C A P. 4 – J O G O D E
Harry desceu as escadas em direção ao salão fingindo não perceber a presença de Rony, deixando-o para trás. Era evidente que o ruivo sentia-se incomodado pelo modo com que seu amigo tratava-o, mas desta vez ele decidiu não correr atrás do mesmo implorando por desculpas. Como que se nem o conhecesse, Rony ignorou Harry. Ato mútuo.
Harry já tinha terminado metade do café quando notou que nem Mione e nem Rony haviam chegado no salão. Provavelmente estavam parados em algum corredor discutindo sobre o ocorrido entre o ruivo e Malfoy. Harry não queria se meter mais nisso.
O grifinório se dirigiu rapidamente para fora do castelo buscando um mísero ar fresco que não conseguia encontrar: a tensão dos dias que se seguiam deixava a cabeça de Harry confusa, e nesse momento ele precisava estar só para pensar numa maneira de não enlouquecer. Definitivamente não era fácil ser traído pelo melhor amigo.
Harry seguiu a direção da lagoa, mas não muito tempo depois desviou seu caminho e adentrou a floresta: as árvores densas em plena beira da orla denunciavam um certo descaso com sua aparência – normal em tempos de guerra – mas, por outro lado, proporcionavam o isolamento que Harry necessitava naquele momento para pensar ou simplesmente ficar sozinho.
O barulho ritmado dos pássaros, o contato com a terra gelada e a pouca claridade peneirada por entre as folhas proporcionavam ao menino-que-sobreviveu uma paz de pensamentos que a muito ele precisava.
Era possível ouvir ao longe o barulho de Hogwarts em aula: alunos conjurando feitiços, preparando poções ou simplesmente conversando assuntos inúteis. Era estranha a sensação de estar tão perto e tão longe de tudo.
Harry fechou os olhos. Podia sentir a brisa úmida roçando sua pele oleosa causando uma sensação de estremo frescor. O barulho dos estranhos animais caçando bem no coração da floresta podia ser ouvido, mas nem de longe causava qualquer temor em alguém que estivesse em tal contato com a natureza.
As simples coisas bastavam para estabilizar todo um mundo instável, e Harry sabia disso.
Muito ao longe Harry ouvia passos lentos, talvez de alguém que atravessava os gramados do castelo. Eram passos suaves que misturavam-se com todos os outros barulhos, mas aos poucos destacavam-se pela sua relativa proximidade.
Os olhos de Harry se abriram. Os passos estavam cada vez mais próximos e pelo barulho das folhas se mexendo, era certo de que aquela pessoa – ou ser – estava indo ao seu encontro. O grifinório levantou-se rapidamente com a varinha em mãos.
- Expeliarmus. – Gritou uma voz rouca fazendo com que no mesmo instante Harry caísse no chão.
Desesperado, o grifinório apertou seus dedos mas não encontrou sua varinha – esta havia escapado de sua mão. Era inútil tentar se levantar: a dor do tombo impedia qualquer movimento de Harry.
Os paços antes afastados, agora estavam cada vez mais altos e em pouco tempo revelaram-se:
- Perdão, Potter. – A voz fina revelava um loiro: Draco Malfoy. – Eu não queria te machucar, mas creio que se assim não fizesse você acabaria por me atingir. Nós não queremos isso, não é mesmo?
Harry não respondeu. Fitou Malfoy com um olhar secante.
- Levante, Potter. – Draco estendeu a mão num gesto de ajuda. Harry exitou. – Ah! Não seja orgulhoso, Harry. Eu estou fazendo isso como um pedido de desculpas.
Harry tentou levantar-se sozinho. Sua perna doía muito e no mesmo instante este desabou no chão.
- Eu só estou tentando ajudar, Potter. – Continuou Malfoy ainda com a mão esticada. – Se você não aceitar minha ajuda irá ficar aí pelo resto do dia.
Malfoy tinha razão. Era difícil se sujeitar a isto, mas Harry aceitou a ajuda de Malfoy.
Cuidadosamente Malfoy ajudou Harry a levantar-se num gesto quase fraternal. Qualquer um que visse aquela cena acharia que os dois sempre foram amigos.
O grifinório, agora sentado num toco de árvore parecia surpreso com a atitude de seu arquiinimigo.
- Você está fazendo isso só para me humilhar, Malfoy! – Harry parecia envergonhado de ter aceitado a ajuda de seu inimigo.
- Eu teria motivos para isso, Potter. – Malfoy parecia sério, mas deliciava-se a cada segundo com o seu posto de superioridade. – Mas não acho que essa seria a hora mais apropriada para te humilhar.
- E o que você veio fazer aqui, Malfoy? – Harry tentava manter-se calmo, embora fosse difícil.
- Conversar. – Respondeu Malfoy rapidamente. – Apenas conversar.
- Sobre...
- Rony... eu... você...
- Não quero falar sobre Rony! – Harry tentou se levantar e ir embora. Era inútil: suas pernas dormentes de dor não conseguiam se mexer.
- Potter, Potter... Creio que esse seu preconceito só esteja destruindo seu melhor amigo. – Disse Malfoy num tom calmo de constatação. – A mim não faz a maior diferença.
- Accio varinha! – Gritou Harry ao mesmo tempo em que levantava seu punho.
No mesmo instante a varinha do grifinório antes jogada entre folhas e pedras flutuou delicadamente até sua mão.
Harry apontou a varinha para Malfoy. Sua mão estava tremula.
- NUNCA MAIS REPITA ISTO! – Harry gritava. A temor em sua voz era perceptível. – Se alguém destruiu Rony este alguém foi você! Foi você quem seduziu ele... só para me atingir.
- Que garoto egocêntrico, você! – Malfoy tinha voz de deboche. – O mundo não gira em torno de você e eu tenho mais a fazer do que tentar te atingir.
- Eu quero sair daqui! – E Harry novamente tentou se levantar. Fora inútil. – Que merda de perna!
- Deixe-me ver esta perna? – Não havia preocupação no rosto do sonserino. – Pode ser algo grave.
- Não! – Respondeu Harry com a varinha ainda apontada.
Malfoy jogou sua varinha no chão e abriu os braços.
- Vamos lá! Eu estou esperando o seu feitiço. – Chegava a ser incomodo, mas os olhos de Malfoy não denunciavam qualquer fraqueza.
- Não duvide de mim! – Gritou Harry.
Eu duvido! Responderam os olhos frios do sonserino.
Harry encostou a ponta de sua varinha na face de Malfoy. Este não esboçou qualquer reação.
O grifinório apertou sua mão contra a varinha e o nome do feitiço já estava em sua boca, pronto para ser dito: Algo o travava.
Draco sorriu e relaxou seus músculos.
- Não tem coragem! – Constatou.
Harry continuou em silêncio: era a mais pura verdade.
- Rony também me olhava com essa mesma cara de ódio a alguns meses atrás. – Malfoy quebrou o silêncio. – Isso foi antes de tudo acontecer.
- Não fale de Rony! – Disse Harry com raiva.
- Sabe por que ele mudou de idéia quanto a mim? – Perguntou Malfoy.
- Não quero saber...
- Porque ele descobriu que eu não sou o monstro que dizem que sou.
Harry continuou em silêncio.
- Sabe por que ele descobriu que eu não sou esse monstro? – Perguntou novamente.
- Não quero saber...
- Porque ele viu que eu consigo amar.
Harry continuou em silêncio.
- Sabe como ele descobriu que eu sei amar? – Continuou Malfoy pela terceira vez.
- NÃO QUERO SABER! – Gritou Harry.
O sonserino fitou Harry por alguns segundos e junto a um sussurro de “Assim!” preencheu a boca do grifinório com sua saliva.
Durante alguns segundos os dois se beijaram como dois apaixonados: a saliva trocada entre os dois aquecia suas bocas junto aos seus corpos. Suas línguas se encontravam e se roçavam em milésimos que pareciam horas.
- Expeliarmus! – Gritou Harry vendo o corpo de o loiro desgrudar de sua boca e voar metros até se chocar em uma árvore.
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