A NOTÍCIA NO PROFETA
CAPÍTULO 10:
A NOTÍCIA NO PROFETA
- Antes de conversarem, vamos comer! O estômago cheio ajuda a cabeça a pensar, e essa menina parece ter feito uma longa viagem. Dêem um tempo antes de enchê-la de perguntas! Rony, me ajude a descer as cadeiras e a mesa. – Dizendo isso, Bull subiu para a cabana, seguido de Ron.
Hermione sentara-se ao lado de Gina, e agora conversavam baixinho. Harry, encostado no jipe, de braços cruzados, ocupava-se apenas em olhar para a ruiva, silencioso. Edwiges planou sobre sua cabeça, pousando novamente no ombro do dono. Os olhos âmbar da ave pareciam pedir desculpas, no mesmo olhar constrangido que Bicuço lhe enviara.
- Vocês dois trouxeram ela, não foi? – Perguntou, acusador.
Edwiges piscou, e então deu leves bicadas em sua bochecha, pedindo desculpas. Harry acariciou suas penas, aceitando. Voltou novamente a atenção para Gina, que agora observava divertida, junto com Hermione, as cadeiras e a mesa dobráveis aterrissarem com estrondo no chão, em demonstração de um feitiço não muito caprichado.
- Ron, não dava para simplesmente traze-las para baixo usando seus braços? – Indagou Hermione, em meio às risadas gerais.
Rony, parado à porta da cabana, apenas deu de ombros e aparatou ao lado das cadeiras. Bull, que vinha pela escada mesmo, balançava a cabeça, divertido.
- A vida nunca é monótona e simples com vocês por perto, não é?
Enquanto Harry, Ron e Bull, ajeitavam a mesa, Hermione tirou do bolso um saquinho com várias ervas, e começou a preparar outra dose de poção revigorante para Harry. Diante do olhar enviesado do amigo, ela lembrou calmamente:
- Isso o salvou há algumas horas. Vai beber sem reclamar!
- Salvou? Como assim? O que aconteceu? – A preocupação anulou a mágoa de Gina, e ela aproximou-se de Harry, colocando a mão em sua testa, olhando atenta para sua face, personalizando a versão jovem da Sra. Weasley. Os pulmões do rapaz pararam de funcionar.
- Explicações depois, pessoal! Hora da comida!
Bull colocou sobre a mesa a enorme panela que estivera borbulhando junto ao fogo, e da onde saia um cheiro tão bom de ensopado, que até encobria o terrível odor da poção. Os quatro jovens sentaram-se, famintos, enquanto ele enchia os pratos descartáveis trazidos do restaurante, passando-os para cada um. Por longos minutos, só emitiram suspiros de apreciação. Hermione era a única que falava, resumindo para Gina os acontecimentos da viagem. Depois de várias garfadas, Ron encarou a irmã a seu lado.
- Como foi que nos achou? Dobby não poderia...
- Não foi ele! Mas é uma história comprida e não é o que importa... – tentava claramente evitar o assunto.
Harry, sentado diretamente a sua frente, recostou-se na cadeira e fixou o olhar sério no dela, dizendo em tom firme:
- Sou todo ouvidos!
- Disso eu sinceramente discordo! - Respondeu a ruivinha, petulante.
Harry corou, enquanto os outros três riam. Porém, mesmo com o animal em seu peito ronronando feliz, ele manteve o olhar fixo, as sobrancelhas erguidas.
- Está bem! Eu conto... Eu precisava falar com vocês, mas Moody e Lupin recusaram-se a me trazer e Tonks quase me trancou no quarto quando pedi a ela. Papai e mamãe não eram opções. Então Hagrid chegou à Sede, trazendo Bicuço. Se eu conseguisse convencê-lo a me trazer, o problema de transporte estaria resolvido. Faltava a maneira de achá-los. Então pensei em Edwiges... – acariciou a plumagem alva da coruja, que roubava restos de ensopado de seu prato – Se eu lhe mandasse uma mensagem, poderia segui-la, até chegar a você, voando em Bicuço. É claro que ela também teria que concordar.
- E como foi que convenceu os dois? – Pediu Hermione.
- Na noite em que Dumb...Na noite em que a escola foi atacada, depois que você e Ron tomaram sua parte de Felix Felicis, me passaram o resto. Eu não tomei tudo, quis guardar um pouco para Harry beber, quando ele voltasse. Mas aconteceu tudo aquilo e eu só lembrei da poção da sorte quando vocês já tinham partido, depois do casamento de Gui. Tomei o resto hoje, e assim consegui convencer Bicuço e Edwiges a me trazerem. Hagrid saiu para tomar algo no Caldeirão Furado, meus pais nunca foram dormir tão cedo, Lupin e Tonks não estavam e Moody estava muito ocupado limpando seu olho mágico. Ninguém reparou na minha partida, e desconfio que ninguém nos viu no caminho até aqui...
Harry brindou mentalmente à esperteza de sua Gina... Sua???!!!... EX! EX NAMORADA! – forçou o cérebro a lembrar. – “E por culpa de quem?” – rugiu de volta a voz em seu peito. Respirou fundo, controlando a disputa interna, e perguntou:
- O que foi que descobriu sobre os Horcruxes? Como foi que descobriu? – O tom não continha mais censura, apenas curiosidade e admiração.
- Slughorn. Eu e Tonks o encontramos. – Contou então a conversa com o baixinho dorminhoco no Beco Diagonal, arrancando dois resmungos exasperados de Harry e Ron, na parte em que piscou para o homem.- ... E aí, como Tonks conhecia a praia onde Horácio estava...Ele não foi muito receptivo conosco, mas quando o ameacei com um escândalo, começou a falar.
Enquanto Gina aceitava a xícara de café que Bull lhe alcançara, sorrindo em agradecimento, Harry admirava-se novamente da engenhosidade da ruiva. Gina respirou fundo, preparando-se para repassar as informações que obtivera.
- Infelizmente Harry, como ele mesmo deixou claro muitas vezes durante a conversa, Slughorn não sabe tudo sobre os Horcruxes. Seus conhecimentos foram passados a ele em conversas com bruxos mais velhos, que por sua vez os obtiveram de outros ainda. Ele alega nunca ter posto as mãos em um algum livro que trate do assunto, e não acredita que ainda exista algum. Se existir...
- Está nas mãos de Tom Riddle. – Harry concluiu.
- É o que ele acha, também. Bom, somente um corpo físico dotado de muito poder mágico pode ser um Horcrux. Devem ser objetos enfeitiçados por magia muito avançada, por bruxos muito poderosos, caso contrário não conseguiriam reter o fragmento de alma dentro de si. O que é o Horcrux que encontraram?
- A taça de Hufflepuff. Eu vi, em uma das memórias na penseira de Dumbledore, Hepzibah Smith decantar a Riddle os poderes mágicos e o valor histórico da taça, e também do medalhão de Slytherin.
- Então essa informação está correta. Além de objetos, Slughorn disse que, apesar de ser improvável que aconteça, há a possibilidade de um organismo vivo ser usado como Horcrux, um animal.
- Por que improvável? - Perguntou Harry, antes de beber a poção revigorante que Hermione lhe entregara, fazendo careta.
- Primeiro, porque organismos vivos são mais vulneráveis, e a alma não estaria tão bem protegida, e depois, no processo extremamente complicado e perigoso necessário, o dono da alma e o Horcrux “trocariam” características físicas e mentais, o que não acontece no caso de um objeto inanimado. Os dois passariam a exibir traços um do outro. E quem quer andar por aí com ...
- Cara de Cobra. – Nagini! – Dumbledore estava certo, novamente. Nagini é um dos Horcruxes. Isso explica a aparência de Voldemort, bem como sua ligação com a cobra.
- É Harry, o que torna mais complicado para nós colocarmos as mãos nela, já que vive aos pés de Voldemort. – Lembrou Ron.
- Então teremos que destruir dois Horcruxes ao mesmo tempo... Fica sempre mais divertido, não é? – Suspirou Harry, massageando a nuca, desanimado.
- Agora chagamos na próxima dica de Slughorn. – Recomeçou Gina. – Destruir Horcruxes. Antes de me falar sobre isso, ele novamente frisou que não pode afirmar que a informação está correta, e que pode haver detalhes que não conhece. Basicamente, o fragmento de alma escondido em um desses objetos, fica entranhado em cada molécula de sua composição. Se a forma física, se a unidade do objeto for desfeita, o fragmento da alma se perderá. Resumindo, vocês precisam estilhaçar, esmagar, cortar em pedaços, partir ao meio, ou coisa que o valha, cada um deles. Depois que todos forem destruídos, Voldemort continuará poderoso, mas será mortal.
- Não parece tão difícil...
- Mas é, Ron. Lembra-se da mão de Dumbledore? Ele a feriu, destruindo o anel de Gaunt, e eu não acho que houve ou haverá bruxo mais poderoso que ele... E ainda existem dois Horcruxes de quem não sabemos o paradeiro, um deles não sabemos nem o que é!
- Você destruiu o primeiro Horcrux, o diário de Riddle, utilizando uma das presas do Basilisco, não foi? Uma grande e afiada presa, de um animal extremamente mágico... – Hermione franzia a testa, lembrando aos garotos de quando tentava resolver um problema excepcionalmente interessante de Aritmancia. – O que precisamos, então, é de algo com poder físico de destruição, além de muito poder mágico também. Só as varinhas não serão suficientes...
- Eu não utilizei somente a presa do Basilisco, naquele dia... – Harry sorria, satisfeito com a idéia que tivera. – Usei também a espada de Godric Grifhyndor.
- Mas ela está em Hogwarts, sob os cuidados de...
- MacGonagall. Terei que convencê-la a me emprestar a espada... Não consigo pensar em outra arma. E a Sala Precisa me parece um bom local para “atacarmos” a taça...Acho que vamos à escola esse ano, afinal! – A idéia agradou aos três, estavam com saudades e Hogwarts lembrava um oásis no meio das atribulações que viviam.
- E nós vamos quando? - O semblante de Gina resplandecia inocência.
Harry e Ron falaram ao mesmo tempo:
- Você não vai!
- Você vai é voltar para casa!
Diante da eminente discussão, Hermione lançou um de seus olhares severos para os rapazes, antes de falar para Gina:
- Se for conosco, pela manhã todos os Weasley restantes estarão atrás de você, e então todos estariam em perigo.
Gina ainda ameaçou argumentar, mas Harry pediu, levantando-se:
- Esperem um momento... – E subiu para a cabana, descendo logo depois com a capa de invisibilidade e a Firebolt nas mãos. Depositou-as na mesa, em frente a Gina, enquanto sentava-se.
- Eu sei que não posso, e nem quero, impedi-la de continuar procurando informações que possam nos ajudar. O que conseguiu já é muito e eu agradeço. Mas prometa, por favor, que irá voltar para a Sede, e que, se tiver que sair de lá novamente, irá usar a Firebolt e a capa...E se puder, leve Dobby com você. Diga a ele que é um pedido meu, e então ele poderá lhe obedecer.
- Mas sua vassoura, sua capa...
- Se eu precisar delas, chamo Dobby e ele as levará para mim. Vou mandar Edwiges na frente, explicando sobre a chegada de Bull e avisando que você está bem e a caminho de casa. Bicuço levará Bull e você os seguirá com a Firebolt, o.k.? Gina?
- Está bem. – O resmungo conformado convenceu a todos, e enquanto Harry sorria, Hermione e Rony soltavam audíveis suspiros de alívio. Mione tomou a palavra, comandando:
- Bull precisa descansar antes da viagem, ele não dormiu enquanto descansávamos. E Gina também não deve enfrentar outro vôo longo e difícil tão rápido. Por que não dormem algumas horas? Antes de amanhecer nós os acordamos...
- Não vou negar que meus velhos ossos estão reclamando... Vou me espichar um pouco, ali no jipe.
- Há alguém na vila que você precise avisar de sua ausência?
- Não, Harry. Deixei um aviso na porta avisando que ia pescar. Todos estão acostumados com essas minhas saídas. E o jipe eu deixo aqui, até poder voltar...
E com isso se foi, tirar sua soneca. O coração de Harry afundou um pouco, observando o amigo. Não sabia quando Bull poderia voltar para casa, ou se poderia...
- Gina, você pode usar meu saco de dormir, é o que está embaixo da janela...- Sugeriu Ron, apontando para a cabana.
A garota já ia subindo, quando pareceu lembrar de algo muito importante. Andou até Harry, retirando um jornal dobrado de dentro das vestes e, olhando para o papel com uma expressão onde rivalizavam pena e asco, entregou-o . Depois subiu as escadas para a cabana.
A expressão de Harry alternou várias emoções, de descrença à repulsa e piedade, enquanto ele lia a única notícia da primeira página do Profeta Diário. Segundo o jornal, a grande foto mostrava a sala de estar da mansão Malfoy. Mas os bruxos dos inúmeros retratos nas paredes da casa, não ostentavam mais poses arrogantes e orgulhosas, e sim caretas de espanto e medo. No centro da foto, aparentemente sentado em uma poltrona, parodiando um trono, estava uma massa ensangüentada. As únicas evidências de que aquilo um dia fora um bruxo eram a capa da Sonserina, colocada em seus ombros como se fosse um manto, e os cabelos empapados em sangue, onde sobressaiam poucas mechas limpas, de um louro muito claro. Harry reconheceu os ferimentos no que antes fora um rosto. Eram uma versão mais profunda e mortal daqueles feitos no irmão de Rony, Gui, alguns meses antes. Estendeu o jornal para os amigos, ainda com o estômago embrulhado, enquanto resumia:
- Voldemort entregou Draco para Fenrir Greyback, o líder dos lobisomens. Não houve chances para Malfoy...
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