C A P. 2 – F L O R E S E
- Ufa, Harry! – Gritou Hermione dando um pulo do sofá enquanto Harry entrava na torre da grifinória.
- E o que aconteceu? – Rony desceu as escadas do dormitório em poucos segundos quando ouviu a chegada de Harry. – Conte, cara!
- Tudo que eu já sabia... – Respondeu Harry sem emoção na voz. – Detenção pela semana inteira... Com o Snape.
- Com o Snape? – Bradou Mione. – Não é possível!
- Poderia ser pior, cara... – Consolou Rony timidamente.
- E poderia ser MELHOR! – Gritou Harry. – Se você quisesse.
- Não é tão simples assim. – Rony parecia assustado.
- É sim! – Poucas vezes Harry se alterava tanto como naquele momento. – Era só não ter deixado o Malfoy mandar em você...
- Ele não mandou em mim! – Rony pareceu ofendido com essa acusação.
- Ele te deu ordens, o Malfoy. – Disse Harry sentando bruscamente sobre a poltrona vermelha.
Rony não respondeu, apenas encarou Mione que continuava em pé apenas observando a conversa com um ar de preocupação. O ruivo sabia que seu amigo em parte tinha razão, Harry via isso estampado em seu rosto.
A conversa parecia ter terminado ali; ambas de cara fechada, sentadas nas extremidades opostas da sala. Assim ficaram por boa parte da noite até se renderem ao sono.
As luzes solares já invadiam todo o dormitório e as vozes de pessoas excitadas descendo as escadas da torre pareciam aumentar a cada segundo. Harry se assustou ao perceber que adormecera sentado numa poltrona agora completamente iluminada pelo Sol. Aos poucos ele voltava à sua realidade e aos poucos as vozes que o rodeavam eram mais nítidas.
Focando os olhos para o lado oposto da sala, Harry percebeu que Rony também acordava assustado enquanto todos invadiam a torre para mais um dia em Hogwarts. Por mais desgosto que sentisse do garoto, Harry não podia deixar de admitir que, pelo menos naquele momento, ambos estavam em barcos iguais.
O mar de alunos agitado que desciam para a sala da grifinória, em pouco tempo saia para o salão tomar o café da manhã. Não demorou muito para restarem na sala apenas o trio; Harry, Rony e Mione.
Rony evitava olhar para Harry, e era certo que este também – talvez apenas por um orgulho besta que ainda lhe sobrava – não encarava seu amigo face-a-face. Mione era o único laço de amizade que lhes restavam naquele momento: todas as conversas giravam em sua órbita.
- Até quando vai durar esse clima chato? – Perguntou Mione aos seus amigos que teimavam em manter a inimizade.
Ambos ignoraram a pergunta.
- Ah... Parem com isso! – Mione parecia perder a paciência. – Todas as vezes que vocês tentaram ficar sem se falar deram errado! Vocês são AMIGOS!
O silêncio continuou. Era constrangedor.
- Quanta infantilidade. – Mione parecia ter desistido e não tardou a descer as escadas em direção ao salão principal. – Desisto! – A última palavra foi dita já fora da torre da Grifinória.
Harry e Rony ficaram sozinhos por muito tempo, mas nenhuma palavra foi dita. O silêncio – talvez irônico – permaneceu por horas, até que Harry foi obrigado a se arrumar e sair: Snape lhe esperava para a sua primeira detenção. De certa forma Rony sentia-se culpado por isso.
***
Harry podia ver o Sol se pondo por detrás das janelas de pedra da escadaria; os raios solares iluminavam apenas as montanhas mais distantes de Hogwarts e aos poucos iam morrendo vagarosamente, como se não tivessem pressa de ceder lugar a escuridão.
Harry respirava alto enquanto atravessava os corredores desertos do castelo. Ele estava esgotado e esfomeado: uma tarde inteira de detenção com Snape.
Enquanto descia para o jantar, o grifinório encontrava os estudantes de Hogwarts indo também na mesma direção. No meio da confusão de alunos estava Mione visivelmente preocupada e perdida em meio a tantas cabeças.
- Harry! – Gritou Mione com um certo alívio ao encontra-lo. – Estava te procurando há tempos. Como foi lá?
- Péssimo. – A voz cansada de Harry foi o bastante para a garota perceber que era melhor não tocar naquele assunto.
- Preciso conversar com você. – Disse Mione ainda afobada, atropelando as palavras pela metade. – Mas vamos jantar primeiro.
Harry concordou. Sentaram-se à mesa e durante alguns minutos apenas se serviram sem trocar nem ao menos olhares. O grifinório se mostrou concentrado na comida, embora sua mente cansada pensava curiosa sobre o tal assunto de sua amiga.
- Sabe, Harry – Disse Mione quebrando o silêncio. – Rony nem veio jantar hoje. Estava com vergonha de você e não queria começar outra briga.
Harry repousou os talheres e esboçou um olhar nervoso:
- Que bom para ele. – E completou: - Não estrague meu jantar falando dele, por favor.
- Eu acho que você está sendo injusto com ele, Harry. – Mione parecia nervosa. – Está bem, ele pode ter errado com você, Harry, mas ele é seu amigo acima de tudo e não se pode brigar por coisas tão fúteis como essa.
Harry continuou em silêncio.
- Eu acho que você está tentando descontar nele os seus problemas pessoais e suas incertezas. – Mione tossiu antes de continuar. – Isso é infantil de mais para você, Harry. Você já enfrentou tantas coisas impróprias para alguém da sua idade... Tente ao menos conversar com ele.
Harry fingiu nem prestar atenção, mas sua mente concordava com Mione, embora não quisesse, talvez por orgulho, concordar.
O grifinório sabia que o acontecido no corredor fora apenas o estopim de vários problemas em sua vida, e quem pagara por tudo fora Rony: a pessoa a qual ele descontara suas raivas.
- Talvez você tenha razão, Mione. – Disse Harry de cabeça baixa.
- Vá conversar com ele, Harry!
- Agora? – Disse Harry surpreso.
- Claro! – Respondeu Mione. – Ele precisa ser desculpado por você, Harry. O mais rápido possível.
Harry subia as escadas rapidamente. Poder voltar atrás e perdoar o melhor amigo deixava-o mais leve. Um sorriso tímido brotou em sua face; enfim ele voltaria a conversar com a pessoa que ele tanto gosta. Tudo voltaria ao seu normal. Era questão de minutos.
O quadro que guardava a passagem secreta à grifinória estava um pouco adiante. Os corredores estavam vazios – sinal de que todos ainda jantavam. Harry imaginava a reação de seu amigo ruivo ao vê-lo pedir desculpas: Enfim selariam novamente a antiga amizade.
- Dragão Adormecido! – Disse Harry em tom alto como se estivesse falando com o quadro a sua frente.
Instantaneamente a porta da Grifinória se abriu. Todas as luzes do salão comunal estavam apagadas. O único ponto de iluminação era as chamas da lareira que ainda teimavam em bradar fogo. Não tinha ninguém no salão; Rony já devia ter ido dormir.
Andando devagar e tentando com muito custo enxergar o caminho para o dormitório, Harry seguiu vagarosamente; subiu as escadas tentando provocar o menor barulho possível e abriu a porta que correspondia ao quarto do sexto ano.
Andou alguns passos e encontrou o Box de seu amigo: Ouvia barulhos, provavelmente ele fazia dever de alguma matéria. Sem pensar muito, porém ansioso pelo perdão tão desejado, Harry abriu a cortina que escondia a cama de Rony do restante do dormitório.
A única vela que iluminava o local mostrou a Harry uma imagem que ele não queria acreditar. Harry sentiu nojo naquele momento.
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