A nova Gina



Gina chorava, sozinha no dormitório do quinto ano da Grifinória. Acabara de levar um fora de Harry. Bem, na verdade, ele tinha terminado o namoro há uma semana, mas ela ainda não tinha se recuperado disso.

Ela amava Harry desde que se lembrava, e sabia que aquilo sempre fora mais do que uma simples paixãozinha de menina deslumbrada pelo amigo do irmão mais velho.

E, em uma certa tarde de outono que ela jamais esqueceria, tudo o que Gina mais desejara em toda sua vida tornara-se real: Harry Potter, depois de um beijo desavisado e romântico, como os de filmes, a pedira em namoro. Àquela época, ele havia levado um "toco" de Cho Chang, a coreana da Corvinal.

Gina nunca nutriu nenhum tipo de simpatia pela garota. Ao contrário, sentia uma certa aversão a ela. Sabia que era uma atitude infantil, mas não conseguia evitar. Fora que aquilo ia além dos sentimentos de Harry por ela.

Chang parecia, como dizer, a garota perfeita. Linda, ninguém poderia dizer o contrário, sorridente, popular, sempre cheia de amigas e meninas querendo ser como ela e com uma fila interminável de garotos que queriam ficar com ela; uma lista de foras ensaiados para os feios (isso era especulação de Gina), além de uma lista de cantadas separadas em setores: a mais brega, a mais engraçada, a mais patética, a mais fofa, etc. (novamente, a classificação não passava de especulação).

E Gina simplesmente tinha nojo do jeito com o qual ela fazia parecer que ser assim era a coisa mais natural do mundo, ainda excluindo o fato de que aquele sorriso parecia ser dirigido a ela: "Eu tenho Harry Potter, e você nunca passará da estúpida irmãzinha caçula do amigo dele. Eu esnobo o garoto com o qual você sonha!".

Mas essa situação mudara, de certa forma, naquela tarde. Harry estava ali, olhando para ela, parecendo um pouco ruborizado por tê-la beijado sem mais nem menos.

Gina era uma garota racional, sabia que ele estava ali simplesmente para preencher o vazio que Cho Chang fizera em seu coração. Mas não importava! A chance de realizar seu sonho, Ter Harry em seus braços, estava ali, e ela decidira que não deixaria passar. Sem uma única palavra, Gina aproximou-se novamente dele, parando por uma fração de segundo para mirar os olhos verdes postos nela de uma maneira que ela sonhava há anos, mas ainda assim parecendo tão diferente de tudo o que ela jamais imaginara.

Harry correspondeu o beijo e daquele momento em diante, começaram a namorar. Ele sempre fora cortês, atencioso e carinhoso; e Gina fechava os olhos para o fato de ele possivelmente ainda estar apaixonado por Chang.

Ela fechou os olhos, até o dia em que Harry os abriu.

- Gina, eu preciso falar com você. - ele tinha um tom muito sério na voz.

Ela apenas consentiu com um sinal de cabeça e olhou fundo nos olhos dele.

- Acredite, isso é tão difícil para mim quanto vai ser para você, mas eu sinto que não dá mais, muitas coisas mudaram, e eu estou um pouco confuso. Eu espero que você entenda a minha situação e não fique chateada, nós ainda podemos ser amigos e acredite, eu prezo muito a sua amizade, mas...eu quero terminar o nosso namoro. - e acrescentou rapidamente - Mas eu quero que você saiba que você não fez nada que me influenciasse a tomar essa decisão. É realmente uma coisa com a qual eu preciso lidar sozinho.

Aquelas palavras foram um baque para ela. Apesar de saber que não deveria Ter sido, apesar de saber que deveria estar preparada, que aquilo aconteceria mais cedo ou mais tarde, ela não pôde evitar de sentir lágrimas teimosas marejarem seus olhos. Prendendo-as com toda a força que restara nela, a única resposta que conseguira dar foi:

- É claro que eu entendo, Harry. Eu também prezo muito a sua amizade. - tentou dizer isso com a maior naturalidade possível, para não deixar transparecer que seu mundo havia caído. - Bom...preciso subir e terminar algumas lições.

Mal alcançava a porta do Salão Principal, o rosto de Gina já estava lavado em lágrimas.

Tudo isso passava pela cabeça da menina durante uma fração de segundo. Ali, com o rosto pressionado contra o travesseiro, a imagem de Harry sorrindo quando eles separaram-se do beijo que ela lhe dera tomava conta de sua cabeça.

Aquele sorriso, que parecia cheio de alegria. Aquele tipo de sorriso que sai realmente do fundo do coração da pessoa; aquele tipo de sorriso que não se explica, não se descreve, não se planeja. Apenas se admira, apenas se sente.

Ela soluçava, considerava-se desesperada, desamparada, qualquer coisa! Não conhecia palavra alguma para traduzir o terrível sentimento que ocupava os pedaços que sobraram de seu coração. Tudo o que ela queria fazer era ficar ali e chorar, tentar colocar para fora tudo aquilo através de lágrimas e soluços.

Então, como a Segunda parte de um filme, a visão de Harry andando pelos corredores de mãos dadas com Cho Chang voltava à sua mente, e ela podia sentir seu coração quebrar dolorosamente em pedaços ainda menores.

Em meio a soluços, ela escutou pingos grossos de chuva baterem na janela. O céu a acompanhava naquela solidão, chorando a seu lado.

Gina começou a pensar sobre sua vida. Como desejava ser diferente! Tanto fisicamente, como internamente! Sabia o que todos pensavam dela. Aquela menininha praticamente invisível, mirradinha, que anda encolhida pela escola, com seu cabelo liso e sem graça, e suas sardas patéticas.

Passou a prestar atenção na chuva, no barulho ritmado que ela fazia na janela do dormitório. Ali estava, calma, serena, pura. No outro dia, o sol brilharia novamente, e tudo se recomporia, sem nenhum resquício de água.

Então, de forma abrupta, ela decidiu que não permitiria que um garoto, que de fato provara que não merecia o seu amor, a deixasse naquele estado, e que se precisasse mudar até mesmo suas atitudes, ela o faria.

"Chega!" ela ouvia seu pensamento. "Chega! Se ele pensa que pode me dispensar desse jeito e nem mesmo uma semana depois, aparecer com uma outra... ele até está certo... tanto pode, que já fez isso... Mas se ele pensa que eu vou deixar barato, que vou ficar choramingando pelos cantos, está muito enganado! Se não me quer, o azar é inteiramente dele! Foi ele quem em perdeu! Já eu posso arrumar outro cara, infinitas vezes mais bonito, atencioso e carinhoso do que ele um dia vai ser com aquela... vaca (a situação exigia o tipo de vocabulário adequado)! E não vai demorar muito, porque se ela pode parecer ser tão perfeita, me aguarde! Eu vou ser perfeita!".



Naquela noite, Gina passou um bom tempo mirando seu reflexo no espelho. Analisou minuciosamente seu rosto, e acabou por descobrir que as sardas, antes patéticas a seu ver, até que lhe caíam bem, davam um charme todo especial a seu rosto, e de quebra ainda combinavam com seus cabelos ruivos.

Outra coisa que ela descobriu não ser tão ruim: seus cabelos. Pelo fato de serem muito lisos, ela pôde fazer várias experiências com eles, e por fim decidiu que poderia mudar de penteado a cada dia.

Outro ponto positivo de Ter cabelos ruivos era de que um simples batom cor-de-rosa realçava seus lábios, sem deixá-los muito salientes em contraste com a pele clara.

Terminada a "avaliação", Gina abriu seu guarda-roupa. Experimentou todas as peças, da primeira blusa ao último par de meias. Definitivamente, as roupas que ela costumava usar não acentuavam nem um pouco as curvas de seu corpo.

Mudou imediatamente seu estilo: com a ajuda de sua varinha, ela conseguiu fazer perfeitos reparos em todas as suas roupas, começando por decotes mais ousados em todas as blusas, passando em seguida para uma mudança no manequim das calças: sem dúvida, caberiam duas dela dentro de cada perna!

Analisando tudo aquilo, ela tinha cada vez mais dificuldade em acreditar que usava aquilo todos os dias! Parecia uma freira!

E assim ela passou mais um bom tempo, reformando seu armário. Quando foi deitar, estava tão cansada que até esqueceu-se de consultar o relógio. Não sabia dizer que horas eram. Mas estava feliz. Nem precisou mudar suas atitudes: depois de tudo isso, ela já se sentia mais segura de si mesma, já se sentia capaz de atrair qualquer olhar que desejasse.

Dormiu logo que deitou a cabeça no travesseiro, com um sorriso no rosto.



No outro dia, Gina atrasou-se para a primeira aula do dia: Feitiços, junto com a Lufa-Lufa. Perdeu até o café da manhã, porque estava muito cansada quando o relógio despertou, devido ao fato de Ter dormido muito tarde na noite anterior.

Mas nem se importava com isso. Vestiu-se quase voando, passou batom, vestiu as roupas "novas", as quais lhe faziam parecer uma modelo trouxa, e fez uma trança de raiz, antes de sair correndo pelos corredores do castelo até a sala de Feitiços.

Chegando à porta, antes de abri-la, ela apenas ouviu o Prof. Binns fazendo a chamada:

- Gina Weasley.

Como que por instinto, ela abriu a porta da sala, enquanto dizia:

- Presente.

Como já era de se esperar, todos a olharam. Atrasos não eram muito comuns, ainda mais vindos da parte dela.

Isso fez Gina sentir-se um pouco constrangida, afinal não estava acostumada com aquele tipo de atenção. Sentindo seu rosto corar, ela arrumou uma mecha dos cabelos vermelhos, que haviam escapado da trança com a correria, e foi sentar-se no fundo da classe, como de costume.

Com um pequeno sorriso de satisfação, ela notou um certo número de olhares prolongados dos colegas, provavelmente surpresos com a mudança repentina do visual.

O Prof. Binns ignorou o atraso da menina e continuou fazendo a chamada. E assim transcorreu o resto da aula, até a hora do almoço.

Saindo das masmorras, Gina dirigiu-se diretamente para o dormitório da Grifinória, para retocar o batom e arrumar o cabelo, descendo logo em seguida para o Salão Principal, que a essa altura do campeonato já estava cheio.

Como de costume, ela simplesmente passou pelas portas do Salão e foi sentar-se à mesa da Grifinória, ao lado de Rony, Hermione e Harry, que parecia realmente constrangido durante a última semana.

- Gina, o que você fez no seu cabelo?- perguntou Mione, com um grande sorriso no rosto.- Está lindo, super brilhoso!

- Acho que é uma mistureba que eu estava fazendo esses dias. Coloquei uns ingredientes que ouvi dizer fazerem bem ao cabelo no caldeirão, misturei e saiu isso. - disse ela, realmente feliz pelas pessoas estarem notando seu novo visual.

- Eu vou querer essa receita depois!

- Claro, Mione. Mais tarde eu faço uma cópia e te dou.

- Obrigada.

- Escuta, Gina, não pense que não reparei: que roupas são essas? Você realmente acha que eu vou deixar a minha irmã andar por toda Hogwarts se vestindo desse jeito?

- Ah, Rony, não enche! Essas roupas são perfeitamente normais, todas as garotas usam. E outra: você não tem absolutamente nada a ver com o jeito que eu me visto...

Rony ficou boquiaberto, mas de uma maneira cômica. Olhou para Gina por um momento, depois virou-se para Harry:

- Viu o jeito que ela me trata? Onde esse mundo vai parar...

- Ai, Rony, deixa ela, que coisa! Tudo bem você ser ciumento, mas implicante já é outra coisa. - disse Hermione.

Gina reparou que Harry ficara calado o tempo todo, como que não ouvindo as perguntas que Rony lhe fazia. Ele a olhava de um jeito diferente. Parecia um misto de surpresa e admiração, transparecendo em seus olhos, pois seu rosto permanecia lívido, sem expressão. Era claro que, se ele estava sentindo alguma coisa com relação à "nova Gina", não queria demonstrar.

Contente com isso, Gina procurou não olhar para ele, e marcar presença, o máximo possível. Ela havia conseguido virar o jogo. Nem que fosse nem por um momento, mas era certo que os papéis haviam se invertido: ele a fitava admirado, como se nunca a tivesse imaginado daquela maneira. E ela fingia não notar. Ela era superior ao que ele possivelmente estaria sentindo, como ele sempre fora ao que ela sentia.

A felicidade parecia não caber dentro dela. Sorrindo do nada o tempo inteiro, como uma boba alegre, ela passou as aulas do dia. Uma boba alegre, mas bonita.

A garota não era nem um pouco besta. Percebia que os cochichos que ouvia pelos corredores nas semanas seguintes eram sobre ela. E pareciam ser bons.



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