Uma Memória Preguiçosa
No fim da tarde, alguns dias depois do Ano Novo, Harry, Rony e Gina formaram uma fila ao lado do fogo da cozinha para o retorno à Hogwarts. O Ministério arranjou uma conexão pela rede de pó de Flu para o retorno rápido e seguro dos alunos à escola. Somente a Srª. Weasley estava lá para se despedir, já que o Sr Weasley, Fred, Jorge, Gui e Fleur voltaram ao trabalho. A Srª Weasley se dissolveu em lágrimas no momento da partida. Na verdade, qualquer coisinha fazia Srª Weasley entrar numa crise de choro, chorava desde a repentina chegada de Percy no dia de Natal com os óculos cheio de pastinaga (pelo qual Fred, Jorge e Gina reclamavam os créditos).
“Não chora, mamãe” disse Gina acariciando as costas da mãe, enquanto ela soluçava em seus ombros “está tudo bem...”
“Não se preocupe com a gente”, disse Rony permitindo que a mãe desse um longo e molhado beijo em sua bochecha, “ou com Percy. Ele é só um idiota, não é uma grande perda, não é mesmo?”
Srª Weasley soluçou ainda mais forte enquanto abraçava Harry.
“Prometa-me que você vai se cuidar.. se manter longe de encrenca...”
“Eu sempre me mantenho, Srª Weasley”, disse Harry, “ Eu gosto de uma vida calma, a Srª me conhece.”
Ela deu um sorriso e um passo atrás, “Fiquem bem, então, todos vocês...”
Harry entrou nas chamas esverdeadas e gritou “Hogwarts” Ele deu uma última e rápida olhada na cozinha dos Weasley e na Srª Weasley, enquanto as chamas o tragavam. Girando rápido, ele viu imagens desfocadas de outros aposentos de bruxos, que sumiam de vista antes que ele pudesse olhar melhor, então a velocidade foi diminuindo até que parou na lareira da sala da Profª Mcgonagall. Ela mal desviou os olhos do que estava fazendo enquanto ele saia da lareira.
“Boa noite, Potter. Tente não sujar o carpete com as cinzas.”
“Não, professora”
Harry ajeitou seus óculos e alisou os cabelos enquanto Rony aparecia rodopiando. Quando Gina chegou, os três se retiraram da sala de McGonagall e foram em direção à torre da Grifinória. Harry olhou pelas janelas do corredor e percebeu que o sol já se escondia por detrás dos terrenos cobertos de neve como a que ele viu na Toca. De longe, pôde observar Hagrid alimentando Bicuço na frente de sua cabana.
“Baubles” disse Rony confiante, quando chegaram à Mulher Gorda, que parecia estar mais pálida que o normal.
“Não!” disse a Dama com sua voz alta.
“O que você quer dizer com ‘não’?”
“Tem uma nova senha” disse “ e por favor, não grite”
“Mas nós não estávamos no castelo, como você acha que nós..”
“Harry! Gina!”
Hermione vinha correndo na direção deles, com o rosto corado e vestindo uma capa, chapéu e luvas.
“Cheguei a algumas horas, estava indo visitar Hagrid e bic– quer dizer, Witherwings” disse ofegante “Tiveram um bom Natal?”
“Sim,” disse Rony de uma vez, “cheio de eventos, Rufus Scrim--"
“ Tenho uma coisa pra você, Harry”, disse Hermione, sem olhar para Rony e nem mesmo demonstrar ter ouvido o que ele disse. “Oh, esperem – a senha, Abstinência”
“Precisamente” disse a Dama Gorda, e moveu-se revelando a passagem.
“O que houve com ela?” perguntou Harry.
“Animação do Natal, aparentemente,” disse Hermione, enquanto liderava o caminho para o salão comunal. “Ela e Violeta beberam todo o vinho naquele quadro dos monges bêbados no corredor de Feitiços. De qualquer forma...”
Ela meteu a mão em seu bolso e puxou um pedaço de pergaminho contendo a letra de Dumbledore.
“Ótimo”, disse Harry, desenrolando o pergaminho e descobrindo que sua próxima aula com Dumbledore estava marcada para noite seguinte. “Eu tenho muita coisa para contar a ele – e para vocês. Vamos nos sentar...”
Mas neste momento, ouviu-se alguém dizer “Won-Won” e Lilá Brown veio correndo e jogou-se nos braços de Rony. As pessoas que estavam por perto deram risinhos; Hermione também deu uma risadinha. “Tem uma mensagem aqui... Vem comigo, Gina?”
“Não, obrigado. Marquei de encontrar Dino.” Disse Gina, com pouco entusiasmo, como Harry não pode deixar de notar. Deixando Rony e Lilá numa espécie de luta em pé, Harry levou Hermione para uma mesa quadrada.
“Então, como foi o Natal?”
“Ah, bom,” disse, “nada de especial. Como foi na casa de Won-Won?”.
“Te conto em um minuto”, disse Harry. “Olha Hermione, você não poderia...”.
“Não, não posso”, disse. “Portanto não precisa nem pedir.”
“Pensei que, você sabe, pelo Natal...”.
“Foi a Mulher Gorda que bebeu um galão de vinho de 500 anos, e não eu. Então, quais são as novidades importantes que você tem para me dizer?”
Ela pareceu muito firme para discutir no momento. Por isso, Harry deixou o assunto sobre Rony de lado e contou tudo o que ele ouviu da conversa entre Malfoy e Snape. Quando terminou, Hermione pensou por um momento e, então, disse: “Você não acha que...”.
“... ele estava fingindo oferecer ajuda para enganar Malfoy e descobrir o que ele estava armando?”
“Bem, isso”, disse Hermione.
“Sr. Weasley e Lupin acham isso”, disse Harry, “E isso prova que ele está tramando alguma coisa, você não pode negar isso”.
“Não, não posso” respondeu calmamente.
“E ele está a mando de Lord Voldemort, como eu tinha dito.”
“Bem.. Algum dos dois chegou a mencionar o nome de Voldemort??”
Harry franziu a testa, tentando lembrar. “Não tenho certeza... Snape certamente disse ‘seu mestre’, e quem mais poderia ser?”
“Eu não sei”, disse batendo nos lábios, “O pai dele, talvez?”.
Ela olhava fixamente através da sala, aparentemente perdida em seus pensamentos, nem mesmo percebeu Lilá fazendo cócegas em Rony. “Como está Lupin?”
“Nada bem”, e contou-lhe sobre a missão dele de se infiltrar entre os lobisomens e as dificuldades disso. “Você já ouviu falar em Fenrir Greyback?”
“Sim, eu já ouvi”, respondeu de sobressalto, “E você também, Harry!”.
“Quando? Em História da Magia? Você sabe muito bem que eu não prestava atenção...”.
“Não, não, História da Magia não! Malfoy ameaçou Borgin sobre ele!” disse Hermione. “Lá na Travessa do Tranco, não se lembra? Ele disse para Borgin que Fenrir Greyback era um velho amigo da família e que ele estaria de olho nos progressos de Borgin.”
Harry respondeu “Eu esqueci! Mas isso prova que Malfoy é um Comensal de Morte, de que outra forma ele entraria em contato com Grayback e diria o que ele teria de fazer?”.
“É muito suspeito” disse Hermione, “a não ser que...”.
“Ah, qual é?” disse Harry exasperado, “você não pode se livrar desta prova!”.
“Bem, existe a possibilidade de ser um mero blefe”.
“Você é inacreditável, é sim!” disse sacudindo a cabeça.
“Veja quem está certo! Você vai se arrepender assim como o Ministério. Ah é, eu tive um encontro com Rufus Scrimgeor também...”
E o restante da noite passou com uma conversa educada sobre o abuso do Ministério; para Hermione assim como para Rony, pensar nisso depois de tudo o que o Ministério fez Harry passar no ano anterior, e ainda ter a cara-de-pau de pedir ajuda agora...
O novo semestre começou na manhã seguinte com uma surpresa agradável aos alunos do sexto ano: um grande aviso foi preso no quadro de avisos durante a noite.
AULAS DE APARATAÇÃO
Se você tem dezessete anos ou vai fazer dezessete antes do próximo dia 31 de agosto, você está habilitado para um curso de doze semanas de Aulas de Aparatação com um Instrutor de Aparatação do Ministério. Por favor, assine abaixo para participar. Custo: 12 galeões.
Harry e Rony juntaram-se ao aglomerado que se formou perto do aviso e revezaram-se para assinar seus nomes. Rony estava se preparando para assinar seu nome quando Lilá veio por trás, passou a mão sobre seus olhos e perguntou “Adivinha quem é, Won-Won!” Harry virou-se para ver Hermione saindo quietamente para não ser vista, ele foi se juntar com ela, sem desejar manter-se perto de Rony e Lilá, mas para sua surpresa Rony se juntou a eles logo depois de terem saído pelo buraco do quadro, com suas orelhas vermelhas e uma expressão de irritação. Sem dar uma palavra, Hermione se apressou para acompanhar Neville.
“Então, aparatação”, disse Rony, mantendo um tom perfeitamente claro para fingir que nada tinha acontecido. “Deve ser moleza, né?”
“Não sei”, disse Harry. “Talvez seja melhor quando se faz por si mesmo, não gostei muito quando Dumbledore me levou para um passeio.”
“Esqueci que você já tinha feito... É melhor eu passar no teste na primeira vez.” Disse Rony, parecendo ansioso. “Fred e Jorge conseguiram”;
“Mas Carlinhos repetiu, não foi?”
“Sim, mas Carlinhos é maior que eu”, Rony manteve os braços por fora do corpo como se fosse um gorila- “por isso, Fred e Jorge não brincaram a respeito, pelo menos não na frente de Carlinhos...”
“Quando poderemos fazer o teste?”
“Assim que completarmos dezessete. Será só em Março para mim!”
“Sim, mas você não poderia aparatar aqui, pelo menos não no castelo...”
“Não é esse o objetivo, todo mundo saberia que eu posso aparatar se eu quiser.”
Rony não era o único animado por causa da Aparatação. Por todo aquele dia, houve conversas sobre o curso que estava por vir, uma grande quantidade de conversas sobre desaparecer e aparecer em outro lugar que quiser.
“Vai ser tão legal quando–” Simas estalou o dedo indicando o desaparecimento. “Meu primo Fergus faz isso só para me aborrecer, ele não imagina quando eu puder revidar... Ele não terá um momento de sossego.”
Perdido na visão de sua futura habilidade, ele brandiu sua varinha muito entusiasmadamente e ao invés de produzir uma calma fonte de água pura, que era o assunto da aula de Feitiços do dia, saiu um forte jato de água que ricocheteou no teto e derrubou professor Flitwick de cara no chão.
“Harry já aparatou”, Rony contou ao envergonhado Simas, depois do professor Flitwick ter secado a si mesmo com um brandir da varinha e dizer a Simas: Sou um bruxo e não um macaco sacudindo um graveto!”
“Bem – er – alguém o levou. Carona por aparatação.”
“Uau” sussurrou Simas, e ele, Dino e Neville uniram mais um pouco suas cabeças para ouvir como é Aparatar. Todos pareciam mais impressionados do que desacreditados, à medida que Harry contou a sua desconfortável experiência, respondendo detalhadamente as perguntas até as dez para oito, quando ele disse que precisava devolver um livro na biblioteca, e assim pôde escapar e rumar para a aula de Dumbledore.
Havia luz na sala de Dumbledore, os quadros dos antigos diretores roncavam tranqüilamente em suas telas e a Penseira estava posta e preparada em cima da mesa. As mãos de Dumbledore repousavam ao lado do objeto, a mão direita continuava negra e queimada como sempre. Não parecia ter se curado de forma alguma e Harry pensou, pela centésima vez, o que poderia ter causado, mas ele não perguntou; Dumbledore já havia dito que ele saberia em algum momento e havia outro assunto que ele queria perguntar. Mas antes que Harry pudesse falar qualquer coisa sobre Snape e Malfoy, Dumbledore perguntou:
“Ouvi que você se encontrou com o Ministro da Magia?”
“Sim”, disse Harry, “E ele não ficou nada contente comigo.”
“Não”, concordou Dumbledore. “Ele também não está muito contente comigo. Não devemos ceder às nossas angústias, Harry, mas, sim, continuar a batalha.”
Harry sorriu. “Ele queria que eu dissesse à comunidade dos Bruxos que o Ministério está fazendo um trabalho maravilhoso.”
Dumbledore deu um sorriso e disse “Foi a idéia original de Fudge, sabe. Durante seus últimos dias de Ministro, quando ele estava desesperadamente tentando manter seu posto, ele queria ter um encontro com você, esperando que você pudesse lhe dar apoio...”
“Depois de tudo o que Fudge fez ano passado?” disse Harry com raiva. “Depois de Umbridge?”
“Eu disse a Cornelius que ele não tinha nenhuma chance, mas a idéia não morreu quando ele saiu. Depois de horas em um encontro com Scrimgeour ele pediu-me um encontro com você...”
“Então foi por isso que vocês discutiram!” disse de ímpeto Harry. “Estava no Profeta Diário.”
“O Profeta consegue publicar verdades de vez em quando”, disse Dumbledore, “mas somente por acidente. Sim, foi por isso que discutimos. Bem, parece que Rufus encontrou um jeito de espreitá-lo, no final das contas.”
“Ele me acusou de ser um de seus homens.”
“Que grosseiro da parte dele.”
“Mas eu disse que eu era.”
Dumbledore abriu sua boca para falar, mas fechou novamente. Por trás de Harry, Fawkes, a fênix, soltou uma suave nota musical. Para o grande embaraço de Harry, ele percebeu que os olhos azuis e brilhantes de Dumbledore estavam, agora, cheios de água, Harry não pode evitar de olhar para baixo, encarando seus próprios joelhos. Contudo, quando Dumbledore voltou a falar, sua voz estava bastante firme.
“Estou muito emocionado, Harry.”
“Scrimgeour queria saber para onde você vai quando você não está em Hogwarts,” disse Harry ainda olhando para seus próprios joelhos.
“Sim, ele está muito curioso a respeito disto”, disse Dumbledore, parecendo muito animado e Harry achou que era seguro levantar a cabeça de novo.
“Ele até mesmo tentou me seguir. Incrível, mesmo! Ele mandou Dawlish me seguir. Não foi nada legal. Eu fui forçado a enfeitiçar Dawlish uma vez, e eu tive de fazer de novo com um grande pesar.”
“Então eles não sabem aonde o senhor foi?” perguntou Harry, esperançoso por maiores informações sobre este assunto, mas Dumbledore mal sorriu por debaixo de seus óculos de meia-lua.
“Não, eles não sabem, e ainda não é o momento para você saber. Agora eu sugiro que comecemos, a não ser que você tenha algo a dizer?”
“Na verdade, tenho sim, senhor!” disse Harry. “É sobre Malfoy e Snape.”
“Professor Snape, Harry.”
“Sim, senhor. Eu os ouvi durante a festa do professor Slughorn... bem, eu os segui, na verdade...”.
Dumbledore ouviu a historia que Harry contava sem demonstrar nenhum sentimento. Quando Harry terminou, ele ficou alguns minutos em silêncio, e então, disse “Obrigado por me contar, Harry, mas sugiro que você esqueça isso, não é importante.”
“Não é importante? Professor, o senhor não entendeu...?”
“Sim, Harry, abençoado como eu sou com um grande poder cerebral, eu entendi tudo o que você me contou”, disse Dumbledore um pouco ríspido. “Eu acho que você deveria considerar a possibilidade de eu ter entendido mais que você mesmo. Novamente, fico feliz por ter contado, mas deixe-me assegurar-lhe que você não me contou nada que me deixe inquieto.”
Harry manteve seu olhar em Dumbledore, silencioso. O que estava acontecendo? Isto significava que Dumbledore realmente mandou Snape descobrir o que Malfoy está tramando, e neste caso já teria ouvido de Snape o que Harry acabara de contar? Ou será que ele realmente se preocupava com o que acabou de ouvir, mas está fingindo que não?
“Então, senhor”, disse tentando manter seu tom de voz o mais educado e calmo possível, “definitivamente você ainda confia em...”
“Fui tolerante o suficiente para responder a essa pergunta outras vezes”, respondeu Dumbledore, apesar de não parecer mais tão tolerante. “Minha resposta não mudou!”
“Eu deveria saber que não”, disse uma voz desagradável; Phineas Nigellus estava claramente fingindo estar dormindo. Dumbledore ignorou-o.
“E agora, Harry, eu insisto que devemos seguir adiante. Tenho coisas mais importantes para debater com você esta noite”.
Harry sentou sentindo-se desgostoso. Como seria se ele não permitisse mudar de assunto, se ele insistisse em continuar as acusações contra Malfoy? Como se tivesse lido a mente de Harry, Dumbledore sacudiu a cabeça.
“Ah, Harry. Como isso acontece com freqüência, até mesmo, entre melhores amigos! Cada um de nós acredita que tem a dizer é mais importante do que qualquer coisa que o outro tem a contribuir.”
“Eu não digo que o que o senhor tem a dizer é sem importância”, disse Harry formalmente.
“Bem, você está certo, porque é importante”, disse Dumbledore. “Tenho mais duas memórias para te mostrar hoje, ambas obtidas com enorme dificuldade, e a segunda delas é, acredito eu, uma das mais importantes que coletei”.
Harry não disse nada, ainda sentia-se com raiva pela forma como suas palavras foram recebidas, mas sabia que não conseguiria nada se continuasse discutindo.
“Então”, disse Dumbledore, “continuamos esta noite com o conto de Tom Riddle, a quem nós deixamos, da última vez, no inicio de seus anos em Hogwarts. Você se lembra o quanto ele ficou animado ao descobrir que era bruxo, e que recusou minha companhia na viagem para o Beco Diagonal, ao mesmo tempo em que eu o avisei sobre continuar roubando dentro da escola”.
“O ano letivo chegou e junto dele veio Tom Riddle, um menino quieto em suas roupas de segunda mão, que entrou na fila para ser sorteado. Ele foi posto na Sonserina quase no momento em que o chapéu tocou sua cabeça”, continuou Dumbledore, sacudindo sua mão branca em direção a prateleira onde estava o Chapéu Seletor, muito antigo e imóvel. “Quando Riddle descobriu que o famoso criador de sua casa podia falar com cobras, eu não sei – talvez naquela mesma noite. Esse conhecimento somente excitou-o e aumentou seu senso de auto-importância.”
“No entanto, se ele estava assustando ou impressionando seus colegas sonserinos com sua habilidade de ofidioglota, nenhum dos professores chegou a saber sobre isso. Ele não mostrou nenhum sinal de arrogância ou de agressividade. Como era um talentoso e muito bonito órfão, ele chamou a atenção e a simpatia dos professores quase que no momento em que chegou na escola. Ele parecia correto, quieto e sedento por conhecimento. Quase todos tinham uma boa impressão dele”.
“O senhor não contou como ele era quando o conheceu no orfanato?” perguntou Harry.
“Não, não contei. Apesar de que ele não mostrou nenhuma ponta de remorso, era possível que sentisse arrependido pela forma como se comportou antes e resolveu ter um novo começo. Eu escolhi lhe dar esta chance.”
Dumbledore fez uma pausa e observou curiosamente Harry, que tinha aberto sua boca para falar. Aqui, de novo, estava a tendência de Dumbledore de confiar nas pessoas que claramente não mereciam! Mas, então, Harry lembrou-se de uma coisa...
“Mas você não confiou nele realmente, senhor? Ele me contou... o Riddle que saiu do diário disse ‘Dumbledore nunca pareceu gostar de mim como os demais professores. ’”.
“Vamos dizer que eu realmente não achei que ele fosse de todo confiável”, disse Dumbledore. “Eu decidi, como já indiquei, que ficaria de olhos bem atentos sobre ele, e assim eu o fiz. Devo dizer que não obtive muitas informações sobre ele no início. Ele era muito reservado comigo, ele sentia, tenho certeza, que a emoção de ter descoberto sua verdadeira identidade já tinha me contado muito sobre ele. Ele teve cuidado de nunca mais revelar tanto novamente, mas ele não poderia tomar de volta o que ele já tinha deixado aparecer em sua excitação, ou mesmo o que Srª. Cole tinha me confidenciado. No entanto, ele sentia que não deveria tentar me conquistar assim como ele conquistou tantos de meus colegas.”
“Na medida em que ele crescia na escola, ele formou à sua volta um grupo de amigos dedicados a ele; chamo-os de amigos, por não haver uma palavra melhor do que esta, pois como já indiquei, Riddle não sentia nenhuma afeição por qualquer um deles. Este grupo tinha uma espécie de encanto, um glamour obscuro dentro do castelo. Os integrantes do grupo eram bem diferentes; uma mistura de fracos procurando proteção, ambiciosos procurando uma repartição de glória e uma atração violenta por um líder que mostrava a eles as mais refinadas formas de crueldade. Em outras palavras, eram os futuros Comensais de Morte, e, de fato, alguns deles se tornaram os primeiros Comensais depois que saíram da escola.”
“Rigidamente controlados por Riddle, eles nunca foram pegos fazendo alguma coisa errada, apesar de seus sete anos de Hogwarts terem sido marcados por incidentes suspeitos aos quais eles nunca estavam satisfatoriamente ligados; o mais grave de todos foi, é claro, a abertura da Câmara Secreta, que resultou na morte de uma garota. Como você sabe, Hagrid foi falsamente acusado deste crime.”
“Não fui capaz de encontrar muitas memórias de Riddle em Hogwarts”, disse Dumbledore, pousando sua mão ferida sobre a Penseira. “Os poucos que o conheciam não estavam preparados para falar sobre ele, eles estavam muito aterrorizados. O que eu sei, descobri depois que ele saiu de Hogwarts, depois de muito esforço, depois de procurar alguns que poderiam ser enganados numa conversa, depois de procurar por velhos registros de questionamentos a Trouxas e Bruxos que o testemunharam.”
“Aqueles que eu persuadi a falar me contaram que Riddle tinha obsessão por sua linhagem hereditária. Isto era compreensível, é claro; ele cresceu em um orfanato e queria descobrir como foi parar lá. Parece que ele procurou ligação com seu pai Tom Riddle nos escudos da Sala dos Troféus, nas listas de monitores antigos da escola, e até mesmo nos livros de história do mundo dos Bruxos. Finalmente ele percebeu que seu pai nunca colocou os pés em Hogwarts. Acredito que foi neste momento que ele deixou de usar o nome de seu pai, assumindo a identidade de Lord Voldemort, começando a investigar a família de sua mãe – a mulher que, você se lembra, ele achou que não poderia ser bruxa já que sucumbiu à vergonhosa fraqueza humana da morte.”
“Tudo o que ele tinha a procurar era somente o nome Servolo (Marvolo), que ele descobriu, nos tempos de orfanato, ter sido do pai de sua mãe. Finalmente, depois de trabalhosa pesquisa em livros de famílias de Bruxos, ele descobriu a linhagem sobrevivente de Slyterin. No verão de seu décimo sexto aniversário, ele saiu do orfanato para onde voltava todo ano e foi à procura de seus parentes Gaunt. E agora, Harry, se você se levantar...”
Dumbledore se levantou e Harry pôde ver que ele novamente segurava uma pequena garrafa de cristal cheia por um fio prateado de lembrança.
“Tive muita sorte de coletar esta aqui”, ele disse, colocando a massa brilhante na Penseira. “Você vai entender quando mergulharmos nela. Vamos?”
Harry deu um passo em direção à base de pedra e curvou-se até seu rosto afundar na lembrança. Ele sentiu a familiar sensação de cair no nada e aterrissou em um chão sujo quase na escuridão total.
Demorou alguns segundos para reconhecer o local. A casa dos Gaunt estava agora mais suja do qualquer lugar onde Harry já esteve. O teto estava repleto de teias de aranha e o chão coberto de lama, comida apodrecida estava em cima da mesa junto a panelas imundas. A única luz vinha de uma vela que estava aos pés de um homem com cabelos e barba enormes, e Harry não conseguia ver os olhos ou a boca dele. O homem estava jogado em uma poltrona perto do fogo e Harry se perguntou, por um momento, se ele estava morto. Porém, alguém bateu na porta e o homem moveu-se, erguendo uma varinha na mão direita enquanto segurava uma faca na esquerda. A porta se abriu com um estalo. Ali, no limiar da porta, segurando uma velha lamparina, encontrava-se um garoto que Harry reconheceu no ato: alto, pálido, cabelos escuros, e muito bonito – Voldemort adolescente.
Os olhos de Voldemort olharam por dentro da casa até que viu o homem na poltrona. Por alguns segundos, ambos se olharam, o homem se levantou derrubando garrafas vazias que se encontravam a seus pés.
“VOCÊ!” gritou. “VOCÊ!”.
E correu em direção a Riddle, varinha e faca prontas para atacar.
“Pare”.
Riddle falou em língua de cobra. O homem escorregou e bateu na mesa, derrubando as panelas. Olhou assustado para Riddle. Houve um grande momento de silêncio enquanto se olhavam. Até que o homem falou:
“Você também fala?”
“Sim, eu falo”, disse Riddle. Ele entrou na casa, batendo a porta por atrás de si. Harry não pode evitar sentir uma admiração à coragem de Voldemort. Seu rosto quase não mostrava nojo ou, até mesmo, decepção.
“Onde está Servolo?” perguntou.
“Morto”, disse o outro. “Morreu há alguns anos atrás.”
Riddle franziu a testa.
“Quem é você, então?”
“Sou Morfin, não sou?”
“Filho de Servolo?”
“Claro que sou, então...”
Morfin tirou o cabelo de seu rosto para poder ver Riddle melhor e Harry pode ver que ele usava em sua mão direita o anel contendo a jóia negra que pertencera a Servolo.
“Pensei que você fosse aquele Trouxa”, sussurrou Morfin. “Você se parece muito com ele.”
“Que trouxa?” Perguntou Riddle asperamente.
“O Trouxa que minha irmã gostava, o Trouxa que morava na mansão do outro lado”, disse Morfin, e cuspiu inesperadamente no chão. “Você se parece exatamente com ele. Riddle. Mas ele está mais velho agora, não está? Ele é mais velho que você, agora vejo...”
Morfin olhava fixamente e chegou pro lado um pouco, ainda se apoiando na quina da mesa. “Ele voltou, percebe...” acrescentou.
Voldemort olhava para Morfin, pensando em suas possibilidades. Moveu-se um pouco mais perto de Morfin e disse “Riddle voltou?”
“Er, ele a largou, e que isso sirva de lição a ela, casamento imundo”, disse Morfin, mais uma vês cuspindo no chão. “Nos roubou, antes de fugir. Onde está o colar, o colar de Slyterin?”.
Voldemort não respondeu. Morfin estava ficando irado novamente, sacudiu a faca e gritou “Ela nos desonrou, sim, ela nos desonrou, vadia imunda! E você, vindo aqui e perguntando coisas a respeito disso tudo? Acabou... acabou...”.
Ele virou o rosto, e Voldemort andou em sua direção. E quando fez isso uma estranha escuridão surgiu, apagando a lamparina de Voldemort e a vela de Morfin, apagando tudo... Os dedos de Dumbledore seguraram firmemente o braço de Harry e eles voltaram ao presente. A suave luz dourada da sala de Dumbledore cegou os olhos de Harry depois da impenetrável escuridão.
“Isso é tudo?” Disse Harry de uma vez. “Por que tudo ficou tão escuro de repente?”
“Porque Morfin não conseguia lembrar de mais nada depois deste ponto”, disse Dumbledore, apontando para que Harry se assentasse novamente em sua cadeira. “Quando ele acordou na manhã seguinte, estava deitado no chão, sozinho. O anel de Servolo havia desaparecido”.
“Enquanto isso, na vila de Little Hangleton, uma empregada corria pela rua principal, gritando que havia três corpos estendidos na sala de jantar da mansão; Tom Riddle pai, sua mãe e seu pai.”
“As autoridades Trouxas estavam perplexas. Até onde eu sei, eles não sabiam como os Riddles haviam morrido, já que a maldição Avada Kedavra não deixa nenhum sinal de dano... A exceção está na minha frente”, Dumbledore acrescentou olhando para a cicatriz de Harry. “O Ministério, por outro lado, sabia que isto tinha sido um assassinato cometido por um bruxo. Eles também sabiam que um convicto bruxo que odiava Trouxas morava depois do vale perto da mansão dos Riddle, alguém que odiava Trouxas e que já havia atacado uma das pessoas assassinadas.”
“Assim, o Ministério convocou Morfin. Eles não precisaram perguntá-lo, usando Veritaserum ou Legilimência. Ele admitiu o assassinato, dizendo detalhes que só o assassino poderia saber. Ele estava orgulhoso, ele disse, por ter matado os Trouxas, esteve esperando a chance por muitos anos. Ele entregou sua varinha, e ficou provado que ela fora utilizada no assassinato. E ele se permitiu ser levado sem lutar direto para Azkaban”.
“Só o que incomodava ele era o fato de que o anel de seu pai havia desaparecido. ’Ele vai me matar por ter perdido’, ele disse várias vezes às pessoas que o prenderam. ‘Ele vai me matar por ter perdido!’ E isso, aparentemente, foi tudo o que ele disse novamente. Durante o período em que ficou em Azkaban, ele reviveu esta lembrança, lamentando a perda do último artefato da herança de Servolo, e está enterrado ao lado da prisão, ao lado de muitos outros que morreram lá dentro.“
“Então, Voldemort roubou a varinha de Morfin e usou-a?” Disse Harry, sentando com a coluna ereta.
“Isso mesmo”, disse Dumbledore. “Não temos nenhuma lembrança que possa nos mostrar isso, mas acho que podemos ter toda certeza que foi isto o que aconteceu. Voldemort estuporou seu tio, pegou sua varinha e foi em direção à mansão do outro lado do vale. Lá, ele matou o Trouxa que havia abandonado sua mãe, e, também, seus avós Trouxas, exterminando o último dos Riddles e vingando-se do homem que nunca o quis como um filho. Então, retornou à cabana dos Gaunt, fez uma magia complexa que implantaria uma falsa lembrança na mente de seu tio, deixou a varinha de Morfin ao lado de seu dono inconsciente, pegou o velho anel que ele usava e foi embora.”
“E Morfin nunca percebeu que ele não fez nada daquilo?”
“Nunca”, disse Dumbledore, “ e ele deu uma confissão detalhada.”
“Mas ele tinha essa lembrança verdadeira o tempo todo?”
“Sim, mas foi preciso um grande esforço da poderosa Legilimência para obter isso dele”, disse Dumbledore, “e pra que alguém investigaria a fundo a mente de Morfin quando ele já havia confessado o crime? No entanto, eu consegui fazer uma visita a Morfin nas suas últimas semanas de vida, pois naquele momento eu tentava descobrir o máximo possível sobre o passado de Voldemort. Obtive essa lembrança com muita dificuldade. Quando vi o que continha, tentei utilizá-la para retirar Morfin de Azkaban. Mas antes do Ministério chegar a uma decisão, ele já havia morrido”.
“Mas como o Ministério não havia percebido que Voldemort tinha feito isso tudo com Morfin?” Harry perguntou com raiva. “Ele era menor de idade naquela época, não era? Achei que era possível detectar magia feita por menores de idade.”
“Você tem razão - eles podem detectar magia, mas não quem a fez. Você se lembra que foi acusado de usar magia de Levitação quando na verdade quem utilizou foi...”
“Dobby”, disse Harry; essa injustiça ainda o incomodava. “Então, se você é menor de idade e faz magia dentro da casa de um Bruxo adulto, o Ministério não vai saber?”
“O ministério certamente saberá dizer quem praticou a magia”, disse Dumbledore, sorrindo gentilmente enquanto olhava a indignação de Harry. “Eles cobram aos bruxos adultos que seus filhos obedeçam enquanto estão dentro da casa.”
“Isso é muita besteira”, esbravejou Harry. “Olha o que aconteceu aqui, olha o que aconteceu com Morfin.”
“Eu concordo”, disse Dumbledore. “Mesmo por tudo o que Morfin foi, ele não merecia morrer da forma que morreu, acusado de assassinatos que ele não cometeu. Está ficando tarde, e ainda quero que você olhe mais uma lembrança antes de irmos...”
Dumbledore tirou de um bolso outra garrafinha de cristal e Harry ficou em silencio novamente, lembrando que Dumbledore disse que esta fora a mais importante que ele conseguiu coletar. Harry percebeu que o conteúdo foi difícil de ser despejado na Penseira, como se ela tivesse se tornado mais sólida, será que as lembranças se estragam?
“Isto não vai demorar”, disse Dumbledore, quando ele finalmente esvaziou o vidrinho. “Devemos estar de volta antes de você notar. Bem, vamos entrar mais uma vez na Penseira...”
Harry caiu mais uma vez dentro do liquido prateado e aterrissou, desta vez, em frente a um homem que ele logo reconheceu.
Era um bem mais jovem Horácio Slughorn. Harry estava tão acostumado com ele careca que vê-lo com cabelo grosso, brilhante e cor de palha era um pouco desconcertante, apesar de já haver uma careca do tamanho de um galeão no topo de sua cabeça. Seu bigode, mas fino do que o atual era de um louro avermelhado. Ele não era tão gordo quanto o Slughorn que Harry conhecia. Seus pequenos pés repousavam em cima de um pufe, ele estava sentado bem confortável em uma poltrona, uma das mãos segurando uma pequena taça de vinho e a outra vasculhando uma caixa de abacaxis cristalizados.
Harry olhou a volta enquanto Dumbledore chegava, e percebeu que estavam na sala de Slughorn. Uma meia dúzia de garotos estava sentada ao redor de Slughorn, todos por volta de 15 anos. Harry reconheceu Voldemort logo de cara. Ele era o mais bonito entre todos e o que parecia mais relaxado. Seu braço direito estava deitado relaxadamente sobre o braço de sua poltrona, com um susto, Harry percebeu que ele usava o anel dourado-e-preto de Servolo, ele já havia matado seu pai.
“Senhor, é verdade que professor Merrythought está se aposentando do cargo?” ele perguntou.
“Tom, Tom, se eu soubesse não poderia lhe dizer”, disse Slughorn, sacudindo um dedo açucarado de desaprovação, mas que perdia efeito à medida que seus olhos piscavam. “Devo dizer que gostaria de saber como você consegue ter acesso a certas informações, você sabe mais que alguns de meus colegas.”
Riddle sorriu e os demais garotos olharam-no com admiração.
“Com essa incomum habilidade de saber coisas que você não deveria e sua cuidadosa habilidade de agradar pessoas importantes - obrigado pelo abacaxi, sim, são os meus favoritos–”.
Depois que alguns garotos riram com certo nervoso, uma coisa muito estranha aconteceu. Toda a sala encheu-se com uma grossa nevoa branca, e Harry não podia ver nada além do rosto de Dumbledore, que estava ao seu lado. Então a voz de Slughorn ecoou por entre a névoa, estranhamente alta “... você vai pelo caminho errado, garoto, lembre-se de minhas palavras!”.
A névoa sumiu tão subitamente quanto surgiu, e ninguém pareceu reparar isto, ou ninguém agiu como se algo diferente tivesse acontecido. Alarmado, Harry olhou à volta e viu um grande relógio dourado acima da cabeça de Slughorn marcando onze horas da noite.
“Bom Deus, já está tão tarde assim?” Disse Slughorn. “É melhor vocês irem garotos ou estaremos todos encrencados. Lestrange, quero seu artigo para amanhã ou estará em detenção. O mesmo para você, Avery!”
Slughorn levantou-se da cadeira e levou seu copo vazio até a mesa, enquanto os meninos saíam da sala. Voldemort, no entanto, ficou para trás. Harry sabia que ele se atrasou de propósito para poder fica a sós com Slughorn.
“Tome cuidado, Tom”, olhando à volta e vendo-o ainda lá, “você não quer ser pego a essa hora da noite, ainda mais sendo monitor...”.
“Senhor, quero lhe perguntar uma coisa.”
“Pode perguntar, então, garoto, pode perguntar...”
“Senhor, queria saber o que você sabe sobre Horcruxes?”
E, então, aconteceu tudo de novo: a densa névoa de forma que Harry não conseguia ver nem Slughorn nem Voldemort; somente Dumbledore, que sorria serenamente. Então, a voz de Slughorn ecoou novamente, assim como antes.
“Eu não sei nada sobre Horcruxes e mesmo se soubesse não diria! Agora saia daqui de uma vez e não permita que eu ouça você mencionado isto de novo!”
“Bem, é isso”, disse Dumbledore calmamente ao lado de Harry.
“É hora de irmos.”
Os pés de Harry saíram do chão da lembrança e voltaram ao chão da sala de Dumbledore.
“Isso é tudo?” Perguntou Harry atônito.
Dumbledore havia dito que esta era a lembrança mais importante de todas, mas ele não conseguia ver o que tinha de tão importante a respeito. Com certeza a névoa e o fato de ninguém haver percebido, foi estranho, mas, além disso, nada pareceu ter acontecido, a não ser o fato de Voldemort ter feito uma pergunta e não ter obtido resposta.
“Como você deve ter percebido”, disse Dumbledore sentando por detrás da mesa, “esta lembrança foi adulterada.”
“Adulterada?” repetiu Harry, sentando-se também.
“Certamente”, disse Dumbledore. “Professor Slughorn interferiu em suas próprias lembranças.”
“Mas por que ele faria isso?”
“Porque, eu acredito, ele está envergonhado do que se lembra”, disse Dumbledore. “Ele tentou refazer a lembrança para mostrar-se a si mesmo sob uma perspectiva melhor, escondendo as partes que ele não desejava ver. Foi, como você pode perceber, mal feito e isso foi uma coisa boa, pois mostra que a verdadeira memória está lá por baixo das alterações.”
“E também, pela primeira vez, eu estou lhe dando um dever de casa, Harry. Será seu dever convencer professor Slughorn a divulgar a real lembrança que será, sem dúvida, um pedaço crucial de informação.”
Harry olhou fixamente. “Mas, senhor, é óbvio que você pode usar Legilimência ou Veritaserum...”
“Professor Slughorn é um bruxo poderoso que estará pronto para qualquer um dos dois”, disse Dumbledore. “Ele é muito mais preparado em Oclumência do que o pobre Morfin Gaunt, e eu me surpreenderia se ele não carregasse consigo um antídoto para Veritaserum desde quando eu tentei fazer com que ele me desse esta versão travestida de suas memória.”
“Não, eu acho que seria idiotice tentar obter a verdade do professor Slughorn utilizando a força, seria muito mais prejudicial do que benéfico. Eu não quero que ele saia de Hogwarts. No entanto, ele tem fraquezas como todos nós e eu tenho certeza que você é uma das pessoas que seria capaz de penetrar em suas defesas. É muito importante que obtenhamos a verdadeira lembrança, Harry... o quão importante só saberemos quando a tivermos em mãos. Então, boa sorte e boa noite.”
Um pouco estupefato pela despedida súbita, Harry levantou-se rapidamente “Boa noite, senhor”.
Enquanto fechava a porta do escritório, ouviu Phineas dizer “Não consigo ver como o garoto se sairia melhor que você, Dumbledore”
“Eu não esperaria que você visse, Phineas”, respondeu Dumbledore e Fawkes soltou mais uma nota musical.
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