Perdendo o medo





POV Lily Evans


 


            Os dias passaram e o James já estava bem adaptado. Ele e o Sirius viraram melhores amigos, parecia que se conheciam há anos. Já a Lene virou a protegida dele, vivia dando tapas no Sirius por não perceber que ela gostava dele.


            Aqui em casa ele ajuda bastante, faz de tudo, mas o que ele mais gosta é de cuidar dos cavalos. Eu estava cuidando da horta, tirando algumas ervas daninha e ele estava dando banho nos cavalos. Ele se mostrou bem diferente do que achei que ele era. Não é mimado nem tem frescuras, agora sei por que meu pai é um velho amigo do pai dele.


            Terminei de limpar a horta e bati meu vestido pra tirar o excesso de terra. Fui até ele que agora escovava o pelo de um dos cavalos.


            - Já tá terminando aí? – perguntei.


            - Já sim, só falta esse cavalo aqui – ele respondeu, sorrindo – Precisa que eu faça alguma coisa?


            - Não, é que a gente tem que ir pra vila não se lembra? Combinamos com a Lene e o Sirius.


            - Nossa, verdade, nem vi o tempo passar – ele começou a escovar a crina e eu fiquei observando – Quer me ajudar?


            - Ãhn, melhor não – disse, meio insegura.


            - Vem, eles gostam de ser escovados.


            Ele me passou uma escova e eu peguei. Olhei para o cavalo e respirei fundo, começando a escová-lo. Ele continuou paradinho e parecia realmente estar gostando. Sorri inconscientemente e James me olhou e sorriu também.


            - Ele gosta de você.


            - Ele gosta do carinho – falei.


            - Não, quando o cavalo não gosta da pessoa ele não aceita carinho dela – ele fez uma pausa – ele gosta de você.


            Sorri de novo e terminamos de pentear a crina do cavalo. James guardou o cavalo no celeiro e todas as coisas que ele usou e veio até mim tirando os pelos da roupa.


            - Acho melhor eu tomar um banho – ele disse – e você também.


            - Eei – olhei para meu vestido todo sujo de terra – Ok, ok, já entendi.


            Saímos rindo e entramos em casa. Tomamos banho e encontrei-o do lado de fora, me esperando.


            - Vamos? – perguntei, já indo em direção à estrada.


            - Espera – ele falou, indo até o celeiro – Vou pegar o Pontas.


            - Por quê? – segui-o até o celeiro.


            - Vou levar ele pra dar uma volta, ele fica meio depressivo se não passeia, parece cachorro.


            Dei risada e ele pegou o cavalo, indo com ele andando ao nosso lado, sem montá-lo. Chegamos à vila, James amarrou o cavalo e fomos para o Três Vassouras. Lene e Sirius estavam em uma mesa no fundo e estavam brigando, como sempre.


            - Você é um idiota Sirius – falou Lene.


            - Concordo – disse James, sentando ao lado de Sirius.


            - Amigão você em James, caramba – os dois começaram a rir e dar tapas na cabeça um do outro.


            Ficamos ali a tarde toda, tomando cerveja amanteigada e conversando. Quando estava quase pra anoitecer decidimos ir embora. Nos despedimos dos dois e James desamarrou o Pontas. Começamos a andar e logo no começo da estrada eu decidi passar a mão no cavalo.


            - Lily – James me chamou e olhei pra ele – posso dar uma ideia?


            - Pode – falei, dando de ombros.


            - Que tal você montar nele?


            - Não James, eu tenho medo.


            - Eu to aqui com você – ele também passou a mão no cavalo – prometo que não vai cair.


            - Não sei não.


            - Se você quiser eu monto com você, prometo que o Pontas vai se comportar.


            Pensei naquela ideia e olhei desconfiada pra ele.


            - Tá, mas se eu cair você tá ferrado.


            Ele sorriu largamente e arrumou a cela no bicho. Depois pegou em minha mão e me deu apoio pra subir no cavalo. Sentei na cela, mas estava me sentindo como se estivesse em uma árvore bem alta com frio na barriga. Logo o senti se sentando atrás de mim, grudando nas minhas costas.


            - Agora pega na rédea – ele falou.


            - Não, pega você – disse, com medo.


            Então James pegou minhas mãos e me fez segurar as rédeas, mas continuou com as mãos dele segurando as minhas.


            - Se algo der errado eu estou segurando também – ele sussurrou perto da minha orelha, me arrepiando.


            Assenti apenas e ele fez o cavalo andar devagar. Fiquei tensa e apertei mais minhas mãos na rédea. Ele percebeu e acariciou minha mão com o dedo.


            - Relaxa, eu estou segurando.


            O cavalo continuou andando, até que ele fez o cavalo começar a trotar. Continuava um pouco tensa, mas me sentia segura por ele estar ali. Comecei a relaxar e estava curtindo superar aquilo.


            - Lily? – ele me chamou.


            - Hum?


            - Você confia em mim?


            Fiquei surpresa com a pergunta, mas percebi que ele queria fazer alguma coisa. Ele estava ali, me ajudando a superar aquele trauma, me passando toda a segurança que eu precisava. É claro que eu confiava nele, mesmo conhecendo-o há pouco tempo.


            - Sim – respondi.


            Ele estava com o rosto muito perto dos meus cabelos, tão perto que senti sua respiração mudar e seu sorriso se abrir. Então ele fez um movimento com as mãos e o cavalo começou a correr. James entrou em um campo aberto e pude ver o sol se pondo.


            A sensação era maravilhosa. Poder sentir novamente o vento batendo em meu rosto, o sol de fim de tarde tornando toda a paisagem alaranjada e a liberdade de estar correndo velozmente sem medo. Aquilo não tinha preço.


            Soltei minhas mãos da rédea e abri os braços como um pássaro.


            - Isso é muito bom – gritei contra o vento.


            James não respondeu, apenas deu uma risada alta e virou o cavalo, entrando no quintal da minha casa. Mas ele não parou, seguiu reto em direção ao rio. Parou o cavalo perto de uma árvore que eu sempre subia quando criança.


            - E ai? Gostou? – perguntou, descendo do cavalo.


            - Nossa, eu amei – ele me ofereceu sua mão e me ajudou a descer.


            Ficamos nos encarando por alguns instantes com as respirações aceleradas por causa da corrida. James tirou uma mecha de cabelo que estava em meu rosto e colocou atrás da orelha. Depois passou os dedos delicadamente em minha bochecha.


            - Te ajudei com seu medo? – ele sussurrou com seu rosto bem perto do meu.


            - Que medo? – respondi, hipnotizada.


            Ele riu e desviou o olhar, quebrando aquele clima que apareceu de repente.


            - Que bom que perdeu seu medo, porque agora é sua vez de voltar guiando.

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