GRIMMAULD PLACE, NÚMERO 12
- O que é a Ordem da...? - Harry ia perguntar.
- Não aqui, garoto - falou Moody. - Espere até termos entrado - ele tomou o pedaço de pergaminho da mão de Harry e pôs fogo nele com a ponta de sua varinha. Quando o papel virou cinzas, Harry olhou novamente ao redor e viu que estavam diante do número 11; olhou para a esquerda e viu o número 10, olhou para a direita, e viu o número 13.
- Mas onde...?
- Pense no que você acabou de ler - disse Lupin.
Harry pensou e demorou um pouco para alcançar a parte sobre o número 12 do Grimmauld Place, então uma porta surgiu do nada entre os números 11 e 13, seguido por paredes e janelas. Era como se uma casa tivesse inflado, empurrando as outras duas casas para o lado. Sendo que tudo continuava normal, parecia que os trouxas não haviam percebido nada.
- Vamos, apresse-se - disse Moody, empurrando Harry.
Harry subiu nos degraus da porta recém materializada. A maçaneta tinha a forma de uma serpente enrolada. Não havia fechadura nem caixa de correio.
Lupin puxou sua varinha e tocou a porta uma vez. Harry ouviu diversos sons metálicos, como se uma porção de trancas estivessem abrindo. E a porta se abriu.
- Entre rápido, Harry - sussurrou Lupin. - Mas não vá muito longe nem toque em nada.
Harry passou pela porta e entrou na escuridão total da sala. O lugar parecia uma construção abandonada. Ele olhou sobre seu ombro e viu os outros entrando atrás dele. Lupin e Tonks carregando seu malão e a gaiola de Edwiges.
Moody estava no degrau mais alto, libertando as bolinhas de luz de volta aos postes de iluminação. Moody entrou e fechou a porta. A sala ficou em escuridão total.
- Aqui...
Ele tocou novamente na cabeça de Harry com a varinha; Harry sentiu que algo quente estava descendo por suas costas e percebeu que o encantamento de Desilusionar tinha sido removido.
- Agora todos fiquem parados, enquanto eu providencio um pouco de luz - sussurrou Moody.
O silêncio dos outros deu a Harry uma sensação de que tinham entrado na casa de uma pessoa que acabara de morrer. Ele ouviu um ruído suave e então as lâmpadas a gás tornaram-se fogo vivo ao longo das paredes. Pôde ver um candelabro e uma mesa, ambos tinham forma de serpentes.
Ouviram-se passos apressados vindo de uma porta lateral. Era a Sra. Weasley, a mãe de Rony. Ela veio dar as boas vindas e Harry percebeu que ela já não estava bem mais magra que da última vez que a tinha visto.
- Oh, Harry, que bom ver você! - sussurrou ela, puxando-o para um abraço bem apertado, depois o segurou nos braços e o examinou dos pés à cabeça. - Você parece faminto, mas já está quase na hora do jantar! - ela se virou para os outros bruxos e disse em tom urgente. - Ele já chegou, a reunião já começou.
Os bruxos atrás de Harry fizeram barulhos interessantes de excitação e começaram a passar por ele seguindo em direção a porta pela qual a Sra. Weasley tinha entrado. Harry tentou segui-los mas a Sra. Weasley o segurou.
- Não, Harry. A reunião é para membros da Ordem. Rony e Hermione estão no andar de cima, você pode esperar com eles até que as reuniões tenham terminado, então nós jantaremos. E mantenha sua voz baixa neste salão.
- Por quê?
- Não quero que nada seja acordado.
- O que você...?
- Eu explico mais tarde. Tenho que me apressar, eu deveria estar na reunião. Vou apenas mostrar onde você vai dormir.
Apertando o dedo contra os lábios, ela o conduziu andando na ponta dos pés. Harry pôde observar coisas bem estranhas, entre elas, troféus nas paredes, como aqueles com cabeças de animais, mas estes tinham cabeças de elfos-domésticos. Harry ficou intrigado. Por que estariam numa casa que parecia a casa do mais terrível dos bruxos?
- Sra. Weasley, por que...?
- Rony e Hermione vão explicar tudo, querido, eu realmente tenho que ir. Ali, aquela porta à direita. Eu venho chamar quando tudo acabar.
E ela desceu apressada pelas escadas. Harry seguiu pelo corredor até a porta do quarto, que também tinha a maçaneta em forma de cobra, e abriu a porta.
Ele foi entrando no quarto e viu duas camas. Então houve um barulho e sua visão ficou completamente obscurecida por uma enorme quantidade de cabelos volumosos. Hermione tinha se jogado encima dele num abraço que quase o derrubou no chão, enquanto a minúscula coruja de Rony voava ao redor de suas cabeças.
- HARRY! Rony, ele está aqui, Harry está aqui! Não ouvimos você chegar! Ah, como você está? Tudo bem? Você ficou chateado conosco? Aposto que ficou, sei que suas cartas foram em vão, mas não podíamos te contar nada, Dumbledore nos vez jurar que não contaríamos, ah, eu tenho tanta coisa pra te contar, e você tem coisas pra nos dizer. Os dementadores! Quando nós ouvimos... E as advertências do Ministério. É tão ultrajante, eu não acreditei, eles não podem expulsar você, eles não podem, existe exceções no Decreto do Uso Indevido de Magia por Menores de Idade falando sobre situações de perigo de vida...
- Deixe-o respirar, Hermione - disse Rony, enquanto fechava a porta atrás de Harry. Ele parecia ter crescido vários centímetros durante esse mês.
Ainda eufórica, Hermione soltou Harry, mas antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa um som suave de algo branco surgiu de um canto escuro e pousou gentilmente nos ombros de Harry.
- Edwiges.
- Ela está impossível - disse Rony. - Nos bicou quase até a morte quando trouxe sua última carta, olhe só...
Ele mostrou a Harry o dedo indicador da mão direita, que estava com um corte profundo.
- Ah, estou vendo - disse Harry. - Desculpe-me por isso, mas eu queria respostas, você sabe...
- Nós queríamos dá-las a você - disse Rony. Hermione estava desesperada, ela ficava dizendo que você iria fazer algo estúpido se não recebesse notícias, mas Dumbledore nos fez...
- ...jurar não me dizer nada - disse Harry. - É, Hermione já me disse.
O brilho quente que tinha sido aceso nele ao ver seus dois melhores amigos se extinguiu quando uma coisa congelante atingiu o seu estômago. E repentinamente ele sentiu que seria melhor Rony e Hermione deixá-lo sozinho. Houve um silêncio profundo, Harry afastou Edwiges e não olhou para os outros.
- Ele achava que seria o melhor a fazer - disse Hermione. - Dumbledore, quero dizer...
- Sei... - disse Harry. Ele viu que as mãos dela também tinha, marcas das bicadas de Edwiges e percebeu que não sentia tanto remorso assim.
- Eu acho que ele pensou que você fosse ficar seguro com os trouxas - disse Rony.
- É? - disse Harry, erguendo as sobrancelhas. - Por acaso algum de vocês foi atacado por dementadores neste verão?
- Bem... Não... Mas é por isso que ele tem pessoas da Ordem da Fênix seguindo você o tempo inteiro...
Então Harry sentiu como se o chão tivesse sumido sob seus pés. Então todos sabiam que ele estava sendo vigiado, exceto ele.
- Mas não funcionou como planejado, não foi? - disse Harry, fazendo questão de manter a voz alta. - Eu tive que cuidar de mim mesmo no final de tudo, não tive?
- Ele estão tão furioso - disse Hermione. - Dumbledore. Ele o viu. Quando ele percebeu Mundungo tinha abandonado o posto. Ele ficou assustado.
- Eu fico feliz que ele tenha saído - disse Harry com frieza. - Se ele não tivesse saído eu não teria feito mágica e Dumbledore provavelmente me deixaria na Rua dos Alfeneiros o verão inteiro.
- Você... Você não ficou preocupado com o aviso do Ministério? - perguntou Hermione.
- Não - mentiu Harry. E se afastou dele olhando ao redor do quarto, mas isso não animou seu espírito. - Então por que Dumbledore quer me manter no escuro? Vocês se importam de perguntar a ele? - disse Harry e olhou bem a tempo ver uma troca de olhares entre dos amigos que praticamente já sabiam como ele reagiria.
- Nós dissemos a Dumbledore que queríamos te contar o que estava acontecendo - disse Rony. - Mas ele está realmente ocupado agora, nós só o vimos duas vezes desde que viemos para cá e ele não tem muito tempo, ele apenas nos fez jurar não te contar coisas importantes quando escrevêssemos, ele disse que as corujas poderiam ser interceptadas.
- Ele ainda poderia me manter informado se quisesse - disse Harry. - Ou vocês estão me dizendo que ele não conhece outros meios de mandar mensagens sem ser pelas corujas.
- Eu também pensei nisso - disse Hermione. - Mas ele não queria que você soubesse de nada.
- Talvez ele ache que eu não sou alguém confiável - disse Harry, observando suas expressões.
- Não seja bobo - disse Rony com um olhar desconcertante.
- Ou que eu não sei cuidar de mim mesmo.
- Claro que ele não pensa assim - disse Hermione ansiosa.
- Então por que eu tinha que ficar com os Dursley enquanto vocês dois estavam juntos em tudo que está se passando aqui? - disse Harry com sua voz ficando mais alta a cada palavra. - Como vocês dois têm permissão de saber tudo o que se passa aqui?
- Nós não temos - interrompeu Rony. - Mamãe não nos deixa chegar perto das reuniões, ela diz que somos muito jovens...
Mas antes que ele se desse conta, Harry estava gritando.
- ENTÃO VOCÊS NÃO ESTAVAM NAS REUNIÕES, GRANDE COISA! VOCÊS AINDA ESTAVAM AQUI, NÃO É? VOCÊS AINDA ESTAVAM JUNTOS! EU, ESTAVA PRESO COM OS DURSLEY POR UM MÊS INTEIRO. E EU AGUENTEI MAIS DO QUE VOCÊS DOIS JÁ PUDERAM AGUENTAR E DUMBLEDORE SABIA DISSO. QUEM SALVOU A PREDRA FILOSOFAL? QUEM CUIDOU DE RIDDLE? QUEM SALVOU A PELE DE VOCÊS DOS DOIS DEMENTADORES?
Todas as coisas que Harry tinha feito nesses últimos meses estavam saindo dele: a frustração de ficar sem notícias, de estar sendo seguido, de estar sozinho sem os amigos...
- QUEM PASSOU PELOS DRAGÕES E ESFINGES E TODAS AS OUTRAS COISAS PERIGOSAS NO ANO PASSADO? QUEM FOI QUE VIU "ELE" VOLTAR? QUEM FOI QUE ESCAPOU "DELE"? EU!
Rony estava lá de pé, com a boca semi-aberta, enquanto Hermione estava banhada por lágrimas.
- MAS POR QUE EU DEVERIA SABER O QUE ESTÁ ACONTECENDO? POR QUE ALGUÉM SE IMPORTARIA EM ME DIZER O QUE ESTÁ ACONTECENDO?
- Harry nós queríamos te contar, realmente queríamos... - disse Hermione.
- ACHO QUE NÃO QUERIAM TANTO ASSIM, OU VOCÊS TERIAM DADO UM JEITO DE ME MANDAR UMA CORUJA, MAS "DUMBLEDORE NOS FEZ PROMETER...".
- Bem, ele fez...
- EU PASSEI QUATRO SEMANAS PRESO NA RUA DOS ALFENEIROS, PEGANDO JORNAIS DO LIXO PRA TENTAR SABER O QUE ESTAVA ACONTECENDO...
- Nós queríamos...
- EU ACHO QUE VOCÊS ESTAVAM REALMENTE SE DIVERTINDO, NÃO ESTAVAM, AQUI, BEM JUNTINHOS...
- Honestamente, não...
- Harry, nós sentimos muito - disse Hermione desesperada, seus olhos brilhando de tantas lágrimas. - Você tem toda razão, Harry. Eu estaria furiosa se fosse você.
Harry a olhou ela, ainda respirando profundamente, e continuou observando o lugar.
- Afinal de contas, que lugar é esse? - perguntou olhando Rony e Mione.
- É o quartel-general da Ordem do Fênix - disse os dois ao mesmo tempo. - E alguém se importa de me dizer o que é a Ordem do Fênix?
- É uma sociedade secreta - disse Mione. - Dumbledore está no comando, ele é o fundador. São as pessoas que lutaram contra Você-Sabe-Quem da última vez.
- Pouquíssimas pessoas...
- Nós vimos cerca de vinte delas - disse Rony -, mas nós achamos que há mais.
- E então...? - disse Harry olhando de um para o outro.
- Er... Então o quê? - disse Rony.
- Voldemort! - disse Harry furioso, e Rony e Mione se assustaram. - O que está acontecendo?
- Nós dissemos a você. A Ordem não nos deixa entrar em suas reuniões - disse Mione nervosa. - Então não temos mais detalhes... Mas temos uma idéia geral.
- Fred e Jorge inventaram Orelhas Extensíveis, vê... - disse Rony. - Elas são realmente úteis.
- Extensíveis?
- Orelhas, sim. Nós só tivemos que parar de usá-las porque mamãe as encontrou e ficou furiosa. Fred e Jorge tiveram que escondê-las para mamãe parar de chateá-los. Mas nós conseguimos fazer um bom uso delas antes que mamãe descobrisse o que estava havendo. Nós sabemos que alguns membros da Ordem estão seguindo Comensais da Morte conhecidos, mantendo o olho neles, você sabe...
- Alguns deles estão trabalhando recrutando mais pessoas para a Ordem - disse Mione.
- E alguns deles estão montando guarda ou algo assim - disse Rony. - Eles sempre falam sobre o serviço da guarda.
- E o que vocês andaram fazendo? Se não podem estar nas reuniões, porque me disseram que estavam ocupados?
- Nós estávamos - disse Mione. - Estivemos descontaminando essa casa, ela está vazia há séculos e as coisas estavam feias por aqui. Tivemos que limpar a cozinha, a maioria dos quartos e tivemos que... AARGH!
Com dois estampidos, Fred e Jorge, os irmãos mais velhos de Rony, se materializaram no meio da sala.
- Parem de fazer isso! - disse Hermione gritando para os gêmeos.
- Olá, Harry - disse Jorge. - Nós pensamos ter ouvido sua doce voz.
- Você não deve engarrafar sua raiva daquele jeito, Harry - disse Fred também caçoando. - Acho que tem umas pessoas há uns 50 quilômetros daqui que não conseguiram te ouvir.
- Então vocês dois passaram no teste de Aparatar? - perguntou Harry.
- Com louvor - disse Fred, que estava segurando o que parecia um longo pedaço de faixa recém colorida. - Só teria demorado uns 30 segundos a mais se vocês tivessem subido pela escada - disse Rony.
- Tempo são galeões, pequeno irmão - disse Fred. - De qualquer forma, Harry, você estava interferindo com a recepção. Orelhas Extensíveis - disse ele ao ver a expressão no rosto de Harry, e levantou a faixa que agora estava vibrando sobre o chão. - Estamos tentando ouvir o que está se passando lá em baixo.
- Tenha cuidado - disse Rony -, se mamãe ver uma dessas outra vez...
- Vale a pena correr o risco, essa é a maior reunião que já tivemos - disse Fred.
- Ah, olá, Harry! - disse a irmã mais nova de Rony, Gina, incrivelmente animada. - Eu pensei ter ouvido sua voz. Ela se virou para Fred e Jorge e falou. - Não vai adiantar usar as Orelhas Extensíveis, ela colocou um Feitiço Imperturbável na porta da cozinha.
- Como você sabe? - perguntou Jorge, com um olhar desconfiado.
- Tonks me disse como saber - disse Gina. - Basta você jogar algo na porta, se ela não fizer contato a porta está Imperturbável. Eu estava jogando bombinhas nela do topo da escada e elas nem chegavam perto da porta, então não há como as Orelhas Extensíveis funcionarem.
- Droga. Eu realmente queria saber o que o velho Snape está tramando - disse Fred com ar deprimido.
- Snape! - disse Harry. - Ele está aqui?
- Sim - respondeu Jorge, fechando a porta com todo cuidado e sentando em uma das camas; Fred e Gina o seguiram. - Fazendo o relatório. Segredo total.
- Traidor - disse Fred.
- Ele está do nosso lado agora - disse Mione, reprovando-o. Rony resmungou.
- Isso não o faz deixar de ser um traidor. O jeito que ele nos olha quando nos vê.
- Gui não gosta dele - disse Gina.
Harry não sabia se sua raiva já o tinha abatido, mas seu desejo por informações superava a vontade de gritar. E ele ficou do lado oposto da cama.
- Gui está aqui? - perguntou ele. - Pensei que estivesse trabalhando no Egito?
- Ele preferiu pegar um trabalho burocrático para que pudesse vir pra casa e trabalhar para a Ordem - disse Fred. - Ele diz que sente falta das tumbas, mas tem suas compensações.
- O que você quer dizer?
- Você se lembra de Fleur Delacour? - disse Jorge. - Ela aceitou um trabalho no Gringotes "parra melhorrar seu inglêss".
- E Gui até que tem dado a ela muitas aulas particulares... - disse Fred rindo.
- Carlinhos está na Ordem também - disse Jorge -, mas ele ainda está na Romênia. Dumbledore quer quantos magos estrangeiros puder, então Carlinhos está tentando fazer contatos nos dias de folga.
- Percy não poderia fazer isso? - perguntou Harry. Da última vez que ele ouviu falar, o terceiro irmão Weasley estava trabalhando no Departamento Internacional da Magia como Cooperador do Ministério da Magia.
Com as palavras de Harry todos os Weasley e Hermione trocaram olhares sombrios entre eles.
- Aconteça o que acontecer, nunca mencione Percy na frente de mamãe e papai - Rony informou a Harry um tom tenso.
- Por que não?
- Porque cada vez que o nome de Percy é mencionado papai quebra o que estiver segurando e mamãe começa a chorar - disse Fred.
- Tem sido terrível - disse Gina com tristeza.
- O que aconteceu? - perguntou Harry.
- Percy e Papai tiveram uma discussão - disse Fred. - Eu nunca tinha visto papai discutir daquela forma com ninguém. Normalmente é mamãe quem grita.
- Aconteceu uma semana antes de virmos para cá. Percy chegou em casa e nos disse que tinha sido promovido - disse Rony.
- Você está falando sério? - disse Harry.
Como ele sabia muito bem, Percy tinha uma grande ambição, mas aparentemente não tinha obtido muito sucesso em seu primeiro trabalho no Ministério da Magia. Percy cometeu o grande erro de não informar que seu chefe estava sendo controlado por Lord Voldemort (não que o Ministério iria acreditar nele - todos pensavam que Sr. Crouch tinha ficado louco).
- Pois é, todos nós ficamos surpresos - disse Jorge -, porque Percy tinha se metido numa porção de problemas por causa do Crouch, havia um inquérito e tudo mais. Eles disseram que Percy deveria ter denunciado Crouch a um superior. Mas você conhece o Percy, Crouch o deixou no comando e ele não ia querer decepcioná-lo.
- Mas, como é que ele foi promovido?
- É exatamente isso que nós queríamos saber - disse Rony, que agora estava conseguindo conversar normalmente, já que Harry tinha parado de gritar. - Ele veio pra casa realmente orgulhoso de si mesmo, ainda mais que o normal, se é que você consegue imaginar isso; e disse a papai que tinham oferecido um cargo no escritório do Fudge. Uma coisa realmente boa para alguém que tinha acabado de sair de Hogwarts: Assistente Junior do Ministro. Ele esperava que papai fosse ficar impressionado, eu acho.
- Só que papai não ficou - disse Fred.
- Por que não? - perguntou Harry.
- Bem, aparentemente Fudge estava rondando pelo Ministério verificando para que ninguém tivesse qualquer contato com Dumbledore - disse Jorge.
- O nome de Dumbledore é ruim para o Ministério nesses dias, sabe - disse Fred. - Eles acham que ele só vai causar problemas dizendo por aí que Você-Sabe-Quem está de volta.
- Papai disse que Fudge deixou bem claro que qualquer um que estivesse do lado de Dumbledore podia limpar a mesa - disse Jorge.
- O problema é, Fudge suspeitava de papai, ele sabia que papai tinha amizade com Dumbledore, e estava sempre um pouco perturbado por causa da obsessão do papai pelos trouxas.
- Mas o que aconteceu com o Percy? - perguntou Harry confuso.
- Estou chegando lá. Papai acha que Fudge só queria Percy em seu escritório porque ele queria usá-lo para espionar a família, e Dumbledore.
Harry deixou escapar um assobio baixinho.
- Aposto que Percy adoraria isso - Rony deu uma risadinha sem graça.
- Ele ficou completamente alterado. Ele disse... Bem, ele disse uma porção de coisas ruins. Ele disse que estava sofrendo desde que chegou ao Ministério por causa da reputação do papai, que papai não tinha ambição e que por isso, você sabe, nós nunca tínhamos dinheiro, eu acho...
- O quê? - disse Harry sem acreditar.
- Eu sei - disse Rony. - E ficou ainda pior. Ele disse que papai era um idiota de correr atrás do Dumbledore, que Dumbledore só iria causar problemas, que papai iria se dar mal junto com ele, e que ele, Percy, sabia que sua lealdade pertencia ao Ministério. E se mamãe e papai fossem se tornar traidores do Ministério ele iria se certificar de que não mais faria parte de nossa família. Fez as malas na mesma noite e partiu. Ele está vivendo aqui em Londres, agora.
Harry ficou desconcertado. Ele sempre tinha gostado de Percy como um dos irmãos de Rony, mas nunca iria imaginar que ele diria coisas tão terríveis do Sr. Weasley.
- Mamãe ficou naquele estado - disse Rony. - Você sabe... Chorando e coisa assim. Ela veio para Londres tentar falar com Percy mas ele bateu a porta na cara dela. Eu não sei o que ele iria fazer se encontrasse papai no trabalho, ignorá-lo, eu acho.
- Mas Percy deveria saber que Voldemort está de volta - disse Harry. - Ele não é estúpido, ele precisa saber que seus pais não arriscariam tudo sem provas.
- É, bem, seu nome também entrou na confusão - disse Rony lançando um olhar furtivo a Harry. - Percy disse que a única evidência e... Eu não sei... Ele não achou que fosse suficiente.
- Percy leva o Profeta Diário muito a sério - disse Mione.
- Sobre o que você está falando?
- Você não estava recebendo o Profeta Diário? - perguntou Mione nervosa.
- Sim, eu estava.
- Você estava... É... Lendo ele por inteiro?
- Bem, não totalmente. Se eles fossem anunciar algo sobre Voldemort deveria ser notícia de capa, não é?
Todos se encolheram ao ouvir aquele nome. Hermione continuou.
- Você deveria lê-lo por inteiro para entender, mas eles... É...
Eles mencionaram você uma porção de vezes.
- Mas eu teria visto...
- Não se você estivesse lendo apenas a primeira página - disse
Hermione, balançando a cabeça. - Eu não estou falando de grandes artigos. Eles detonaram você, como se você fosse uma piada.
- O que você...?
- É asqueroso - disse Mione numa voz calmamente forçada. - Eles estão apenas publicando as coisas da Rita.
- Mas ela não está mais trabalhando para eles, está?
- Claro que não, ela manteve sua promessa. Não que ela tivesse escolha - disse Mione satisfeita. - Mas ela deixou base para o que eles estão tentando fazer agora.
- E o que seria? - disse Harry impaciente.
- Ok, você sabe que ela escreveu que você estava delirando e que estava dizendo que sua cicatriz estava doendo e tudo mais?
- Sei - disse Harry, que não esqueceria as histórias da Rita Skeeter sobre ele.
- Bem, eles escreveram sobre você como se você estivesse nessa ilusão, querendo ganhar atenção das pessoas para que pensassem que você é um tipo de herói trágico ou algo assim - disse Mione, muito rápido como se para Harry fosse humilhante ouvir essas coisas. - Eles continuaram fazendo esses comentários sobre você. Se uma história surgisse, eles diriam algo como "Um louco conto do Harry Potter"... Você vê o que eles estavam fazendo? Eles queriam transformar você numa pessoa que ninguém acreditasse. Fudge está por trás disso, eu aposto. Ele quer que os bruxos pensem que você é um garoto estúpido que é uma piadinha, que diz histórias ridículas porque adora ser famoso e quer continuar assim.
- Eu não pedi... Eu não queria... Que Voldemort matasse meus pais! Eu fiquei famoso porque ele assassinou minha família mas não pode me matar! Quem quer ser famoso com isso? Eu preferia que nunca tivesse acontecido...
- Nós sabemos, Harry - disse Gina.
- E claro, eles não disseram uma palavra sequer sobre os dementadores que atacaram você - disse Hermione. - Alguém disse a eles para manter em sigilo. Essa certamente seria uma grande história, descontrole dos dementadores. Eles nem mesmo mencionaram que você transgrediu o Estatuto Internacional de Magia. Nós achamos que eles iriam, isso iria cair bem na sua imagem de garoto estúpido. Achamos que estão adiando até que você seja expulso, digo, se é que você vai ser expulso. Na verdade você não deveria ser, não se eles seguirem a risca às leis, nem mesmo haverá um caso contra você.
Eles tentaram escutar novamente com as Orelhas Extensíveis mas Harry não queria se meter nisso. Ele tentou encontrar outro assunto mas não precisou pois o som de passos vinha subindo a escada.
- Ah, não!
Fred recolheu sua aparelhagem, houve outro estampido e ele e Jorge sumiram. Segundo depois a Sra. Weasley apareceu na porta do quarto.
- A reunião acabou, vocês podem vir jantar agora. Todos estão ansiosos para ver você, Harry. E quem foi que deixou todas aquelas bombinhas do lado de fora da cozinha?
- Bichento - disse Gina. - Ele adora brincar com elas.
- Ah - disse Sra. Weasley -, eu pensei que pudesse ter sido Monstro, ele continua fazendo coisas desse tipo. Agora não esqueçam de manter suas vozes baixas lá no salão. Gina, suas mãos estão imundas. O que você andou fazendo? Vá lavá-las antes do jantar, por favor.
Gina seguiu sua mãe pelo corredor, deixando Harry a sós com Rony e Mione. Eles ficaram apreensivos pensando se Harry começaria a gritar novamente agora que todos haviam saído.
- Olhe... - murmurou Harry, mas Mione disse, interrompendo-o.
- Nós sabemos que você está zangado, Harry, nós realmente não te culpamos mas você precisa entender, nós tentamos persuadir Dumbledore...
- É, eu sei - disse Harry.
E ele tentou encontrar um outro assunto, porque pensar em Dumbledore o deixava novamente fervendo de raiva.
- Quem é Monstro? - perguntou ele.
- O elfo-doméstico que vive aqui - disse Rony. - Louco. Nunca encontrei um como ele.
- Ele não é louco, Rony - retrucou Mione.
- A ambição de sua vida é ter sua cabeça cortada e colocada num troféu como o da mãe dele - disse Rony irritado. - Isso é normal, Hermione?
- Bem... Bem, se ele é um pouco estranho, não é culpa dele.
- A Hermione ainda não desistiu daquela idéia maluca de ajudar os elfos-domésticos - disse Rony.
- Não é uma idéia maluca fazê-los ter auto-estima e lhes dar direitos. E não sou apenas eu, Dumbledore diz que nós devemos ser legais com o Monstro.
- Sei, sei - disse Rony. - Vamos lá que eu estou morrendo de fome.
Eles saíram pela porta mas antes que pudessem descer as escadas...
- Esperem - disse Rony, estendendo o braço para parar Harry e Mione. - Eles ainda estão no salão, talvez possamos ouvir alguma coisa.
Os três olharam cautelosamente para baixo. O salão abaixo estava cheio de bruxas e bruxos, incluindo toda a escolta de Harry. Eles estavam cochichando muito animados. Bem no centro do grupo Harry pode ver aquela figura sombria, seu mais detestado professor em Hogwarts, professor Snape. Ele estava muito interessado em saber o que Snape estava fazendo na Ordem da Fênix...
E Harry viu um pedaço de faixa colorida descendo em frente a seus olhos. Olhou para cima e viu Fred e Jorge no andar de cima, baixando cautelosamente as Orelhas Extensíveis para ouvir as pessoas abaixo. Um momento depois, entretanto, todos eles começaram a se mover pela porta da frente e ficaram fora de visão.
- Droga - Harry ouviu Fred sussurrar enquanto puxava de volta as Orelhas Extensíveis.
Eles ouviram a porta abrir e depois fechar.
- Snape nunca come aqui - disse Rony para Harry. - Vamos lá.
- E não esqueça de manter sua voz baixa no salão, Harry - sussurrou Mione.
Ao passarem pela galeria de cabeças de elfos-domésticos que estava na parede eles viram Lupin, a Sra Weasley e Tonks na porta da frente, selando com mágica as muitas fechaduras agora que todos tinham partido.
- Nós vamos jantar na cozinha - sussurrou Sra. Weasley, juntando-se a eles no pé da escada. - Harry, querido, se você for na ponta dos pés através do salão, fica atrás dessa porta aqui...
CRASH!
- Tonks! - berrou Sra. Weasley desesperada, virando para olhar atrás dela.
- Eu sinto muito! - falou Tonks, que estava deitada no chão. - Foi aquele guarda-chuva estúpido, é a segunda vez que ele me pega...
Mas o resto das palavras foi abafado por um terrível som, insuportável. E vieram gritos de uma pintura que estava atrás da cortina, como se fosse uma tortura, apesar de ser um quadro, parecia muito realista. Com esse barulho, diversas outras pinturas acordaram e começaram a gritar também, tão alto que machucava os tímpanos. Harry colocou as mãos sobre as orelhas para tentar diminuir um pouco o sofrimento. Lupin e a Sra Weasley correram e tentaram fechar as cortinas sobre a pintura de uma velha que estava gritando mas quando foram chegando perto ela gritou ainda mais alto e começou a xingá-los.
"Escória. Nojentos. Produtos da sujeira e imundice. Aberrações, sumam desse lugar. Quem permitiu que vocês entrassem na casa dos meus pais..."
Tonks se desculpou muitas e muitas vezes, a Sra. Weasley abandonou a tentativa de fechar as cortinas e correu pelo salão, batendo em todas as outras pinturas com sua varinha e um homem com um longo cabelo negro veio até a porta e encarou Harry.
- Cale a boca, sua bruxa velha e horrível, cale-se - gritou ele, cerrando as cortinas que a Sra. Weasley tinha abandonado.
O rosto da velha mulher empalideceu.
- Vocêêêêêêêêêê! - berrou ela, seus olhos saltaram ao ver o homem.
- Traidor, abominação, vergonha da minha carne!
- Eu disse, cale-se! - gritou o homem, e com um grande esforço, Lupin correu e fechou as cortinas novamente.
O grito da velha bruxa silenciou. Afastando os cabelos de cima de seus olhos, o padrinho de Harry, Sirius, voltou a olhar para ele.
- Olá Harry - disse ele. - Vejo que você se encontrou com minha mãe.
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