As Tribulações da Sra. Weasley



Capítulo IX – As tribulações da Sra. Weasley


Harry e os amigos sentiram um surto de constrangimento, quando todos à volta se viraram para a família Weasley. Molly tinha os olhos arregalados, e o rosto vermelho de vergonha, sem entender o que aquilo poderia ter a ver com ela.


Derek olhava na direção da matriarca dos Weasley, quando Astoria deu-lhe um cutucão para que ele recomeçasse:


A inesperada partida de Dumbledore pegou Harry completamente de surpresa. O garoto continuou sentado na cadeira equipada com correntes, debatendo-se com os seus sentimentos, que mesclavam choque e alívio. Os juízes foram se levantando, conversando entre si, recolhendo seus documentos e guardando-os. Harry ficou em pé. Ninguém parecia estar lhe prestando a mínima atenção, a não ser a bruxa bufonídea à direita de Fudge, que agora passara a contemplá-lo em vez de a Dumbledore.


Harry fez o máximo de esforço para não encarar o diretor de longe; nem Rony nem Hermione tentaram lhe questionar sobre isso. Seu único consolo foi a expressão de ofensa que Dolores Umbridge tinha, ao ser descrita como “bruxa bufonídea”.


Derek abafou um riso, antes de continuar:


Sem lhe fazer caso, o garoto tentou chamar a atenção de Fudge ou de Madame Bones, querendo perguntar se estava dispensado, mas Fudge parecia muito decidido a não ligar para Harry, e Madame Bones estava ocupada com sua maleta, então ele deu alguns passos hesitantes em direção à saída e, ao ver que ninguém o mandava voltar, começou a andar bem depressa.


- Potter não entende nada do nosso mundo – tentou provocar Draco. – É de admirar que ele tenha conseguido chegar à cadeira de réu...


Mas parou de falar, quando viu que ninguém rira.


Deu os últimos passos quase correndo, abriu a porta com violência e quase colidiu com o Sr. Weasley, que estava parado ali, com o rosto pálido e apreensivo.


— Dumbledore não disse...


— Inocente — disse Harry puxando a porta atrás de si — de todas as acusações!


Abrindo um largo sorriso, o Sr. Weasley agarrou-o pelos ombros.


— Harry, é maravilhoso! Bom, é claro que eles não poderiam ter considerado você culpado, não com as provas que tinham, mas, mesmo assim, não posso fingir que não me senti...


Mas o Sr. Weasley parou de falar, porque a porta do tribunal se abriu. Os juízes começaram a sair.


— Pelas barbas de Merlim! — exclamou, admirado, puxando Harry de lado para deixar os juízes passarem. — Você foi julgado por um tribunal completo?


- O que tem de tão estranho nisso? – perguntou uma menina do segundo ano ao lado de Derek.


- Não ouviu o que disseram? Esse caso do Harry Potter devia ser só uma audiência menor, mas foi julgado como o caso de um criminoso dos grandes.


Derek voltou a ler, ignorando o olhar confuso da menina, e os olhares estranhos dos outros alunos da Sonserina.


— Acho que sim — disse Harry em voz baixa.


Um ou dois bruxos cumprimentaram Harry, com a cabeça, ao passar e alguns, inclusive Madame Bones, disseram “Bom dia, Arthur”, mas a maioria desviou o olhar.


Parece que nem todos foram corrompidos pelas artimanhas do Ministério, não é? – afirmou Sirius em tom de desafio na direção de Dolores Umbridge, que o ignorou.


Cornélio Fudge e a bruxa bufonídea foram quase os últimos a deixar a masmorra. Fudge agiu como se o Sr. Weasley e Harry fizessem parte da parede, mas outra vez a bruxa, ao passar, encarou o garoto quase como se o avaliasse. O último a sair foi Percy. A exemplo de Fudge, ele ignorou completamente o pai e Harry; passou direto, sobraçando um grande rolo de pergaminho e um punhado de penas sobressalentes, as costas empertigadas e o nariz empinado.


- É muita cara de pau do Percy agir assim na frente do papai – rosnou Rony. – Só quero ver quando ele aparecer aqui.


- E onde ele está, aliás? – perguntou Hermione.


- Foi embora com Fudge anteontem – respondeu Gina. – Ouvi mamãe falar disso. Nem quis falar com nossos pais. 


As linhas ao redor da boca do Sr. Weasley se contraíram ligeiramente, mas ele não deu nenhuma outra mostra de ter visto seu terceiro filho.


— Vou levá-lo direto para casa, assim, você pode contar aos outros as boas notícias — disse ele, fazendo sinal a Harry para prosseguirem no momento em que os calcanhares de Percy desapareceram na escada para o nível nove. — Vou acompanhá-lo, a caminho daquele banheiro público em Bethnal Green. Vamos...


— Então, que é que o senhor vai ter de fazer com relação àquele banheiro? — perguntou Harry, sorrindo.


De repente tudo lhe parecia cinco vezes mais engraçado do que o normal. Começava a penetrar na sua cabeça a ideia de que fora inocentado, ia voltar a Hogwarts.


- Você deve ter ficado muito aliviado, não é? – comentou Rony, sorrindo. – Igual àquela vez que pensei que fôssemos ser expulsos por causa do carro do meu pai.


- Mas nesse caso, Harry não fez nada que o fizesse merecer ser expulso – lembrou-lhe Hermione, o que fez Rony fechar a cara para ela.


— Ah, é um antifeitiço bastante simples — disse o Sr. Weasley ao subirem as escadas — mas não é tanto o problema de consertar o estrago, é mais a atitude que está por trás desse vandalismo. Alguns bruxos podem achar engraçado armar arapucas para trouxas, mas isso é uma manifestação de algo mais profundo e perverso, e na minha opinião...


A turma de Draco Malfoy dava risadinhas.


- Não sei o que esse Weasley vê de perverso em se divertir um pouco com aqueles trouxas idiotas – debochou o garoto, recebendo acenos de aprovação dos amigos, e de alguns dos colegas à volta.


- Draco tem razão – disse Pansy Parkinson às amigas. – Somos bruxos ou não somos? Temos o direito de aproveitar a burrice dos trouxas... o que você tem, Tracy?


Tracey Davis estava calada, girando a varinha distraidamente em volta do prato, quando levantou os olhos tristes, e recebeu um olhar de pena de Daphne.


- Por que a minha irmã está olhando daquele jeito para a Tracey Davis? – sussurrou Astoria.


Derek fez que não sabia e continuou a ler:


O bruxo não continuou a frase. Tinham acabado de chegar ao corredor do nível nove, e Cornélio Fudge estava parado a uma pequena distância, conversando em voz baixa com um homem alto de cabelos louros e lisos, e um rosto pontudo e pálido.


Draco parou de rir. Se aquela gente se atrevesse a denunciar seu pai:


O segundo homem se virou ao som dos passos dos recém-chegados. Também interrompeu o que ia dizendo, seus frios olhos cinzentos se estreitaram e se fixaram no rosto de Harry.


— Ora, ora, ora... o Potter Patrono — exclamou Lúcio Malfoy com frieza.


Todos da turma de Draco também pararam de rir, e se viraram para ele, que parecia ter perdido um pouco da cor que tinha.


Harry se sentiu sem fôlego, como se tivesse acabado de penetrar em uma coisa sólida. A última vez que vira aqueles olhos cinzentos e frios fora pelas fendas do capuz de um Comensal da Morte, e a última vez que ouvira a voz daquele homem ele fazia caçoadas em um cemitério escuro enquanto Lord Voldemort o torturava.


Draco sentiu muita vontade de protestar, mas foi Dolores Umbridge que se ergueu:


- Isso é um absurdo! – exclamou ela. – Lúcio Malfoy, um... o Sr. Malfoy vem de uma das mais ilustres famílias da Grã-Bretanha! Não esperam que acreditemos nessas invencionices...


Mas Umbridge parou de falar, quando percebeu que todos à sua volta estavam ignorando tudo que falava. Aquela falta de atenção começava a incomodá-la.


Mas Draco estava mais incomodado com o último trecho; se o livro revelasse o papel de seu pai


Harry não conseguia acreditar que Lúcio Malfoy tivesse coragem de encará-lo; não conseguia acreditar que estivesse ali no Ministério da Magia, ou que Cornélio Fudge estivesse conversando com ele, pois Harry contara ao ministro havia poucas semanas que Malfoy era um Comensal da Morte.


- Como se o Ministro da Magia fosse acreditar em suas mentiras, Potter! – sussurrou Umbridge, bufando.


— O ministro estava justamente me contando a sorte que você teve, Potter — disse o Sr. Malfoy com sua voz arrastada. — É surpreendente como você consegue se livrar de apertos tão extremos... na verdade, parece até um ofídio.


O Sr. Weasley apertou o ombro de Harry, alertando-o.


— É — disse Harry — sou bom em fugas.


- Não é possível que Fudge tenha deixado passar essa referência óbvia! – explodiu Sirius. – Será que ninguém percebe a verdade, nem quando a esfregam nas caras deles?!


- Sirius, basta! – pediu McGonagall, aflita.


Mas Harry não pode deixar de sentir um surto de orgulho pelo padrinhos; ele sabia como era sentir tamanha injustiça de um governo omisso, e agora Harry também sabia.


Lúcio Malfoy ergueu os olhos para o rosto do Sr. Weasley.


— E Arthur Weasley também! Que é que você está fazendo aqui, Arthur?


— Trabalho aqui — respondeu ele secamente.


— Não aqui, com certeza? — admirou-se o Sr. Malfoy, erguendo as sobrancelhas e olhando em direção à porta, por cima do ombro do Sr. Weasley. — Pensei que sua sala fosse no segundo andar... você não faz alguma coisa que envolve furtar artefatos de trouxas e enfeitiçá-los?


Arthur Weasley fechou os punhos, em silêncio.


Harry fechou a cara, olhando na direção de Draco Malfoy e sua turma; deviam estar se divertindo com aquilo.


Mas Draco estava apreensivo com o que poderiam descobrir sobre a participação de sua família.


— Não — retorquiu o Sr. Weasley, os dedos agora furando o ombro de Harry.


— Mas o que é que o senhor está fazendo aqui, afinal? — perguntou Harry a Lúcio Malfoy.


— Acho que os meus assuntos particulares com o ministro não são da sua conta, Potter — disse Malfoy alisando a frente das vestes. Harry ouviu distintamente o tilintar suave como o de um bolso cheio de ouro.


— Francamente, só porque você é o garoto favorito de Dumbledore, não deve esperar a mesma indulgência dos demais... vamos à sua sala, então, ministro?


— Certamente — respondeu Fudge, dando as costas para Harry e o Sr. Weasley. — Por aqui, Lúcio.


Eles se afastaram juntos, falando em voz baixa. O Sr. Weasley não soltou o ombro de Harry até que os bruxos tivessem entrado no elevador.


— Por que é que ele não estava esperando à porta do escritório de Fudge, se tinham negócios a resolver? — explodiu Harry furioso. — Que é que ele estava fazendo aqui embaixo?


- Você não ouviu, Potter? – sussurrou Draco, em voz alta. – Isso não é da sua conta!


— Tentando entrar no tribunal sem ser visto, se quer minha opinião — respondeu o Sr. Weasley, parecendo extremamente agitado e espiando por cima do ombro como se quisesse se certificar de que ninguém o ouvia. — Tentando descobrir se você tinha ou não sido expulso. Vou deixar um bilhete para Dumbledore quando passarmos em casa; ele precisa saber que Malfoy esteve conversando com Fudge outra vez.


— Que negócios particulares eles podem ter a tratar?


- Ouro, naturalmente – murmurou Remo consigo mesmo.


- Ouro, claro! – exclamou Sirius, sem discrição. – Ele deve anda tramando com Fudge e o resto do Ministério desde que Voldemort voltou...


Mas Sirius não conseguiu continuar, porque houve um surto de exclamações diante do nome de Voldemort.


- Você ousa insinuar que o Ministério está se sujeitando ao suborno dos outros? – indignou-se Umbridge.


Tratemos disso depois, sim? – sugeriu Dumbledore. – Continue por favor, Derek. 


— Ouro, imagino — respondeu o Sr. Weasley, zangado. — Malfoy há anos faz doações generosas para todo tipo de coisa... ajuda-o a travar amizade com as pessoas certas... depois pode pedir favores... atrasar leis que não quer que sejam aprovadas... ah, ele é muito bem relacionado, esse Lúcio Malfoy.


- Bem como você imaginou – disse Tonks a Remo.


O elevador chegou; estava vazio, exceto por um bando de memorandos que esvoaçaram em volta da cabeça do Sr. Weasley quando ele apertou o botão para o Átrio e as portas se fecharam. Ele afastou-os, irritado.


— Sr. Weasley — disse Harry lentamente — se Fudge está se encontrando com Comensais da Morte como Malfoy, se está conversando com eles a sós, como vamos saber se não lançaram a Maldição Imperius sobre o ministro?


Draco riu pelo nariz, ignorando os olhares indiscretos dos colegas sobre ele.


Potter era muito burro se achava que eles se arriscariam a enfeitiçar o Ministro da Magia, que estava sempre à vista de tantas pessoas; qualquer uma delas poderia reconhecer os efeito da Maldição Imperius e colocar suas operações sobre risco.


Hermione sacudiu a cabeça negativamente.


- Duvido que Fudge estivesse sob efeito da Maldição Imperius – afirmou Hermione. – Ele pareceu muito lúcido na audiência... além disso, ele é visto por muita gente, alguém poderia reconhecer os sinais.


— Não pense que isso não tenha nos ocorrido, Harry — disse o Sr. Weasley em voz baixa. — Mas Dumbledore acha que, no momento, Fudge está agindo por conta própria, o que, como diz Dumbledore, não é muito consolo. É melhor não falarmos mais nisso, por enquanto.


As portas se abriram e eles desembarcaram no Átrio quase deserto. Érico, o bruxo-segurança, estava outra vez escondido atrás do Profeta Diário. Já haviam passado direto pela fonte de ouro quando Harry se lembrou.


— Espere... — pediu ao Sr. Weasley e, tirando a bolsa de dinheiro do bolso, voltou à fonte.


Ergueu os olhos para o rosto bonito do bruxo, mas, assim de perto, Harry achou-o fraco e tolo. O sorriso da bruxa era insosso como o de uma candidata a miss, e, pelo que o garoto conhecia de duendes e centauros, era pouco provável que fossem surpreendidos olhando tão idiotamente para um ser humano. Somente a atitude de abjeto servilismo do elfo doméstico lhe pareceu convincente.


- Eu disse que essa fonte não faz o menor sentido – repetiu Hermione. – Mas mostra muito bem a visão que o nosso governo tem de outros seres mágicos.


- Como assim, outros seres mágicos? – estranhou Parvati Patil. – Não somos seres mágicos, somos bruxos.


- Nós somos seres humanos mágicos, assim como os centauros, os elfos domésticos e os duendes também são seres dotados de magia e de inteligência – explicou Hermione, displicente.


- Estou com a Parvati – disse Lilá. – O que você disse não faz sentido, Hermione.


Hermione pareceu ofendida, mas ouviu o garoto da mesa da Sonserina voltar a ler.  


Sorrindo, ao pensar no que Hermione diria se visse a estátua do elfo, Harry virou a bolsa de dinheiro de boca para baixo e despejou não apenas dez galeões, mas todo o seu conteúdo na fonte.


Harry olhou, sorrindo levemente, as pessoas ao redor completamente surpresas com a atitude do garoto.


Rony e Hermione sorriram, não esperavam menos dele.


Draco Malfoy fechou a cara para aquele ato sem sentido.


Dumbledore sorria, sem parecer surpreso.


Snape expressou desprezo pela prepotência do filho de Potter, em desperdiçar dinheiro que não lhe faria falta.


— Eu sabia! — berrou Rony dando socos no ar. — Você sempre consegue se safar!


— Eles tinham de inocentar você — disse Hermione, que parecera que ia desmaiar de ansiedade quando Harry entrou na cozinha, e agora levava a mão trêmula aos olhos — não tinham um caso contra você, nenhum.


— Mas vocês todos parecem bem aliviados, considerando que já sabiam que eu ia me livrar das acusações — disse Harry sorrindo.


A Sra. Weasley enxugou o rosto no avental, e Fred, Jorge e Gina executaram uma espécie de dança de guerra, cantando: “Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”


— Chega! Sosseguem! — gritou o Sr. Weasley, embora sorrisse. — Escute aqui, Sirius, Lúcio Malfoy estava no Ministério.


— Quê? — exclamou Sirius ríspido.


“Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”


Os membros da Ordem da Fênix se entreolharam aflitos.


— Quietos, vocês três! Nós o vimos conversando com Fudge no nível nove, depois foram juntos para a sala de Fudge. Dumbledore precisa saber disso.


— Com certeza. Vamos contar a ele, não se preocupe.


— Bem, é melhor eu ir andando, tem um vaso sanitário vomitando em Bethnal Green à minha espera. Molly, vou chegar tarde, precisarei cobrir a ausência de Tonks, mas o Kingsley talvez venha jantar…


“Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...”


— Agora chega... Fred... Jorge... Gina — disse a Sra. Weasley, quando o marido deixou a cozinha. — Harry, querido, venha se sentar, almoce alguma coisa, você quase não comeu no café da manhã.


Rony e Hermione se sentaram à frente do amigo, parecendo mais felizes do que nos dias que sucederam à chegada dele ao largo Grimmauld, e o alívio eufórico que Harry sentira, um pouco afetado pelo encontro com Lúcio Malfoy, tornou a crescer. A casa sombria parecia de repente mais calorosa e mais hospitaleira; até Monstro pareceu menos feio quando meteu seu nariz trombudo na cozinha para investigar a razão de todo aquele barulho.


— É claro que uma vez que Dumbledore apareceu em sua defesa, não havia jeito de condenarem você — disse Rony, feliz, agora servindo enormes colheradas de purê de batatas nos pratos de todos.


— É, ele virou a corte a meu favor — disse Harry. Achou, porém, que ia parecer muita ingratidão, para não dizer infantilidade, comentar: “Mas eu gostaria que ele tivesse falado comigo. Ou pelo menos olhado para mim.”


Alvo Dumbledore suspirou.


Não seria ingratidão sua, Harry. Um dia você entenderá. E ao pensar nisso, sentiu que o pensamento lhe doía.


Ao pensar nisso, sua cicatriz ardeu com tanta intensidade que ele levou depressa a mão à testa.


— Que foi? — perguntou Hermione, assustada.


— Cicatriz — murmurou Harry. — Mas não é nada... acontece o tempo todo agora...


Harry se sentiu constrangido com isso; olhou para Al e Rose, que olhavam com vergonha, como se pedissem desculpas.


Mas a informação preocupara os alunos; estes agora temiam o que o perigoso bruxo intitulado Lorde poderia fazer.


Nenhum dos outros reparara em nada; todos agora se serviam e se regozijavam que Harry tivesse escapado por um triz; Fred, Jorge e Gina ainda cantavam, Hermione demonstrava uma certa ansiedade, mas, antes que pudesse dizer alguma coisa, Rony falou alegremente:


— Aposto como Dumbledore vai aparecer hoje à noite para festejar com a gente, sabe?


— Não acho que ele vá poder, Rony — disse a Sra. Weasley, pousando uma enorme travessa de galinha assada à frente de Harry. — Ele está realmente muito ocupado no momento.


“ELE CONSEGUIU, ELE CONSEGUIU, ELE CONSEGUIU...”


— CALEM A BOCA! — berrou a Sra. Weasley.


Nos dias que se seguiram Harry não pôde deixar de reparar que havia uma pessoa no largo Grimmauld, número doze, que não parecia muito feliz com a sua volta a Hogwarts. Sirius encenara uma grande demonstração de felicidade logo que recebeu a notícia, apertou a mão de Harry e deu grandes sorrisos como todos os outros. Mas, não demorou muito, foi ficando mais triste e mais carrancudo do que antes, falando menos com as pessoas, até mesmo com Harry, e passando cada vez mais tempo trancado no quarto da mãe com Bicuço.


Sirius suspirou, carrancudo, avistando Harry de longe.


Estava infeliz de saber que teria de ficar sozinho, novamente, no largo Grimmauld.


— Pare de se sentir culpado! — disse Hermione com severidade, depois que Harry desabafou seus sentimentos com ela e Rony enquanto faxinavam um armário mofado no terceiro andar, alguns dias mais tarde. — O seu lugar é em Hogwarts, e Sirius sabe disso. Na minha opinião, ele está sendo egoísta.


Sirius arregalou os olhos, surpreso.


— Você está sendo um pouco dura, Hermione — disse Rony, franzindo a testa enquanto tentava retirar um pouco do mofo agarrado em seu dedo — você não gostaria de ficar presa nesta casa sem ter companhia.


— Ele vai ter muita companhia! — disse Hermione. — Aqui é a sede da Ordem da Fênix, não é? Ele é que andou aumentando esperanças de que Harry viesse morar aqui.


— Não acho que seja verdade — disse Harry, torcendo o pano de limpeza. — Ele não quis me dar uma resposta direta quando perguntei se podia.


— Ele não queria era aumentar ainda mais as esperanças dele — respondeu Hermione sensatamente. — E é provável que se sentisse um pouco culpado, porque acho que em parte estava realmente desejando que você fosse expulso. Então os dois seriam marginalizados juntos.


- Não é nada disso... – murmurou Sirius consigo mesmo, furioso, desejando que suas palavras chegassem até Hermione.


— Ah, para com isso! — exclamaram Harry e Rony ao mesmo tempo, mas Hermione meramente encolheu os ombros.


— Como quiserem. Mas às vezes acho que a mãe de Rony está certa, e Sirius se confunde, sem saber se você é você mesmo ou seu pai, Harry.


De repente, Sirius sentiu um misto de raiva e decepção.


Conhecera Hermione muito pouco, mas ela confiara nele e ajudara a salvá-lo; agora, descobrira que ela concordava com Molly que ele não era capaz de diferenciar Harry de seu pai.


Estariam todos perdendo a confiança nele?


— Então você acha que ele está meio biruta? — indagou Harry, inflamado.


— Não, só acho que passou muito tempo sozinho — respondeu Hermione com simplicidade.


Neste ponto da conversa, a Sra. Weasley entrou no quarto por trás dos meninos.


- Ah, continuem falando – murmurou Sirius, entredentes. – Aposto que Molly vai adorar fazer parte dessa conversa...


— Ainda não acabaram? — perguntou, metendo a cabeça no armário.


— Pensei que a senhora estivesse aqui para mandar a gente fazer uma pausa! — disse Rony com amargura. — Sabe quanto mofo nós limpamos desde que chegamos aqui?


— Vocês estavam tão dispostos a ajudar a Ordem — respondeu a Sra. Weasley — que tal fazerem a sua parte, deixando a sede decente para podermos viver nela?


— Estou me sentindo um elfo doméstico — resmungou Rony.


— Bem, agora que você conhece a vida horrível que eles levam, quem sabe vai querer participar mais ativamente do F.A.L.E.! — disse Hermione esperançosa, quando a Sra. Weasley saiu e os deixou continuar. — Sabe, talvez não fosse má ideia mostrar às pessoas o horror que é viver limpando as coisas, poderíamos promover o patrocínio de uma faxina da sala comunal da Grifinória, em que toda a renda revertesse para o F.A.L.E.; isso ampliaria a consciência e os fundos do movimento.


Derek parou de ler, com uma careta. Aquela garota realmente falara isso?..


Pansy Parkinson caiu na gargalhada, e um instante depois, todas as suas amigas e a turma de Draco Malfoy ria de Hermione, que permanecia hirta. 


- Hermione Granger está realmente esperando que alguém concorde em pagar para trabalhar nessa campanha ridícula?! – exclamou Pansy, bem audível.


- Vai ver que no lugar trouxa de onde ela vem, esse tipo de idiotice deve ser comum! – debochou Milicent Bulstrode.


Daphne Greengrass não riu; olhou para a amiga Tracey, que parecia nauseada.


Outras pessoas também riam nas outras mesas, e foi preciso que os professores chamassem atenção para que voltassem à leitura.


Hermione limitou-se a balançar a cabeça.


- Algumas pessoas não levam questões importantes a sério – murmurou ela.


— Vou patrocinar é o seu silêncio a respeito do F.A.L.E. — resmungou Rony irritado, mas somente Harry pôde ouvi-lo.


Hermione desviou o olhar de Rony, que tentava não rir.


Harry viu-se devaneando cada vez mais sobre Hogwarts à medida que o fim das férias se aproximava; mal podia esperar para rever Hagrid, jogar Quadribol e até andar pelas hortas a caminho da estufa de Herbologia; já seria uma festa e tanto deixar essa casa poeirenta e mofada, onde metade dos armários continuava trancada e Monstro chiava desaforos, escondido nas sombras quando alguém passava, embora Harry tivesse o cuidado de não comentar nada disso onde Sirius pudesse ouvi-lo.


Sirius se pegou sorrindo para o afilhado, sentindo um surto de afeição.


O fato era que morar na sede do movimento anti-Voldemort[u1]  não era nem de longe interessante ou excitante como Harry teria esperado que fosse antes de experimentar.


- Não é realmente tão excitante enfrentar uma ameaça como Voldemort – afirmou Remo.


Embora os membros da Ordem entrassem e saíssem regularmente, por vezes ficassem para comer, e outras vezes gastassem apenas uns minutinhos conversando aos cochichos, a Sra. Weasley tomava providências para que Harry e os outros estivessem bem longe para não ouvir (fosse com os ouvidos desarmados, fosse armados com as Orelhas Extensíveis) e ninguém, nem mesmo Sirius, parecia achar que Harry precisasse saber nada além do que já ouvira na noite da chegada.


- Cranças como vocês não deviam estar envolvidos nos assuntos da Ordem – reafirmou Molly, em alto e bom tom.


- Não somos crianças – reclamaram Fred e Jorge.


- Não somos mesmo – concordou Rony, mas em voz baixa.


Mas Harry não se sentiu ofendido pelo que a mãe de Rony dissera; estava pensando no que Dumbledore fizera na audiência, evitando-o o tempo todo. Por que ele estaria...


No último dia de férias, Harry estava retirando a titica de Edwiges do topo do armário quando Rony entrou no quarto trazendo uns envelopes.


— Chegaram as listas de material — anunciou, atirando um dos envelopes para Harry, que estava em cima de uma cadeira.


Rony sorriu, pensando no momento em que descobrira seu distintivo.


— Já não era sem tempo, pensei que tivessem esquecido, em geral mandam as listas muito mais cedo...


Minerva McGonagall suspirou pesarosa, lembrando-se do atraso que tivera devido à vaga de Defesa Contra Artes das Trevas. Quando Dumbledore lhe dissera que a vaga fora preenchida, pensou que estivesse tudo resolvido, mas Dolores Umbridge foi quem veio.


Harry varreu a última titica para dentro de um saco de lixo e atirou-o, por cima da cabeça de Rony, na lixeira a um canto, que o engoliu e soltou um sonoro arroto. Abriu então sua carta. Continha duas folhas de pergaminho: uma era o aviso habitual de que o trimestre começaria em primeiro de setembro; a outra listava os livros de que iria precisar durante o ano letivo.


— Somente dois livros novos — comentou ele passando os olhos na lista. — O livro padrão de feitiços, 5ª série, de Miranda Goshawk, e Teoria da defesa em magia, de Wilberto Slinkhard.


Craque.


Fred e Jorge aparataram bem ao seu lado. O garoto agora já estava tão acostumado com esse hábito dos gêmeos que nem ao menos caiu da cadeira.


- Que avanço – disse Fred.


- É, o Rony ficou caindo da cadeira por cinco semanas – disse Jorge.


- Não é verdade – negou Rony. – Quatro, no máximo.


— Estávamos justamente imaginando quem teria escolhido o livro de Slinkhard — disse Fred em tom de conversa.


— Porque isto significa que Dumbledore arranjou um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas — disse Jorge.


- Na realidade, o Ministério providenciou um para ele – murmurou Umbridge consigo mesma.


— E já não era sem tempo — comentou Fred.


— Como assim? — perguntou Harry, saltando da cadeira para o lado deles.


— Bom, ouvimos, com as Orelhas, mamãe e papai conversando há umas semanas — explicou Fred a Harry — e, pelo que diziam, Dumbledore estava tendo muita dificuldade de encontrar alguém para o cargo este ano.


- Esses dois... – murmurou Molly, lançando um olhar de censura a Fred e Jorge.


— O que não é nenhuma surpresa, quando a gente se lembra do que aconteceu com os últimos quatro — disse Jorge.


— Um foi despedido, um morreu, um teve a memória apagada e um passou nove meses trancado em um malão — disse Harry, contando nos dedos. — É, dá para entender o que você quer dizer.


- Tecnicamente, eu pedi demissão – corrigiu Remo.


- Você foi obrigado a se demitir – corrigiu Sirius, olhando do amigo para Snape, que desviou o olhar.


- Você acha que existe alguma coisa errada com o cargo?


- Será que é enfeitiçado?


- Será alguma maldição?


- E se alguém estiver fazendo alguma coisa com todos os professores todo ano?


- Mas faz décadas que nenhum professor fica mais de um ano no cargo; desde a época do meu pai!


Olho-Tonto Moody enrijeceu na cadeira, lembrando-se com amargura dos péssimos meses que passara dentro daquele baú, enquanto o maldito Crouch Jr. Andava por aí no seu lugar.


- Ao menos ele teve o que merecia – resmungou em voz alta.


- Receio discordar, Alastor – disse Dumbledore, sombriamente.


Mas Dolores Umbridge permanecia descrente. Não acreditava em superstições tolas, era uma mulher direita como devia ser.


— Que é que há com você, Rony? — indagou Fred.


Rony não respondeu. Harry virou a cabeça. Seu amigo estava muito quieto, com a boca meio aberta, olhando para a carta de Hogwarts.


- Aposto que aquele bobalhão ficou surpreso de receber mais do que ele merecia – debochou Draco consigo mesmo.


— Qual é o problema? — perguntou Fred impaciente, dando a volta para espiar o pergaminho por cima do ombro do irmão.


A boca de Fred escancarou-se também.


— Monitor? — exclamou, olhando incrédulo para a carta. — Monitor?


Jorge deu um pulo à frente, puxou a carta da mão de Rony e virou-a de cabeça para baixo. Harry viu uma coisa vermelha e dourada cair na palma da mão de Jorge.


Rony pareceu muito satisfeito em ter aquele episódio narrado no livro.


Mas Draco balançou a cabeça em deboche; os padrões da Grifinória deviam estar muito baixos ultimamente.


— Nem pensar — disse Jorge em voz baixa.


— Houve um engano — disse Fred, arrebatando a carta da mão de Rony e segurando-a contra a luz, como se procurasse a marca-d‘água. — Ninguém com o juízo perfeito nomearia Rony monitor.


- Viram?! – exclamou Draco. – Nem os irmãos acreditaram que o palerma do Weasley fosse capaz de ser monitor...


- Com licença – pediu uma voz de outro canto da mesa – será que o excelentíssimo senhor Draco Malfoy poderia fazer silêncio?


Draco se virou; era a garota do terceiro ano de novo, ao lado do garoto Derek que lia o livro.


- Qual o problema? – perguntou ele, em desafio. – Você está bem perto do garoto lendo, pode ouvir muito bem.


- Mas acho que os outros não podem – retrucou Astoria.


Draco viu os colegas concordarem. Pelo visto, todos parecia mais dispostos a acompanhar a leitura do que suas zombarias.


Contrafeito, ele cruzou os braços, enquanto Derek continuava a ler, trocando sorrisos com Astoria:


As cabeças dos gêmeos se viraram ao mesmo tempo, e juntos encararam Harry.


— Achamos que só poderia ser você! — disse Fred num tom que sugeria que Harry os havia enganado.


— Achamos que Dumbledore teria de escolher você! — exclamou Jorge indignado.


— Depois de vencer o Tribruxo e tudo o mais — disse Fred.


Harry comprimiu os lábios, olhando para Al e pensando se o que ele pensara naquele dia seria narrado; Alvo lançou-lhe um olhar constrangido, e Harry entendeu.


— Suponho que toda essa história de loucura deve ter contado pontos contra ele — comentou Jorge para Fred.


- Vocês dois deviam ter mais fé no irmão de vocês – ralhou Molly.


- Claro que deveriam! – concordou Arthur, e olhou com reprovação para Fred e Jorge.


Harry e Rony se olharam, trocando olhares constrangidos.


- Nós tínhamos fé! – defendeu-se Jorge.


- Fé de que ele quebrasse a tradição – completou Fred.


— É — concordou Fred lentamente. — É, você criou muita confusão, cara. Bem, pelo menos um de vocês entendeu as prioridades deles corretamente.


E, aproximando-se de Harry, deu-lhe uma palmada nas costas, ao mesmo tempo que lançava a Rony um olhar fulminante.


— Monitor... Roniquinho, o Monitor.


— Ah, mamãe vai dar náuseas — gemeu Jorge, atirando o distintivo de volta a Rony como se quisesse evitar contaminação.


Rony, que ainda não dissera uma palavra, apanhou o distintivo, contemplou-o por um momento, então estendeu-o, calado, para Harry, como se pedisse uma confirmação de que era autêntico.


Rony trocou mais um olhar de constrangimento com Harry; só queria saber se Harry estava OK com isso.


Harry o recebeu. Havia um grande “M” sobreposto ao leão de Grifinória. Vira um distintivo exatamente igual no peito de Percy em seu primeiro dia de Hogwarts.


- Não deviam gastar tanto espaço nesse livro para falar de monitores – esbravejou Fred.


- Ainda mais de monitores nojentos – bufou Jorge.


A porta se abriu com estrondo. Hermione entrou correndo no quarto, as bochechas vermelhas e os cabelos esvoaçando. Trazia um envelope na mão.


— Você... você recebeu...?


Ela viu o distintivo na mão de Harry e soltou um grito agudo.


— Eu sabia! — exclamou, excitada, brandindo a carta na mão. — Eu também, Harry, eu também!


Hermione corou, desviando o olhar de Rony; seus olhos encontraram os de Rose, que estava rindo.


— Não — apressou-se Harry a dizer, devolvendo o distintivo a Rony. — Foi o Rony e não eu.


— É... o quê?


— Rony é o monitor e não eu — explicou Harry.


— Rony? — admirou-se Hermione, de queixo caído. — Mas... você tem certeza? Quero dizer...


- Eu não fiquei nada surpreso de ver que você era monitora – afirmou Rony a Hermione.


- Eu não quis dizer... eu vi o distintivo na mão de Harry e pensei... quer dizer, faria sentido, Dumbledore poderia querer que todos soubessem que ele confiava em Harry e...


- Claro, faria todo sentido – disse Rony com desinteresse.


O que Hermione dissera fez Harry se sentir pior que Rony.


A garota ficou muito vermelha quando Rony se virou para ela com uma expressão de desafio no rosto.


— É o meu nome que está na carta.


— Eu... — começou Hermione totalmente perplexa. — Eu... bem... uau! Parabéns, Rony. É realmente...


— Inesperado — concluiu Jorge, confirmando com a cabeça.


— Não — disse Hermione, ficando mais vermelha que nunca — não, não é que... Rony fez montes de... ele realmente...


A porta às costas dos garotos se abriu um pouco mais e a Sra. Weasley entrou de marcha a ré no quarto, trazendo uma pilha de vestes recém-lavadas.


- O que você ia dizendo mesmo? – quis saber Rony.


Hermione corou ainda mais.


- EU ia dizer que você fez muitas coisas, digo, muitas coisas certas e erradas, assim como Harry; por isso não era exatamente inesperado...


— Gina me disse que as listas de material afinal chegaram — disse ela, vendo todos aqueles envelopes ao se dirigir à cama onde começou a separar as vestes em duas pilhas. — Se vocês me entregarem as listas, irei até o Beco Diagonal hoje à tarde e comprarei tudo, enquanto vocês fazem as malas. Rony, terei de comprar mais pijamas para você, estes estão no mínimo quinze centímetros mais curtos do que deveriam. Não consigo acreditar como você está crescendo tão depressa... que cor você gostaria?


— Compre vermelho e dourado para combinar com o distintivo — disse Jorge, rindo.


— Combinar com o quê? — perguntou a Sra. Weasley, distraída, enrolando um par de meias castanho-avermelhadas e depositando-as na pilha de Rony.


— O distintivo dele — repetiu Fred, com ar de quem quer acabar depressa com a pior parte. — O novo, belo e reluzente distintivo de monitor dele.


A preocupação com os pijamas impediu que a Sra. Weasley entendesse imediatamente as palavras de Fred.


— Dele... mas... Rony, você não é...?


Rony mostrou o distintivo.


A Sra. Weasley soltou um grito agudo igual ao de Hermione.


Draco riu pelo nariz.


- Aposto que a mãe do bobalhão do Weasley achou isso um milagre – debochou, em voz alta.


- Ué, eu ouvi dizer que os Weasley têm sido monitores várias vezes – Draco ouviu a voz de Astoria Greengrass.


Irritado, ele ia retrucar, mas o amigo da garota colocou um dedo entre os lábios e voltou a ler:


— Eu não acredito! Eu não acredito! Ah, Rony, que maravilha! Monitor! Como todos na família!


— Que é que Fred e eu somos, filhos do vizinho? — perguntou Jorge indignado, enquanto a mãe o empurrava para o lado e abria os braços para apertar o filho mais novo.


O Salão se encheu de gargalhadas, e Fred e Jorge tiraram chapéus imaginários para os alunos.


— Espere só até o seu pai saber! Rony, estou tão orgulhosa de você, que notícia maravilhosa, você pode acabar monitor-chefe como Gui e Percy, esse é o primeiro passo. Ah, que coisa para acontecer no meio de toda essa preocupação, estou encantada, ah, Roninho...


- Aposto que mamãe nem nos ouviu – sussurrou Fred a Jorge.


Fred e Jorge estavam fingindo grandes ânsias de vômito às costas da mãe, mas a Sra. Weasley nem reparou: os braços apertados em torno do pescoço de Rony, ela o beijava por todo o rosto, que se tornara vermelho mais intenso do que o distintivo.


— Mamãe... não... mamãe, se controla... — murmurava ele, tentando afastá-la.


Ela o soltou, e disse ofegante:


— Bom, então o que vai ser? Demos a Percy uma coruja, mas naturalmente você já tem uma.


— Q-que é que você quer dizer? — perguntou o garoto, com cara de quem não ousa acreditar no que está ouvindo.


- Cinco sicles como o Weasley vai ganhar uma roupa íntima nova – disse Malfoy a quem quisesse apostar.


— Você tem de ganhar uma recompensa por isso! — disse a Sra. Weasley carinhosamente. — Que tal um belo conjunto de vestes a rigor?


— Já compramos isso para ele — disse Fred com amargura, parecendo sinceramente arrependido de sua generosidade.


- Só porque Harry nos obrigou – disse Jorge, sorrindo para Harry.


— Ou um caldeirão novo, o velho caldeirão de Carlinhos está todo enferrujado, ou um rato novo, você sempre gostou do Perebas...


— Mamãe — pediu Rony esperançoso — posso ganhar uma vassoura nova?


Draco riu mais uma vez, vendo Rony se encolher na cadeira, envergonhado.


- Ouviram isso? – debochou. – Wealsey tem que se tornar monitor para ganhar uma mísera vassoura.


Astoria bufou.


- Suponho que Malfoy ganhe vassouras dos pais apenas por respirar – sussurrou ela aos amigos, que riram em silêncio.


A Sra. Weasley pareceu ligeiramente desapontada; vassouras eram caras.


— Não precisa ser uma realmente boa! — Rony se apressou a acrescentar. — Só... só nova para variar...


A Sra. Weasley hesitou, em seguida sorriu.


— Claro que pode... bem, então é melhor eu ir andando se tenho de comprar uma vassoura também. Vejo vocês mais tarde... meu Roniquinho, monitor! E não se esqueça de fazer suas malas... monitor... ah, estou vibrando!


Ela deu mais um beijo na bochecha de Rony, fungou alto e saiu apressada do quarto.


Fred e Jorge se entreolharam.


— Você não se incomoda se a gente não beijar você, não é, Rony? — perguntou Fred, num tom de fingida ansiedade.


— Podemos fazer uma reverência, se você quiser — sugeriu Jorge.


— Ah, calem a boca — disse Rony, amarrando a cara para os irmãos.


— Se não? — disse Fred, com um sorriso maligno se espalhando pelo rosto. — Vai nos tascar uma detenção?


— Eu adoraria que ele tentasse — debochou Jorge.


Remo sorriu.


- Se Rony for parecido comigo, duvido que consiga dar detenção aos amigos – disse a Tonks, que riu.


- Seus amigos tinham sorte; a monitora da minha época me detestava; vivia tentando me pegar fazendo algo de errado. Bem, não é como se eu não contribuísse para isso...


Remo suspirou olhando de Sirius para Snape, que em nenhum momento se olhavam.


— E ele pode, se vocês não se cuidarem! — disse Hermione aborrecida.


Os gêmeos caíram na gargalhada, e Rony murmurou:


— Deixa pra lá, Mione.


— Vamos ter de tomar cuidado com o que fizermos, Jorge — disse Fred, fingindo tremer — com esses dois atrás da gente...


— É, parece que os nossos dias de desrespeito à lei finalmente terminaram — disse Jorge, sacudindo a cabeça.


E, com mais um barulhento craque, os gêmeos desaparataram.


— Esse dois — exclamou Hermione furiosa, olhando para o teto, pelo qual eles agora ouviam Fred e Jorge rir às gargalhadas no quarto de cima. — Não ligue para eles, Rony, só estão com ciúmes!


- O quê?! – bradaram em uníssono os gêmeos, parecendo ofendidos.


- Hermione, você não nos conhece realmente, não é? – questionou Jorge.


- Se você vivesse com eles, Hermione, saberia que esses dois tinham horror à ideia de se tornarem monitores – disse Gina.


Hermione apenas fez um aceno de resignação.


— Não acho que estejam — disse Rony em dúvida, olhando para o teto. — Eles sempre disseram que só babacas viram monitores... ainda assim — acrescentou mais alegre — eles nunca tiveram vassouras novas! Eu gostaria de ir com mamãe escolher... ela nunca terá dinheiro para uma Nimbus, mas saiu uma Cleansweep que seria ótima... é, acho que vou dizer a ela que gostaria de ganhar uma Cleansweep, só para ela saber...


- Não achamos que uma Cleansweep valha a terrível vida de monitor – afirmou Jorge.


- Nem mesmo uma Firebolt – completou Fred.


E saiu correndo do quarto, deixando Harry e Hermione sozinhos.


Por alguma razão, Harry achou que não queria olhar para a amiga. Virou-se para sua cama, apanhou a pilha de vestes limpas que a Sra. Weasley tinha deixado ali e levou-as para o outro lado do quarto onde estava o seu malão.


Harry desejou que pudesse sumir; havia inúmeros pares de olhos em cima dele, como se quisessem saber o que ele achava daquilo.


— Harry? — chamou Hermione hesitante.


— Parabéns, Mione — disse ele, tão efusivamente que nem parecia sua voz, e ainda sem olhar — genial. Monitora. Legal.


— Obrigada — disse a garota. — Hum... Harry... posso pedir a Edwiges emprestada para mandar dizer à mamãe a ao papai? Eles vão ficar realmente satisfeitos... quero dizer, monitor é uma coisa que eles conseguem entender.


- Que surpresa os trouxas saberem o que é um monitor – comentou Tracey Davis, em tom de desafio. Apenas Daphne sorriu.


— Pode, sem problema — respondeu, ainda com aquela horrível cordialidade na voz que não era sua. — Pode levar!


Harry avistou Draco debochar com vontade, fazendo seus amigos rirem. Desejou que alguém o azarasse mais uma vez...


Harry se inclinou para o malão, depositou as vestes no fundo e fingiu estar procurando alguma coisa, enquanto Hermione ia até o armário e pedia a Edwiges para descer. Alguns minutos se passaram; Harry ouviu a porta fechar, mas continuou curvado, escutando; os únicos sons que ouvia eram os do retrato vazio na parede dando risadinhas e a cesta de lixo no canto regurgitando a titica de coruja.


Ele se endireitou e olhou para trás. Hermione saíra e levara com ela Edwiges. Harry voltou vagarosamente até sua cama e se largou nela, fixando o olhar, sem ver, na parte inferior do armário.


Esquecera completamente que os monitores eram escolhidos no quinto ano. Estivera demasiado ansioso com a possibilidade de ser expulso para sequer pensar que os distintivos deviam estar sendo enviados para certas pessoas. Mas se ele tivesse lembrado... tivesse pensado... que teria esperado?


- Eu esperava que você talvez fosse nomeado monitor, Dino – comentou Simas com a amigo. – Digo, Potter e Weasley já se meteram em muitos problemas, e você sempre pareceu ter mais cabeça no lugar...


- Sério? Valeu, Simas – surpreendeu-se Dino.


Não isso, disse uma vozinha sincera dentro de sua cabeça.


Harry amarrou a cara e enterrou-a nas mãos. Não podia mentir para si mesmo; se tivesse sabido que o distintivo de monitor estava a caminho, teria esperado que viesse para ele e não para Rony. Será que isto o fazia tão arrogante quanto Draco Malfoy? Será que se achava superior a todos? Será que realmente acreditava que era melhor do que Rony?


Draco parou de rir, claramente atingido.


- Não ligue – disse Pansy, afagando-lhe o ombro. – Potter deve estar muito abalado por ter sido superado pelo Weasley.


- É – concordou Draco, satisfeito. – Tem razão, Pansy.


Mas Harry não estava ouvindo; sentia-se muito envergonhado, desejando que pudesse sumir. Será que teria de ter essa sensação tantas vezes ao longo da leitura?


Não, disse a vozinha desafiando-o.


— Seria verdade? — Harry se perguntou, sondando ansiosamente os próprios sentimentos.


SOU melhor em Quadribol, disse a voz. Mas não sou melhor em mais nada. O que decididamente era verdade, pensou Harry; não era melhor que Rony nas aulas. Mas e nas aulas externas? E naquelas aventuras que ele, Rony e Hermione viviam juntos desde que entraram para Hogwarts, muitas vezes correndo riscos maiores que a expulsão?


Bom, Rony e Hermione estiveram comigo na maior parte do tempo, disse a voz na cabeça de Harry.


Mas não o tempo todo, argumentou Harry. Eles não lutaram contra Quirrell. Eles não enfrentaram o Riddle nem o basilisco. Eles não se livraram dos dementadores na noite em que Sirius fugiu. Eles não estiveram no cemitério, na noite em que Voldemort voltou…


E o mesmo sentimento de estar sendo usado, que o invadira na noite em que chegara, tornou a despertar. Decididamente eu fiz mais, pensou indignado. Fiz mais do que qualquer um deles!


Harry suspirou, irritado. Olhou com raiva para Alvo e Rose, indagando-se por que eles teriam colocado aqueles pensamentos seus naquele livro, para serem lidos para a escola inteira...


Nenhum dos dois parecia interessado em responder, e Scorpius ficava distraído observando a mesa da Sonserina.


Mas talvez, disse a vozinha com imparcialidade, talvez Dumbledore não escolha os monitores porque eles vivam se metendo em situações perigosas... talvez ele os escolha por outras razões... Rony deve ter alguma coisa que você não tem...


Harry abriu os olhos e fixou, por entre os dedos, os pés de garra do armário, lembrando-se do que Fred dissera: “Ninguém com o juízo perfeito nomearia Rony monitor...”


Harry soltou uma risada abafada. Um segundo depois sentiu nojo de si mesmo.


Harry sentiu aquele nojo de si mesmo mais uma vez, amplificado pela exposição que estava sofrendo agora.


Teria uma séria conversa com o pessoal do futuro quando pudesse.


Rony não pedira a Dumbledore para lhe dar o distintivo de monitor. Não era culpa de Rony. Será que ele, Harry, o melhor amigo de Rony no mundo, ia ficar emburrado porque não ganhara um distintivo, ia rir com os gêmeos às costas do amigo, estragar, para Rony, este momento em que, pela primeira vez, ele levava a melhor sobre Harry em alguma coisa?


Neste ponto, ele ouviu os passos de Rony subindo a escada. Ficou em pé, ajeitou os óculos e engrenou um sorriso quando Rony embarafustou pela porta.


— Apanhei-a bem em tempo! — disse feliz. — Ela disse que vai comprar a Cleansweep, se puder.


— Legal — exclamou Harry, e sentiu alívio ao perceber que sua voz perdera a falsa cordialidade. — Escute aqui... Rony... parabéns, cara.


O sorriso desapareceu do rosto de Rony.


— Eu nunca pensei que seria eu! — disse, sacudindo a cabeça. — Pensei que seria você!


— Nah, eu criei muitos problemas — disse Harry, fazendo coro a Fred.


- Mas eu meio que ajudei a criá-los – admitiu Rony.


— É, é, suponho... bom, é melhor a gente fazer as malas, não acha?


Era estranho como os pertences dos dois pareciam ter-se espalhado desde que haviam chegado ali. Levaram quase a tarde inteira para reunir os livros e outras coisas largadas pela casa e guardá-las de volta nos malões de escola.


- Não é tão estranho – comentou Hermione. – Vocês não são muito organizados.


Nem Harry nem Rony responderam.


Harry reparou que o amigo não parava de mexer no distintivo, primeiro colocou-o sobre a mesa-de-cabeceira, depois guardou-o no bolso da jeans, por fim tirou-o e ajeitou-o sobre as vestes dobradas, como se quisesse ver o efeito do vermelho sobre o negro. Somente quando Fred e Jorge apareceram e se ofereceram para prendê-lo à testa dele com um Feitiço Adesivo Permanente, é que ele o embrulhou carinhosamente nas meias castanhas e trancou-o no malão.


- Foi preciso – afirmou Fred.


- Vocês estava começando a agir como o Percy, e...


Mas Jorge parou de falar, quando viu os olhos da mãe se encherem de lágrimas.


A Sra. Weasley voltou do Beco Diagonal por volta de seis horas, carregada de livros e mais um embrulho comprido, de papel pardo grosso, que Rony tirou das mãos dela com um gemido de desejo.


— Não precisa desembrulhar agora, as pessoas estão chegando para o jantar, quero todos lá embaixo — disse a mãe; mas, no instante em que ela desapareceu de vista, o garoto rasgou o papel num frenesi e examinou cada centímetro da vassoura nova, com uma expressão de êxtase no rosto.


- Pensei ter dito para não desembrulhar ainda – disse a mãe de Rony.


- Tecnicamente, a senhora disse que eu não precisava desembrulhar ainda – defendeu-se Rony.


Embaixo, no porão, a Sra. Weasley pendurou uma flâmula vermelha sobre a mesa de jantar coberta de iguarias, em que se lia:


 


PARABÉNS


 


RONY E HERMIONE


 


OS NOVOS MONITORES


 


Rony então sorriu com Hermione, esquecido da desconfiança da amiga.


Ela parecia muito mais animada do que Harry a vira durante todo o período das férias.


Harry viu Molly sorrir com o marido, mas com tristeza; obviamente, aquele fora um dia de alegria que talvez não se repetisse tão cedo naqueles tempos de guerra.


— Pensei em fazer uma festinha e não um jantar à mesa — disse a Harry, Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina quando eles entraram no aposento.


— Seu pai e Gui estão a caminho, Rony. Despachei corujas para os dois, e eles ficaram entusiasmados — acrescentou sorridente.


Fred e Jorge giravam os olhos para o teto agora ensolarado.


Fred girou os olhos para o teto.


- Como é que vocês arranjam esses detalhes? – perguntou Fred, interessado a Alvo.


- Bem... – começou Alvo.


- Vamos explicar depois – resumiu Rose.


Sirius, Lupin, Tonks e Kingsley Shacklebolt já estavam ali, e Olho-Tonto Moody chegou, batendo a perna de pau, logo depois de Harry se servir de uma cerveja amanteigada.


— Ah, Alastor, que bom que você está aqui — cumprimentou a Sra. Weasley animada, quando Olho-Tonto sacudiu do corpo a capa de viagem. — Há séculos que andamos querendo pedir a você: será que podia dar uma olhada na escrivaninha da sala de visitas e nos dizer o que é que tem lá dentro? Não quisemos abri-la, porque pode ser alguma coisa realmente ruim.


— Pode deixar comigo, Molly...


O olho azul elétrico de Moody girou para o alto e fixou-se no teto da cozinha, transpassando-o.


— Sala de visitas... — rosnou à medida que sua pupila se contraía. — Escrivaninha no canto? É, estou vendo... é, é um bicho-papão... quer que eu suba e me livre dele, Molly?


— Não, não, eu mesma farei isso mais tarde — sorriu a Sra. Weasley — tome a sua bebida. Na verdade estamos fazendo uma pequena comemoração... — disse, indicando a flâmula vermelha. — O quarto monitor na família! — disse com carinho, arrepiando os cabelos de Rony.


Alguns risos ecoaram pelo Salão; Derek abafou um risinho antes de voltar a ler:


— Monitor, é? — resmungou Moody, seu olho normal fixando-se em Rony e o mágico girando para olhar um lado da própria cabeça.


Harry teve a sensação muito desagradável de que ele o observava, e afastou-se em direção a Sirius e Lupin.


— Bem, então meus parabéns — disse Moody, ainda olhando para Rony com o olho normal — figuras de autoridade sempre atraem problemas, mas suponho que Dumbledore o considere capaz de resistir à maioria das principais azarações, ou não o teria nomeado...


Dumbledore riu.


- Acho que se fosse diretor, você seria o primeiro a encarar as funções de monitor por esse ângulo, Alastor.


- Antes não fosse – rosnou Olho-Tonto. – Esses alunos precisam de preparação adequada para as guerra que virão, se quisermos que elas sobrevivam...


A afirmação de Moody assustou os alunos; mas lhe deu algo a refletir.


Rony pareceu bastante espantado com esta opinião, mas não foi preciso responder graças à chegada do pai e do irmão mais velho. A Sra. Weasley estava de tão bom humor que sequer reclamou de terem trazido Mundungo com eles; o bruxo usava um casaco longo que parecia estranhamente volumoso em lugares improváveis, e não aceitou o oferecimento de tirá-lo e guardá-lo junto à capa de viagem de Moody.


- Aposto que está cheio de contrabando – afirmou Sirius com Remo.


- Conhecendo o velho Mundungo... – suspirou Remo.


— Bom, acho que a ocasião pede um brinde — disse o Sr. Weasley, depois que todos se serviram de bebidas. Ele ergueu o cálice. — A Rony e Hermione, os novos monitores da Grifinória.


Os dois garotos sorriram enquanto todos brindavam e em seguida os aplaudiam.


— Eu nunca fui monitora — disse Tonks animada, às costas de Harry, quando os convidados se aproximaram da mesa para se servir. Seus cabelos hoje estavam vermelho-tomate e batiam na cintura; ela parecia irmã mais velha de Gina. — A diretora da minha Casa disse que me faltavam certas qualidades necessárias.


— Quais, por exemplo? — perguntou Gina, que estava escolhendo uma batata assada.


— A capacidade de me comportar — disse Tonks.


Gargalhadas ecoaram das mesas das Casas, fazendo Tonks assumir um tom avermelhado nos cabelos.


- Minha opinião continua a mesma – comentou Pomona Sprout, sorrindo.


Gina riu; Hermione parecia não saber se ria ou não e escolheu um meio-termo, servindo-se de um gole exagerado de cerveja amanteigada e se engasgando.


Hermione abafou uma risada; achara que Tonks estava desmerecendo a função de monitor, mas não conseguira deixar de rir.


— E você, Sirius? — perguntou Gina, batendo nas costas de Hermione.


Sirius, que estava bem ao lado de Harry, soltou a risada de sempre, que lembrava um latido.


— Ninguém teria me nomeado monitor, eu passava tempo demais detido com Tiago. Lupin era o garoto bem-comportado, ele ganhou o distintivo.


— Acho que Dumbledore talvez tivesse esperanças de que eu fosse capaz de exercer algum controle sobre os meus melhores amigos — disse Lupin. — Não preciso dizer que falhei miseravelmente.


- Acho que não seria possível eu controlasse meus amigos nem que fosse professor – comentou Remo com um sorriso saudoso.


- Mas você até que se saiu melhor do que o esperado como monitor – admitiu Sirius.


Snape se manteve distante da conversa; seu quinto ano não fora melhorado por nenhum estúpido distintivo de monitor, apenas pelas lembranças de um lobisomem ao fim de um túnel, e de ver este exibir seu distintivo ao lado de seus amigos arruaceiros.


O estado de ânimo de Harry subitamente melhorou. Seu pai também não fora monitor. De repente, a festa pareceu muito mais divertida; encheu seu prato, sentindo gostar duas vezes mais de todos que estavam presentes.


- James monitor – Sirius deu uma risada triste. – Nunca daria certo...


- Mas o pai de Harry não foi monitor-chefe? – lembrou-se Tonks.


- Foi, mas não é preciso ter sido monitor para se tornar monitor-chefe – explicou Remo. – Ele era o melhor aluno da nossa época, mas só lá pelos últimos anos ele amadureceu para ser nomeado monitor-chefe.


Rony elogiava com entusiasmo as qualidades de sua vassoura nova para quem quisesse ouvi-lo.


—... de zero a cem quilômetros em dez segundos, nada mal, hein? Quando se pensa que a Comet 290 só atingia noventa e cinco, e isso com um bom vento de cauda, segundo o Qual Vassoura?.


Hermione estava conversando muito séria com Lupin sobre suas ideias a respeito dos direitos dos elfos.


— Quero dizer, é o mesmo tipo de absurdo que a segregação de lobisomens, não é? Tudo isso parece nascer dessa horrível maneira dos bruxos se acharem superiores aos outros seres...


- Quem essa Hermione Granger pensa que é? – debochou Pansy Parkinson. – Defendendo criaturas nojentas como elfos domésticos e lobisomens.


- Ela é maluca! – afirmou Daphne. – Querendo defender monstros e criaturinhas sem valor...


Astoria suspirou ao lado de Derek.


- Minha irmã aceita tudo que a turma da Pansy Parkinson diz – lamentou-se ela. – Às vezes, parece um papagaio ao lado daquelas meninas.


- Mas isso que essa menina diz não faz muito sentido, não é? – disse Derek. – Está defendendo lobisomens...


- Bem, não parece uma ideia muito boa.


- Lobisomens odeiam os bruxos! – disse Derek, com veemência. – Existem grupos deles que atacam bruxos, matam e transformam em outros lobisomens... por que alguém defenderia esses monstros?


- Mas... – disse Astoria. – E o Prof. Lupin? Ele era um professor muito legal...


- Ele deve ser uma aberração – retorquiu Derek. – A maioria dos lobisomens só estão interessados em atacar pessoas e criar mais lobisomens.


E antes que Astoria respondesse, Derek voltou a ler:


A Sra. Weasley e Gui requentavam a mesma discussão de sempre sobre o cabelo do rapaz.


Gui riu; a mãe nunca pararia de implicar com isso.


—... está realmente passando dos limites, e você é tão bonito, ficaria muito melhor se os cortasse mais curtos, você não acha, Harry?


— Ah... não sei... — disse Harry, ligeiramente assustado por perguntarem sua opinião; afastou-se discretamente e foi em direção a Fred e Jorge, que estavam agrupados em um canto com Mundungo.


O bruxo parou de falar quando avistou Harry, mas Fred deu uma piscadela e fez sinal para o garoto se aproximar.


— Tudo bem — disse ele a Mundungo — podemos confiar no Harry, é ele quem nos dá suporte financeiro.


— Olha só o que o Dunga arranjou para nós — disse Jorge, estendendo a mão para Harry.


Molly arregalou os olhos.


- O que vocês estão arranjando com este homem?... – começou a falar perigosamente em direção aos filhos.              


Estava cheia de alguma coisa que lembrava vagens murchas. Produziam um barulhinho abafado de chocalho, embora estivessem completamente paradas.


— Dez galeões a partida então, Dunga? — perguntou Fred.


— Com todo o trabalho que tive para conseguir essas? — exclamou Mundungo, seus olhos empapuçados e vermelhos se arregalando ainda mais. — Lamento, rapazes, mas não estou aceitando nem um nuque menos de vinte.


— Dunga gosta de fazer piadinhas — disse Fred a Harry.


— É, a melhor até agora foi pedir seis sicles por um saco de espinhos de ouriço — disse Jorge.


- ESPINHOS DE OURIÇO?! – berrou Molly. – O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO COM ESSAS COISAS?!


Fred e Jorge se encolheram de vergonha.


- Mamãe, agora não...


- Eu vou ter uma conversa com esses dois, ah, se vou... – murmurava ela, ignorando as risadas dos outros.


— Cuidado — alertou-os Harry em voz baixa.


— Quê? — admirou-se Fred. — Mamãe está ocupada, arrulhando em volta do monitor Rony, estamos seguros.


— Mas Moody pode estar de olho em vocês — lembrou Harry.


Mundungo espiou nervoso por cima do ombro.


— Bem lembrado — resmungou. — Tudo bem, rapazes, dez então, se levarem tudo depressa.


— Valeu, Harry! — exclamou Fred, encantado, enquanto Mundungo esvaziou os bolsos nas mãos estendidas dos gêmeos e saía rápido em direção à comida.


Harry sorriu discreto; não tivera a intenção, mas fora um golpe de sorte para Fred e Jorge.


— É melhor levarmos isso para cima...


Harry observou os garotos se afastarem, sentindo-se ligeiramente apreensivo.


Acabara de lhe ocorrer que o Sr. e a Sra. Weasley iam querer saber como é que Fred e Jorge estavam financiando os artigos para sua loja quando finalmente descobrissem – o que era inevitável – que a loja já estava funcionando. Doar aos gêmeos o prêmio do Tribruxo parecera a Harry, na época, uma coisa simples, mas e se isso acabasse provocando outra briga de família e um rompimento como o de Percy? Será que a Sra. Weasley ainda consideraria Harry como um filho se descobrisse que ele possibilitara a Fred e Jorge iniciar uma carreira que ela achava inadequada?


- Não se preocupe com isso, cara – tranquilizou-o Fred.


- A gente nunca magoaria a mamãe como certas pessoas – afirmou Jorge.


Parado onde os gêmeos o haviam deixado, tendo por companhia apenas a culpa que lhe pesava na boca do estômago, Harry ouviu alguém dizer seu nome. A voz grave e ressonante de Kingsley Shacklebolt era audível mesmo no meio de toda a conversa.


—... por que Dumbledore não promoveu Potter a monitor? — indagava Kingsley.


— Deve ter tido suas razões — respondeu Lupin.


— Mas teria demonstrado sua confiança nele. É o que eu teria feito — insistiu Kingsley — principalmente com o Profeta Diário a atacá-lo com tanta frequência...


Remo suspirou.


- Não foi a mais sensata das opiniões, Kingsley – comentou com o colega.


- Não pensei que ele estivesse escutando – defendeu-se Kingsley.


Harry não virou a cabeça; não queria que Lupin nem Kingsley soubessem que entreouvira. Embora não sentisse a menor fome, acompanhou Mundungo de volta à mesa. Seu prazer na festa se evaporara com a mesma velocidade com que surgiu; ele desejou estar deitado em seu quarto.


Harry virou o rosto para o prato; não queria que ninguém o olhasse.


Dumbledore esperava que o rapaz não perdesse a confiança nele; se ao menos pudesse contar a Harry...


Olho-Tonto Moody cheirava uma coxa de galinha com o que lhe sobrara do nariz; evidentemente não conseguiu perceber vestígio algum de veneno, porque em seguida arrancou um naco com uma dentada.


- Como exatamente alguém envenenaria aquela galinha, Olho-Tonto? – perguntou Tonks ao seu mentor, em deboche.


- Quer a ordem alfabética ou de probabilidade? – retrucou Olho-Tonto.


—... o punho é feito de carvalho americano com um verniz anti-azaração e tem controle anti-vibração embutido — dizia Rony a Tonks.


- Ele não parou por um instante de falar dessa vassoura – resmungou Gina. – Achei que Fred fosse lançar um feitiço Silenciador no fim da noite.


Rony ignorou o comentário, franzindo a testa; era a primeira vez que tinha uma vassoura só dele, tinha o direito de aproveitá-la.


A Sra. Weasley deu um grande bocejo.


— Bem, acho que vou dar um jeito naquele bicho-papão antes de ir dormir... Arthur, não quero esse pessoalzinho acordado até tarde, está bem? Boa-noite, Harry, querido.


Molly sentiu um aperto no estômago de repente; era como se aquele dia voltasse de repente...


Sentiu então a mão do marido em seu ombro; nada acontecera ainda, disse a si mesma.


Ela saiu da cozinha. Harry pousou o prato e se perguntou se conseguiria segui-la sem chamar atenção.


— Você está bem, Potter? — perguntou Moody.


— Tô, ótimo — mentiu Harry.


Moody tomou um gole do frasco de bolso, seu olho azul elétrico olhando de esguelha para o garoto.


— Vem cá, tenho uma coisa que talvez lhe interesse — disse.


Harry sentiu o coração apertado; não queria viver aquilo outra vez...


De um bolso interno das vestes, Moody tirou uma velha foto-bruxa muito danificada.


— A Ordem da Fênix original — rosnou. — Encontrei-a à noite passada quando estava procurando a minha Capa da Invisibilidade sobressalente e, como Podmore ainda não teve a boa educação de devolver a minha boa, pensei que o pessoal talvez gostasse de ver isso.


Os membros da Ordem se entreolharam; Esturge Podmore estava naquele momento preso em Azkaban. Tinham de torcer para que o Ministro concordasse em retirá-lo de lá antes que os Dementadores lhe fizessem muito mal.


Harry apanhou a foto. Um pequeno grupo de bruxos, alguns acenando para ele, outros erguendo os copos, retribuindo seu olhar.


— Aquele sou eu — disse Moody, apontando a própria imagem sem necessidade. O Moody na foto era inconfundível, embora o cabelo estivesse um pouco menos grisalho e o nariz, intacto. — E ali é Dumbledore ao meu lado, Dédalo Diggle do outro lado... essa é Marlene McKinnon, foi morta duas semanas depois de tirarmos a foto, pegaram toda a família dela. Estes são Frank e Alice Longbottom...


O Grande Salão caiu de repente em silêncio; todas as conversas foram interrompidas, todos haviam passado a escutar com atenção.


Todos à volta de Neville tinham os olhos postos no menino, exceto Harry, Hermione e os Weasley, que haviam tido a educação de não o constranger com aquilo.


O garoto não conversara com ninguém até aquele momento; mas não conseguia ignorar as pessoas o encarando indiscretamente. Sentiu agora que sabia como Harry estaria se sentindo.


O estômago de Harry, já meio embrulhado, contraiu-se ao olhar para Alice Longbottom; conhecia aquele rosto redondo e simpático muito bem, embora nunca a tivesse visto, porque era a cara do filho, Neville.


Neville Longbottom desejou que tivesse a coragem de deixar a cadeira e correr para longe do Salão; mas seus membros parecia tão duros e apertados quanto seu peito. Por que tinham de tocar naquele assunto.


Alvo Rose e Scorpius o observavam com mais discrição; todos expressavam empatia pelo garoto. Scorpius não conseguiu deixar de sentir uma estranha culpa embaraçosa.


—... coitados — resmungou Moody. — Melhor morrer do que passar pelo que passaram... e essa é Emmeline Vance, você já a conheceu, e aquele é Lupin, obviamente... Beijo Fenwick, ele também sofreu muito, só encontramos pedacinhos dele... cheguem para lá — acrescentou, metendo o dedo na foto, e as pessoas fotografadas se deslocaram para o lado, para que outras, que estavam parcialmente na sombra, pudessem passar ao primeiro plano.


— Esse é Edgar Bones... irmão de Amélia Bones, pegaram ele e a família também, era um grande bruxo...


Susan Bones agora via-se na mesma posição que Neville, com inúmeros olhos sobre ela, sem a menor discrição. Seus amigos fizeram questão de olhar com censura para os outros que a observavam.


A garota nunca conhecera se tio Edgar, mas todos falavam com grande orgulho sobre ele; e agora saber que ele fazia parte de uma organização que tentara impedir as forças das Trevas...


Estúrgio Podmore, pombas, como está jovem... Carátaco Dearborn desapareceu seis meses depois da foto, nunca encontramos seu corpo... Hagrid, naturalmente, parece exatamente o que é... Elifas Doge, você o conheceu, tinha me esquecido que usava esse chapéu idiota...


Dumbledore deu um sorriso alegre; seu velho amigo de escola, que nunca tivera bom gosto para acessórios.


Que prazer era pensar em um ente-querido sem entristecer, pensou consigo mesmo.


Gideon Prewett, foram precisos cinco Comensais da Morte para matá-lo e matar o irmão Fabian, lutaram como heróis... mexam-se, mexam-se...


Arthur ouviu um alto soluço, quando se virou e percebeu que Molly estava chorando, sem se importar com quantos estivessem observando. Sem jeito, envolveu a mulher em seus braços com ternura, desejando que fosse o bastante para consolá-la.


As figurinhas na foto se misturaram, e as que estavam escondidas bem atrás apareceram à frente.


— Esse é o irmão de Dumbledore, Aberforth, a única vez que o vi, sujeito esquisito... essa é Dorcas Meadowes, Voldemort a matou pessoalmente... Sirius, quando ainda usava cabelos curtos... e... estão todos aí, achei que você se interessaria!


O Salão permaneceu em silêncio: embora uns ou outros lançassem olhares indiscretos a Harry, Neville ou Susan, ninguém se atrevera a dizer uma palavra; cada uma das pessoas citadas na Ordem da Fênix despertava sentimentos silenciosos


O coração de Harry deu uma cambalhota. Seu pai e sua mãe estavam sorrindo para ele, sentados um de cada lado de um homenzinho de olhos aguados que Harry reconheceu imediatamente como Rabicho, o que havia denunciado o paradeiro dos dois a Voldemort e com isso provocara a morte deles.


— É? — exclamou Moody.


Harry ergueu os olhos para o rosto cheio de cicatrizes e marcas de Moody. Ele evidentemente tinha a impressão de que acabara de mostrar a Harry uma coisa boa.


Olho-Tonto fitou Harry Potter, estudando sua expressão com desapontamento; esperava que o garoto fosse encorajado pela foto dos antigos membros da Ordem.


— É — disse o garoto, mais uma vez tentando sorrir. — Hum... escute, acabei de me lembrar, ainda não guardei o meu...


Ele foi poupado do trabalho de inventar um objeto que ainda não tivesse guardado. Sirius acabara de dizer:


— Que é isso que você tem aí Olho-Tonto?


E Moody voltou sua atenção para Sirius. Harry atravessou a cozinha, saiu discretamente pela porta e subiu as escadas antes que alguém o chamasse de volta.


Não sabia dizer por que ficara tão chocado; afinal, já vira fotos dos seus pais antes e já conhecera Rabicho... mas o fato de alguém mostrá-los assim, de repente, quando menos esperava... ninguém gostaria disso, pensou enraivecido...


Alguns dos alunos experimentaram uma sensação similar; todos haviam ouvido em alto e bom tom a história do tal Rabicho, mas imaginá-lo assim, ao lado e em pé de igualdade com todas aquelas pessoas que haviam perdido as vidas tragicamente, lutando contra Voldemort...


Só se ouvia Derek ler, fazendo pausas e refletindo entre os trechos silenciosamente com Astoria.


E ainda por cima, vê-los cercados por todas aquelas caras felizes... Beijo Fenwick, que fora encontrado em pedacinhos, e Gideon, que morrera como herói, e os Longbottom, que foram torturados até enlouquecer... todos acenando, felizes, na foto, para sempre, sem saber que estavam condenados... bom, Moody talvez achasse isso interessante... ele, Harry, achava perturbador...


O garoto subiu as escadas, pé ante pé, até o corredor, passou pelas cabeças empalhadas dos elfos, satisfeito de estar sozinho, mas, ao se aproximar do primeiro patamar, ouviu ruídos. Alguém estava soluçando na sala de visitas.


Harry sentiu um sensação de desagrado; olhou para Molly Weasley.


A mulher engoliu em seco, apavorada. Não, não poderiam mostrar aquilo...


— Olá? — chamou.


Não houve resposta, mas os soluços continuaram. Harry subiu os degraus restantes, de dois em dois, cruzou o patamar e abriu a porta da sala de visitas.


Alguém estava encolhido contra a parede escura, a varinha na mão, todo o corpo sacudido por soluços. Esparramado no velho tapete empoeirado, em uma mancha de luar, visivelmente morto, encontrava-se Rony.


- O quê?! – berraram todos à volta de Harry; como aquilo poderia ser...


Rony, Gina e Hermione ficaram completamente aturdidos; o que estaria acontecendo..? 


Todo o ar pareceu fugir dos seus pulmões; Harry teve a sensação de que estava atravessando o chão; seu cérebro congelou – Rony morto, não, não era possível...


- Mas não poder ser...


- Ele não estava lá embaixo?!


- Ele não está sentado bem ali?!


Então, a maioria entendeu.


Derek compreendeu o que estava acontecendo, e voltou a ler:


Mas, espere um momento, não podia ser – Rony estava lá embaixo...


— Sra. Weasley? — chamou Harry com a voz embargada.


— R-r-riddikulus! — soluçava a bruxa, apontando a varinha, trêmula, para o corpo do filho.


- O Bicho-Papão, claro – murmurou Draco consigo mesmo. – Aquela mulher devia saber que não é páreo para um.


Craque.


O corpo de Rony se transformou no de Gui, de barriga para cima, braços e pernas abertos, olhos abertos e vidrados. A Sra. Weasley voltou a soluçar.


Craque.


O corpo do Sr. Weasley substituiu o de Gui, seus óculos tortos, um filete de sangue escorrendo pelo rosto.


Derek parou de ler, sentindo uma pontada de constrangimento ao ler aquilo.


- O que foi, Derek? – perguntou Astoria.
- Ah, nada – e voltou a ler.


— Não! — gemia a Sra. Weasley. — Não... Riddikulus! Riddikulus! RIDDIKULUS!


Craque. Gêmeos mortos. Craque. Percy morto.


Molly soltou um gemido, e desmanchou em soluços; Percy não estava ali, e ele ainda não se entendera com a família.


Os Weasley se aproximavam, incertos entre consolá-la e deixá-la em paz; alguns lançavam olhares de censura a quem estivesse espiando.


Craque. Harry morto...


Sirius arregalo os olhos; de repente, a sensação que tivera naquele dia retornou, por mais que ele visse o afilhado ali adiante, ileso.


— Sra. Weasley, saia daqui! — gritou Harry, contemplando o próprio cadáver estirado no chão. — Deixe outra pessoa...


— Que está acontecendo?


Lupin subira correndo à sala, seguido de perto por Sirius e Moody, que fechava a fila, batendo a perna de pau. Lupin olhava da Sra. Weasley para o cadáver de Harry no chão, e pareceu compreender tudo no mesmo instante.


Puxando a varinha, disse, em tom muito claro e firme.


— Riddikulus! 


O corpo de Harry desapareceu. Um globo de prata pairou no ar sobre o local em que estivera o cadáver.


- A lua!


- Lua cheia!


Remo sentiu o constrangimento de ter olhares sobre ele também, mas estes eram acusadores.


Lupin sacudiu a varinha mais uma vez e o globo desapareceu em uma baforada de fumaça.


- Que rapidez! – comentou Derek.


- Minha irmã disse que ele ensinou a turma dela a enfrentar um Bicho-Papão no terceiro ano – disse Astoria. – Imagine como seria... se ele fosse nosso professor agora...


- Isso é impossível – lembrou-lhe Reiko, em tom de decepção. – Existe uma lei que impede que lobisomens...


- Eu sei – admitiu Astoria, e avistou com raiva a professora de Defesa Contra Artes das Trevas atual; perguntou a si mesma se preferia o lobisomem ou aquela mulher detestável.


— Ah... ah... ah! — engoliu a Sra. Weasley em seco e tornou a se desmanchar numa torrente de lágrimas com o rosto entre as mãos.


- Molly está sofrendo isso mais do que nós – comentou Remo. – De todos nós, ela e Arthur são os que podem perder mais pessoas nessa guerra.


- Todos nós podemos perder pessoas nessa guerra – lembrou Tonks. – Eu tenho meus pais, você tem... desculpe.


- Está tudo bem – tranquilizou-a Remo. – Tenho o Sirius agora; e ele tem você e sua mãe.


- E você tem a nós – afirmou Tonks. –Você é a família de Sirius, e nós também.


— Molly — disse Lupin desolado, aproximando-se dela. — Molly, não...


No segundo seguinte, ela soluçava de se acabar no ombro de Lupin.


— Molly, foi apenas um bicho-papão — disse ele consolando-a, dando-lhe palmadinhas na cabeça. — Apenas um bicho-papão idiota...


— Eu os vejo m-m-mortos o tempo todo! — gemeu a Sra. Weasley no ombro do bruxo. — Todo o t-t-tempo! T-t-tenho sonhos...


Ninguém se atrevia a olhar para os Weasley; os poucos que faziam menção de se virarem na direção deles encontravam varinhas apontadas ameaçadoramente por Rony, Gina, Fred, Jorge e em seguida, Gui e Harry os imitavam; logo todos desviavam o olhar.


Sirius ficou olhando fixamente para o pedaço do tapete em que estivera deitado o bicho-papão fingindo ser Harry.


Sirius estremeceu, sentindo algo gelado percorrer por sua espinha; a ideia de Harry morrer era algo que ele mal conseguia imaginar. Mas surpreendentemente, sentiu uma grande afeição por Molly.


Moody olhava para o garoto, que evitou seu olhar. Tinha a estranha sensação de que o olho mágico de Moody o acompanhara desde a cozinha.


— Não d-d-diga a Arthur — pedia a Sra. Weasley, agora engolindo o choro e enxugando nervosamente os olhos com os punhos. — Não q-q-quero que ele saiba... fui boba...


- Você não foi boba – sussurrou Arthur, e achou que podia ceder às lágrimas em seguida. – Também penso neles, Molly, também me preocupo com eles. Também os vejo...


Molly levantou a cabeça, surpresa e abalada; o marido a olhou nos olhos, ignorando quem os estivesse observando.


Mas a maior parte dos alunos preferira desviar o olhar naquele momento.


Lupin lhe deu um lenço, e ela assoou o nariz.


— Harry, sinto muito. Que é que você vai pensar de mim? — perguntou trêmula. — Não consigo nem me livrar de um bicho-papão...


- Se essa mulher é o que a tal Ordem da Fênix tem a oferecer contra o Lorde das Trevas, a guerra não vai durar tanto – debochou Draco em voz alta.


Ninguém além de Crabbe e Goyle riu.


— Bobagem — disse Harry, tentando sorrir.


— Estou t-t-tão preocupada — disse ela, as lágrimas mais uma vez saltando-lhe dos olhos. — Metade da f-f-família está na Ordem, será uma b-b-bênção se todos sobreviverem... e P-P-Percy não está falando conosco... e se alguma coisa t-t-terrível acontecer antes de termos feito as p-p-pazes com ele? E o que vai acontecer se Arthur e eu morrermos, quem é que vai t-t-tomar conta de Rony e Gina?


— Agora, quanto a quem vai cuidar de Rony e Gina se você e Arthur morrerem — disse Lupin com um leve sorriso — que é que você acha que vamos fazer, deixá-los morrer de fome?


Nem Rony, nem Gina nem ninguém disse nada.


A Sra. Weasley deu um sorriso trêmulo.


— Estou sendo boba — murmurou outra vez, enxugando os olhos.


Mas Harry, fechando a porta do quarto atrás de si uns dez minutos depois, não conseguiu achar que a Sra. Weasley fosse boba. Via seus pais sorrindo para ele na velha foto danificada, sem saber que suas vidas, como a de tantos outros à sua volta, estavam chegando ao fim. A imagem do bicho-papão se transformando no cadáver de cada membro da família da Sra. Weasley não parava de lampejar diante dos seus olhos.


Sem aviso, a cicatriz em sua testa queimou de dor e seu estômago revirou horrivelmente.


— Para com isso — disse com firmeza, esfregando a cicatriz à medida que a dor foi diminuindo.


Todos pareciam receosos no Salão.


Os professores entreolhavam-se entre si, confusos. Os membros da Ordem trocavam ideias discretamente.


Os alunos ficavam em silêncio, amedrontados, alguns sentindo medo de olhar para Harry Potter.


Mas Draco Malfoy fez pouco caso.


- Viram só como ele enlouqueceu? – debochou, apontando para a própria testa. – Falando com a própria testa.


Mas novamente ninguém mais riu.


Astoria, Derek e outros sacudiram a cabeça em reprovação.


— Primeiro sinal de loucura, falar com a própria cabeça — disse a voz sonsa do quadro vazio na parede.


Sirius amarrou a cara; de todas as pessoas que poderiam falar com Harry naquele momento, a menos bem-vinda era o quadro de Phineas Nigellus.


Decidiu que falaria com Harry, assim que pudesse.


Harry não lhe deu atenção. Sentiu-se mais velho do que jamais se sentira na vida e parecia-lhe extraordinário que há pouco menos de uma hora estivesse preocupado com uma loja de logros e com quem ganhara um distintivo de monitor.


Derek pousou o livro aberto, vendo que todos à sua volta o observavam.


- Acabou – anunciou o garoto, constrangido.


Desta vez, não houve discussão para decidir quem leria o próximo capítulo; aquele fora um capítulo muito denso para ser digerido em pouco tempo.


Os alunos se entreolhavam e cochichavam, preocupados, todos amedrontados com seus futuros. Com livro em mãos mais uma vez, Dumbledore examinou-o, vendo surgir o título do capítulo do capítulo seguinte.


- Curioso – murmurou consigo mesmo, e bateu palmas uma vez, silenciando o Salão.


“Ao próximo capítulo, agora. Luna Lovegood, por favor”.


Todos da mesa da Corvinal se viraram para a menina solitária, até então ignorada pelos demais.


- Ela vai ler o livro?


- Por que ela?


- Por que A Di-Lua?


Luna não lhes deu atenção; ao receber o livro, abriu-o com curiosidade incontida; que fatos surpreendentes e desconhecidos a esperavam?


– Capítulo X – Luna Lovegood.

~~

Olá, é muito bom estar de volta à leitura, depois de tantas complicações. Agradeço a todos que estejam me acompanhando.
Sonhadora Dixon: infelizmente, perdi o aniversário da Mione, mas espero que este mantenha o ritmo da história; o capítulo do Bicho-Papão e do Rony monitor é um dos mais densos, então foi um trbalho daqueles... obrigado por continuar a companhando. 

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Comentários (1)

  • Sonhadora Dixon

    Pode continuar contando comigo sempre, o F&B também deu bug nos últimos dias e eu não conseguia entrar...De qualquer modo não ligo de ter perdido uma data comemorativa já que esse capítulo foi incrível, as cenas comentando os antigos membros da ordem, o harry com ciumes do ronny e o dementador, todas incríveis! Adoro como você muda as partes entre as opiniões dos leitores e os trechos do livro! parabéns mesmo! Melhor fanfic de leitura do livro!

    2017-09-30
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