A GUARDA AVANÇADA
"Acabo de ser atacado por dementadores e posso ser expulso de Hogwarts. Quero saber o que está acontecendo e quando eu vou poder sair daqui."
Harry copiou essas palavras em três pedaços diferentes de pergaminho assim que chegou na mesa do seu quarto. Endereçou o primeiro para Sirius, o segundo para Rony e o terceiro para Hermione. Sua coruja, Edwiges, estava caçando; sua gaiola estava vazia sobre a mesa. Harry ficou na cama aguardando por seu retorno, sua cabeça estava latejando, seu cérebro estava tão ocupado que não conseguia dormir. Suas costas doíam por ter carregado Duda até em casa e os dois galos em sua cabeça, resultado das pancadas que levou, estavam doendo muito.
Sua cabeça não parava de pensar em tudo o que acontecera. Ele estava furioso com tudo isso. Dementadores o caçando, a Sra. Figg e Mundungo Fletcher o espionando secretamente, a suspensão de Hogwarts e os avisos do Ministério da Magia - e ninguém pra lhe dizer o que estava acontecendo. E o que aquele berrador queria dizer? De quem era aquela voz que ecoou pela cozinha? Por que ele ainda estava sendo privado de notícias? Por que todos o tratavam como se fosse uma criancinha? Não faça mais nenhuma mágica, fique na casa...
Ele chutou seu malão quando passou por ele, mas longe de afastar sua raiva, agora se sentia pior, seu pé agora doía igual a seu corpo inteiro.
Edwiges entrou pela janela de forma tão suave que parecia um pequeno fantasma.
- Bem na hora! - disse Harry enquanto ela pousava em cima da gaiola. - Você pode
largar isso ai mesmo, eu tenho trabalho para você! Venha aqui.
Harry amarrou os 3 pedaços de pergaminho na pata dela.
- Leve essas mensagens para Sirius, Rony e Hermione e não volte sem uma resposta esclarecedora. Fique bicando eles até que escrevam uma carta bem longa. Entendeu?
Edwiges fez um ruído como se estivesse falando com ele.
- Então vá andando.
E ela saiu imediatamente. Harry se deitou na cama sem trocar as roupas e ficou olhando para o teto escuro. Agora além de tudo ele estava se sentindo culpado por ter falado de forma tão rude com Edwiges, sua única amiga na Rua dos Alfeneiros, número 4. Mas ele a recompensaria quando ela voltasse com as respostas.
Eles escreveriam de volta. Não poderiam ignorar um ataque de dementadores. Ele provavelmente acordaria com três cartas quilométricas cheias de simpatia e planos para sua remoção imediata para A Toca. E com aquela idéia confortante, o sono chegou sobre ele afastando todos os outros pensamentos...
***
Mas Edwiges não retornou na manhã seguinte. Harry passou o dia inteiro em seu quarto, saindo apenas para ir a banheiro. Três vezes naquele dia tia Petúnia empurrou comida por baixo da portinha que tio Válter colocou na porta do
quarto dele há alguns verões atrás. Cada vez que Harry a ouvia se aproximando ficava imaginando sobre o berrador... Mas não podia fazer nada. E isso continuou por três dias seguidos. Harry já estava ficando cheio disso.
E se enfrentasse o Ministério? E se fosse expulso e sua varinha quebrada? O que faria, pra onde iria? Ele não poderia voltar a viver com os Dursley, não agora que conhecia o outro mundo, ao qual ele realmente pertencia. Será que poderia ir viver com Sirius? Não sabia o que fazer...
Na quarta noite após a partida de Edwiges Harry estava deitado com a mente exausta quando seu tio entrou no quarto. Tio Válter estava vestindo a melhor roupa que tinha e estava com uma expressão de que era alguém importante.
- Nós estamos saindo - disse ele.
- Como?
- Eu disse que eu, sua tia e Duda vamos sair.
- Tudo bem.
- Você não vai sair desse quarto enquanto estivermos fora.
- Certo.
- Não ligue a tv, nem o som, e não mexa em nenhuma de nossas coisas.
- Sem problemas.
- E não pegue comida na geladeira.
- Pode deixar.
- Eu vou trancar sua porta.
- Pode trancar.
E tio Válter se virou, fechou a porta e saiu de casa. Harry não se importou com a saída dos Dursley. Pra ele não fazia nenhuma diferença se estavam em casa ou não. Ele não tinha forças nem pra se levantar e acender a luz. Ficou ouvindo os sons da noite, deitado em sua cama.
Então ouviu um som vindo da cozinha. Não podiam ser os Dursley, haviam acabado de sair e não tinha ouvido o carro. Houve silêncio por alguns segundos e depois vieram vozes.
"Ladrões", pensou ele. Mas um segundo depois lhe ocorreu que ladrões
não ficariam falando assim tão alto. Harry agarrou a varinha, que estava na mesinha de cabeceira, e se aproximou da porta do quarto para tentar ouvir melhor. Afastou pra trás ao ouvir a fechadura destrancar e abriu a porta.
Harry ficou parado diante da porta aberta tentando ouvir outros ruídos,
mas não havia nenhum. Hesitou por um momento e se moveu silenciosamente para fora de seu quarto em direção às escadas.
Seu coração parecia estar galopando. Havia pessoas de pé na sala abaixo, silhuetas contra a luz que entrava pelos vidros da porta, oito ou nove deles, e todos estavam olhando para ele.
- Abaixe sua varinha, garoto, antes que fure o olho de alguém - disse
uma voz em tom de grunhido.
O coração de Harry deu um salto. Ele conhecia aquela voz mas não abaixou a varinha.
- Professor Moody? - disse ele duvidoso.
- Não sei muito sobre "professor" - grunhiu a voz. - Desça aqui para vermos você melhor.
Harry abaixou a varinha, continuou a segurando com firmeza, mas não se moveu. Ele tinha todas as razões para suspeitar. Havia passado 9 meses em companhia
de Olho-Tonto Moody para no final descobrir que era um impostor que tentou matá-lo. Mas antes que Harry pudesse tomar uma decisão uma segunda voz subiu pelas escadas.
- Está tudo bem Harry. Nós viemos para levá-lo daqui.
O coração de Harry saltou. Ele também conhecia aquela voz.
- Professor Lupin? É você?
- Por que estamos de pé no escuro? - disse uma outra voz completamente desconhecida. - Lumus.
E a ponta de uma varinha se acendeu. Harry piscou. As pessoas lá em baixo levantaram suas cabeças para que pudessem ser vistas melhor. Lupin era o que estava mais próximo. Parecia cansado e doente. Mas tentou sorrir para amenizar o estado de choque.
- Ah, ele realmente parece com o que eu imaginava - disse a bruxa que segurava a varinha. Ela parecia ser a mais jovem entre eles. - Wotcher, Harry!
- Sim, eu vejo o que você quis dizer, Remo - disse um mago negro que estava um pouco mais atrás -, ele parece mesmo com Tiago Potter.
- Exceto pelos olhos - disse uma outra voz. - Tem os olhos da Lílian.
- Você acha que é ele mesmo, Lupin - perguntou uma voz que vinha de trás de Moody. - Vamos perguntar algo que somente o verdadeiro Potter saberia responder, a não ser que alguém tenha trazido um pouco de Veritasserum.
- Harry, qual a forma que o seu Patrono tomou? – perguntou Lupin.
- Um cervo - respondeu Harry com nervosismo.
- É ele sim, Moody - disse Lupin.
Bem consciente que todos o olhavam, Harry desceu as escadas e guardou a varinha no bolso de trás da calça.
- Não coloque a varinha aí, garoto - disse Moody. - E se ela explodir? Bons magos já perderam a bunda por isso, você sabia?
- Quem você conhece que perdeu a bunda? - perguntou uma mulher de cabelo vermelho bem interessada.
- Não importa, apenas não guarde a varinha no bolso de trás - grunhiu Moody. - Regras de segurança-da-varinha, ninguém se importa mais com elas.
Lupin foi ao encontro de Harry.
- Como você está? - perguntou ele, olhando-o de perto.
- Estou bem... - disse Harry.
Harry mal acreditava que aquilo era real. Quatro semanas sem nada e de repente uma batalhão de bruxos estava em sua casa.
- Vocês têm sorte de os Dursley não estarem em casa... - murmurou ele.
- Sorte? Ha, ha, ha! - disse a mulher de cabelos violeta. - Fui eu quem criou a isca para que eles saíssem. Mandei uma carta pelo correio dos trouxas dizendo que eles estavam inscritos numa competição nacional. E eles estão indo para a premiação agora mesmo...
Harry já estava imaginando a cara do tio Válter quando visse que não havia competição alguma.
- Nós vamos embora, não vamos? - perguntou ele. - Logo?
- Praticamente já - disse Lupin. - Só estamos aguardando estar tudo limpo.
- Aonde nós iremos? Para a Toca? - perguntou Harry esperançoso.
- Não. Nós vamos para um quartel-general. Fica um pouco longe... - disse Lupin, seguindo pela cozinha junto com todos os outros bruxos.
Olho-Tonto Moody estava sentado na mesa da cozinha com seu olho mágico rodando em todas as direções, olhando para os aparelhos da cozinha dos Dursley.
- Esse é Alastor Moody, Harry – disse Lupin, apontando Moody.
- É, eu sei. É estranho ser apresentado a alguém que você acha que conhece...
- E essa é Nymphadora...
- Não me chame Nymphadora, Remo - disse a bruxa chateada. - É Tonks.
- Nymphadora Tonks, que prefere ouvir apenas seu sobrenome.
- Você também preferiria se sua mãe lhe desse o nome de Nymphadora - resmungou Tonks.
- E esse é Kingsley Shacklebolt - e apontou para o mago negro. - Elphias Doge. Dédalo Diggle...
- Já nos encontramos antes - disse Diggle, tirando o chapéu.
- Emmeline Vance. Sturgis Podmode. E Hestia Jones.
Harry fazia reverências com a cabeça a cada nome que era dito.
- Um número surpreendente de pessoas se voluntariaram para vir buscar você - disse Lupin.
- É isso, quanto mais melhor - disse Moody. - Somos sua escolta, Potter.
- Estamos apenas aguardando o sinal que nos diga que é seguro sair - disse Lupin, olhando pela janela da cozinha. - Temos uns 15 minutos.
- São muito higiênicos, esses trouxas, não são? - disse Tonks enquanto
olhava pela cozinha com muito interesse. - Meu pai é trouxa e ele é
um tanto quanto porcalhão. Acho que isso varia, assim como acontece
entre dos bruxos, não é?
- É... é - disse Harry. - Olhe... - e virou pra Lupin. - O que está acontecendo?
Eu não tenho tido notícias de nada nem de ninguém. O que Vol...?
Vários bruxos fizeram aquele barulho chiado...
- Cale-se - disse Moody.
- O quê? - disse Harry.
- Não podemos discutir nada aqui, é muito arriscado - disse Moody, olhando com o olho normal para Harry. Seu olho mágico continuava olhando o teto. - Que droga! - disse ele pondo a mão no olho mágico. - Começou a emperrar depois que aquele idiota ficou usando ele - e tirou o olho para limpá-lo.
- Para onde estamos indo? Quem vem nos buscar? - perguntou Harry.
- Vassouras - disse Lupin. - É o único jeito. Você é muito jovem para aparatar, estão vigiando a Rede do Flu e é mais que nossa vida arriscar abrir um portal não autorizado.
- Remo disse que você é um ótimo voador - disse Kingsley Shacklebold.
- Ele é excelente! - disse Lupin. - É melhor você juntar suas coisas Harry, precisamos estar prontos quando recebermos o sinal.
- Eu vou ajudar você - disse Tonks.
Ela seguiu Harry de volta ao quarto olhando tudo com muito interesse.
- Lugar engraçado esse - disse ela. - É tão limpo. Quase sobrenatural.
Entraram no quanto de Harry. Quando ele acendeu a luz ela percebeu que o quarto era bem diferente do resto da casa. Confinado por quatro dias durante uma "maré baixa" Harry não se importava muito com a organização. Os livros estavam espalhados pelo chão, a gaiola de Edwiges estava imunda, o malão estava aberto, roupas de trouxa e bruxo misturadas...
Harry começou a juntar as coisas e Tonks disse, se olhando no espelho:
- Acho que violeta não é a minha cor. Você não acha que eu fico esquisita?
- Bem... - disse Harry, olhando de relance pra ela.
- Fico sim - ela fechou os olhos como se tivesse tentando lembrar de algo. Um segundo depois o cabelo estava cor-de-rosa.
- Como você fez isso? - perguntou Harry espantado.
- Eu sou uma bruxa-metamorfa - disse ela, olhando-se novamente no espelho. - Significa que eu posso mudar minha aparência quando desejar. Eu nasci assim. Tirei nota máxima no exame de Auror sem nem precisar estudar.
- Você é uma Auror? - disse Harry impressionado. Ser um apanhador de
bruxos das trevas era a única carreira que ele tinha considerado para quando
terminasse Hogwarts.
- Sou - disse ela com ar de orgulhosa. - Kingsley também é. Ele é um pouco mais qualificado que eu. Eu só passei há um ano.
- É possível aprender como ser um bruxo-metamorfo? - perguntou Harry, que a essa altura já havia esquecido de juntar suas coisas.
- Bem, você pode aprender da maneira mais difícil. Metamorfose é algo realmente raro, você nasce assim, não dá pra fazer. A maioria dos bruxos usam a varinha ou poções para mudar sua forma. Mas nós temos que ir, Harry, devíamos estar fazendo as malas - disse ela com um olhar gentil passando pela bagunça que estava no chão.
- Ah, claro! - disse Harry agarrando mais alguns livros.
- Não seja estúpido, é muito mais rápido se eu... Empacotar!!! - berrou Tonks,
agitando sua varinha num longo movimento.
Livros, roupas, telescópio, voou tudo pra dentro do malão.
- Não está muito arrumadinho... Minha mãe sempre reclamava... Bem... Pelo menos está tudo ai dentro - disse Tonks, fechando a tampa do malão. - Ah, podemos limpar isso aqui um pouquinho... – disse, apontando pra gaiola de Edwiges. – Scourgify - as penas e a sujeira sumiram. - Ah, agora está bem melhor. - Certo, já tem tudo? Caldeirão, Vassoura... NOSSA! Uma Firebolt!? – disse, arregalando os olhos pra vassoura na mão de Harry. - Puxa, e eu ainda estou montando uma Comet 2-60. Bem... Sua varinha está ai? Então vamos. Locomotor malão.
O malão de Harry flutuou alguns centímetros do chão e Tonks o conduziu escada abaixo, seguida por Harry, que vinha carregando a gaiola de Edwiges e a vassoura.
Lá na cozinha, Moody já havia recolocado o seu olho-mágico, que agora girava tão rápido que Harry se sentiu enjoado ao olhar pra ele. Lupin estava selando uma carta endereçada aos Dursley.
- Excelente - disse Lupin, olhando Tonks e Harry. - Temos cerca de um minuto. Vamos para o jardim. Harry, eu deixei uma carta dizendo a seus tios para não se preocuparem...
- Eles não irão. Acredite em mim - disse Harry.
- ... que você está a salvo...
- Isso vai decepcioná-los.
- ... e que você voltará no próximo verão.
- Isso é realmente necessário?
Lupin sorriu mas não respondeu.
- Vamos lá, garoto - disse Moody, tocando nas costas de Harry com a varinha. - Eu preciso Desilusionar você.
- Você o quê? - disse Harry nervoso.
- Desilusionar, é um encantamento - explicou Moody. - Lupin disse que você tem uma capa da invisibilidade, mas ela não vai servir quando estivermos voando, isso vai funcionar melhor. Aí vai...
Moody tocou com a varinha no topo da cabeça de Harry e ele sentiu uma sensação bem curiosa, como se um ovo tivesse sendo quebrado ali, estava descendo por todo o corpo.
- Muito bem, Olho-Tonto - disse Tonks.
Harry olhou para baixo e não viu seu corpo. Ele não estava invisível, simplesmente estava da mesma cor e textura do armário da cozinha que estava atrás de si. Ele parecia ter se tornado um homem-camaleão.
- Vamos lá - disse Moody, destrancando a porta dos fundos com sua varinha.
Todos seguiram para fora.
- Uma noite limpa - disse Moody. - Gostaria que houvesse um pouco mais de nuvens hoje. Certo, Harry, nós vamos voar numa formação fechada. Tonks vai na sua frente. Fique de olho nela. Lupin vai te dar cobertura por baixo e eu estarei logo atrás de você. O resto estará ao nosso redor. Não freie por nada nesse mundo, entendeu. Se um de nós morrer...
- O que isso quer dizer? - perguntou Harry apreensivo, mas Moody não respondeu.
- ...os outros continuam voando. Não parem. Se eles pegarem todos nós e você sobreviver, Harry, o restante da escolta vai lhe socorrer. Continue voando para o Leste e eles te encontrarão.
- Pare de ser tão pessimista, Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isso a sério - disse Tonks enquanto pendurava as coisas de Harry em ganchos amarrados na sua vassoura.
- Eu só estou dizendo o plano. Nosso trabalho é entregá-lo em segurança ao quartel-general mesmo que morremos tentando.
- Ninguém vai morrer - disse Kingsley.
- Montem em suas vassouras. Esse é o primeiro sinal - disse Lupin, apontando para o céu.
Muito, muito longe deles, uma cascata de faíscas vermelhas estava brilhando próximo às estrelas. Harry sabia que eram feitas por uma varinha. Montou na vassoura, agarrou-se firme e imaginou que em um segundo estaria voando novamente.
- Segundo sinal, vamos! - disse Lupin ao ver mais faíscas, verdes desta vez, explodindo sobre eles.
Harry saltou do chão. O ar frio da noite passava por seus cabelos enquanto os gramados verdes da Rua dos Alfeneiros ficavam para trás junto com todas aquelas preocupações de representantes do Ministério quebrando sua varinha e tudo mais... Sentia como se seu coração fosse explodir de tanto prazer; estava voando novamente, era tudo o que ele mais sonhou neste verão... Estava indo para casa... Por alguns momentos gloriosos, todos os seus problemas pareciam ter se reduzido a nada, insignificantes diante do vasto e brilhante céu estrelado.
- Para a esquerda, para a esquerda, tem um trouxa olhando para cima - gritou Moody. Tonks desviou e Harry a seguiu, vendo seu malão balançar violentamente sob a vassoura dela. - Precisamos de mais altura. Subam mais 400 metros.
Os olhos de Harry ficaram úmidos enquanto eles subiam, agora não conseguia ver mais nada lá embaixo a não ser as pequenas luzes dos carros e dos postes. Duas daquelas pequenas luzes poderiam ser o carro dos Dursley... A qualquer momento eles estariam voltando da competição inexistente, cheios de raiva... E encontrariam a casa vazia. Harry deu uma gargalhada, mas sua voz se perdeu entre o ruído das capas tremulantes dos outros bruxos. Ele nunca tinha se sentido tão vivo este mês ou tão feliz assim.
- Seguindo para o sul - gritou Olho-Tonto. - Cidade à frente! Agora para sudeste, subam mais, tem algumas nuvens, não podemos nos perder de vista.
A noite estava ficando cada vez mais fria. Harry achou que teria sido bom vestir um casaco.
- Virando para sudoeste. Vamos evitar a auto-estrada - gritou Moody.
Harry imaginou que nenhuma viagem de carro ou viajando via Flu poderia ser tão gostoso. Agora os outros bruxos se aproximavam rodeando ele...
- Nós vamos voltar um pouco agora, só para ter certeza que não estamos sendo seguidos - gritou Moody.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO, OLHO-Tonto? - gritou Tonks. Nós estamos congelando! Se ficarmos fazendo isso não chegaremos lá antes da semana que vem. Além do mais, estamos nos aproximando agora.
- Hora de começar a decida - disse Lupin. - Siga Tonks, Harry!
Harry seguiu Tonks num mergulho. Depois de algum tempo ele pôde ver luzes novamente. Queria muito chegar ao chão e achou que alguém teria que ajudá-lo a se desgrudar da vassoura, pois já estava congelando.
- Aqui estamos! - disse Tonks, e alguns segundos depois ela havia pousado.
Harry pousou logo atrás dela. Tonks já estava soltando o malão de Harry.
Ele olhou em volta. A frente das casas não eram muito amigáveis, algumas delas tinham janelas quebradas.
- Onde nós estamos? - perguntou Harry, mas Lupin retrucou dizendo:
- Explico em um minuto.
- Peguei - disse Moody e levantou um objeto que lembrava um isqueiro.
Apertou um botão e a luz do poste mais próximo sumiu. Ele continuou apertando o Apagueiro até que todas as luzes do quarteirão se apagassem, deixando visíveis
apenas as luzes das janelas através das cortinas e da lua.
- Peguei emprestado do Dumbledore - disse Moody, guardando-o no bolso. - Agora vamos.
Ele pegou Harry pelo braço e o conduziu pelo gramado, através da rua até chegar a um lugar pavimentado. Lupin e Tonks os seguiram carregando o malão e o resto da escolta, de varinha em punho, escoltando-os.
- Aqui - cochichou Moody e entregou um pedaço de pergaminho a Harry. Acendeu a varinha para iluminar e disse. - Leia rápido e memorize.
Harry olhou o papel. A escrita ela quase familiar.
"Acabo de ser atacado por dementadores e posso ser expulso de Hogwarts. Quero saber o que está acontecendo e quando eu vou poder sair daqui."
Harry copiou essas palavras em três pedaços diferentes de pergaminho assim que chegou na mesa do seu quarto. Endereçou o primeiro para Sirius, o segundo para Rony e o terceiro para Hermione. Sua coruja, Edwiges, estava caçando; sua gaiola estava vazia sobre a mesa. Harry ficou na cama aguardando por seu retorno, sua cabeça estava latejando, seu cérebro estava tão ocupado que não conseguia dormir. Suas costas doíam por ter carregado Duda até em casa e os dois galos em sua cabeça, resultado das pancadas que levou, estavam doendo muito.
Sua cabeça não parava de pensar em tudo o que acontecera. Ele estava furioso com tudo isso. Dementadores o caçando, a Sra. Figg e Mundungo Fletcher o espionando secretamente, a suspensão de Hogwarts e os avisos do Ministério da Magia - e ninguém pra lhe dizer o que estava acontecendo. E o que aquele berrador queria dizer? De quem era aquela voz que ecoou pela cozinha? Por que ele ainda estava sendo privado de notícias? Por que todos o tratavam como se fosse uma criancinha? Não faça mais nenhuma mágica, fique na casa...
Ele chutou seu malão quando passou por ele, mas longe de afastar sua raiva, agora se sentia pior, seu pé agora doía igual a seu corpo inteiro.
Edwiges entrou pela janela de forma tão suave que parecia um pequeno fantasma.
- Bem na hora! - disse Harry enquanto ela pousava em cima da gaiola. - Você pode
largar isso ai mesmo, eu tenho trabalho para você! Venha aqui.
Harry amarrou os 3 pedaços de pergaminho na pata dela.
- Leve essas mensagens para Sirius, Rony e Hermione e não volte sem uma resposta esclarecedora. Fique bicando eles até que escrevam uma carta bem longa. Entendeu?
Edwiges fez um ruído como se estivesse falando com ele.
- Então vá andando.
E ela saiu imediatamente. Harry se deitou na cama sem trocar as roupas e ficou olhando para o teto escuro. Agora além de tudo ele estava se sentindo culpado por ter falado de forma tão rude com Edwiges, sua única amiga na Rua dos Alfeneiros, número 4. Mas ele a recompensaria quando ela voltasse com as respostas.
Eles escreveriam de volta. Não poderiam ignorar um ataque de dementadores. Ele provavelmente acordaria com três cartas quilométricas cheias de simpatia e planos para sua remoção imediata para A Toca. E com aquela idéia confortante, o sono chegou sobre ele afastando todos os outros pensamentos...
***
Mas Edwiges não retornou na manhã seguinte. Harry passou o dia inteiro em seu quarto, saindo apenas para ir a banheiro. Três vezes naquele dia tia Petúnia empurrou comida por baixo da portinha que tio Válter colocou na porta do
quarto dele há alguns verões atrás. Cada vez que Harry a ouvia se aproximando ficava imaginando sobre o berrador... Mas não podia fazer nada. E isso continuou por três dias seguidos. Harry já estava ficando cheio disso.
E se enfrentasse o Ministério? E se fosse expulso e sua varinha quebrada? O que faria, pra onde iria? Ele não poderia voltar a viver com os Dursley, não agora que conhecia o outro mundo, ao qual ele realmente pertencia. Será que poderia ir viver com Sirius? Não sabia o que fazer...
Na quarta noite após a partida de Edwiges Harry estava deitado com a mente exausta quando seu tio entrou no quarto. Tio Válter estava vestindo a melhor roupa que tinha e estava com uma expressão de que era alguém importante.
- Nós estamos saindo - disse ele.
- Como?
- Eu disse que eu, sua tia e Duda vamos sair.
- Tudo bem.
- Você não vai sair desse quarto enquanto estivermos fora.
- Certo.
- Não ligue a tv, nem o som, e não mexa em nenhuma de nossas coisas.
- Sem problemas.
- E não pegue comida na geladeira.
- Pode deixar.
- Eu vou trancar sua porta.
- Pode trancar.
E tio Válter se virou, fechou a porta e saiu de casa. Harry não se importou com a saída dos Dursley. Pra ele não fazia nenhuma diferença se estavam em casa ou não. Ele não tinha forças nem pra se levantar e acender a luz. Ficou ouvindo os sons da noite, deitado em sua cama.
Então ouviu um som vindo da cozinha. Não podiam ser os Dursley, haviam acabado de sair e não tinha ouvido o carro. Houve silêncio por alguns segundos e depois vieram vozes.
"Ladrões", pensou ele. Mas um segundo depois lhe ocorreu que ladrões
não ficariam falando assim tão alto. Harry agarrou a varinha, que estava na mesinha de cabeceira, e se aproximou da porta do quarto para tentar ouvir melhor. Afastou pra trás ao ouvir a fechadura destrancar e abriu a porta.
Harry ficou parado diante da porta aberta tentando ouvir outros ruídos,
mas não havia nenhum. Hesitou por um momento e se moveu silenciosamente para fora de seu quarto em direção às escadas.
Seu coração parecia estar galopando. Havia pessoas de pé na sala abaixo, silhuetas contra a luz que entrava pelos vidros da porta, oito ou nove deles, e todos estavam olhando para ele.
- Abaixe sua varinha, garoto, antes que fure o olho de alguém - disse
uma voz em tom de grunhido.
O coração de Harry deu um salto. Ele conhecia aquela voz mas não abaixou a varinha.
- Professor Moody? - disse ele duvidoso.
- Não sei muito sobre "professor" - grunhiu a voz. - Desça aqui para vermos você melhor.
Harry abaixou a varinha, continuou a segurando com firmeza, mas não se moveu. Ele tinha todas as razões para suspeitar. Havia passado 9 meses em companhia
de Olho-Tonto Moody para no final descobrir que era um impostor que tentou matá-lo. Mas antes que Harry pudesse tomar uma decisão uma segunda voz subiu pelas escadas.
- Está tudo bem Harry. Nós viemos para levá-lo daqui.
O coração de Harry saltou. Ele também conhecia aquela voz.
- Professor Lupin? É você?
- Por que estamos de pé no escuro? - disse uma outra voz completamente desconhecida. - Lumus.
E a ponta de uma varinha se acendeu. Harry piscou. As pessoas lá em baixo levantaram suas cabeças para que pudessem ser vistas melhor. Lupin era o que estava mais próximo. Parecia cansado e doente. Mas tentou sorrir para amenizar o estado de choque.
- Ah, ele realmente parece com o que eu imaginava - disse a bruxa que segurava a varinha. Ela parecia ser a mais jovem entre eles. - Wotcher, Harry!
- Sim, eu vejo o que você quis dizer, Remo - disse um mago negro que estava um pouco mais atrás -, ele parece mesmo com Tiago Potter.
- Exceto pelos olhos - disse uma outra voz. - Tem os olhos da Lílian.
- Você acha que é ele mesmo, Lupin - perguntou uma voz que vinha de trás de Moody. - Vamos perguntar algo que somente o verdadeiro Potter saberia responder, a não ser que alguém tenha trazido um pouco de Veritasserum.
- Harry, qual a forma que o seu Patrono tomou? – perguntou Lupin.
- Um cervo - respondeu Harry com nervosismo.
- É ele sim, Moody - disse Lupin.
Bem consciente que todos o olhavam, Harry desceu as escadas e guardou a varinha no bolso de trás da calça.
- Não coloque a varinha aí, garoto - disse Moody. - E se ela explodir? Bons magos já perderam a bunda por isso, você sabia?
- Quem você conhece que perdeu a bunda? - perguntou uma mulher de cabelo vermelho bem interessada.
- Não importa, apenas não guarde a varinha no bolso de trás - grunhiu Moody. - Regras de segurança-da-varinha, ninguém se importa mais com elas.
Lupin foi ao encontro de Harry.
- Como você está? - perguntou ele, olhando-o de perto.
- Estou bem... - disse Harry.
Harry mal acreditava que aquilo era real. Quatro semanas sem nada e de repente uma batalhão de bruxos estava em sua casa.
- Vocês têm sorte de os Dursley não estarem em casa... - murmurou ele.
- Sorte? Ha, ha, ha! - disse a mulher de cabelos violeta. - Fui eu quem criou a isca para que eles saíssem. Mandei uma carta pelo correio dos trouxas dizendo que eles estavam inscritos numa competição nacional. E eles estão indo para a premiação agora mesmo...
Harry já estava imaginando a cara do tio Válter quando visse que não havia competição alguma.
- Nós vamos embora, não vamos? - perguntou ele. - Logo?
- Praticamente já - disse Lupin. - Só estamos aguardando estar tudo limpo.
- Aonde nós iremos? Para a Toca? - perguntou Harry esperançoso.
- Não. Nós vamos para um quartel-general. Fica um pouco longe... - disse Lupin, seguindo pela cozinha junto com todos os outros bruxos.
Olho-Tonto Moody estava sentado na mesa da cozinha com seu olho mágico rodando em todas as direções, olhando para os aparelhos da cozinha dos Dursley.
- Esse é Alastor Moody, Harry – disse Lupin, apontando Moody.
- É, eu sei. É estranho ser apresentado a alguém que você acha que conhece...
- E essa é Nymphadora...
- Não me chame Nymphadora, Remo - disse a bruxa chateada. - É Tonks.
- Nymphadora Tonks, que prefere ouvir apenas seu sobrenome.
- Você também preferiria se sua mãe lhe desse o nome de Nymphadora - resmungou Tonks.
- E esse é Kingsley Shacklebolt - e apontou para o mago negro. - Elphias Doge. Dédalo Diggle...
- Já nos encontramos antes - disse Diggle, tirando o chapéu.
- Emmeline Vance. Sturgis Podmode. E Hestia Jones.
Harry fazia reverências com a cabeça a cada nome que era dito.
- Um número surpreendente de pessoas se voluntariaram para vir buscar você - disse Lupin.
- É isso, quanto mais melhor - disse Moody. - Somos sua escolta, Potter.
- Estamos apenas aguardando o sinal que nos diga que é seguro sair - disse Lupin, olhando pela janela da cozinha. - Temos uns 15 minutos.
- São muito higiênicos, esses trouxas, não são? - disse Tonks enquanto
olhava pela cozinha com muito interesse. - Meu pai é trouxa e ele é
um tanto quanto porcalhão. Acho que isso varia, assim como acontece
entre dos bruxos, não é?
- É... é - disse Harry. - Olhe... - e virou pra Lupin. - O que está acontecendo?
Eu não tenho tido notícias de nada nem de ninguém. O que Vol...?
Vários bruxos fizeram aquele barulho chiado...
- Cale-se - disse Moody.
- O quê? - disse Harry.
- Não podemos discutir nada aqui, é muito arriscado - disse Moody, olhando com o olho normal para Harry. Seu olho mágico continuava olhando o teto. - Que droga! - disse ele pondo a mão no olho mágico. - Começou a emperrar depois que aquele idiota ficou usando ele - e tirou o olho para limpá-lo.
- Para onde estamos indo? Quem vem nos buscar? - perguntou Harry.
- Vassouras - disse Lupin. - É o único jeito. Você é muito jovem para aparatar, estão vigiando a Rede do Flu e é mais que nossa vida arriscar abrir um portal não autorizado.
- Remo disse que você é um ótimo voador - disse Kingsley Shacklebold.
- Ele é excelente! - disse Lupin. - É melhor você juntar suas coisas Harry, precisamos estar prontos quando recebermos o sinal.
- Eu vou ajudar você - disse Tonks.
Ela seguiu Harry de volta ao quarto olhando tudo com muito interesse.
- Lugar engraçado esse - disse ela. - É tão limpo. Quase sobrenatural.
Entraram no quanto de Harry. Quando ele acendeu a luz ela percebeu que o quarto era bem diferente do resto da casa. Confinado por quatro dias durante uma "maré baixa" Harry não se importava muito com a organização. Os livros estavam espalhados pelo chão, a gaiola de Edwiges estava imunda, o malão estava aberto, roupas de trouxa e bruxo misturadas...
Harry começou a juntar as coisas e Tonks disse, se olhando no espelho:
- Acho que violeta não é a minha cor. Você não acha que eu fico esquisita?
- Bem... - disse Harry, olhando de relance pra ela.
- Fico sim - ela fechou os olhos como se tivesse tentando lembrar de algo. Um segundo depois o cabelo estava cor-de-rosa.
- Como você fez isso? - perguntou Harry espantado.
- Eu sou uma bruxa-metamorfa - disse ela, olhando-se novamente no espelho. - Significa que eu posso mudar minha aparência quando desejar. Eu nasci assim. Tirei nota máxima no exame de Auror sem nem precisar estudar.
- Você é uma Auror? - disse Harry impressionado. Ser um apanhador de
bruxos das trevas era a única carreira que ele tinha considerado para quando
terminasse Hogwarts.
- Sou - disse ela com ar de orgulhosa. - Kingsley também é. Ele é um pouco mais qualificado que eu. Eu só passei há um ano.
- É possível aprender como ser um bruxo-metamorfo? - perguntou Harry, que a essa altura já havia esquecido de juntar suas coisas.
- Bem, você pode aprender da maneira mais difícil. Metamorfose é algo realmente raro, você nasce assim, não dá pra fazer. A maioria dos bruxos usam a varinha ou poções para mudar sua forma. Mas nós temos que ir, Harry, devíamos estar fazendo as malas - disse ela com um olhar gentil passando pela bagunça que estava no chão.
- Ah, claro! - disse Harry agarrando mais alguns livros.
- Não seja estúpido, é muito mais rápido se eu... Empacotar!!! - berrou Tonks,
agitando sua varinha num longo movimento.
Livros, roupas, telescópio, voou tudo pra dentro do malão.
- Não está muito arrumadinho... Minha mãe sempre reclamava... Bem... Pelo menos está tudo ai dentro - disse Tonks, fechando a tampa do malão. - Ah, podemos limpar isso aqui um pouquinho... – disse, apontando pra gaiola de Edwiges. – Scourgify - as penas e a sujeira sumiram. - Ah, agora está bem melhor. - Certo, já tem tudo? Caldeirão, Vassoura... NOSSA! Uma Firebolt!? – disse, arregalando os olhos pra vassoura na mão de Harry. - Puxa, e eu ainda estou montando uma Comet 2-60. Bem... Sua varinha está ai? Então vamos. Locomotor malão.
O malão de Harry flutuou alguns centímetros do chão e Tonks o conduziu escada abaixo, seguida por Harry, que vinha carregando a gaiola de Edwiges e a vassoura.
Lá na cozinha, Moody já havia recolocado o seu olho-mágico, que agora girava tão rápido que Harry se sentiu enjoado ao olhar pra ele. Lupin estava selando uma carta endereçada aos Dursley.
- Excelente - disse Lupin, olhando Tonks e Harry. - Temos cerca de um minuto. Vamos para o jardim. Harry, eu deixei uma carta dizendo a seus tios para não se preocuparem...
- Eles não irão. Acredite em mim - disse Harry.
- ... que você está a salvo...
- Isso vai decepcioná-los.
- ... e que você voltará no próximo verão.
- Isso é realmente necessário?
Lupin sorriu mas não respondeu.
- Vamos lá, garoto - disse Moody, tocando nas costas de Harry com a varinha. - Eu preciso Desilusionar você.
- Você o quê? - disse Harry nervoso.
- Desilusionar, é um encantamento - explicou Moody. - Lupin disse que você tem uma capa da invisibilidade, mas ela não vai servir quando estivermos voando, isso vai funcionar melhor. Aí vai...
Moody tocou com a varinha no topo da cabeça de Harry e ele sentiu uma sensação bem curiosa, como se um ovo tivesse sendo quebrado ali, estava descendo por todo o corpo.
- Muito bem, Olho-Tonto - disse Tonks.
Harry olhou para baixo e não viu seu corpo. Ele não estava invisível, simplesmente estava da mesma cor e textura do armário da cozinha que estava atrás de si. Ele parecia ter se tornado um homem-camaleão.
- Vamos lá - disse Moody, destrancando a porta dos fundos com sua varinha.
Todos seguiram para fora.
- Uma noite limpa - disse Moody. - Gostaria que houvesse um pouco mais de nuvens hoje. Certo, Harry, nós vamos voar numa formação fechada. Tonks vai na sua frente. Fique de olho nela. Lupin vai te dar cobertura por baixo e eu estarei logo atrás de você. O resto estará ao nosso redor. Não freie por nada nesse mundo, entendeu. Se um de nós morrer...
- O que isso quer dizer? - perguntou Harry apreensivo, mas Moody não respondeu.
- ...os outros continuam voando. Não parem. Se eles pegarem todos nós e você sobreviver, Harry, o restante da escolta vai lhe socorrer. Continue voando para o Leste e eles te encontrarão.
- Pare de ser tão pessimista, Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isso a sério - disse Tonks enquanto pendurava as coisas de Harry em ganchos amarrados na sua vassoura.
- Eu só estou dizendo o plano. Nosso trabalho é entregá-lo em segurança ao quartel-general mesmo que morremos tentando.
- Ninguém vai morrer - disse Kingsley.
- Montem em suas vassouras. Esse é o primeiro sinal - disse Lupin, apontando para o céu.
Muito, muito longe deles, uma cascata de faíscas vermelhas estava brilhando próximo às estrelas. Harry sabia que eram feitas por uma varinha. Montou na vassoura, agarrou-se firme e imaginou que em um segundo estaria voando novamente.
- Segundo sinal, vamos! - disse Lupin ao ver mais faíscas, verdes desta vez, explodindo sobre eles.
Harry saltou do chão. O ar frio da noite passava por seus cabelos enquanto os gramados verdes da Rua dos Alfeneiros ficavam para trás junto com todas aquelas preocupações de representantes do Ministério quebrando sua varinha e tudo mais... Sentia como se seu coração fosse explodir de tanto prazer; estava voando novamente, era tudo o que ele mais sonhou neste verão... Estava indo para casa... Por alguns momentos gloriosos, todos os seus problemas pareciam ter se reduzido a nada, insignificantes diante do vasto e brilhante céu estrelado.
- Para a esquerda, para a esquerda, tem um trouxa olhando para cima - gritou Moody. Tonks desviou e Harry a seguiu, vendo seu malão balançar violentamente sob a vassoura dela. - Precisamos de mais altura. Subam mais 400 metros.
Os olhos de Harry ficaram úmidos enquanto eles subiam, agora não conseguia ver mais nada lá embaixo a não ser as pequenas luzes dos carros e dos postes. Duas daquelas pequenas luzes poderiam ser o carro dos Dursley... A qualquer momento eles estariam voltando da competição inexistente, cheios de raiva... E encontrariam a casa vazia. Harry deu uma gargalhada, mas sua voz se perdeu entre o ruído das capas tremulantes dos outros bruxos. Ele nunca tinha se sentido tão vivo este mês ou tão feliz assim.
- Seguindo para o sul - gritou Olho-Tonto. - Cidade à frente! Agora para sudeste, subam mais, tem algumas nuvens, não podemos nos perder de vista.
A noite estava ficando cada vez mais fria. Harry achou que teria sido bom vestir um casaco.
- Virando para sudoeste. Vamos evitar a auto-estrada - gritou Moody.
Harry imaginou que nenhuma viagem de carro ou viajando via Flu poderia ser tão gostoso. Agora os outros bruxos se aproximavam rodeando ele...
- Nós vamos voltar um pouco agora, só para ter certeza que não estamos sendo seguidos - gritou Moody.
- VOCÊ ESTÁ LOUCO, OLHO-Tonto? - gritou Tonks. Nós estamos congelando! Se ficarmos fazendo isso não chegaremos lá antes da semana que vem. Além do mais, estamos nos aproximando agora.
- Hora de começar a decida - disse Lupin. - Siga Tonks, Harry!
Harry seguiu Tonks num mergulho. Depois de algum tempo ele pôde ver luzes novamente. Queria muito chegar ao chão e achou que alguém teria que ajudá-lo a se desgrudar da vassoura, pois já estava congelando.
- Aqui estamos! - disse Tonks, e alguns segundos depois ela havia pousado.
Harry pousou logo atrás dela. Tonks já estava soltando o malão de Harry.
Ele olhou em volta. A frente das casas não eram muito amigáveis, algumas delas tinham janelas quebradas.
- Onde nós estamos? - perguntou Harry, mas Lupin retrucou dizendo:
- Explico em um minuto.
- Peguei - disse Moody e levantou um objeto que lembrava um isqueiro.
Apertou um botão e a luz do poste mais próximo sumiu. Ele continuou apertando o Apagueiro até que todas as luzes do quarteirão se apagassem, deixando visíveis
apenas as luzes das janelas através das cortinas e da lua.
- Peguei emprestado do Dumbledore - disse Moody, guardando-o no bolso. - Agora vamos.
Ele pegou Harry pelo braço e o conduziu pelo gramado, através da rua até chegar a um lugar pavimentado. Lupin e Tonks os seguiram carregando o malão e o resto da escolta, de varinha em punho, escoltando-os.
- Aqui - cochichou Moody e entregou um pedaço de pergaminho a Harry. Acendeu a varinha para iluminar e disse. - Leia rápido e memorize.
Harry olhou o papel. A escrita ela quase familiar.
"O Quartel-General da Ordem da Fênix pode ser encontrado no número 12, Grimmauld Place, Londres."
Comentários (1)
FUI O UNICO Q NOTO Q O CAPITULO SE REPETE NA METADE?
2013-03-11