas, e Bellatrix saiu da torre, batendo a porta. Sirius suspirou. Com o olhar triste, encarou a lua que minguava lá fora.

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