Fotografia.
1996 (Ordem da Fênix):
Sirius prestava vagamente atenção às palavras de Mundungo. Olhou para o afilhado, que estava com Olho-Tonto, Harry parecia bem incomodado com o que quer que Moody estivesse lhe mostrando.
Aproximou-se deles.
Harry parecia estar inventando uma desculpa para sair dali.
—… ainda não guardei o meu… - parou para pensar e viu Sirius, seus olhos brilharam um pouco agradecidos.
— que é isso que você tem aí Olho-Tonto? – perguntou Sirius.
Moody virou-se para ele, Harry encarou a aparição do padrinho como sua deixa e saiu discretamente pela porta.
— a Ordem da Fênix original. – respondeu Moody. Mostrou uma foto a Sirius, que sentiu o estômago despencar.
A fotografia mostrava ele e seus amigos da época de Hogwarts.
— James e Lilian. – apontou Moody, como se ele não soubesse. – Marlene McKinnon… Alice e Frank, estes foram torturados… – cutucou um pouco a foto, afastando as pessoas e mostrando outras. – Ali está você… – deu mais uma cutucada. – Ah, e ali está ela. – uma mulher se aproximou de Sirius na foto, ele a abraçou por trás e murmurou algo em seu ouvido, fazendo-a rir. – Trinta Comensais – exclamou Moody. – com certeza impressionante. Morreu como a grifinória que era. – elogiou.
Sirius rangeu os dentes, não precisava lembrar daquilo, definitivamente. Sentiu o coração apertar. Saiu da cozinha deixando Alastor para trás, falando sozinho.
Entrou no quarto que ficava Bicuço, bateu a porta, assustando o hipogrifo.
Sentou-se na cadeira e respirou fundo, sentindo um calor atrás dos olhos. Puxou a corrente com o pingente e admirou a mulher.
— Mallory… o que teria acontecido se eu não tivesse confiado naquele rato? – a mulher sorriu.
Lembrou de momentos atrás, na cozinha, precisamente da foto. Fazia muito tempo que tinha sido tirada, mas se lembrava perfeitamente do que dissera a Mallory na ocasião.
“você está linda, mas isso não é uma surpresa.” Então Mallory riu. Sempre podia contar com aquela risada para afastar o mau humor.
Lembrou de James e Lilian. Estavam muito felizes naquele dia, Harry tinha apresentado os primeiros sinais de magia. Momentos antes da foto tinham brincado com a possibilidade dele ser o novo maroto da família.
Sirius soltou o pingente.
Acariciou o bico de Bicuço, este deu bicadinhas carinhosas em sua mão. Abriu a porta do quarto e saindo a fechou. Desceu as escadas e ouviu alguém gritando.
Molly.
Desceu correndo para as salas de visitas. Ali estavam Molly, Remus, Harry e Moody, que acabara de chegar. Havia algo mais jogado no tapete.
O corpo de Harry.
— riddikulus! - o cadáver fez um barulho parecido com um estouro e virou um globo prateado. Remus deu uma sacudida com a varinha e o globo sumiu.
Molly gemeu e se desmanchou em lagrimas.
Sirius estava ciente do que estava acontecendo ao seu redor, mas fixava os olhos onde a poucos segundo estivera o cadáver de Harry.
Imaginou seu bicho-papão, devia ser parecido com o de Molly, provavelmente…
A Sra. Weasley ainda soluçava e desabafava sobre sua preocupação com os filhos. Pelo menos é sensata pensou Sirius.
— não se preocupe com Percy – disse Sirius abruptamente. – Vai mudar de opinião, apenas uma questão de tempo. Voldemort sairá das sombras, e quando isso acontecer, o Ministério todo nos pedirá perdão. E não tenho muita certeza se vamos aceitar o pedido deles. – completou, sentindo sua fala amargar.
Resolveu deixar as consolações com Remus, subiu as escadas e foi para seu quarto.
Quando entrou sentiu o pouco calor que lhe restava abraçar-lhe. Fixou os olhos nas fotos de mulheres trouxas de biquíni. Deu uma risada rouca, lembrando-se das palavras dos amigos sobre o quarto.
“essa até que é gostosa” riu James. “Muito ousado da sua parte Almofadinhas”
“você é muito pervertido” disse Remus, com um sorriso.
“acho que não vale a pena brigar por isso, né?” Mallory deu um sorrisinho.
“SEU TRAIDOR DE SANGUE…” Sirius interrompeu a lembrança. Sua mãe ainda estava ali para lhe dizer suas doces e sensíveis palavras.
A única foto bruxa colada na parede revelava os marotos na época de Hogwarts. Novamente Sirius sentiu uma angustia ao observá-la. Não tinha certeza de quem a tirara, Mallory ou Lilian, mas pouco importava.
Então todas as lembranças guardadas naquelas fotografias começaram a afetá-lo. Aquilo já tinha acabado. Não estava mais em Hogwarts, o tempo tinha passado.
Sirius saiu do quarto. Assumiu sua forma animaga e desceu as escadas. Discretamente saiu pela porta de entrada, tomando cuidado para não fazer barulho e não acordar o quadro de sua mãe.
Achou um lugar seguro e aparatou.
Sirius apareceu em frente a um sobrado antigo. Seguiu pela calçada e entrou na casa.
Quando convencera Harry de sua inocência, sugerira morar com ele ali, em sua antiga casa. Ainda era sua, mas não conseguiu permitir que fosse ali a sede da Ordem.
A casa um dia já fora aconchegante, mas agora estava fria. Sirius não conseguia passar muito tempo ali, não sem se sentir completamente vazio.
Sentou-se na poltrona, em frente à lareira apagada. A madeira já virara cinzas havia muito tempo, e as cinzas já tinham esfriado também.
Sirius fitava os tijolos da lareira. Quando visitara sua casa nas ultimas vezes, simplesmente recusara-se a acender o fogo. Pareceu o certo, mas agora questionava sua atitude.
“não podemos ficar presos no passado” Essas palavras ecoaram em sua cabeça. Sirius levantou.
— cuidarei de Harry por vocês. – disse, então agitou sua varinha e ascendeu o fogo.
Quando decidiu voltar ao Largo Grimmauld o sol já estava se pondo. As sombras em frente a casa começaram a alongar, Sirius sentiu um frio penetrar-lhe.
Dementadores.
Assim que concluiu seu pensamento eles apareceram. Grandes, encapuzados e esqueléticos. Horríveis.
Eles cercaram Sirius, que empunhou sua varinha.
— para trás! – mandou. Como se isso adiantasse.
Preparou-se para o feitiço, acumulando todas as boas lembranças que tinha.
— EXPECTO PATRONUM!
Lembrou de sua chegada em Hogwarts, das fugas com os marotos e suas brincadeiras. Lembrou de um beijo no vestiário. Do dia em que Mallory e ele começaram a namorar. Do casamento de James e Lilian. Da ultima vez que vira Mallory…
Um canário prateado saiu de sua varinha. Apesar de o patrono ser pequeno, era forte. Os dementadores recuaram, Sirius sorriu.
— tchau, bafos de morto. – despediu-se e desaparatou.
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