Memory





Cartas Para Ninguém



Capitulo 9



Memory





Pousou a pena na secretária e inclinou-se um pouco na cadeira fixando o tecto.

Os últimos dias tinham sido difíceis para ela, na realidade, a situação em si era difícil. Apesar de todas as reflexões, de estar farta de saber que aquela situação era inevitável, continuava a ser difícil.



Afinal ela tinha uma vida, tinha de fazer com que tudo voltasse ao normal. Fazendo o ponto da situação, ela era uma adolescente de 17 anos, com o ultimo ano escolar por terminar por causa da guerra. Isso levava-a a outra questão, o hospital. Fazia tempo que não visitava o hospital, depois que começou a namorar Draco as visitas tinham diminuído gradualmente e nas ultimas semanas tinham-se tornado quase inexistentes. Haviam pessoas que precisavam dela, que contavam com a sua ajuda, principalmente a Mara.

Os seus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta.



-Entre – Assim que o disse Hermione entrou no quarto ostentando um leve sorriso.

-Oi Gin – Caminhou até à ruiva abraçando-a.



Ginevra pode reparar no olhar espantado da amiga.



-Gin tu estás bem?



Ela acenou levemente. Uma noite de sono tinha feito bem, mas não tinha feito milagres. Ainda continuava com os olhos inchados e as olheiras a marcarem o seu rosto, agora um pouco mais rosado que antes.



-Tens a certeza?

-Não te preocupes Mione, está tudo bem….

-Claro…. Bem vamos descer? Estão á nossa espera para o almoço.



Ela apenas acenou e seguiu a morena até à cozinha. Harry também lá estava e fez questão de se levantar da cadeira onde estava sentado e caminhando até à ruiva abraçando-a carinhosamente.

Ginevra ficou um tanto encabulada, não estava à espera daquela atitude por parte de Harry. Eles nunca tinham sido muito chegados nos tempos de escola, Harry sempre a vira como a irmã mais nova do melhor amigo, e essa relação tinha esfriado ainda mais com o começo da guerra.



-Então Ginny, tudo bem? – Perguntou com um enorme sorriso que iluminou os seus intensos olhos verdes.



Ela acenou afirmativamente, ainda levemente corada.



-Venham meninos, o almoço está servido.



Molly continuava a trata-los como se fossem crianças de 10 anos, apesar de todos ali já serem maiores de idade.

Comeram em silêncio, ou pelo menos assim o fez Ginevra, apesar das tentativas frustradas de Ron, Hermione e Harry de começarem uma conversa.

Assim que terminaram Ginny fez menção de subir as escadas.



-Gin espera, vamos falar um pouco. É tão raro termos folga nestes dias. Não sei quando voltarei cá – Disse Ron, puxando-a levemente pelo pulso direito.

-Ok Ron – Respondeu resignada.



Foram até à sala, mas a conversa não começou e logo ficaram mergulhados num silêncio incómodo. Ginny olhava para o nada, como já se havia tornado costume e os outros olhavam entre si lançando de quando em quando olhares preocupados à ruiva.



-Gin, tens a certeza que estás mesmo bem? – Perguntou Hermione. Parecia preocupada pelo estado da ruiva.

-Sim Mione – Respondeu simplesmente.

-Não é o que parece.

-É, não é o que parece – Concordou Ron – Gin, estamos preocupados com o teu estado.

-A sério, esta tudo bem.

-É óbvio que não está, olha só para ti. Os teus olhos estão inchados, certamente que estiveste a chorar outra vez.

-Isso não tem nada a ver.

-Oh, não que ideia, Gin fala sério, eu vi como estavas ontem, e desculpa que te diga mas tu estavas num estado deplorável.

-E Ginny ninguém fica assim sem nenhum motivo – Harry falou pela primeira vez durante aquela conversa.

-Eu não sei porque é que fazem tantas perguntas se já sabem que a resposta para todas elas vai ser igual, eu não tenho nada.

-Fazemos perguntas porque estamos preocupados contigo Gin, vemos que não estás bem, na verdade qualquer um veria isso, e queremos ajudar.

-Vocês não me podem ajudar, porque eu não tenho absolutamente nada – Ela começava a fartar-se da conversa, das perguntas que ela não queria responder.

-Tudo bem então Ginny, se não nos queres contar o que se passa nós entendemos – Começou Harry – Vamos falar de outra coisa.



Ginevra suspirou, eles tinham desistido de fazer perguntas, ou pelo menos por enquanto.



-O Ron contou-nos que tens um namorado misterioso – Disse Harry calmamente – Disse até que ele te ofereceu uma aliança.



A ruiva gelou até à última fibra do seu corpo, quando pensava que se tinha livrado do assunto que a levava ao Draco eles tinham feito uma pergunta ainda mais comprometedora.



-O Ron o quê? – Perguntou em voz baixa mas bastante ameaçadora.

-Eu contei-lhe na altura, estavas tão feliz, não pensei que te importasses.

-Eu…eu… Não me importo – Respondeu, desta feita mais calma.

-Então Gin, mostra-me o anel.



Outra vez. Será que eles não podiam deixa-la em paz? Será que tinham de continuar a lembrá-la de tudo o que tinha acontecido?



Hermione levantou-se a caminhou até onde estava a ruiva, tomando a mão esquerda da rapariga para ver o tal anel. Ginny mostrou-lho contrariada, não sabia porque é que ainda não o havia tirado, ela estava decidida a esquecer tudo o que se tinha passado e se continuasse a manter perto dela coisas que lhe lembrassem Draco, tudo seria mais difícil.



-É lindo Gin. Sem dúvida ele é um rapaz de bom gosto.

-Hum-hum….

-Gin, não pareces muito animada. Passasse algo?

-Não. É que eu não me estou a sentir muito bem – Ela esforçava-se para que as lágrimas que se haviam formado rapidamente nos seus olhos não se tornassem visíveis – Eu vou subir.



E antes que qualquer um dos três pudesse fazer perguntas Ginny subiu as escadas trancando-se no quarto.

Agora as cenas de Draco estavam agora mais vivas na sua cabeça, como se tudo entre eles se tivesse passado a apenas algumas horas.

Sentiu as lágrimas quentes a escorrer pela sua face mas não fez questão de as parar.



«-Fecha os olhos - Pediu.

-Mas para quê?

-Fecha os olhos.



Ela suspirou resignada e fechou os olhos. Sentiu Draco a aproximar-se e a beijar-lhe suavemente o pescoço. Ginevra resmungou baixinho quando deixou de sentir os beijos de Draco.



-Podes abrir.



Ela assim o fez, ansiosa por descobrir qual seria a surpresa do loiro. Ele estava parado à sua frente, segurando um simples botão de rosa branco. Ginevra estranhou, ele nunca tinha feito tanta cerimónia para lhe oferecer uma simples flor.

Confusa, mas sem o demonstrar, aceitou a pequena flor, erguendo-a para a cheirar, mas quando o fez, algo que não esperava aconteceu. A pequena flor desabrochou revelando no seu interior uma delicada aliança.



-Draco.... o que é isto? -Perguntou nervosa, encarando o loiro.

-Bem... - Começou avançando até ela e retirando a delicada aliança de dentro da rosa - ...isto é um anel, ou melhor, uma aliança - Colocou-a no dedo anelar da ruiva.

-Sim eu percebi isso....mas, mas o que significa?

-Gosto de pensar nele como um anel de comprometimento - Ele sorria, sorria como ela nunca tinha visto antes, ele parecia feliz, verdadeiramente feliz.

-É, soa bem - Disse olhando para a aliança no seu dedo, era delicada, de um metal que ela desconhecia, e com pequenos brilhantes distribuídos por todo o comprimento - Obrigada, é lindo, tu não devias.....



Draco não a deixou terminar a frase, enlaçou-a pela cintura e beijou-a fervorosamente.



-Eu adoro-te, sabias? - Sussurrou ao ouvido dela.»



Alguém bateu á porta e Ginny tentou limpar as lágrimas que escorriam, apressadamente.



-Sim?



Hermione entrou no quarto pela segunda vez naquela tarde.



-Gin o que aconteceu lá em baixo? Tu saíste sem… - Ia continuar mas reparou nas lágrimas que marcavam a face da ruiva.



-Oh Gin, o que é que foi, diz-me o que se passa – Pediu abraçando a amiga.



A ruiva parou de tentar esconder as lágrimas e desabou num choro incontrolado que quase assustou Hermione.

A morena conduziu-a até à cama e sentou-a numa tentativa vã de a acalmar.



-Está tudo bem Gin… Tem calma…. Eu estou aqui contigo… Pronto Gin…. Acalma-te – Hermione, abraçada á rapariga, acariciava-lhe os cabelos ruivos enquanto murmurava palavras de consolo.



Mas as palavras não surtiam qualquer efeito, o choro da ruiva ficava cada vez mais compulsivo e os soluços que o acompanhavam cada vez mais audíveis.



-Vamos Gin, tens de reagir… Não podes ficar assim… Diz-me o que se passou para eu te poder ajudar…



-Tu não….. – Murmurou entre os soluços - ….. Ninguém… ninguém pode fazer… nada….

-Assim não Gin…Tu não nos contas o que se passa. Os teus pais estão preocupados, o teu irmão está preocupado, eu e o Harry estamos preocupados…E impotentes, porque tu não nos dizes o que aconteceu…

-Tu…tu não…. Tu não podes compreender…. Eu não…. Ninguém iria compreender – Os soluços foram abrandando e ficando praticamente inaudíveis.



-Mas tu não nos dizes, é de esperar que compreendamos…

-Não…. Vocês não…. Oh Mione, eu não posso nem quero contar nada a ninguém…. – Disse um pouco mais calma.

-Tens a certeza Gin? Tens a certeza que não seria melhor para ti se nós te soubéssemos como te ajudar?

-E é por isso…. Vocês não podem ajudar… - Ela tinha parado de chorar e restavam apenas algumas lágrimas que molhavam as suas bochechas.

-Se é assim que pensas…. Ninguém te pode obrigar a mudar de ideias…. Mas se algum dia quiseres desabafar, já sabes…..

-Brigado Mione….



Com um abraço final a morena saiu do quarto deixando Ginny entregue aos seus pensamentos. Assim que fechou os olhos a primeira cena que passou pela sua cabeça foi a primeira vez em que ela esteve realmente perto de Draco.



«-Onde vais? – Perguntou o loiro ou ver que ela se levantava.



Ela não respondeu, assim que estava em pé pegou um punhado de neve e atirou-o contra o loiro.



-Ah! Ruiva! – Ela começou a rir e desatou a correr, sabendo o que viria a seguir.



Draco levantou-se no mesmo instante e começou a correr atrás da ruiva, que ria mais do que nunca. Ela corria por entre as árvores, olhando de quando em quando para trás, verificando se o loiro corria atrás dela. Foi numa dessas vezes, enquanto olhava para trás, que tropeçou na raiz saliente de uma árvore e caiu no chão. Draco que corria próximo á ruiva acabou por cair também, em cima dela.

Ficaram assim por alguns segundos, que pareceram a eternidade, ela deitada, com as costas apoiadas no chão frio e ele em cima dela, os corpos totalmente colados e os rostos bastante próximos.



“Próximos de mais…” – Pensou a ruiva.



Ele olhava para ela duma maneira diferente, os olhos cinza brilhavam duma forma que ela nunca tinha visto antes. Os cabelos dele caíam para os olhos e para a face dela, tocando-a levemente.»





Enroscou-se na cama, aconchegando-se mais nas almofadas. Agora tinha a certeza, seria impossível deixar para trás todas as lembranças que tinha de Draco e tudo o que sentia por ele.





«Caminhou até á cama de Draco e afastou alguns fios loiros da face do rapaz. Tinha-se tornado um hábito, afastar aqueles fios loiros, tocar na pele fria dele e desejar que ele acordasse. Mas ele nunca acordava, continuava imóvel ou no máximo voltava ligeiramente a cabeça.



No entanto aquela manhã foi diferente, quando afastou os fios loiros da face do rapaz os seus olhos encontraram-se com os cinza dele»





«Mara dormia calmamente na sua cama, e a seu lado, sentado numa cadeira, estava Draco.

Ela praticamente correu até ele e atirou-se para os seus braços.



-Hei, hei, tem calma – Disse ele a sorrir.

-Tu não sabes como estava preocupada – Disse ainda abraçando-o com força, com a face enterrada no ombro dele – Houve um ataque na Diagon-Al, pensava que te tinha acontecido algo.

-Mas não aconteceu, eu estou aqui.»





Quanto mais tenta afastar Draco da sua cabeça mais pensamentos sobre ele surgiam.





«A ruiva entreteve-se a contemplar a enorme árvore de Natal e quando deu por si, Draco estava ao seu lado, com ambas as mãos atrás das costas.



-Tenho uma coisa para ti – Disse com um pequeno sorriso no canto da boca.

-Sério?



Ele apenas assentiu, passando uma das mãos para a frente do seu corpo revelando o seu conteúdo. Passou-lhe um pequeno botão de rosa, rosa-claro, que ela ergueu para cheirar.



-Obrigada – Disse sorrindo timidamente. Era a primeira vez que algum rapaz a presenteava com flores.

Draco inclinou-se levemente para a beijar. Ginevra fechou os olhos para sentir melhor o beijo e quando os abriu, já afastada de Draco, os seus olhos captaram apenas outro botão de rosa, desta feita, vermelho.



-Outra? – Perguntou a sorrir.

-Podia ficar toda a noite a dar-te flores e nunca seriam suficientes.»









«Draco apoiou o seu peso nos cotovelos e começou a roçar os seus lábios nos dela, provocando-a. Depois aprofundou o beijo mas ainda assim mantendo a suavidade e envolvimento.

Ficaram imenso tempo assim, deitados na neve, a trocar aqueles beijos calmos, sem se preocuparem minimamente com o que se passava á sua volta.

O loiro aprofundou o beijo ao sentir as pernas da rapariga a envolverem a sua cintura, assim como os braços dela a passarem por de trás do se pescoço e as mãos a acariciarem os seus cabelos, arrepiando-o. O beijo tornou-se assim mais possessivo, fervoroso, apaixonado.

Draco encaminhou os seus lábios para a lateral do pescoço alvo da rapariga, descrevendo, com pequenos beijos e leves mordidas, uma trajectória até á base deste.

Ginevra sentiu a respiração quente e acelerada do loiro no seu pescoço e de seguida os beijos e as mordidas que lhe proporcionavam ligeiros arrepios no estômago e na nuca.

Depois de descer até á base do pescoço de Ginny, Draco continuou a beijar levemente a pequena área descoberta do colo da ruiva, seguindo para a lateral do pescoço, contrária a que beijava anteriormente.»





«-Eu não sei se me quero lembrar…..

-E eu não sei se quero que te lembres….»







Talvez tivesse sido melhor que a memória dele não tivesse voltado, eles continuariam juntos e felizes.

Mas a quem é que ela estava a tentar enganar? É óbvio que a perda de memória não ia durar para sempre, e mesmo que durasse, ela viveria sempre numa mentira, sem saber se Draco gostava dela pelo seu jeito de ser ou porque ela fora a única a ajuda-lo.





«-Tua namorada? - Perguntou voltando-se para ele e encarando-o.

-É, namorada - Respondeu simplesmente.

-Desde quando?

-Desde agora.

-É de mim ou não ouvi nenhum pedido? - Perguntou divertida.

-Bem, não seja por isso. Ginevra, namora comigo.»





«-Como é que vai ser.... depois que tu te lembrares de tudo?

-Vai ser tudo igual.

-Como é que podes ter tanta certeza?

-Eu sei.... Só sei.... - Respondeu vagamente, beijando-a de seguida.»





Mas nada era igual, estava tudo tão diferente, tão distante. Se não fosse pelo anel que tinha no dedo pensaria que tudo não passara dum sonho, dum devaneio. Mas não, sempre que olhava para aquele anel tinha a confirmação da realidade, ela estivera e ainda estava apaixonada por Draco Malfoy.



Ela esteve por muito tempo, deitada na cama, na posição fetal, sem se mexer, apenas lembrando todos os momentos que passara juntos com ele, momentos esses que a cada segundo ficavam mais vivos na sua memória.





“In my memory

I can still see that face

In my memory

I can still hear the voice

I remember talkin' with you

The stories I could tell

In my memory, I remember you still



You gave the poet words to speak

you were the sun to warm my days

You put us in each others hands

You gave me love before I asked



In my memory

I can still see that face

In my memory

I can still hear the voice

I remember talkin' with you

The stories I could tell

In my memory, I remember you still



I feel my heart will surely break

I've taken all that I can take

You were the light for me to see

You were the sky that covered me



In my memory

I can still see that face

In my memory

I can still hear the voice

I remember talkin' with you

For hours by the well

In my memory, I remember you still



In my memory I can still see the eyes

In my memory

I can still feel your touch

I remember talkin' with you

The stories I could tell

In my memory, I remember you still



Memory – The Call”





Ergueu-se da cama com o intuito de ir até à casa de banho lavar o rosto, mas simplesmente não foi capaz. Era como se o seu quarto tivesse acabado de ser invadido por uma dúzia de Dementors que lhe provocavam um frio medonho e lhe sugavam toda a felicidade que lhe restava. No segundo seguinte tudo ficou escuro, e perdendo os sentidos não sentiu o forte embate contra o chão.





- - - - - Fim do 9º Capitulo - - - - -

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