O menino que sobreviveu

O menino que sobreviveu



Alvo Dumbledore estava em seu escritório naquela manhã e, certamente, não esperava receber uma visita tão cedo quando Lílian apareceu. Ela resolveu falar com o diretor logo cedo, antes do café, pois sabia que não iria conseguir esconder os acontecimentos da noite anterior por muito tempo. Fazendo isso ela conseguiu se poupar da humilhação que passaria caso tudo não passasse de uma brincadeira. Com toda a certeza do mundo os meninos iriam zoar ela pelo resto da vida por ter acreditado numa coisa tão inimaginável.


Mesmo com esses pensamentos ela não pôde deixar de sentir uma pontinha de esperança de tudo aquilo ser real. A perspectiva de saber do futuro a deixara muito animada. Não sabia nem se iria aparecer ou ser citada no livro e já estava imaginando qual profissão ela seguiu, se se casou, se teve filhos...


Tratou logo de explicar a situação ao diretor. Como o livro apareceu, como ela escreveu suas perguntas no pergaminho e como este a respondeu. Ao final do relato a sala caiu em um silêncio que foi logo quebrado pelo professor.


- Creio - Iniciou ele – que não há nenhum motivo para não acreditarmos.


- Isso quer dizer que nós vamos ler o livro? – perguntou Lílian.


- Certamente. Irei providenciar um lugar para realizarem a leitura e chamarei todas as pessoas necessárias. Acredito que ainda hoje vocês começarão.


- Certo – Lílian já estava se levantando quando outra dúvida lhe ocorreu. – Senhor, não é perigoso mexer com o tempo?


- Não se preocupe com isso – o diretor respondeu com um sorriso.


No final do dia ela e os outros foram chamados à sala do diretor, que deu uma rápida e resumida explicação sobre o que eles iriam fazer. Dumbledore os conduziu até um corredor no sétimo andar e passou três vezes por uma mesma parede. Nenhum dos alunos estava entendendo nada, até que uma porta apareceu e o professor os explicou que aquela era a Sala Precisa - uma sala em que a pessoa só pode entrar quando tem real necessidade dela. À vezes existe, às vezes não, mas quando aparece está sempre equipada para atender à necessidade de quem a procura. Naquele dia a sala estava muito aconchegante. Haviam sofás e poltronas com muitas almofadas no centro e, mais afastado, uma mesa com lugar para oito pessoas.


- Bem, esta é a Sala Precisa. Pedi para que a sala fosse um lugar confortável para uma leitura e aqui está! Além disso, enquanto estiverem aqui o tempo passará de forma diferente. Dessa maneira não perderão as aulas e conseguirão terminar o livro. As refeições serão servidas no horário de sempre. O quarto e os banheiros disponibilizarão tudo o que for necessário – comunicou Dumbledore. - Divirtam-se! – e saiu.


A primeira reação de todos foi perguntar à Lilian o que estava acontecendo, já que ela era a única que parecia realmente saber o que estava acontecendo ali.


- Lily, amor da minha vida, pode me explicar o que está acontecendo? E porque ele está aqui? – disse Tiago apontando para Severo.


- Bem, é o que o professor falou pra vocês. Nós vamos ler um livro sobre o futuro – explicou Lílian. - E Snape está aqui porque ele tem que ler também – acrescentou ao ver que Tiago iria perguntar novamente.


- Vamos ler logo – disse Remo já prevendo uma briga.


Todos se acomodaram nos sofás e Remo logo se ofereceu para ler. Quando ele pegou o livro, a capa começou a ganhar cor e todos puderam ver que o titulo era Harry Potter.


- Mas o que é isso? Porque nós vamos ler sobre um parente do Potter? Tenho mais o que fazer – falou Snape.


- Pode ter certeza de que ninguém te que aqui – retrucou Sirius.


- Nem comecem! – disse Lílian. – Precisamos de todos que estão aqui para ler, então ninguém vai sair. Pode começar, Remo.


- Tem um aviso antes.


Este livro conta a vida de Harry Potter. Apenas as partes mais importantes, as necessárias para a compreensão de vocês. Não será contado tudo o que se passou nos anos. Serão um capítulo do primeiro livro (por que, sim, ele tem sete livros, mas não é preciso ler tudo para entender), três capítulos do terceiro livro, dois capítulos do quarto livro, um capítulo do quinto livro, um capítulo do sexto e o sétimo inteiro. Caso haja alguma dúvida basta escrevê-la no pergaminho (ou pergunta-la em voz alta) e a resposta aparecerá. Boa leitura!


- Acho que só saberemos o que ele fez em Hogwarts – disse Frank. – E muito provavelmente é o filho ou o neto de vocês – completou se referindo a Tiago e Lílian.


- Deixem o Remo continuar, então! Eu quero saber o que o meu filho vai aprontar!


- E quem disse que ele vai aprontar na escola? – perguntou Lílian. - Eu não vou deixar você ensinar esse tipo de coisa pra ele!


- Eu não vou precisar ensinar nada, aposto que já vai estar no sangue! – retrucou Tiago. – E alguma coisa ele fez para escreverem sete livros sobre a vida dele, certo?


- Posso ler? – interrompeu Remo. Considerou o silêncio como um sim. – Capítulo um de Harry Potter e a pedra filosofal, O menino que sobreviveu.


- Sobreviveu? Como assim? Isso não me parece algo bom! – disse Lílian, preocupada.


- Vamos descobrir. – falou Remo.


O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, nº 4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem, obrigado.


- Quem são esses? O livro não era sobre o Pontas Jr.? – perguntou Sirius.


- Gente, por favor, parem de interromper o Remo! Só conseguimos ler UMA frase até agora! – disse Alice.


Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem.


O Sr. Dursley era diretor de uma firma chamada Grunnings, que fazia perfurações. Era um homem alto, corpulento, e quase sem pescoço, embora tivesse enormes bigodes. A Sra. Dursley era magra e loura e tinha um pescoço quase duas vezes mais comprido que o normal, o que era muito útil porque ela passava grande parte do tempo espichando-o por cima da cerca do jardim para espiar os vizinhos. Os Dursley tinham um filhinho chamado Dudley, o Duda, e em sua opinião não havia garoto melhor em nenhum lugar do mundo.


Os Dursley tinham tudo que queriam, mas tinham também um segredo, e seu maior receio era que alguém o descobrisse. Achavam que não iriam aguentar se alguém descobrisse a existência dos Potter


- Ei! – gritaram Tiago, Sirius, Remo e Lílian.


A Sra. Potter era irmã da Sra. Dursley,


- Ah, agora está fazendo um pouco mais de sentido – comentou Lílian. - Petúnia é a Sra. Dursley.


- A sua irmã?! Isso quer dizer que você é a Sra. Potter! – disse Alice.


- Nós nos casamos! – Tiago comemorou se levantando, erguendo Lily no ar e a beijando. Snape fez uma careta.


- Se acalmem aí os dois – disse Sirius. – Ainda não tá na época da fazer o Harry não!  Aliás, ele vai nascer quando? – perguntou olhando para o pergaminho.


Dia 31 de Julho de 1980.


- Olha, ele vai nascer daqui a três anos! Eu quero ser o padrinho! – falou Sirius.


- É claro que você vai ser o padrinho! – disse Tiago.


- Estou muito feliz pelo casal, mas será que podemos continuar? – disse Frank.


Mas não se viam havia muitos anos; na realidade a Sra. Dursley fingia que não tinha irmã, porque esta e o marido imprestável


- Ei! – interrompeu Tiago. – Eu não sou imprestável!


Lílian concordava intimamente com Tiago, mas não conseguia dizer nada porque estava pensando na relação dela com a irmã. Pelo jeito, mesmo depois de muitos anos, elas não se resolveram. A irmã continuava a odiando por ser bruxa e elas continuavam sem se falar. Será que em algum momento do livro elas irão se resolver? Torcia para que sim. Ela e a irmã eram muito amigas antes de Lily conhecer o mundo mágico; e saber que a irmã passou a odiá-la doía. Alice, que percebeu a expressão da ruiva, tentou consola-la.


- Lily, não fica assim. Não importa o que a sua irmã ache, todos aqui sabemos que você é uma ótima pessoa! Ela que sai perdendo por não apreciar a sua companhia.


- É verdade – concordaram os outros. Aquilo animou um pouco Lílian. Pelo menos ela pode contar com seus amigos.


Eram o que havia de menos parecido possível com os Dursley. Eles estremeciam só de pensar o que os vizinhos iriam dizer se os Potter aparecessem na rua. Os Dursley sabiam que eles tinham um filhinho, também, mas nunca o tinham visto. O garoto era mais uma razão para manter os Potter a distância; eles não queriam que Duda se misturasse com uma criança daquelas.


- Aí já é demais! Nós é que deveríamos evitar deixar nosso filho na companhia de vocês! São uns idiotas, os dois! – reclamou Lílian.


Quando o Sr. e a Sra. Dursley acordaram na terça-feira monótona e cinzenta em que a nossa história começa, não havia nada no céu nublado lá fora sugerindo as coisas estranhas e misteriosas que não tardariam a acontecer por todo o país. O Sr. Dursley cantarolava ao escolhe a gravata mais sem graça do mundo para ir trabalhar e a Sra. Dursley fofocava alegremente enquanto lutava para encaixar um Duda aos berros na cadeirinha alta.


Nenhum deles reparou em uma coruja parda que passou, batendo as asas, pela janela.


- O que uma coruja estaria fazendo ai? – perguntou Frank.


Às oito e meia, o Sr. Dursley apanhou a pasta, deu um beijinho no rosto da Sra. Dursley e tentou dar um beijo de despedida em Duda, mas não conseguiu, porque na hora Duda estava tendo um acesso de raiva e atirava o cereal nas paredes.


- Quando vai acontecer algo de interessante? Não quero ficar ouvindo sobre esses trouxas – disse Severo.


- Pestinha - disse rindo contrafeito o Sr. Dursley ao sair de casa. Entrou no carro e deu marcha à ré para sair do estacionamento do número quatro.


Foi na esquina da rua que ele notou o primeiro indício de que algo estranho ocorria - um gato lia um mapa.


- O que? – espantou-se Lílian.


- Bem, se for um animago faz um pouco de sentido – disse Tiago.


- Se for um animago, com certeza é a Professora Minerva! – disse Sirius. – Existem muito poucos bruxos animagos, então as chances de ser ela são grandes.


- E vocês sabem bastante sobre isso, não? – disse Lílian rindo da cara de preocupação dos garotos. 


Por um instante o Sr. Dursley não percebeu o que vira - em seguida virou rapidamente a cabeça para dar uma segunda olhada. Havia um gato de listras amarelas


- Listras amarelas, mais uma prova de que é a Professora – disse Sirius.


sentado na esquina da Rua dos Alfeneiros, mas não havia nenhum mapa à vista. Em que estaria pensando naquela hora? Devia ter sido um efeito da luz.


- Efeito da luz? – perguntou Remo.


 Ele piscou e arregalou os olhos para o gato. O gato o encarou.  Enquanto virava a esquina e subia a rua, espiou o gato pelo espelho retrovisor. Ele agora estava lendo a placa que dizia Rua dos Alfeneiros - não, estava olhando a placa: gatos não podiam ler mapas nem placas. O Sr. Dursley sacudiu a cabeça e tirou o gato do pensamento. Durante o caminho para a cidade ele não pensou em mais nada exceto no grande pedido de brocas que tinha esperanças de receber naquele dia.


Mas ao sair da cidade, as brocas foram varridas de sua cabeça por outra coisa. Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, não pode deixar de notar que havia uma quantidade de gente estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com capas largas.


- Bruxos – disse Lílian.


- Os bruxos estão sendo meio descuidados, não? Saindo às ruas sem vestimentas trouxas, deixando corujas passarem por bairros trouxas em plena luz do dia... – comentou Alice.


- Deve ter acontecido algo importante – disse Sirius, não muito preocupado.


O Sr. Dursley não tolerava gente que andava com roupas ridículas - os trapos que se viam nos jovens! Imaginou que aquilo fosse uma nova moda idiota. Tamborilou os dedos no volante e seu olhar recaiu em um grupinho de excêntricos parados bem perto dele. Cochichavam excitados. O Sr. Dursley se irritou ao ver que alguns deles nem eram jovens; ora, aquele homem devia ser mais velho do que ele, e usava uma capa verde-esmeralda! Que petulância! Mas então ocorreu ao Sr. Dursley que se tratava provavelmente de alguma promoção boba - essas pessoas estavam obviamente arrecadando alguma coisa... É, devia ser isto! O tráfego avançou e alguns minutos depois o Sr. Dursley chegou ao estacionamento da Grunnings, o pensamento de volta às brocas.


O Sr. Dursley sempre sentava de costas para a janela em seu escritório no nono andar. Se não o fizesse, talvez tivesse achado mais difícil se concentrar em brocas aquela manhã. Ele não viu as corujas que voavam velozes em plena luz do dia, embora as pessoas na rua as vissem;


- Estão vendo? Tem algo errado! – falou Alice


- Realmente, uma coruja ainda é normal, mas varias?? – perguntou Tiago..


elas apontavam e se espantavam enquanto um bando de corujas passava no alto. A maioria jamais vira uma mesmo à noite. O Sr. Dursley, porém, teve uma manhã normal sem corujas. Gritou com cinco pessoas diferentes. Deu vários telefonemas importantes e gritou mais um pouco. Estava de excelente humor até a hora do almoço, quando pensou em esticar as pernas e atravessar a rua para comprar um pãozinho doce na padaria defronte.


Esquecera completamente as pessoas de capas até passar por um grupo delas próximo à padaria. Olhou-as com raiva ao passar. Não sabia o porquê, mas elas o deixavam nervoso. Essas cochichavam agitadas, também, mas ele não viu nenhuma latinha de coleta. Foi ao passar por elas, na volta, levando uma grande rosca açucarada em um saco, que entreouviu algumas palavras do que diziam.


- ... Os Potter, é verdade, foi o que ouvi...


- O que aconteceu? – perguntou Sirius, agora muito preocupado. Ninguém tinha a resposta, então Remo voltou a ler.


- ... É, o filho deles, Harry...


- Quando vai explicar o que aconteceu com nosso filho? – desesperou-se Lílian. Tiago tentou acalma-la.


O Sr. Dursley parou de repente. O medo invadiu-o. Virou a cabeça para olhar as pessoas que cochichavam como se quisesse dizer alguma coisa, mas pensou melhor.


Atravessou a rua depressa, correu para o escritório, disse rispidamente à secretária que não o incomodasse, agarrou o telefone e quase terminara de discar o número de casa quando mudou de ideia. Pôs o fone no gancho e alisou os bigodes pensando… Não, estava agindo como um idiota. Potter não era um nome tão fora do comum assim. Tinha certeza de que havia muita gente chamada Potter com um filho chamado Harry. Pensando bem, nem sequer tinha certeza de que o sobrinho tivesse o nome de Harry. Jamais viu o menino. Talvez fosse Henry. Ou Henrique.


Aquele comentário deixou Lily ainda mais triste. Sua irmã e seu cunhado nem ao menos se deram ao trabalho de saber o nome do sobrinho.


Não tinha sentido preocupar a Sra. Dursley, ela sempre ficava tão perturbada à simples menção da irmã. Não a culpava – se ele tivesse uma irmã como aquela… Mas mesmo assim aquelas pessoas de capas…


Achou bem mais difícil se concentrar nas brocas aquela tarde, e quando deixou o edifício às cinco horas, continuava tão preocupado que deu um encontrão em alguém parado ali à porta.


— Desculpe — murmurou, quando o velhinho cambaleou e quase caiu.


Levou alguns segundos até o Sr. Dursley perceber que o homem estava usando uma capa roxa. Não parecia nada aborrecido por ter sido quase jogado ao chão. Ao contrário, seu rosto se abriu em um largo sorriso e ele disse numa voz esganiçada que fez os passantes olharem:


— Não precisa pedir desculpas, caro senhor, porque nada poderia me aborrecer hoje! Alegre-se! Porque Você-Sabe-Quem finalmente foi-se embora! Até trouxas como o senhor deviam estar comemorando um dia tão feliz!


Ninguém falou nada. Todos estavam espantados. Quer dizer que o motivo dos bruxos estarem sendo tão descuidados é o fim de Você-Sabe-Quem. Realmente, é um ótimo motivo para comemorar. Mas isso ainda não explica a relação dos Potter com esses acontecimentos. Snape foi o primeiro a expressar essa dúvida.


- E o que o Potter tem a ver com isso tudo?


- É – disse Lílian, - o que nós temos a ver com isso? E o nosso filho? – perguntou virando-se para Tiago.


- Será que vocês o derrotaram? – perguntou, animadamente, Sirius.


- Claro que não. O Potter não é poderoso o suficiente pra isso! – respondeu Snape.


- Você só tá zangadinho porque o seu lorde foi embora! – rebateu Sirius.


- Mesmo que a gente tenha derrotado ele, onde o Harry se encaixa nessa história? – perguntou Tiago.


- Acho que a melhor forma de sabermos é lendo – disse Remo. 


E o velho abraçou o Sr. Dursley pela cintura e se afastou.


O Sr. Dursley ficou pregado no chão. Fora abraçado por um completo estranho. E também achava que fora chamado de trouxa, o que quer que isso quisesse dizer. Estava abalado. Correu para o carro e partiu para casa, esperando que estivesse imaginando coisas, o que nunca esperara que fizesse, porque não aprovava a imaginação.


- Como um homem pode ser tão chato assim? – perguntou Alice.


Quando entrou no estacionamento do numero quatro, a primeira coisa que viu – e isso não melhorou o seu estado de espírito – foi o gato listrado que notara aquela manhã. Agora ele estava sentado no muro do jardim. Tinha certeza de que era o mesmo, as marcas em volta dos olhos eram as mesmas.


- A professora ficou aí o dia inteiro? – surpreendeu-se Frank.


— Chispa! — disse o Sr. Dursley em voz alta.


O gato não se mexeu. Apenas lançou lhe um olhar severo.


Os meninos riram. Olhares severos são especialidade de Minerva.


Será que isto era um comportamento normal para um gato?, pensou o Sr. Dursley. Continuava decidido a então não comentar nada com a esposa.


A Sra. Dursley tivera um dia normal e agradável. Contou-lhe durante o jantar os problemas da senhora do lado com a filha e ainda que Duda aprendera uma palavra nova (Nunca). O Sr. Dursley tentou agir normalmente. Depois que Duda foi se deitar, ele chegou à sala em tempo de ouvir o último noticiário noturno.


“E, por último, os observadores de pássaros em toda parte registraram que as corujas do país se comportaram de forma muito estranha hoje. Embora elas normalmente cacem à noite e raramente apareçam à luz do dia, centenas desses pássaros foram vistos hoje voando em todas as direções desde o alvorecer. Os especialistas não sabem explicar por que as corujas de repente mudaram o seu padrão de sono.”


O locutor se permitiu um sorriso.


“Muito misterioso. E agora, com Jorge Mendes, o nosso boletim meteorológico. “Vai haver mais tempestades de corujas hoje à noite, Jorge?”


“Bom, Eduardo”, disse o meteorologista, “não sei lhe dizer, mas não foram só as corujas que se comportaram de modo estranho hoje, ouvintes de todo o pais têm telefonado para reclamar que em vez do aguaceiro que prometi para ontem, eles tem tido chuvas de estrelas! Talvez alguém ande festejando a noite das fogueiras uma semana mais cedo este ano! Mas posso prometer para hoje uma noite chuvosa”.


O Sr. Dursley ficou paralisado na poltrona. Estrelas cadentes em todo o país? Corujas voando durante o dia? Gente misteriosa, capas por todo lado? E um cochicho, um cochicho a respeito dos Potter…


- Pelo jeito ele não é tão tapado, soube ligar os pontos – disse Sirius.


A Sra. Dursley entrou na sala trazendo duas xícaras de chá.


Não adiantava. Teria que lhe dizer alguma coisa. Pigarreou nervoso.


— Hum, hum, Petúnia, querida, você não tem tido notícias de sua irmã ultimamente?


Conforme esperava, a Sra. Dursley pareceu chocada e aborrecida. Afinal, normalmente fingiam que ela não tinha irmã.


— Não — respondeu ela, seca. — Por quê?


— Uma notícia engraçada — murmurou o Sr. Dursley — Corujas… Estrelas cadentes e vi uma porção de gente de aparência estranha na cidade hoje…


— E daí? — cortou a Sra. Dursley.


— Bem, pensei, talvez, tivesse alguma ligação com… Sabe… O pessoal dela.


A Sra. Dursley bebericou o chá com os lábios contraídos. O Sr. Dursley ficou em dúvida se teria coragem de lhe contar que ouvira o nome “Potter”. Decidiu que não. Em vez disso, falou com a voz mais displicente que pode:


— O filho deles, teria mais ou menos a idade do Duda agora, não?


— Suponho que sim — respondeu a Sra. Dursley ainda seca.


— Como é mesmo o nome dele? Henrique, não é?


— Harry. Um nome feio e vulgar se quer saber minha opinião.


- Ah, porque Dudley é lindo – comentou Lílian, irônica.


— Ah, é — disse o Sr. Dursley, sentindo um aperto horrível no coração. — É, concordo com você.


Não disse mais nenhuma palavra sobre o assunto a caminho do quarto onde foram se deitar. Enquanto a Sra. Dursley estava no banheiro, o Sr. Dursley foi devagarzinho até a janela e espiou o jardim da casa. O gato continuava lá. Observava o começo da Rua dos Alfeneiros como se esperasse alguma coisa.


- Essa história fica cada vez mais confusa – disse Alice.


Estaria imaginando coisas. Será que tudo isto teria ligação com os Potter? Se tivesse… Se aparentasse que eram aparentados como um casal de… Bem ele achava que não aguentaria.


Os Dursley se deitaram. A Sra. Dursley, adormeceu logo, mas o Sr. Dursley continuou acordado pensando no que acontecera. Seu último consolo antes de adormecer foi pensar que mesmo que os Potter estivessem envolvidos, não havia razão para se aproximarem dele e da Sra. Dursley. Os Potter sabiam muito bem o que pensavam deles e de gente de sua laia… Não via como ele e Petúnia poderiam se envolver com nada que estivesse acontecendo. O Sr. Dursley bocejou e se virou. Isso não poderia afetá-los…


- Verdade, como isso poderia afeta-los? – perguntou Tiago.


- Não vejo nenhuma forma – respondeu Lílian, - mas, pela forma que foi escrito, acho que podemos concluir que eles foram envolvidos.


- Lily, você adivinhou a próxima frase – disse Remo.


Como estava enganado.


O Sr. Dursley talvez estivesse mergulhando em um sono inquieto, mas o gato no muro lá fora não mostrava sinais de sono.


Continuava sentado imóvel como uma estátua, os olhos fixos na esquina mais distante da Rua dos Alfeneiros.


- Ela está esperando alguém – concluiu Frank.


E nem sequer estremeceu quando uma porta de carro bateu na rua seguinte, nem mesmo quando duas corujas mergulharam do alto. Na verdade, era quase meia-noite quando o gato se mexeu.


Um homem apareceu na esquina que o gato estivera vigiando.


Apareceu tão súbita e silenciosamente que se poderia pensar que tivesse saído do chão. O rabo do gato mexeu ligeiramente e seus olhos se estreitaram.


Ninguém jamais vislumbrara nada parecido com este homem na Rua dos Alfeneiros. Era alto, magro e muito velho a julgar pelo prateado dos seus cabelos e de sua barba, suficientemente longos para prender no cinto. Usava vestes longas, uma capa púrpura que arrastava pelo chão e botas com saltos altos e fivelas. Seus olhos azuis eram claros, luminosos e cintilantes por trás dos óculos em meia-lua e o nariz, muito comprido e torto, como se o tivesse quebrado pelo menos duas vezes. O nome dele era Alvo Dumbledore.


- Porque Dumbledore estaria na rua da minha Irmã?


Alvo Dumbledore não parecia ter consciência de que acabara numa rua onde tudo, desde o seu nome às suas botas, era malvisto.


Estava ocupado apalpando a capa, procurando alguma coisa. Mas parecia ter consciência de que estava sendo vigiado, porque ergueu a cabeça de repente para o gato, que continuava a fitá-lo da outra ponta da rua. Por algum motivo, a visão do gato pareceu diverti-lo. Deu uma risadinha e murmurou:


— Eu devia ter imaginado.


Encontrou o que procurava no bolso interior da capa, parecia um isqueiro de prata. Abriu-o, ergueu-o no ar e ascendeu. O lampião de rua mais próximo apagou-se com um estalido seco. Ele fez de novo – o lampião seguinte piscou e apagou,


- Eu quero um desse! – disseram Sirius e Tiago ao mesmo tempo. Remo apenas sussurrou um “Incrível” e voltou a ler.


doze vezes ele acionou o “desiluminador”, até que as únicas luzes acesas na rua eram dois pontinhos minúsculos ao longe, os olhos do gato que os vigiava. Se alguém espiasse pela janela agora, até a Sra. Dursley, de olhos de contas, não conseguira ver nada que estava acontecendo na calçada. Dumbledore tornou a guardar o “desiluminador” na capa e saiu caminhando pela rua em direção ao número quatro, onde se sentou no muro ao lado do gato. Não para olhar para o bicho, mas, passado algum tempo, dirigiu-se a ele.


— Imaginava encontrar a senhora aqui, Professora Minerva McGonagall.


- Acertaram – disse Remo.


E virou-se para sorrir para o gato, mas este desaparecera. Ao invés dele, viu-se sorrindo para uma mulher de aspecto severo que usava óculos de lentes quadradas exatamente do formato das marcas que o gato tinha em volta dos olhos. Ela, também, usava uma capa esmeralda. Trazia os cabelos negros presos num coque apertado. E parecia decididamente irritada.


— Como soube que era eu? — perguntou.


— Minha cara professora, nunca vi um gato se sentar tão duro.


Todos riram desse comentário.


— O senhor estaria duro se tivesse passado o dia todo sentado em um muro de pedra — respondeu a Professora Minerva.


— O dia todo? Quando podia estar comemorando? Devo ter passado por mais de dez festas e banquetes a caminho daqui.


A professora fungou aborrecida.


— Ah sim, vi que todos estão comemorando — disse impaciente. — Era de esperar que fossem um pouco mais cautelosos, mas não, até os trouxas notaram que alguma coisa estava acontecendo.


- Olha, ela concorda com você - falou Sirius à Alice.


Deu no telejornal. — Ela indicou com a cabeça a sala às escuras dos Dursley. — Eu ouvi… Bandos de corujas… Estrelas cadentes… Ora, eles não são completamente idiotas. Não podiam deixar de notar alguma coisa. Estrelas cadentes em Kent, aposto que foi coisa de Dédalo Diggle. Ele nunca teve muito juízo.


— Você não pode culpá-los — ponderou Dumbledore educadamente. — Temos tido muito pouco o que comemorar nos últimos onze anos.


— Sei disso — retrucou a professora mal-humorada. — Mas não é razão para perdermos a cabeça. As pessoas estão sendo completamente descuidadas, saem às ruas em plena luz do dia, sem nem ao menos vestir roupa de trouxa, e espalham boatos.


- Acho que vamos começar a receber as respostas das nossas perguntas – disse Tiago, que parecia não estar prestando muita atenção até aquele momento.


De esguelha, lançou um olhar atento a Dumbledore, como se esperasse que ele dissesse alguma coisa, mas ele continuou calado, por isso ela recomeçou:


— Ia ser uma graça se, no próprio dia em que Você-Sabe-Quem parece ter finalmente ido embora, os trouxas descobrissem a nossa existência. Suponho que ele realmente tenha ido embora, não é, Dumbledore?


— Parece que não há dúvida. Temos muito o que agradecer. Aceita um sorvete de limão?


- Isso é hora para se oferecer um sorvete? – perguntou Severo, irritado com o diretor.


— Um o quê?


— Um sorvete de limão. É uma espécie de doce dos trouxas de que sempre gostei muito.


— Não, obrigada — disse a Professora Minerva com frieza, como se não achasse que o momento pedia sorvetes de limão.


- Olha, ela concorda com o Snape também. – disse Sirius


— Mesmo que Você-Sabe-Quem tenha ido embora.


— Minha cara professora, com certeza uma pessoa sensata como a senhora pode chamá-lo pelo nome. Toda essa bobagem de Você-Sabe-Quem, há onze anos venho tentando convencer as pessoas a chamá-lo pelo nome que recebeu:


Remo hesitou por um segundo antes de ler o nome.


Voldemort — a professora franziu a testa, mas Dumbledore, que estava separando dois sorvetes de limão, pareceu não reparar. — Tudo fica tão confuso quando todos não param de dizer “Você-Sabe-Quem”. Nunca vi nenhuma razão para ter medo de dizer o nome de Voldemort.


— Sei que não vê — disse a professora parecendo meio exasperada, meio admirada. — Mas você é diferente… Todo o mundo sabe é o único de quem Você-Sabe… Ah está bem, de quem Voldemort tem medo.


— Isto é um elogio — disse Dumbledore calmamente. — Voldemort tinha poderes que nunca tive.


— Só porque você é muito… Bem… Nobre para usá-los.


— É uma sorte estar escuro. Nunca mais corei assim desde que Madame Pomfrey me disse que gostava dos meus abafadores de orelhas novos.


- Desnecessário, não? – disse Sirius com uma careta.


A Professora Minerva lançou um olhar severo a Dumbledore e disse:


— As corujas não são nada comparadas aos boatos que correm. Por que ele foi embora? O que foi que finalmente o deteve?


- Finalmente! – comemorou Lílian. Ela não aguentava mais toda aquela enrolação. Queria saber sua relação com tudo aquilo.


Aparentemente a Professora Minerva chegara ao ponto que estava ansiosa para discutir, a verdadeira razão pela qual estivera esperando o dia todo em cima de um muro frio e duro, porque nem como gato nem como mulher ela fixara antes um olhar tão penetrante em Dumbledore como agora. Era óbvio que seja o que fosse que “todos” estivessem dizendo, ela não iria acreditar até que Dumbledore confirmasse ser verdade. Dumbledore, porém, estava escolhendo mais um sorvete de limão e não respondeu.


— O que estão dizendo — continuou ela — é que na noite passada Voldemort apareceu em Godric’s Hollow. Foi procurar os Potter. O boato é que Lílian e Tiago Potter estão… Estão mortos.


Todos paralisaram. Mortos? Tiago e Lílian? Mortos? Não era possível. Tiago e Lílian não estavam mais conseguindo segurar as lágrimas. Choravam pela morte um do outro, e não pela sua própria. Doía mais saber que a pessoa que você ama vai morrer do que saber que você próprio morrerá. E o Harry? Nenhum dos dois poderá acompanhar o crescimento do filho. Não vão ver seus primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras magias acidentais... Não vão leva-lo para embarcar no Expresso de Hogwarts nem voltar para busca-lo no natal...


- Nós vamos mudar isso – disse Sirius firmemente. – Eu não vou deixar vocês morrerem! – completou, dessa vez cedendo às lagrimas.


- Vamos continuar a ler – iniciou Remo, achando que não iria aguentar mais tempo sem chorar também. – Assim nós entendemos o que aconteceu.


Dumbledore fez que sim com a cabeça. A Professora Minerva perdeu o fôlego.


— Lílian e Tiago… Não posso acreditar… Não quero acreditar… Ah, Alvo.


-Também gostamos muito de você professora – disse Tiago com um sorriso triste.


Dumbledore estendeu a mão e deu-lhe um tapinha no ombro.


— Eu sei… Eu sei… — disse deprimido.


A voz da Professora Minerva tremeu ao prosseguir:


— E não é só isso, estão dizendo que ele tentou matar o filho dos Potter, Harry.


Lílian já ia começar a chorar novamente quando Remo leu.


Mas… Não conseguiu. Não conseguiu matar o garotinho. Ninguém sabe o porquê nem como, mas estão dizendo que na hora que não pôde matar Harry Potter, por alguma razão, o poder de Voldemort desapareceu e é por isso que ele foi embora.


- Você-sabe-quem foi derrotado por um bebê? – perguntou Frank, que, assim como o restante, ainda estava abalado pela morte de Tiago e Lílian.


- Como isso é possível? – questionou Severo, ríspido. Não queria acreditar que o Lord das Trevas seria derrotado por um bebê. Ainda mais o filho do Potter.


- Bom, parece que o meu afilhado é mais poderoso do que o seu Lordzinho - respondeu Sirius.


- O livro deve explicar, não? – perguntou Alice. – Então vamos terminar de ler.


Dumbledore concordou com a cabeça, sério.


— É verdade? — gaguejou a professora. — Depois de tudo o que ele fez… Todas as pessoas que matou… Não conseguiu matar um garotinho? É simplesmente espantoso… De tudo que poderia detê-lo… Mas, por Deus, como foi que Harry sobreviveu?


— Só podemos imaginar — disse Dumbledore. — Talvez nunca cheguemos a saber.


- Aff, pensei que Dumbledore teria respostas! – disse Alice.


- Eu também – concordou Lílian, - mas acho que ele vai descobrir e aí nós vamos ficar sabendo.


A Professora Minerva pegou um lenço de renda e secou com delicadeza os olhos por baixo das lentes dos óculos. Dumbledore deu uma grande fungada ao mesmo tempo em que tirava o relógio de ouro do bolso e o examinava. Era um relógio muito estranho.


Tinha doze ponteiros, mas nenhum número, em vez deles, pequenos planetas giravam à sua volta. Mas, devia fazer sentido para Dumbledore, porque ele o repôs no bolso e disse:


— Hagrid está atrasado. A propósito, foi ele que lhe disse que eu estaria aqui, suponho.


— Foi. E suponho que você não vá me dizer por que está aqui e não em outro lugar.


— Vim trazer Harry para tio e a tia. Eles são a única família que lhe resta.


O QUE?! Era a expressão presente em todos os rostos.


- Como assim “a última família que lhe resta”? E eu? Eu sou o padrinho! – Sirius disse e olhou para Lílian e Tiago como se pedisse uma confirmação.


- Tenho certeza de que você será o padrinho, Sirius. – Disse Lílian.


- Então porque o Harry não vai ficar comigo?


- Eu não sei, sei? Eu prefiro mil vezes que ele fique com você do que com a minha irmã, mas só nos resta ler para entender – respondeu Lílian, calma.


Depois da resposta de Lílian, Sirius respirou fundo e pediu para Remo continuar.


— Você não quer dizer… não pode estar se referindo às pessoas que moram aqui — exclamou a Professora Minerva, pulando de pé e apontando para o número quatro — Dumbledore, você não pode. Estive observando a família o dia todo. Você não poderia encontrar duas pessoas menos parecidas conosco. E têm um filho, vi-o dando chutes na mãe até a rua, berrando porque queria balas. Harry Potter não pode vir morar aqui!


- Concordo – falaram quase todos.


— É o melhor lugar para ele — disse Dumbledore com firmeza. — Os tios poderão lhe explicar tudo quando ele for mais velho, escrevi-lhes uma carta.


- Uma carta? Ela acha que é possível explicar toda essa situação com uma carta? – perguntou Lílian, irritada.


— Uma carta? — repetiu a professora com a voz fraca, sentando-se novamente no muro. — Francamente Dumbledore, acha que pode explicar tudo isso em uma carta? Essas pessoas jamais vão entendê-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!


— Exatamente — disse Dumbledore, olhando muito sério por cima dos oclinhos meia-lua. — Isto seria o bastante para virar a cabeça de qualquer menino. Famoso antes mesmo de saber andar. Famoso por alguma coisa que ele nem vai se lembrar! Veja, ele não estará muito melhor se crescer longe de tudo isso, ter a capacidade de compreender?


- Mas, se for por causa disso, nós podíamos resolver. Moraríamos em um lugar distante, até mesmo um bairro trouxa! – disse Sirius. – Eu não me importaria!


A professora abriu a boca, mudou de ideia, engoliu em seco e então disse:


— É, é, você está certo é claro. Mas como é que o garoto vai chegar aqui, Dumbledore? — Ela olhou para a capa dele de repente como se lhe ocorresse que talvez escondesse Harry ali.


— Hagrid vai trazê-lo.


— Você acha que é sensato confiar a Hagrid uma tarefa importante como essa?


— Eu confiaria a Hagrid minha vida — respondeu Dumbledore.


— Não estou dizendo que ele não tenha o coração no lugar — concedeu a professora de má vontade — mas você não pode fingir que ele é cuidadoso. Que tem uma tendência a… Que foi isso?


Um ronco discreto quebrara o silêncio da rua. Foi aumentando cada vez mais enquanto eles olhavam para cima e para baixo da rua à procura de um sinal de farol de carro, o ronco se transformou num trovão quando os dois olharam para o céu – e uma enorme motocicleta caiu do ar e parou na rua diante deles.


- Eu preciso de uma dessas! – falou Sirius.


Se a motocicleta era enorme, não era nada comparada ao homem que a montava de lado. Ele era quase duas vezes mais alto do que um homem normal e pelo menos cinco vezes mais largo. Parecia simplesmente grande demais para existir e tão selvagem – emaranhados de barba e cabelos negros longos e grossos escondiam a maior parte do seu rosto, as mãos tinham o tamanho de uma lata de lixo e os pés calçados com botas de couro pareciam filhotes de golfinhos. Em seus braços imensos e musculosos ele segurava um embrulho de cobertores.


— Hagrid — exclamou Dumbledore, parecendo aliviado. — Finalmente. E onde foi que arranjou a moto?


— Pedi emprestada, Professor Dumbledore — respondeu o gigante, desmontando cuidadosamente da moto ao falar — O jovem Sirius me emprestou.


- É minha!


Eu o trouxe, professor.


— Não teve nenhum problema?


— Não, senhor. A casa ficou quase destruída, mas consegui tirá-lo inteiro antes que os trouxas invadissem o lugar. Ele dormiu quando estivemos sobrevoando Bristol.


Dumbledore e a Professora Minerva curvaram-se para o embrulho de cobertores. Dentro, apenas visível, havia um menino, que dormia a sono solto. Sob uma mecha de cabelos muito negros caída sobre a testa eles viram um corte curioso, tinha a forma de um raio.


— Foi aí que…? — sussurrou a professora.


— Foi — confirmou Dumbledore. — Ficará com a cicatriz para sempre.


— Será que você não poderia dar um jeito, Dumbledore?


— Mesmo que pudesse, eu não o faria. As cicatrizes podem vir a ser úteis. Tenho uma acima do joelho esquerdo que é um mapa perfeito do metrô de Londres. Bem, me dê ele aqui, Hagrid, é melhor acabarmos logo com isso.


Dumbledore recebeu Harry nos braços e virou-se para a casa dos Dursley.


— Será que eu podia… Podia me despedir dele, professor? — perguntou Hagrid.


Ele curvou a enorme cabeça descabelada para Harry e lhe deu o que deve ter sido um beijo muito áspero e peludo. Depois, sem aviso, Hagrid soltou um uivo como o de um cachorro ferido.


— Psiu! — sibilou a Professora Minerva. — Você vai acordar os trouxas!


— Desculpe — soluçou Hagrid, puxando um enorme lenço sujo e escondendo a cara nele. — Mas nã… Nã… Não consigo suportar, Lílian e Tiago mortos, e o coitadinho do Harry ter de viver com os trouxas…


— É, é muito triste, mas controle-se, Hagrid, ou vão nos descobrir — sussurrou a professora, dando uma palmadinha desajeita no braço de Hagrid enquanto Dumbledore saltava a mureta de pedra e se dirigia à porta da frente.


Depositou Harry devagarinho no batente, tirou uma carta da capa, meteu-a entre os cobertores do menino e em seguida, voltou para a companhia dos dois.


- O QUE? – gritou Lílian. – Ele simplesmente vai deixar o Harry aí? NO BATENTE DA PORTA?


- Verdade – concordou Tiago, - Ele não deveria entra e explicar a situação?


Durante um minuto inteiro os três ficaram parados olhando para o embrulhinho, os ombros de Hagrid sacudiram, os olhos da Professora Minerva piscaram loucamente e a luz cintilante que sempre brilhava nos olhos de Dumbledore parecia ter-se extinguido.


— Bem — disse Dumbledore finalmente — acabou-se. Não temos mais nada a fazer aqui já podemos nos reunir aos outros para comemorar.


- Comemorar? – perguntou Alice, indignada. – Duas pessoas morreram, uma criança ficou órfã e eles vão comemorar?


- Não foi só isso que aconteceu, Alice – disse Lílian, feliz por sua amiga achar que a tristeza da sua morte anulava a felicidade de Voldemort ter finalmente morrido (ou sumido). – As pessoas estão felizes por finalmente Você-Sabe-Quem ter ido embora. É um alívio. Não pode culpa-las.


— É — disse Hagrid com a voz muito abafada. — Vou devolver a moto de Sirius. Boa noite, Professora Minerva, Professor Dumbledore…


Enxugando os olhos na manga da jaqueta, Hagrid montou na moto e acionou o motor com um pontapé. Com um rugido, ela levantou voo e desapareceu na noite.


— Nos veremos em breve, espero, Professora Minerva — falou Dumbledore, com um aceno da cabeça.


A Professora Minerva assou o nariz em resposta.


Dumbledore se virou e desceu a rua. Na esquina parou e puxou o desiluminador. Deu um clique e doze esferas de luz voltaram aos lampiões de modo que a Rua dos Alfeneiros de repente iluminou-se com uma claridade laranja e ele divisou o gato listrado se esquivando pela outra ponta da rua. Mal dava para enxergar o embrulhinho de cobertores no batente do número quatro.


- Boa sorte, Harry — murmurou ele. Girou nos calcanhares e, com um movimento da capa, desapareceu.


Uma brisa arrepiou as cercas bem cuidadas da Rua dos Alfeneiros, silenciosas e quietas sob o negror do céu, o último lugar do mundo em que alguém esperaria que acontecessem coisas espantosas. Harry Potter virou-se dentro dos cobertores sem acordar. Sua mãozinha agarrou a carta ao lado, mas ele continuou a dormir, sem saber que era especial, sem saber que era famoso, sem saber que iria acordar dentro de poucas horas com o grito da Sra. Dursley ao abrir a porta da frente para pôr as garrafas de leite do lado de fora, nem que passaria as próximas semanas levando cutucadas e beliscões do primo Duda. Ele não podia saber que neste mesmo instante, havia pessoas se reunindo em segredo em todo o país que erguiam os copos e diziam com vozes abafadas.


- À Harry Potter, o menino que sobreviveu.


- Então é isso... Lílian e Tiago vão se casar, ter um filho e ser mortos por Voldemort – disse Sirius e, percebendo o espanto da alguns por ele ter dito o nome de Voldemort, completou. – Qual é, ele vai ser detido por um bebê! Nunca fez sentido nós não falarmos o nome dele e agora faz menos ainda. Acho que todos deveríamos parar de ficar o chamando de “Você-Sabe-Quem”. Concordam? – todos afirmaram. – Ótimo.


- Então, quem quer ler agora? – perguntou Remo.


- Na verdade – disse Lílian, - acho melhor irmos dormir. Já está ficando tarde e temos muita informação para processar – todos concordaram e foram se levantando quando Sirius de repente se lembrou de uma coisa.


- Ei, onde está aquele pergaminho?


- Aqui – informou Remo entregando o objeto.


- Por que Dumbledore não deixou Harry comigo?


Bem, eu responderia sua pergunta aqui se ela não fosse ser respondida na leitura. Mas ela vai ser respondida, só peço um pouquinho de calma.


E com essa resposta eles foram se deitar. Cada um envolto em seus próprios pensamentos.
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Eu sei que esse capítulo ficou enorme, mas eu só percebi isso no final. Então eu deixei assim mesmo, já que eu sou uma pessoa um pouquinho preguiçosa. Espero que tenha ficado bom. Não consegui postar antes porque toda vez que eu pegava o computador minha mãe pedia de volta. Comentem!

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