O RESGATE DA JOVEM EM PERIGO



CAPÍTULO 9



 



O RESGATE DA JOVEM EM PERIGO



 



 



 



 



 



 



 



 



Naquela manhã, ao terminar seus exercícios, Janine saiu da academia e, como de costume, foi à área de alimentação do shopping, para tomar um Gatorade. Nesse momento um policial aproximou-se e disse:



 



_Srta. Sandoval? Fui incumbido de lhe entregar esta carta. _ e entregou um pergaminho, no qual ela reconheceu, imediatamente, a letra caprichada de Draco Malfoy e que dizia:



 



Janine, você está em perigo mortal. Deve sair de Londres agora e encontrar-se comigo em minha escola. Não confie em ninguém, exceto nesse policial e siga à risca as suas instruções. Ele vai lhe entregar uma moeda de ouro. Não se separe dela sob nenhuma circunstância. Sua bagagem já está na viatura policial. Ele a levará até a Estação de King’s Cross. Chegando lá, você deverá deixar que ele cuide de despachar sua bagagem e, exatamente às 10:45 h, deverá estar encostada na barreira que separa as Plataformas 9 e 10. Não se espante com o que quer que aconteça. Tudo dará certo e, o mais tardar, hoje à noite nos reencontraremos. Um beijo. Te amo.



 



Draco



 



Janine achou aquilo meio estranho, mas a letra de Draco era inconfundível no pergaminho. Ela perguntou ao policial:



 



_E como ficará a escola? O ano letivo já começou.



 



Ao que o policial lhe respondeu:



 



_Não se preocupe, Srta. Sandoval. A sua transferência para a escola do Sr. Malfoy já foi providenciada e toda a burocracia já foi cumprida. A senhorita usufruirá de uma bolsa integral, cortesia do Diretor, Alvo Dumbledore (e Janine, mesmo tendo ouvido esse nome pela primeira vez, automaticamente sentiu que deveria confiar). Chegamos a King’s Cross. Vou despachar a bagagem enquanto a senhorita. vai para a barreira. Está com a moeda?



_Sim, está aqui comigo.



Exatamente às 10:45h, Janine estava encostada à parede da barreira que separava as Plataformas 9 e 10, ainda estranhando um pouco as instruções. Mas nada poderia prepará-la para o que aconteceu a seguir.



 



A parede sólida contra a qual achava-se encostada de repente tornou-se evanescente e impalpável, como se desaparecesse e ela desequilibrou-se, indo parar do outro lado. Teria caído ao chão, se não fosse por...



 



_Pamela! O que você está fazendo aqui? Que lugar é este? Onde estão os outros trens? E esse trem clássico, com locomotiva a vapor? Plataforma 9 ½? Como pode existir esse número?



_Calma, Janine. Vamos por partes. Primeiro, estou aqui porque conheço este lugar e fui enviada por Draco.



_Mas você é minha amiga e não conhecia Draco até que eu os apresentei.



_Bem, na verdade não sou...



_Não é o que? Não é minha amiga?



_Sou sua amiga e te adoro desde que te conheci, Janine, mas o que eu quero dizer é que não sou nem nunca fui Pamela Worthington.



_???



_Ainda bem que não é semana de lua cheia, ou Remus não poderia me ajudar. Tivemos de estuporar meia dúzia de Death Eaters que estavam esperando na entrada do shopping para te raptar.



_Remus? Death Eaters? Estuporar? Me raptar? O que está acontecendo, Pamela?



_Calma, Janine. Vamos embarcar no trem que eu te explico.



Embarcaram e ocuparam uma cabine vazia, Janine estranhando os trajes dos passageiros e o fato de que todos olhavam para elas como se fossem seres de outro planeta.



_Vai me explicar agora, Pamela?



_Bem, para começar, meu nome não é Pamela Worthington e esta não é a minha aparência. _ e, diante dos olhos espantados de Janine, assumiu sua verdadeira forma, a de uma jovem com cabelos rosa-choque e um rosto em formato de coração. _ Meu nome é “Nymphadora Tonks” e Draco Malfoy é meu primo por parte de mãe.



Janine estava sem fôlego conseguindo, a muito custo, balbuciar:



_V-você m-m-mudou de apa-aparência, bem na minha frente!



_Sim, sou uma metamorfomaga, um tipo de bruxa que pode mudar de aparência, se transfigurar à vontade. Ah, o policial que te trouxe até aqui também era eu.



_E Draco? Ele também...



_Draco também é bruxo, mas não possui essa habilidade. Ele realmente te ama, garota. Só estava esperando o momento certo de lhe contar a verdade, sem chocá-la. Pena que os acontecimentos se precipitaram.



_Como assim?



_Draco falava sério na carta, quando disse que sua vida estava correndo perigo, Janine. Estamos contrabandeando você para Hogwarts, pois lá é o único lugar onde você estará a salvo d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado e de seus seguidores, Bruxos das Trevas, principalmente a sua tropa de elite, os Death Eaters.



_E Draco, qual a posição dele nisso?



_Draco rompeu com o lado das Trevas, por várias razões, mas principalmente por amor a você, Janine. O pai dele, Lucius Malfoy, não é apenas um bilionário excêntrico e misterioso. Essa é a fachada dele para os trouxas. Na verdade, ele é o braço direito do Lorde e está trancafiado em um presídio bruxo.



_Trouxas?



_É como são chamadas as pessoas não-mágicas no nosso meio. Por exemplo, se você não estivesse com a moeda, não passaria a barreira. Somente bruxos ou trouxas autorizados podem atravessá-las. A moeda é como se fosse um passaporte.



_E quem é esse líder dos Bruxos das Trevas?



_Poucos têm coragem de dizer seu nome, ainda mais agora que ele retornou. Eu mesma ainda estou me acostumando. O nome dele é “Voldemort”.



_Que estranho, em francês significa “Vôo da Morte”.



_É um anagrama do seu nome verdadeiro, Tom Marvolo Riddle, “I am Lord Voldemort”. Ele causou tanto terror no passado, que a maior parte dos bruxos evita pronunciar o seu nome.



_Mas o medo de um nome só aumenta o medo da coisa.



_Por isso há pessoas que tentam evitar que ele cause medo apenas com sua lembrança e combatem-no abertamente. Dumbledore é um deles.



_Tonks, me diga o que está acontecendo, de verdade.



_Está havendo uma guerra entre bruxos do bem e do mal, Janine. Já estão ocorrendo baixas em ambos os lados e, infelizmente, os trouxas estão sendo pegos no fogo cruzado. Está com fome? O carrinho de comida está vindo aí.



_Sim, estou. Mas meu dinheiro...



_Sei, além de ele estar na bagagem, não é o adequado. Libras esterlinas devem ser trocadas por galeões (moedas de ouro), sicles (moedas de prata) e nuques (moedas de bronze), dinheiro de bruxo. Tomei a liberdade de abrir uma conta para você em Gringotes e transferi parte de seu dinheiro para lá.



_Gringotes?



_O banco dos bruxos, administrado por duendes. Bem, vamos ver alguma coisa para nós.



 



Janine estava com fome e comeu com excelente apetite o pastelão e apreciou o suco de abóbora. Divertiu-se com os sapos de chocolate e iniciou sua coleção de cards com Alvo Dumbledore, Nicolau Flamel e Paracelsus, admirando o fato de que as pessoas retratadas moviam-se nas fotos. Teve sorte e não pegou nenhum sabor excessivamente exótico nos Feijõezinhos de Todos os Sabores. Tonks explicou a ela muita coisa do mundo dos bruxos, até onde poderia ir sem ferir o Estatuto de Sigilo em Magia e, ao anoitecer, estavam chegando em Hogsmeade. Na plataforma, foi recepcionada por Hagrid e ficou impressionada com o tamanho do meio-gigante. Tonks disse:



 



Nos veremos no castelo. Por tradição, todo aquele que vem pela primeira vez a Hogwarts faz a travessia do lago, conduzido por Hagrid. Eu subirei de coche.



_Aquele lá, puxado por aquele bicho que parece um cruzamento de cavalo com dragão?



_Sim, é um Testrálio, mas... espere, sendo trouxa você não deveria poder enxergar o Testrálio. Mesmo tendo presenciado a morte de seu pai, como me disse. Trouxas não enxergam criaturas mágicas, até onde eu sei.



_Desde criança vejo coisas diferentes das outras pessoas. Quando estava triste ou deprimida, parecia ver um vulto encapuzado perto de mim. O mais estranho é que, quando eu comia chocolate, meu humor melhorava e ele sumia. Sempre fiz segredo disso, para que não pensassem que era louca.



_Caracas! Você então já encontrou dementadores e saiu ilesa. Tem certeza de que não há bruxos em sua família? _ espantou-se Hagrid.



_Pelo que Dumbledore disse, não há. Mas ela, sem dúvida, é especial. Até logo, Janine. Nos veremos lá em cima. E embarcou no coche. Janine embarcou no bote, com Hagrid ao leme e os dois se foram a deslizar pelo lago, conversando e satisfazendo a curiosidade de Janine, até onde era permitido.



 



No Salão Principal todos estranhavam a demora do jantar, até que Dumbledore fez uso da palavra:



 



_Alunos e professores de Hogwarts. Hoje inauguraremos uma experiência inédita neste estabelecimento de ensino. Pela primeira vez, em mais de mil anos, Hogwarts receberá um aluno trouxa em seu corpo discente. _ murmúrios, cada vez mais altos, fizeram-se ouvir pelo salão. _ mas não se iludam, senhoras e senhores. Essa pessoa, embora não tenha nascido com poderes mágicos, revelou qualidades tais que, dentre todos os trouxas do mundo, foi escolhida. Só nos resta agora aguardar a sua chegada e, a seguir, proceder à sua Seleção.



 



No mesmo instante, as portas se abriram e Janine entrou, vestindo o uniforme de Hogwarts, mas com o capuz das vestes cobrindo-lhe a cabeça. Acompanhada por Hagrid, atravessou o Salão e postou-se à frente do banquinho, ainda de costas para as mesas dos alunos. A um sinal de Dumbledore, virou-se para as mesas, sentou-se no banquinho e tirou o capuz. Draco sentiu seu coração acelerar mas, conforme havia sido instruído por Dumbledore, tentou disfarçar o mais que pôde. A Profª McGonnagall trouxe o Chapéu Seletor e anunciou:



 



_Janine Sandoval, para o sexto ano, por transferência de um estabelecimento de ensino trouxa de altíssimo nível, em Londres. Procedamos à sua seleção. _ colocou o chapéu na cabeça de Janine e a voz dele se ouviu:



_Humm... você parece possuir um perfil semelhante ao de um rapaz que eu selecionei há seis anos _ e Harry ficou alerta ao ouvir aquilo _ Determinação, obstinação, astúcia, inteligência e capacidades mentais privilegiadas. Um coração meigo, bondoso e romântico. Não teme o perigo, pratica esportes radicais, perita em artes marciais, supera limites. Uma rara combinação, com um perfil que se enquadraria perfeitamente na Sonserina, na Corvinal ou mesmo na Lufa-Lufa. Mas considero que a sua parte dominante a torna mais indicada para fazer parte da... GRIFINÓRIA!



 



A mesa dos leões trovejou em aplausos e Janine desceu do banquinho, devolvendo o Chapéu Seletor à Profª McGonnagall e sendo conduzida por ela à mesa da Grifinória, sentando-se à frente de Hermione e Rony e ao lado de Gina, que a cumprimentou amigavelmente, apresentando-a aos Inseparáveis e aos outros colegas da Casa. Harry ficou bastante surpreso ao reparar que, à mesa da Sonserina, Draco Malfoy estava com os dedos cruzados e exibia um sorriso e uma expressão no rosto, na qual mesclavam-se a felicidade e o alívio.



O jantar foi servido e depois dele Janine conversou animadamente com os Inseparáveis, principalmente com Hermione que, tendo nascido trouxa, tinha mais desenvoltura. Para Janine tudo aquilo era uma novidade bastante agradável. Descobrira que ainda existiam bruxos de verdade no mundo, que nem todos eram maus e que amava um deles, sendo correspondida. Por orientação de Tonks, optou por fazer segredo disso, até que fosse a hora. Após o encerramento do jantar, todos foram para suas Casas, Janine seguindo-os para a Torre da Grifinória. Admirou-se quando a Mulher Gorda liberou sua passagem, após ouvir a senha (“Luz nas Trevas”). Entraram e sentaram-se nas confortáveis poltronas em frente à lareira e continuaram a conversa:



 



_Tonks me falou de você, Harry. Disse que já enfrentou Voldemort várias vezes e sobreviveu.



_Tive bastante ajuda, desde o primeiro ano. Rony e Hermione sempre estiveram comigo e, da última vez Gina, que agora é minha namorada, Neville e Luna juntaram-se a nós. Falando nisso, cadê o Neville?



_Deve estar matando a saudade da Luna. Hoje eles não se viram o dia inteiro... _ disse Rony, com um sorriso.



Mas deve haver um outro motivo para você estar aqui, Janine. _ disse Hermione. _ Não pode ser somente uma nova experiência educacional de Dumbledore.



_É impossível tentar enganar você, Hermione, já me disseram. _ Janine sorriu e continuou _ Na verdade, além do privilégio de estudar aqui, o Prof. Dumbledore está me concedendo santuário e asilo. Estou sendo perseguida pelos Death Eaters.



_Mas por que? O que os Death Eaters podem querer com você? _ perguntou Harry.



_Esta resposta eu posso e devo lhes dar, Harry, mas não aqui. Entrem na lareira e venham à minha sala. _ disse Dumbledore, sua cabeça surgindo nas chamas da lareira e surpreendendo a todos.



 



Na sala do Diretor, Dumbledore explicou:



 



_Janine é cem por cento trouxa, mas possui dons extraordinários. Basta dizer que ela pode enxergar seres mágicos. Tonks quase caiu de costas quando ela falou dos Testrálios e dementadores. Acredito que ela seja um tipo raro de paranormal, que ainda não desenvolveu seus dons. Vamos ajudá-la nisso. Além disso, os Death Eaters estão atrás dela para poderem pressionar seu namorado a aliar-se a eles.



 



_E quem é o namorado de Janine, professor? _ perguntou Rony, curioso.



_Eu. _ disse Draco Malfoy, saindo de trás de uma coluna.



 



Foi como se uma bomba explodisse. Os Inseparáveis ficaram aturdidos com a revelação. Draco explicou:



 



_Resolvi romper com o lado das Trevas, pois tomei consciência de que o pior que poderia acontecer para o mundo seria uma vitória de Voldemort. Toda a cultura trouxa iria se perder. Além disso, querem me pressionar a juntar-me aos Death Eaters e receber aquela maldita Marca Negra após sacrificar Janine, como prova de lealdade. Que se danem. Jamais me renderei à Magia Negra. Este Malfoy aqui é um renegado, aos olhos dos meus antigos companheiros. Sei que fiz muitas coisas erradas nesses anos, inclusive algumas que o prejudicaram, Potter. Queria me retratar por elas e pedir seu perdão. Sei que, provavelmente, jamais chegaremos a ser amigos mas, para mim, é suficiente e importante que não nos consideremos mais como inimigos. Uma vez, no primeiro ano, estendi minha mão dizendo que poderia ajudá-lo a não se juntar às pessoas erradas, quando eu mesmo era a pessoa errada. Agora estendo-a, novamente, mas para pedir que me aceite entre as pessoas certas. Sinto muito por Sirius. Pensei que tivesse, por omissão, contribuído para que você o perdesse, mas o Prof. Dumbledore me disse que já tinha ciência do plano de Voldemort quanto à profecia. Tive raiva de você pois, por mais canalha que seja um pai, nenhum filho gostaria de ver o seu encarcerado. Mas, depois da visita que fiz a ele em Azkaban, vi que ele está irremediavelmente perdido para as Trevas, tão ou mais fanático do que um terrorista trouxa do Setembro Negro ou coisa parecida, elevando a devoção a Voldemort ao status de religião. Esse é um caminho que não pretendo seguir. Também queria pedir perdão a você, Granger, por todas as coisas ruins e ofensivas que eu lhe disse desde que nos conhecemos, chamando você de “sangue-ruim” e de outras coisas horríveis, além de ter desejado o seu mal por diversas vezes. Quanto a vocês, Gina e Rony Weasley, eu os tratei como lixo em várias ocasiões, dizendo que vocês envergonhavam o nome dos bruxos quando, na verdade, eu e minha família é que éramos a encarnação da vergonha, principalmente meu pai. Ele fingia-se de pessoa correta quando, na verdade, era um bandido, um viciado em torturas. Ele contava isso em casa, com o maior prazer. Quando criança eu não entendia. Ao crescer, pensava que ele estava certo. Depois comecei a questionar e descobri quem ele realmente é. Os olhos dele brilhavam quando ele falava das monstruosidades cometidas. Eles ainda disseram que eu deveria seguir os passos de meu pai. De maneira alguma. Vão esperar até que os vermes criem dentes.



 



Admirado com as palavras sinceras de Draco, Harry estendeu a sua mão e apertou a que lhe era oferecida, dizendo:



 



_Você demonstrou sinceridade e eu aceito, incondicionalmente, suas desculpas. É bom não considerá-lo mais como um inimigo e acredito que, um dia, possamos chegar a ser amigos. No momento me basta sabê-lo um aliado. Adversários agora, só no Quadribol.



 



Satisfeito com aquela celebração de paz, Dumbledore falou:



 



_Agora temos de planejar o que vamos fazer, para que Draco não seja iniciado. Primeiro, você deverá passar os feriados de Natal em Hogwarts. Quando sua mãe se manifestar, aí será o momento de dar conhecimento a ela do seu rompimento. A reação, acredito, não será das melhores. Possivelmente, sua mãe irá querer transferi-lo para Durmstrang, mesmo lá não sendo mais uma escola que enfatiza as Artes das Trevas. Não permitiremos, eu tenho meios para isso. Quando a notícia correr, Draco, você será execrado pela maior parte dos colegas e isso será útil, pois poderá nos ajudar a identificar quem, na Sonserina, tem ligação com as Trevas. Agora, retornem para suas Casas. Amanhã veremos o que mais deverá ser feito. Boa noite.



Boa noite, professor. _ e, entrando pela lareira, os grifinórios retornaram à sua Sala Comunal. Draco permaneceu um pouco mais.



_Obrigado, Prof. Dumbledore. Sei que, com o meu passado e minhas origens fica difícil confiar em mim.



_Draco, jamais se esqueça de que somos o resultado de nossas escolhas e não apenas de nossas origens. Agora vá descansar.



_Boa noite, professor. _ e, entrando na lareira, transportou-se para a Sonserina.



_Boa noite, Draco. _ com um sorriso nos lábios, Dumbledore considerou-se satisfeito por enquanto. Redimindo Draco Malfoy ele, além de recolocar o loiro de volta no caminho certo, tirara de Voldemort um poderoso potencial aliado. (“Jamais subestime o poder do amor”,  pensou em voz alta). E também foi se recolher.



 



Janine acompanhava, com relativa facilidade, a parte teórica das aulas. Na parte prática, sendo trouxa, não executava os feitiços e encantamentos mas prestava atenção nos movimentos e palavras empregados para sua execução. O Prof. Flitwick simpatizou imediatamente com a garota, contando-lhe a história de como os principais feitiços foram criados e como muitas experiências não deram certo ou deram resultados bizarros:



 



_E quando Ediberto o Gago foi pronunciar a fórmula do feitiço de mudança de roupas, gaguejou e disse: Indumentaria ca-ca-cambio! Não preciso nem dizer no que foi que a roupa dele se transformou. _ todos deram risadas e cuidaram de executar corretamente os feitiços propostos. Naquele dia estavam aperfeiçoando os feitiços conjuratórios, que também eram aprendidos nas aulas de Transfiguração com a Profª McGonnagall e seriam importantes para os N.I.E.Ms, no ano seguinte.



 



Ela gostou bastante de Defesa Contra as Artes das Trevas. Naquele dia, Mason estava dando continuidade às aulas sobre vampiros:



 



_Um vampiro torna-se mais perigoso à medida em que se alimenta, pois fica mais poderoso a cada vítima feita. Seu verdadeiro alimento não é o sangue, mas a vida, a energia vital da pessoa. O sangue é apenas o seu veículo, pois circula por todo o corpo. Uma pessoa pode também tornar-se um vampiro por opção, provando do sangue de um, dado espontaneamente. Esses são ainda mais perigosos, pois já nascem poderosos.



 



Janine levantou a mão e perguntou:



 



_Prof. Mason, o que há de verdade e de mito nos métodos de destruição de vampiros? Há algum fundamento naquilo que aparece nos filmes e livros trouxas?



_Sim e não, Srta. Sandoval. A luz do sol os destrói completamente, podendo ser reproduzida com uma varinha, executando um Feitiço Lumus solaris, mas isso gasta muita energia e não é qualquer bruxo que consegue. A prata, devido à sua pureza, lhes provoca ferimentos que não cicatrizam, causam graves hemorragias neles e que, se atingirem o coração, são instantaneamente fatais. A madeira deve ser benta para que a estaca surta efeito. O alho possui uma substância, a alicina, que é responsável pelo cheiro, a qual provoca uma violenta reação anafilática, onde o vampiro pode chegar a explodir se o alho atingir a corrente sangüínea. Mesmo o cheiro do alho já os mantém à distância. Eles abominam símbolos religiosos, mas para que um deles o queime, a pessoa precisa ter fé. Uma estrela de Davi não surte efeito, se empunhada por um cristão, assim como uma cruz é inerte nas mãos de um muçulmano. Embora Deus seja um só, a convicção religiosa e a fé que cada um tem n’Ele é que energiza o símbolo. Para repousarem, precisam de terra de seu lugar natal. Só podem atravessar água na mudança da maré e só entram em um local estranho quando convidados. A maior parte do que o Sr. Stoker relatou no seu livro é verdade. Alguma coisa foi mistificada e glamurizada por Hollywood para dar clima aos filmes, mas os vampiros existem e ninguém está livre de se ver atacado por um que esteja faminto.



 



A aula terminou e os Inseparáveis, acompanhados de Janine e Draco, ajudavam Mason a guardar o material e conversavam sobre feitiços conjuratórios. Haviam, sobre a mesa, umas três varinhas daquelas especiais, revestidas com liga de Mirtheil, fabricadas pelo Sr. Olivaras. Janine as estava recolhendo para uma caixa, a pedido de Mason e comentava com Hermione:



 



_Então quer dizer que depende de concentração e de formar mentalmente a imagem detalhada do que se quer conjurar, executando o movimento certo e o objeto conjurado se materializa, não é?



_Isso mesmo, Janine. _ disse Hermione. _ E é difícil, sendo um feitiço de grau avançado. É muito pedido nos exames de N.I.E.M.



_Então se eu quisesse um chimarrão...



_Chimarrão? _ perguntou Rony, intrigado.



_Uma bebida típica da minha terra, Rony. Infusão de folhas secas e moídas de erva-mate, colocadas em uma cuia feita da casca de uma fruta, chamada porongo, também conhecida como cabaça, na qual adiciona-se água quente e toma-se, sugando por uma bomba metálica. Mas, como eu dizia, se eu quisesse conjurar um chimarrão, bastaria ter uma varinha, _ e, distraidamente, pegou uma das três que estavam sobre a mesa _ me concentrar, executar o movimento correto e dizer: “Illex! Thermo! e depois seria só matear tranqüila... gente, não me assustem assim. O que estão olhando?



 



A varinha na mão de Janine emitia um brilho azulado , lançando pequenas faíscas de sua ponta e, sobre a mesa, estavam uma garrafa térmica, com o vapor saindo por sua tampa semi-aberta e uma cuia, com bomba e tripé, dentro da qual a erva-mate estava acondicionada, pronta para ser cevada.



Janine Sandoval, garota cem por cento trouxa, fora aceita como senhora de uma varinha de liga de Mirtheil e, sem perceber, havia executado um feitiço dos mais difíceis. Todos à sua frente, inclusive Draco Malfoy e Derek Mason olhavam para ela, boquiabertos, sem conseguirem articular uma única palavra.



Antes mesmo que chegassem ao gabinete do Diretor a notícia já havia corrido por toda a escola, como era de costume:



 



_O que? Janine, da Grifinória?



_É, a garota trouxa.



_O que foi que ela fez?



_Conseguiu executar um feitiço.



_E não é só isso. Um feitiço conjuratório dificílimo.



_O que foi que ela conjurou?



_Uma bebida lá da terra dela, um tal de chimarrão. Dizem que faz muito bem à saúde.



_Mas como? Varinhas não obedecem a trouxas.



_Parece que era uma varinha diferente, especial para Aurores, revestida de metal.



_Que interessante. Será que ela pode manifestar poderes mágicos?



_Não sei. Estavam indo para a sala do Prof. Dumbledore.



 



No gabinete do Diretor, até mesmo Dumbledore mostrava-se admirado. Nunca um trouxa havia conseguido executar sequer um Lumus mínima com uma varinha. Elas simplesmente não reagiam, assim como outros objetos mágicos.



 



_Você então realizou o feitiço, mesmo não tendo nenhum poder mágico?



_Sim, professor. Eu simplesmente fiz como ensinado nas aulas.Me concentrei no objeto, detalhadamente, fiz o movimento e pronunciei a fórmula mágica. Em seguida eles me mostraram os objetos materializados. _ explicava Janine que, para não desperdiçar a água quente, tomava o chimarrão conjurado, oferecendo-o depois a Dumbledore, que o tomou, dizendo:



_Excelente qualidade. Me lembra quando visitei a Escola de Magia Sepé Tiaraju, na região das Missões, lá na sua terra.



_O que o senhor acha que aconteceu, professor? _ perguntou Hermione.



_Acredito, Srta. Granger, que foi um conjunto raro de fatores: o fato da Srta. Sandoval ser paranormal, sua extraordinária capacidade mental, sua força de vontade e sua determinação, o material da varinha conter liga de Mirtheil, metal que aceita um senhor pelas suas qualidades pessoais, independente de ser bruxo ou trouxa e isso reforça uma teoria, na qual venho trabalhando há alguns anos.



_E qual seria, professor? _ perguntou Draco, curioso.



_Acredito, Sr. Malfoy, que todos os seres humanos possuem potencial para a magia. Alguns têm bruxos na família e manifestam-na espontaneamente durante a infância. São os nascidos bruxos puro-sangue ou mestiços. Outros nascem trouxas e manifestam os dons mesmo sem terem ancestrais bruxos. É o caso da Srta. Granger. Paranormais como a Srta. Sandoval nascem trouxas e podem não manifestar os dons na infância, necessitando de algum estímulo ou treinamento. E, por fim, temos aqueles que não manifestam os dons de magia, mantendo-os latentes por toda a vida. Esses sim, são os verdadeiros trouxas.



_Que teoria interessante, professor. _ disse Harry _ e o que faremos agora?



_Bem, a Srta. Sandoval irá acompanhar a turma, obviamente, levando-se em consideração que necessitará de reforço nas aulas.



_Pode contar com todos nós. _ afirmou Rony, com a concordância de todos.



_Outra coisa, Harry, é que acho que a AD deverá ser acrescida de mais dois membros.



_Tem razão, professor. Se Malfoy é um potencial alvo dos Death Eaters, precisará aprender defesa pessoal. Janine não terá dificuldades, pois é perita em artes marciais.



_Vocês reativaram a AD, Potter? _ perguntou Draco, admirado.



_Sim, Malfoy. Surgiu uma grande necessidade de nos defendermos. Prepare-se para suar a camisa.



 



À noite, durante a sessão de treinamento da AD, o Prof. Dumbledore entrou na Sala Precisa, acompanhado de Janine e Draco. Estavam todos assistindo a uma demonstração de Harry no tatame, contra três adversários. Michael Corner atacou com um Yoko-geri, ao que Harry agachou-se e, girando o corpo no chão, aplicou uma tesoura que fez com que Michael caísse chapado de costas. Imediatamente apontou a varinha e o estuporou. Ainda agachado, executou um movimento de capoeira, conhecido como Macaco e acertou Ernest McMillan com os pés no peito, desequilibrando-o. Aproveitando-se da distração do colega, gritou: Incarcerous! McMillan ficou amarrado dos pés à cabeça. Seu último adversário, Rony, que era tão bom quanto ele, saltou a uma altura de uns dois metros, descendo em um fulminante Mawashi-tobi-geri que teria arrancado a cabeça de Harry, se ele também não tivesse saltado e atingido Rony com um Ushiro-kakato, seguido de um Uraken no lado da cabeça, que quase gerou faíscas. Com a desorientação de Rony, foi relativamente fácil para Harry utilizar um Feitiço do Corpo Preso, petrificando Rony e encerrando o exercício de Ninjutsu-Bruxo Avançado, cujos combates eram sempre terríveis e costumavam deixar os combatentes meio contundidos.



Dumbledore e Janine aplaudiam entusiasticamente, enquanto Draco estava de olhos arregalados, sem conseguir articular uma palavra, diante da demonstração das habilidades de Harry. Somente depois que Harry reverteu os feitiços, libertando os colegas, foi que os outros perceberam a presença dos recém-chegados, espantados pelo fato de Draco Malfoy estar ali. Dumbledore explicou:



 



_O Sr. Malfoy tornou-se um alvo em potencial para o Partido das Trevas e precisa aprender a se defender um pouco melhor. A Srta. Sandoval já é perita em artes marciais, tendo plenas condições de acompanhar a turma.



Para variar, o antipático Zachary Smith tratou de dar o seu palpite azedo:



_Mas, professor, com o passado do Malfoy... e foi imediatamente interrompido pelo próprio.



_Smith, isso era para ficar em segredo por enquanto mas logo todos vão ficar sabendo. Não quero nada com o pessoal do Voldemort. Rompi com o lado das Trevas, tendo sido o fato de ter começado a namorar Janine Sandoval um dos principais motivos. Eles estão atrás dela, querendo que eu a sacrifique em alguma estúpida cerimônia de iniciação, para provar lealdade a eles e receber aquela horrenda Marca Negra, para virar gado daquele cretino. Idiotas. Vão esperar até que o Inferno congele (o murmúrio foi geral: “O que o amor não faz com uma pessoa”).



_Se o Sr. Malfoy precisa começar a aprende artes marciais, que seja agora. _ disse Mason _ Só que com esses trajes não vai dar. “Indumentaria cambio!” _ e as vestes de Draco e de Janine foram transfiguradas em trajes Ninja, com os brasões das Casas do lado esquerdo do peito. Em seguida, encarregou-se pessoalmente de treinar Draco, enquanto que Janine acompanhou o restante da turma. Luna achou oportuno comentar:



_Agora a AD representa Hogwarts, inteiramente.



 



Era verdade. Com a inclusão de Draco Malfoy, da Casa Sonserina no grupo, finalmente as quatro Casas de Hogwarts faziam parte da AD.



 



Alguns dias depois, logo após o último treino para o primeiro jogo de Quadribol, Grifinória vs Lufa-Lufa, Harry e Janine conversavam, em voz baixa:



 



_Tem certeza? Está disponível?



_Desde hoje de manhã. Vai ser uma surpresa e tanto.



_Draco e Gina não podem saber. Pelo menos não até o último momento.



_Barbaridade, tchê! Todos vão tomar um susto.



_Então, tudo certo. Hoje, às 19:00 h, na Sala Precisa.



 



Uma voz, carregada de veneno, se fez ouvir:



 



_Então o Sr. Santinho do Pau-Oco Potter não perde tempo, não é? Cansou da sua enferrujada Weasley ou é só para tomar a namorada do Malfoy?



 



Janine mediu a chinesa de cima a baixo e perguntou a Harry, quase como se ela não estivesse ali:



 



_Harry, quem é essa guria?



_Chang Cho-Yen, do sétimo ano, Casa Corvinal. Chegamos a namorar por um tempo, no ano passado. Por sorte rompemos, antes que eu descobrisse, da pior maneira, quem ela é. _ Harry continuava utilizando o tratamento formal para falar de e com Cho, deixando bem claro o desagrado que a presença dela lhe proporcionava.



_Mas não muda o fato de que eu os peguei em uma atitude muito suspeita. Imagine se eu dissesse isso ao Malfoy.



_Dissesse o que, Chang? _ perguntou Malfoy, que havia chegado sem que Cho percebesse _ Pensei que sua família fosse suficientemente rica para que você não precisasse substituir o Filch, fazendo o trabalho de leva-e-traz, que é dele. _ Mesmo do lado do bem, o senso de humor de Draco permanecia corrosivo.



_Peguei esses dois aqui cochichando sobre uma surpresa para hoje à noite, da qual você e a Weasley não poderiam saber até a última hora. _ Gina estava chegando e entrou na conversa:



_É aquilo que você comentou comigo ontem, Harry?



_Exatamente. Janine disse que já está disponível. Queríamos fazer surpresa até hoje à noite...



_...Mas essa lambisgóia enxerida conseguiu estragar nosso plano. _ completou Janine. _ De qualquer maneira, somente a surpresa se perdeu.



Gina bateu palmas e disse:



_Que bom! Vou avisar a Luna. Ela e o Neville vão adorar.



 



Cho estava parada no meio dos casais, sem entender nada. Pensava que dera um flagrante em Harry e Janine pulando a cerca e agora estava no meio de uma conversa cruzada que, para ela, não tinha o menor nexo.



 



_Curiosa, Chang? _ perguntou Draco.



_Nós até a convidaríamos. _ disse Janine. _ Só que é um programa para casais.



_Mas eu garanto que ela não teria dificuldade para conseguir um par. Alguém simpático, com que ela tivesse afinidade. _ comentou Harry.



_É. _ finalizou Gina _ Alguém como, por exemplo, Fabian Sheldrake. _ e olhou para Harry, os dois quase roxos de tanto tentarem abafar o riso.



 



Cho, lembrando-se da armação na Torre de Astronomia, da qual Sheldrake apagara sua lembrança do soco que havia levado, afastou-se do grupo, olhando para Gina e murmurando, em chinês:



 



_爱尔兰生锈,马铃薯头!你不会失去等待! (Irlandesa enferrujada, cabeça de batata! Você não perde por esperar!).



 



Imediatamente, Janine atalhou Cho dizendo para ela, também em um chinês fluente, ante os olhares espantados dos amigos:



 



近距离,宫保鸡丁。或者,你会看到我,你会怀念你的镜头吉娜了,那里的垫子。 (Te fecha, frango xadrez. Ou tu vais te ver comigo e vais ficar com saudades das bochas que levaste da Gina, lá no tatame.).



 



Cho Chang calou a boca e se mandou, enquanto Draco comentou:



 



_Não sabia que você falava chinês.



_Só mandarim. Quando eu era criança, meu pai servia em Brasília e era da Segurança Presidencial. Fiquei amiga da filha do cônsul chinês. Ela estava muito deslocada e não falava nada de português. Cada uma de nós ensinou seu idioma à outra. Não nos largávamos, até que nossos pais foram transferidos. Ela voltou para a China e eu fui para os EUA. Até hoje nos correspondemos.



 



Às 19:00 h, todos estavam na Sala Precisa, onde o Home Theater trouxa havia sido recriado, com a diferença de que, em vez de poltronas, havia várias almofadas bastante fofas pelo chão. Recostaram-se nelas e Harry ligou o DVD. O símbolo da Warner Brothers apareceu na tela e a música de abertura de Casablanca se fez ouvir. Assistiram ao filme inteiro e, após o seu final, Harry foi trocar o DVD, dizendo:



 



_A verdadeira surpresa vem agora. Como Neville, Luna, Gina e Rony ainda não haviam assistido “Casablanca”, tivemos de exibi-lo primeiro. Um escritor trouxa, chamado Michael Walsh, escreveu um livro que é reconhecido como a continuação oficial, intitulado “As Time Goes By”, cuja adaptação cinematográfica recentemente tornou-se disponível, podendo ser recriada pela Sala Precisa. Agora vamos saber quem era Rick Blaine, porque ele não pode voltar aos EUA e o que aconteceu depois que o avião com Ilsa e Laszlo foi para Lisboa. _ Colocou o DVD e todos assistiram ao filme, impressionados com a devoção de Laszlo à sua causa, tendo chegado ao ponto de matar Renault. Ficaram quase sem fôlego, em suspense, durante o atentado contra Heydrich, sofreram junto com Rick, quando ele teve de abandonar seu país e vibraram, contentes, quando o amor de Rick e Ilsa finalmente triunfou. Ao término do filme, Draco disse:



_Obrigado, Janine. Obrigado, Potter. Essa foi uma das melhores surpresas dos últimos tempos. Agora é melhor que desçamos, antes que o Filch venha nos incomodar. Valeu mesmo. Muito obrigado.



 



Desceram para suas Casas, evitando Filch. Recolheram-se, pois precisariam estar descansados no dia seguinte, para o...



 



QUADRIBOL!!! A competição entre as Casas tivera início, com o jogo entre Grifinória e Lufa-Lufa. Antes do início da partida, Harry pedira a Madame Hooch para que se fizesse um minuto de silêncio em homenagem a Cedric Diggory. Logo após, a torcida da Lufa-Lufa desdobrou um enorme retrato dele, que ficou dependurado da arquibancada, saudado pelos aplausos dos alunos de todas as Casas... exceto da Sonserina, como sempre.



Janine e Draco ficavam tristes por terem de assistir ao jogo separados, mas não podiam, ao menos por enquanto, aparecerem juntos. Além disso, com a tradicional rixa Grifinória/Sonserina, todos iriam estranhar. Se bem que já houvesse gente na Sonserina desconfiada de que alguma coisa rolava entre Draco Malfoy e “aquela leoa trouxa”, como muitos sonserinos referiam-se a ela. Principalmente Pansy Parkinson, que estranhara o fato de Draco haver afastado-se dela, procurando mesmo evitá-la. Pansy não tinha nada de boba e tinha certeza de haver coelho naquele mato.



Com um silvo de apito, Madame Hooch dera início à partida. Gina, que agora era artilheira, estava de posse da goles. Com a aproximação de Anna Abbott, que entrara para o time da Lufa-Lufa, passou-a para Gilmore, do terceiro ano, que estava estreando no time. Os texugos começaram a persegui-lo mas ele, executando uma Manobra de Ploy, deixou a goles cair nas mãos de seu companheiro de equipe, O’Toole, o qual passou-a de volta para Gina, que lançou a bola, certeira, no aro da direita, impossível de ser defendida por Caulfield, o goleiro.



 



_Gol da Grifinória! _ Anunciou Sheldrake, que havia assumido a narração dos jogos, depois da formatura de Linus Jordan. _ Os leões abrem o placar com dez pontos. Ainda não houve nenhuma manifestação dos apanhadores. Parece que o pomo de ouro está meio tímido hoje. _ Apesar de sonserino Sheldrake era, como disse Harry, um dos poucos caras mais ou menos decentes daquela Casa, sendo um ótimo narrador e comentarista.



 



Harry sobrevoava o campo, atento, procurando por qualquer reflexo que denunciasse a posição do pomo, o que o apanhador da Lufa-Lufa, Malone, também fazia em outra parte do campo. A partida continuava e Gina estava, novamente, de posse da goles, com a Grifinória liderando a partida com um placar de trinta a dez. Passou por Harry, dirigindo-se para cima em uma velocidade vertiginosa, perseguida pelos adversários e esquivando-se dos balaços lançados pelos batedores. Harry pensou: “O que ela está planejando?” Enquanto isso a voz de Sheldrake, magicamente amplificada com um Feitiço Sonorus, continuava a narrar:



 



_Weasley de posse da goles, subindo a uma grande altura com os artilheiros da Lufa-Lufa no seu encalço. Esperem, aconteceu alguma coisa e ela está caindo como uma pedra! Já está abaixo dos artilheiros texugos e... eu não acredito! Recuperou o controle da vassoura, avançou para o gol, fintou Caulfield e marcou no aro central! Aquela queda foi uma finta, senhoras e senhores! Ela cortou a força da vassoura a uma grande altura e, quando desceu abaixo dos adversários, acionou novamente, ficando livre para marcar enquanto os texugos tentavam mudar de direção. Eu creio que poderemos batizar essa jogada arriscada de “Manobra Weasley”. Quarenta a dez para a Grifinória.



 



Ainda admirado com a coragem e criatividade de sua namorada, Harry prestou atenção em um ponto próximo dos aros da Grifinória. Era o pomo de ouro. Apontou sua Firebolt naquela direção e iniciou a caçada. Malone seguiu atrás dele em sua Cleansweep-12 uma excelente vassoura, mas não tão veloz ou facilmente manobrável quanto a Firebolt, principalmente quando montada por Harry Potter. O pomo deslocava-se, velozmente, com Harry no seu encalço e, logo atrás dele, Malone montado em sua Cleansweep, parecendo um raio amarelo e chegando cada vez mais perto de Harry e do pomo, cada vez mais perto, mais perto... mas não o bastante.



A mão direita de Harry fechou-se sobre o pomo, quando estava com menos de meio corpo de vantagem sobre Malone. Subiu, com o pomo seguro na mão, descendo até o meio do campo e desmontando da vassoura, com o braço direito erguido. Em seguida abraçou os outros jogadores da Grifinória, dando um cálido beijo em Gina, debaixo dos assobios e aplausos da platéia. Então ao ver Malone, que havia acabado de aterrissar e desmontar da vassoura, desvencilhou-se dos companheiros, foi até o apanhador adversário e abraçou-o, cumprimentando-o pela lealdade no jogo, característica marcante dos membros da Lufa-Lufa.



Naquele instante o estádio quase veio abaixo, pois os aplausos dobraram de intensidade. Aquele era Harry Potter. Um competidor feroz, porém repleto de espírito esportivo.



A festa na Sala Comunal da Grifinória enveredou noite adentro. Certa hora Janine, disfarçadamente, saiu pelo buraco do retrato da Mulher Gorda, levando escondida a Capa de Invisibilidade que Harry lhe emprestara. Iria encontrar-se com Draco, a quem não vira o dia todo. Estava ficando tão versada nas passagens secretas e atalhos de Hogwarts que seu conhecimento rivalizava com o dos Inseparáveis ou mesmo quase com o de Filch. Encontrou o sonserino à frente da Sala Precisa e entraram. Lá dentro encontraram uma cena de galpão, muito semelhante à da estância do avô de Janine, da qual ela tinha tanta saudade. Ela explicou a Draco vários dos costumes gaúchos, descrevendo o que constava nos livros que estavam sobre a mesa, sentando-se em um sofá perto do fogo de chão. Draco pensara em tudo, até no frio e no vento minuano. Passaram horas muito agradáveis juntos.



Ao saírem da Sala Precisa de mãos dadas, Draco consultou o relógio:



 



_Já é tarde. É melhor irmos embora para nossas Casas.



_Até quando precisaremos nos esconder dos sonserinos, Draco?



_Até que o Prof. Dumbledore nos diga que já é seguro. Até então, não poderemos namorar em público.



_Que saco. O pessoal da Sonserina é realmente tão perigoso?



_A maior parte faz jus ao símbolo da Casa. A imensa maioria dos bruxos das Trevas que passaram por Hogwarts são oriundos da Sonserina.



 



Iam caminhando, até que acharam melhor vestirem suas Capas de Invisibilidade. Sim, pois Draco havia levado também a sua própria. Despediram-se com um beijo. Quem olhasse e não conhecesse as Capas de Invisibilidade levaria um tremendo susto, ao ver duas cabeças flutuantes se beijando. Cobriram-se e foram cada um em uma direção. Draco para as masmorras, perto das quais ficava a entrada para a Sonserina, enquanto que Janine foi para a Torre da Grifinória.



 



 



Nada mais perigoso do que uma garota com ciúmes"



 



Se tivesse prestado atenção, teria ouvido uma respiração baixa e controlada. Assim que ela virou em uma esquina dos corredores, uma pessoa saiu debaixo de uma terceira Capa de Invisibilidade, espumando de ódio. Embora a serpente, símbolo da Casa Sonserina, seja um animal de sangue frio, seus membros certamente não o eram pois, pela expressão em seu rosto, o de Pansy Parkinson parecia estar prestes a entrar em ebulição, após a cena que acabara de presenciar.


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