Capítulo 3



N/A: Sinto mto pela demora gente, mas minha querida beta Lara teve alguns problemas e só conseguiu revisar a fic esses dias....
Bem, eu talvez demore para Postar o 4º Capitulo, mas vou postar"Portanto, nao desistam de A Sombra do Destino!
Bjus, ate a proxima
Lua Mirage


Capitulo III -


Da Grécia para Londres, de Londres para Hogwarts


[Continuação do diário]

Mais algumas semanas se passaram sem que eu recebesse qualquer chamado de Prometeu Sidus. Não que estivesse animada em ir para um lugar totalmente desconhecido, somente com intuito de tentar desvendar uma Predição, mas era melhor que agüentar as piadinhas, o preconceito e desconfiança de praticamente toda a Academia.

Estava realmente insuportável, insuportável ao ponto de ter que me esconder em cima de uma árvore para não ser perturbada por um grupo de meninas odiosas ou fazer minhas refeições nas salas de aula, que na grande maioria, eram ao ar livre.

Havia poucos que falavam comigo. Nunca fui uma garota popular, mas tinha alguns amigos, ou eu considerava como meus amigos. Eles foram os primeiros a me virarem a cara e me apontar como perigosa. Só uma única menina ficou do meu lado, mas mesmo ela teve que fingir não falar comigo, para não ser insultada também. Essa menina é Hemera Troiano.

Hemera é descendente direta de Paris e Helena, e creio que herdou a beleza da mãe. Loura, olhos cor de avelã, bem alta e encantadora. Somos amigas desde os dez anos, quando ingressei na Academia. Ela está lá a vida toda, por isso é um pouco ingênua. Mas não tola.

Certo dia, estávamos conversando perto de um riacho, bem longe dos campos. Eu contava para ela a conversa que tive com Sidus e também a minha partida para Hogwarts.

- Selene, tem certeza que não há outra solução? – perguntou ela, infeliz.

- Não há, não, Hemera. E mesmo se tivesse, Sidus nunca contaria. Ele disse que eu devia enfrentar esse desafio para poder levar uma vida normal. Acredita nisso?

Hemera riu tristemente e suspirou.

- Olha, Selene, se você pensar de um ângulo diferente, vai ser até bom para você ir embora.

- Sério? Por que você pensa assim?

- Porque você está sendo perseguida aqui na Academia, minha amiga. Se você ficar algum tempo longe, Perséfone irá se recuperar e dirá a verdade. Talvez até dirá o que essa tal predição significa. Então você poderá voltar, e tudo será como era antes!

Olhei para Hemera e suspirei, sentindo-me, de repente, muito exausta.

- Que bom se tudo fosse tão fácil assim, Hemera…

Ficamos quietas por um tempo, observando as águas cristalinas do riacho. Ouvi um soluço baixinho e vi que Hemera chorava.

- Hemera! Por que está chorando? Sente alguma dor?

Ela olhou para mim e me abraçou fortemente.

- Eu… n-não quero que você vá embora! Eu n-não q-quero ficar sozinha aqui… v-você é minha m-melhor amiga, Selene… q-que eu v-vou fazer sem v-você? – Ela soluçava tanto que chegava a tremer.

- Hemera, não chore! Por favor, você não vai ficar sozinha! Eu juro, juro que sempre vou te escrever e vou vir te visitar quando puder! Assim como espero que você vá me visitar de vez em quando.

Ela foi tomada por mais um acesso de choro, mas depois se acalmou. Se recompôs e olhou para mim, com os olhos vermelhos.

- Desculpe, Selene. Eu que devia estar te consolando, e não você a mim. – Ela deu um sorriso envergonhado. – Sou mesmo muito boba!

- Ah, Hemera, você não é boba, eu que sou meio insensível. Mas você está me consolando, de outra forma. Me consola ter uma amiga como você, Hemera.

Ela sorriu, e eu retribui o sorriso.

- Vamos voltar, já está escurecendo.

Nos levantamos e, de braços dados, fomos embora.

- Sentirei sua falta, Agrotis.

- Eu também, Troiano.

*******

No dia seguinte, recebi um bilhete de Sidus, que dizia o seguinte:

Selene

Sua matricula foi aceita. Você tem uma semana para organizar suas coisas e no dia 28, nós partiremos para a Inglaterra.

Que os Deuses te protejam,

Prometeu S.

Estava nos campos, tomando meu café da manhã. Depois de ler aquele bilhetinho, até perdi o apetite. Oh, como aquela noticia me deixou… perturbada. Sim, essa é a palavra para descrever o que realmente senti. Um terrível misto de medo e insegurança, tristeza e alívio. Mas o mais assustador de tudo isso é não sentir plenamente esses sentimentos, se é que me entende. É como se fosse uma outra pessoa sentindo tudo isso, e eu só assistindo, de muito perto. Perturbador, ora se é.

A semana que se passou não foi tão atribulada quanto a passada, meus negócios já estavam quase todos resolvidos, já não tinha ninguém mais para me despedir, não tinha mais vínculos na Grécia. Mas aquela sensação da carta pareceu impregnar em mim, não conseguia dormir, de tão pesado que meu coração ficava, e quando eu conseguia, sonhos estranhos invadiam minha mente.

Por toda a semana, tive esses sonhos, mas eram completamente fragmentados, distorcidos. Mas um dia antes da minha partida, esses fragmentos pareceram se montar, num único sonho, nada agradável. E eu lembro desse sonho no mínimo dos detalhes, o que é o pior de tudo.

Era uma noite de lua crescente, sem estrelas. Ao longe, uma coruja piava, dentro do silêncio. Silêncio que foi quebrado pelos passos apressados de alguém. Essa pessoa corria, num grande telhado, desesperada. Era uma moça, vestida com um longo manto, com um capuz que tampava seu rosto. Nos braços, ela segurava um embrulho, e ela parecia preocupada somente com ele.

Ela correu, correu muito, meio que aterrorizada, até chegar à ponta do telhado. A moça olhou para frente e viu um homem se aproximar… muito lentamente… sorrateiramente… e ficou desesperada.

- Saia de perto de mim! – ela gritou.

- Não tenha medo, não vou lhe fazer mal – respondeu ele, com uma voz terrivelmente profunda.

- Mentira! Seu mentiroso, você quis tirá-lo de mim! Você me quer morta!

- Nunca! Nunca…

Ele estava a cinco passos dela, sua braço esticado, a mão estendida, pronto para pegá-la. Ela começou a recuar de costas, até chegar perigosamente à beirada. Então tudo virou trevas.

Primeiro, um risada grotesca. Depois, um grito de puro terror. Aquele homem havia feito um mal terrível à pobre moça.

Depois desse sonho, não consegui dormir mais. Era só fechar os olhos, que ouvia o grito da moça.

Algo nesse sonho me fez pensar na Predição. E, caso eles tivessem alguma ligação, algo nada agradável estaria me esperando em Hogwarts...

*******

Após as aulas, nas quais não prestei a mínima atenção, fui para o centro da Academia, onde Sidus me esperava.

- Preparada, minha criança?

- Sinceramente, não, Sacerdote Sidus. Estou com medo. Muito medo.

- Entendo você, Selene. Mas enfrente-o. Sei que você vai conseguir.

Sorri fracamente. Seria muito bom se essa mentira se tornasse verdade.

- Vamos, criança?

- Vamos.

Ele me ofereceu sandálias brancas, com pequenas asas douradas na lateral. Eram as Sandálias de Hermes, muito usadas para viagens longas. Crianças não podem usar essas sandálias sozinhas, pois é preciso certos feitiços complicados, que não sei explicar.

Calcei, e logo as asinhas começaram a bater, e eu levitei. Oh, como era desconfortante! Mas tive que me habituar. Sidus me ofereceu sua mão, e algum tempo depois, tomamos os céus de Meteora.

Descrever a cena é quase impossível. É simplesmente maravilho ver as Academias esculpidas nas montanhas, a paisagem… talvez seria a última vez que veria tudo aquilo. Então, pela primeira vez em dez anos, eu chorei.

Sidus olhou para mim, e um sorriso consolador brotou de seus lábios.

- Chore, criança, chore tudo que tem que chorar. Sua alma e sua mente serão limpas, e verá como nem tudo é só tristeza.

O dia se passou, o Sol já se escondia atrás do horizonte, quando avistamos a capital da Inglaterra, Londres.

Barulhenta, apinhada de gente, fria, suja, com dezenas de lojas, grandes e luxuosas, pequenas e medíocres. Nunca pensei que um lugar tão civilizado poderia ser tão… selvagem.

Sidus me puxou delicadamente e apontou para um beco.

- Vamos pousar ali, Selene.

- Mas Sacerdote, achei que iríamos para Hogwarts… ou é aqui? - perguntei para ele, confusa.

- Não, minha jovem, seria impossível voarmos até Hogwarts. Ninguém sabe onde o castelo fica exatamente, nem seus próprios alunos. É uma das Academias mais seguras de toda a Europa.

- Mas então…

- Tenha paciência - interrompeu Sidus. - Tudo ao seu tempo. Suas respostas serão respondidas. Mas antes temos que pousar com segurança, não acha?

Concordei com a cabeça, mas estava desconfiada. Como chegar a Hogwarts, se ninguém sabe onde fica?

Aterrizamos no beco, um tanto mal iluminado. Sidus pousou graciosamente, enquanto eu cai como um saco de batatas no chão. Sidus me ajudou a levantar e disse:

- Vamos, Selene, estamos atrasados. Vista isso, por gentileza. - Ele me ofereceu um casaco preto, tirado sabe-se lá de onde, e eu vesti. Ele também estava vestido com um daqueles. Estava frio, e nossas vestes chamavam a atenção dos não-mágicos.

Sidus e eu saímos do beco cautelosamente. Caminhamos rua abaixo, até chegar em um bar. Numa placa muito velha estava escrito “O Caldeirão Furado”.

Entramos. Todos pararam para nos olhar. Havia pouco mais de cinco pessoas nele, todas sentadas no balcão. Uma mulher com um enorme nariz em forma de gancho, que mais parecia uma bruxa de conto de fadas inglês, me olhou de cima a baixo e fez um muxoxo para o homem ao lado, que parecia ter um terceiro olho na testa. Fiquei arrepiada quando ele também me encarou, e grudei em Sidus. Havia também um homem gigantesco, de, no mínimo, três ou quatro metros de altura, que bebericava uma coisa vermelha e borbulhante e parecia estar absorto em seus pensamentos, pois era o único que não nos encarava. Sidus foi em sua direção e perguntou suavemente em um inglês límpido, quase sem sotaque:

- Por gentileza, Prof. Rúbeo Hagrid?

- Sou eu, em carne e osso - respondeu o homem, com uma expressão de desconfiança. - Quem é você? O que quer?

Franzi o cenho. Como aquele homem era rude! Falar dessa maneira com o Sumo Sacerdote Prometeu Sidus era pedir para ser enfeitiçado! Mas para minha surpresa, Sidus apenas sorriu.

- Sou Prometeu Sidus, Sumo Sacerdote da Academia da Lua, na Grécia.

- O homenzarrão praticamente se afogou com sua bebida, ao ouvir o nome de Sidus. Ele se levantou, e fui obrigada a levantar a cabeça tão alto que poderia ter ficado com torcicolo. Até Sidus, que era bem alto, teve de dar um paço para trás e erguer os olhos para encarar aquele homem.

- Oh, desculpe, desculpe mesmo - disse o homem, apertando a mão de Sidus - Mas sabe como é, aqui nesse lugar é raro encontrar pessoas amigáveis. Bem, essa é a nova aluna que Dumbledore falou, não é? Agrotis, certo?

Concordei com a cabeça. Ele apertou minha mão e quase que meus dedos são esmagados.

- Bem, já esta na hora de partir. - Ele consultou um nada pequeno relógio de bolso. - Hogwarts não é ali na esquina, se é que me entendem. - Ele piscou e riu ruidosamente.

Olhei para o homem e perguntei:

- O senhor vai nos levar a Hogwarts? O senhor sabe o caminho ate lá?

O homem olhou para Sidus, que por sua vez olhou para mim.

- Selene, ele ira levar você até Hogwarts. Eu infelizmente não poderei lhe acompanhar, tenho de voltar imediatamente para a Academia. Mas o Prof. Hagrid é de total confiança de Dumbledore, ele cuidará bem de você. Não se preocupe, tudo vai dar certo, você vai ver.

Foi como um balde d’água fria. Olhei para Sidus desolada, não acreditei que teria de ir até aquele lugar sozinha… em com aquele homem gigante! Tentei argumentar, mas vi que não tinha solução.

- Prof. Hagrid, cuide bem dessa mocinha, pois tenho muito carinho por ela. - Ele sorriu para mim. - E mande meus cumprimentos a Alvo Dumbledore, diga que agradeço pela ajuda.

- Está certo, Prof. Sidus. Srta. Agrotis, podemos ir?

- Minhas malas, onde estão? - perguntei, olhando para Sidus. Talvez eu poderia voltar com ele para pegá-las.

- Já estão a caminho de Hogwarts - respondeu Sidus, com um brilho nos olhos, que não me agradou.

- Até, Prof. Hagrid. Selene, não se preocupe, você não precisara de meus conselhos tão cedo. - disse Prometeu Sidus, antes de desaparecer no ar, para minha total surpresa.

- Oh… - lamentei. Estava agora com mais medo do que nunca. Sozinha, com um desconhecido, em um país que não era o meu, indo para uma missão totalmente sombria.

- Vamos, menina, temos que nos apressar - disse o Prof. Hagrid, caminhando até os fundos do bar. - Temos que comprar algumas coisas antes de partirmos para Hogwarts.

Como não tinha escolha, o segui. Paramos em frente de um muro de tijolos bem velhos. De dentro do casaco, Hagrid tirou um guarda-chuva enorme e tocou três dos tijolos com ele.

No mesmo instante, a parede tremeu e um tipo de portal se abriu. Do outro lado, havia muita gente, todos vestidos com mantos, capas, com chapéus pontudos ou gorros estranhos.

- Selene, bem vinda ao Beco diagonal! Melhor lugar para comprar seu material. Vamos, vamos, temos que nos apressar!

Vi-me sendo meio que carregada por Hagrid, que primeiro passou em um tipo de banco, Gringotes, onde havia duendes aos montes. Trocamos um pouco do meu dinheiro bruxo-grego pelo dinheiro bruxo-inglês. Hagrid me carregou para diversos lugares, alfaiates que fizeram meu uniforme (sombrio e melancólico), livrarias, lojas de utensílios mágicos, até um mascote eu comprei! E o mais estranho de tudo era que, além de tudo me parecer extremamente familiar, eu estava me divertindo. Hagrid é uma pessoa muito amável, e me senti mal por tê-lo tratado daquela forma. Quando disse isso para Hagrid, ele riu e falou que eu só estava nervosa.

- Não tem nada, Pequena, também ficaria assim se fosse para outra escola. Mas Hogwarts não é uma prisão, você irá gostar de lá.

- Espero que sim Prof. Hagrid.

- Vai sim. E pare de me chamar de professor! Chame-se de Hagrid, se não quer ser chamada de Aluna Agrotis!

Ri e assenti com a cabeça. Hagrid sabia muito bem lidar com os sentimentos desorientados dos adolescentes.

Já era noite quando saímos do Beco Diagonal, e a rua do Caldeirão furado estava praticamente deserta.

- Está ficando tarde. Melhor irmos para King’s Cross - disse Hagrid.

- O que é King’s Cross?

- É a estação onde você irá pegar o Expresso de Hogwarts, na Plataforma 9 ¾.

- Oh, está bem, então. Vamos até lá como?

- Vamos de Nôitibus.

- O que é isso??

- Você vai ver, Pequena, e vai gostar.

- Se você diz…

Ele tirou o Guarda-chuva do casaco e apontou para rua. Um grande ônibus apareceu de dentro do beco que Sidus e eu saímos.

- Nossa, como isso é… grande! - eu disse quando entrei no ônibus.

Um garoto comprido e sardento abriu seu sorriso meio maníaco e olhou divertido para Hagrid.

- Hagrid! Como vai você? Anda sumido!!

- Tenho trabalhado muito, agora sou professor de Trato de Criaturas Mágicas! Ah, quero duas passagens, para King’s Cross.

E virando-se para mim:

- Venha, Selene, e segure-se!

- Por que… - mas não consegui terminar a frase. O Nôitibus arrancou e eu fui jogada para o fundo e só não cai no chão graças a Hagrid.

Ele riu e disse me disse para ter cuidado. Sorri meio sem graça e me sentei atrás dele.

Em dez minutos, Hagrid e eu chegamos na tal plataforma.

- Pequena, terei de deixá-la aqui. Tenho que resolver alguns assuntos de Hogwarts, sabe.

Olhei para Hagrid, desolada. Será que meu destino nesse lugar era ficar sozinha, pensei.

- Oh, Hagrid… não quero ficar só! Por favor, não posso ir com você?

- Eu gostaria de ficar com você, Pequena, ou te levar, mas não posso. Sinto muito.

- Ah, mas eu ainda irei te ver, não é? - perguntei esperançosa.

- Claro! Mas agora vá ate a plataforma 9 ¾. Você sabe onde é?

Eu observei as plataformas. Só havia 9 e a 10.

- Não, não estou vendo.

Hagrid sorriu e apontou para uma parede que dividia as plataformas.

- Ali está a passagem, Pequena. Você só tem que atravessá-la e então poderá pegar o trem.

- Como?!

- Não tenha medo, essa parede é enfeitiçada. Corra e atravesse de uma vez. Mas tome cuidado para que nenhum Trouxa te veja, está bem?

Balancei a cabeça. Ele acenou e foi embora. Fitei a parede, tentando tomar coragem.

“Pelos Deuses, os bruxos da Inglaterra são muito estranhos. Ora, se são.”

Fitei novamente a parede. Um desânimo me dominou. Não queria mais ir para essa Academia, queria ir embora, ir para o mais longe possível.

“Não pode fugir dessa realidade, Selene. Você precisa enfrentar o que quer que esteja aguardando você lá com coragem.”

A frase de Sidus ressoou na minha mente, como um sino. Ele tinha razão. Não iria desistir.

Voltei-me para a parede e num impulso, corri até ela e a atravessei.

Parado bem ao meu lado, um grande trem vermelho, o Expresso de Hogwarts.

Olhando para aquele magnífico trem, foi como ter um deja-vu. Eu lembrei exatamente da mesma cena, mas haviam pessoas lá. Muitas crianças, todas vestidas com longos mantos negros. A imagem se apagou quando o apito soou, então embarquei, totalmente confusa.

*****

Eu tive a esperança de que alguém estivesse à minha espera na estação, ou até mesmo dentro do trem. Mas não havia ninguém, eu estava mesmo destinada a ir para Hogwarts sozinha.

Alojei-me na penúltima cabine, onde minhas malas já estavam devidamente colocadas. Sentei e tentei apenas observar a paisagem pela janela, mas era difícil prestar atenção em qualquer coisa. As lembranças da imagem na plataforma 9 ¾ insistiam em permanecer na minha mente.

Eu não conseguia (e ainda não consigo) entender como aquela imagem parecia familiar, como uma recordação, já que eu nunca estive antes naquele lugar.

Eu dizia para mim mesma "isso é fruto da sua imaginação, Selene. Não se esqueça que sua mente adora pregar peças em você."

Falkor, o falcão que comprei no Beco Diagonal, piava agitado por causa do balanço do trem. Alguns pingos de chuva batiam na janela. A escuridão parecia engolir os campos, e eu mergulhava nela lentamente. As luzes do trem se apagavam como velas, o movimento do trem parecia ter cessado. O pio de Falkor ficava cada vez mais distante.

"Desista."

Abri os olhos subitamente. Uma pessoa estava sentada na minha frente, suas feições cobertas por um capuz. Apontou seu dedo para mim; sua pele era extremamente branca, como papel.

- Desista, Selene Ariel. Ou acabará machucada.

- O que… - mas o banco estava vazio.

Olhei ao redor, tudo parecia normal. A chuva engrossara e batia violentamente na janela. Falkor batia as asas freneticamente, o olhar cortante pousado sobre o banco onde esteve a figura. Um arrepio tenebroso percorreu o meu corpo.

- Sonho ou não, isso foi um mau presságio - eu disse, em voz alta. Falkor piou alto.

O trem começou a diminuir a velocidade e em alguns minutos já havia parado. A chuva castigava qualquer um que por ventura estivesse lá fora, à pé, e a escuridão não me permitia ver muita coisa. Via somente pequenos pontos luminosos no topo de uma torre ao longe. Não tive dúvidas de que aquela torre pertencia ao castelo de Hogwarts.

Vesti minha capa (a única peça do uniforme que lembrei de colocar), o malão com meu material em uma mão, a gaiola de Falkor na outra, e desci na Plataforma.

Estava uma verdadeira tempestade. O vento era tão forte que eu mal conseguia andar, a chuva impedia minha visão. "Que recepção calorosa de Hogwarts", pensei, amarga. Como era de se esperar, não tinha ninguém na estação. Onde Hagrid estava?

Andei com muita dificuldade pela estação, na esperança de encontrar Hagrid, ou qualquer um que pudesse me levar até Hogwarts. Mas não encontrei ninguém.

- Acho… acho que vou ter que ir sozinha até Hogwarts - disse, indignada, olhando em direção da saída. Falkor soltou um pio indignado.

- Ora, Falkor, ninguém veio me buscar! Vou me virar sozinha, então!

Puxando meu pesado malão, com Falkor piando e batendo as asas em protesto, dirigi-me até a saída. Mas então alguém apareceu. Parecia ter quatro metros de altura e usava um grande casaco de pele, cheio de bolsos. Tinha uma juba de cabelos pretos em desalinho, uma barba longa encharcada pela chuva, mas ele não parecia se incomodar com ela. Hagrid sorriu e veio até mim, os braços estendidos para um grande abraço.

- Pequena! - exclamou ele feliz, enquanto tirava-me do chão.

- H-Hadrid… está me sufocando!

- Oh, desculpe-me, acabei me empolgando. - Ele me botou no chão e sorriu sem graça. - Mas onde você pensa que estava indo, Pequena? Achou que não viria te buscar?

Apenas balancei a cabeça, afirmando. Quando recuperei o ar, voltei a falar.

- Eu pensei que você já estaria aqui, Hagrid. Quando não te vi, achei que o tal “assunto de Hogwarts” o tivesse impedido de vir.

- Ora, Pequena, uma das minhas ordens era te levar até Hogwarts. E mesmo se você conseguisse chegar em Hogwarts, coisa que é um pouco difícil quando não se sabe o caminho, não conseguiria entrar no castelo. Ele é protegido com todo tipo de feitiço. Dê cá seu malão, deve estar pesado.

Empurrei o malão para ele, observando curiosa a distante ponta da torre.

- Por que tanta proteção, Hagrid? - perguntei, tendo que forçar minha voz para que ele me ouvisse em meio àqueles trovões todos. - O que essa Academia tem de especial?

Hagrid, que colocara o malão embaixo do braço como se fosse uma pasta escolar, olhou na direção do castelo, e seus olhos brilharam estranhamente.

- Dumbledore se preocupa com a segurança de todos em Hogwarts. Mas com o que ele mais se importa são com as crianças. A coisa mais triste para ele é ver uma de suas crianças se machucar.

- Quem é Dumbledore? - perguntei, quando estávamos cruzando o Arco para o lado de fora.

- Ele é o diretor de Hogwarts. O bruxo mais nobre e poderoso que já conheci na minha vida. Rápido, suba ai.

Ele indicou uma carruagem, que era puxado por sinistros animais. Pareceram-me Pegasus, mas eram negros e seus ossos estavam expostos. Senti um frio desagradável percorrer minha espinha e entrei rapidamente na carruagem.

O percurso foi desconfortável, mas muito mais rápido do que no Expresso. Finalmente havia parado de chover. Pela janela, observei a carruagem passar pelos grandiosos portões e se dirigir para o castelo.

A carruagem parou em frente à entrada. Desci e ouvi a voz de Hagrid atrás de mim.

- Espetacular, não é? Passei praticamente toda a minha vida nessa escola.

Apenas balancei a cabeça, concordando. Estava surpresa com aquela Academia.

Uma imensa e maravilhosa lua cheia, que agora saíra de trás das nuvens, banhava com sua luz um castelo imenso, antigo, levemente enegrecido pelo tempo, com suas torres e torrinhas subindo alto até o céu noturno. Se eu virasse o rosto, poderia ver um grande lago e uma pontinha de árvores; um bosque, talvez.

- Pequena, você vai ter muito tempo para admirar Hogwarts. Mas por agora vamos entrar. - Hagrid disse, com meu malão e a Gaiola de Falkor nas mãos, parado na entrada.

- Não precisa levar isso para mim Hagrid - disse quando o alcancei. - Eu posso levar isso sozinha.

- Oh, não, esse malão é muito pesado para você. E seu bichinho - ele olhou para Falkor, que estava piando alucinadamente - precisa de um pouco de comida e descanso. E além disso, você tem que falar com o diretor.

- O diretor? - perguntei, surpresa.

- Sim. Mas não se preocupe, Pequena, dessa vez eu a levo até a porta.

- Oh, bem, se for assim… Obrigada, Hagrid - respondi, um pouco receosa.

Passamos pelo, segundo Hagrid, Salão Principal, onde eram feitas as refeições, bailes e outros do tipo, e fiquei admirada com o teto enfeitiçado, que mostrava como estava o céu lá fora. Passamos pelo corredor e paramos na frente de uma Gárgula.

- Eu odeio suco de ameixa - falou Hagrid, olhando para o Gárgula, depois sorrindo para mim.

Achei estranho aquele comentário fora de hora, mas preferi ficar quieta.

A Gárgula pulou para o lado e nos abriu passagem para outro corredor.

Hagrid sorriu novamente e empurrou-me de leve.

- Ali está a porta, Pequena Selene. Ele está à sua espera. Até amanhã! - ele falou, acenando para mim, e logo depois saiu apressado pelo corredor.

Olhei para a porta por muito tempo, acho que reunindo forças para entrar.

Finalmente, aproximei-me e bati três vezes.

- Entre - respondeu uma voz muito límpida.

Abri a porta e entrei na sala. No canto da porta, uma ave feíssima estava dormindo em um poleiro. À minha frente, um homem velho, de longos cabelos e barba prateada, olhos azuis faiscantes e óculos de meia lua, sorria para mim. Sua feição era serena e seu olhar, amigável. Tal visão tranqüilizou-me instantaneamente.

- Seja bem vinda Selene. Sou Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts. E tenho algo para lhe entregar.

Continua...

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